31 de dezembro de 2013

Marcos 1.12-13

Lições da Tentação de Jesus Para o Ano Novo

 

(Por ocasião da virada do ano de 2013-2014)

 

Introdução

A virada para um novo ano é sempre uma grande oportunidade para todos nós, pois proporciona um ponto de chegada e um novo ponto de partida. Na verdade, oportunidade igual todos nós temos todos os dias. Afinal, sempre é possível encerrar fases da nossa vida e procurar começar ou recomeçar coisas.
Iniciar um novo ano pode ser uma oportunidade para dar inicio a algumas mudanças em nossa vida. Acredito que cristãos devem estar interessados em uma vida mais adequada, que mantenha intensa coerência entre fé e atitudes.
Bem, se você deseja começar bem este ano de 2014 e pretende iniciar coisas novas, esta noite desejo abordar um texto que também era o começo de uma nova fase. Trata-se do texto que inaugurou o ministério público de Jesus Cristo.
Parte da dificuldade que temos de implementar novas perspectivas para a nossa vida tem a ver com o fato de que muitas vezes, a boa vontade para mudanças não é suficiente pela falta de maturidade de percebemos as dificuldades da vida.
Quando propomos mudanças sem encarar os fatos com realidade, muitas vezes, nossas propostas não possuem a força necessárias para nos fazer saltar as barreiras. Como um atleta que salta à distância, precisa de empreender uma corrida para o seu alvo, pensando na distância e no tamanho do vão a ser vencido.
Logo após o seu batismo, Jesus Cristo foi impelido ao deserto, onde, por quarenta dias fez jejum e foi tentado. O ministério público de Jesus teve este início e algumas lições aprendidas aqui podem muito nos ajudar a vivenciar os novos começos de 2014 com maturidade.

Jesus Nos Ensina a Iniciar Novas Fases Com Uma Visão Bastante Realista da Vida


Uma das situações que nos chama a atenção no início do ministério de Jesus é que ele teve início em uma imersão no deserto. A questão que nos chama a atenção é que ele foi impelido a esta situação depois de ter sido exaltado pelo próprio Pai e o Espírito Santo.

Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo (Marcos 1.11).

Há um contraste bastante grande entre o que aconteceu às margens do Jordão e o texto que se segue. Ele é louvado pelo Pai, mas em seguida levado ao deserto para ser tentado.
Jesus não teve tempo de olhar para o seu momento positivo e descansar nele. Logo voltou à dura realidade.  O próprio texto é construído de uma maneira a mostrar que a transição de um momento para o outro foi rápida.
E logo o Espírito o impeliu para o deserto
Existe uma certa tendência a desejarmos desfrutar dos momentos de vitória, ou dos nossos grandes momentos de forma a nos esquecermos da realidade na qual estamos de fato inseridos.
Quando traçamos planos novos e decidimos a respeito de mudanças na nossa vida, não podemos nos conformar com o momento da decisão, como um grande momento. Não podemos viver do sonho do momento da decisão de mudança, as mudanças precisam de atitudes que levem em conta a realidade em que de fato vivemos.
Este é o meu filho amado em quem me comprazo - essa expressão tinha de ser completada pela realidade de Jesus, viver em meio ao deserto. Estamos falando do fato de que o grande ministério do Amado é provado em condições adversas. Ele é Filho Amado porque sabe vencer o deserto.
Jesus encarou o deserto como o seu verdadeiro campo, como o seu ministério. Precisamos de atitudes realistas para a nossas mudanças. Se você já sabe onde é necessário mudar, não adianta apenas sonhar com a mudança, ela precisa estar inserida no contexto da sua realidade.
Você deseja ser um crente que tenha mais comunhão com Deus. Então, avalie a sua realidade atual e comece a mudar o que é importante para poder ter mais comunhão com Deus. O que falta é tempo, então este é o seu deserto e você precisa mudar exatamente isto. Se o seu problema com a falta de comunhão está concentrada em uma deficiência no seu conhecimento da Escritura, então, o seu problema está aí.
Enfim, Jesus tinha de exercer o seu ministério no deserto, porque ele tinha de nos salvar no deserto. Ele precisava ser tentado para poder nos socorrer em nossas tentações. E não alcançaria o objetivo do seu ministério se adiasse ou não tivesse a sua experiência no deserto.
É preciso uma visão realista do que realmente a nossa vida precisa e nossas decisões precisam ter as atitudes necessárias.
 .




Jesus Nos Ensina a Iniciar Novas Fases Com Uma Visão Clara de Que Deus é Quem Dirige Nossas Experiências


E logo o Espírito o impeliu para o deserto onde permaneceu quarenta dias - O verbo ekibalo (lançar) é usado para mostrar que uma força externa é aplicada sobre um ponto. Não se trata de pensar que Jesus foi obrigado, ele o fazia voluntariamente, mas foi conduzido pelo Espírito ao deserto.

Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi guiado pelo mesmo Espírito, ao deserto (Lucas 4.1).

Lucas nos dá uma dimensão do fato de que Jesus foi compelido, ou guiado pelo Espírito, pelo simples fato de estar cheio do Espírito Santo.
Precisamos começar nossas novas fazes sob a intensa direção de Deus, por outro lado, devemos começar a considerar o fato de que os caminhos que iremos andar são resultado da vontade de Deus e isso implica em que nossos projetos considerem cada nova realidade dada por Deus, com submissão e humildade.
Jesus Cristo, podemos dizer, teve a sua vida toda em meio ao deserto. Sua experiência de humilhação estendeu-se por toda a sua vida humana, mas ele sempre entendeu cada momento da sua vida na perspectiva da vontade de Deus.

 

 

 

 

Jesus Nos Ensina a Iniciar Novas Fases Com Uma Visão Clara de Que é Preciso Perseverar em Momentos Adversos


E logo o Espírito o impeliu para o deserto onde permaneceu quarenta dias, sendo tentado por Satanás - Jesus Cristo permaneceu no deserto sendo tentado. Esta frase implica no fato de que Cristo Jesus foi perseverante em meio à situação adversa em que foi inserido pela vontade de Deus e pela necessidade de cumprir o seu ministério.
A expressão “permaneceu” é o uso de um verbo de uma maneira que indica que Jesus tomou a decisão de permanecer naquelas condições.
O fato de ser um número tão significativo “quarenta dias”, o que logo nos faz lembrar de Elias ou de Moisés que também ficaram este tempo jejuando. Marcos nem cita o jejum, na verdade não dá detalhes da tentação. O seu propósito é destacar o tempo e a situação em si.
Importa que percebamos o ponto de que Jesus Cristo não recuou. O ministério de Jesus não poderia ser completado sem essa decisão clara de enfrentar todas as condições adversas com perseverança.
Quando foi mais duro seguir adiante, Jesus orou e pediu a Deus que passasse dele o cálice, mas logo afirmou: contudo seja feita a tua vontade.
Decida, mude e persiga o seu alvo. Muitas serão as tentações para todo tipo de inversão de valores e planos. Não sonhe com um ano sem lutas, mas esteja pronto a enfrentar as adversidade por causa do seu novo projeto de vida com Deus.

Jesus Nos Ensina a Iniciar Novas Fases Com Uma Visão Clara de Que Deus Sempre Nos Socorrerá


E logo o Espírito o impeliu para o deserto onde permaneceu quarenta dias, estava com as feras, mas os anjos o serviam - Meus irmãos, Jesus não andou no deserto sem uma certeza em seu coração: Deus estava com ele.
Ele era o filho amado do Pai e manteve essa convicção em cada momento de sua vida. Uma única vez ele se espantou quando essa realidade não se tornou clara para ele, na cruz.
Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste? - Essa foi a única vez em que Jesus procurou a marca fundamental da sua vida humana e não a encontrou: a presença de Deus.
Ao contrário de Jesus, que era puro e santo, nossa vida de comunhão com Deus é muitíssimo influenciada pela presença do pecado. O que a tentação de Jesus nos ensina é que devemos enfrentar todas essas situações adversas mantendo uma certeza de fé: Deus está conosco.
Esteve com as feras, mas os anjos o serviam - A frase foi construída para ser uma expressão de contraste evidentemente. Em meio as dificuldades próprias do deserto e dos maiores perigos, podia contar com a providência divina.
Esta é a lição mais importante para nosso novo ano. Devemos manter a consciência de que, não importa o que acontecer, a nossa comunhão com Deus é o sustento necessário.

Conclusão

Todos podemos e devemos fazer planos que incluam uma vida mais próxima de Deus. A vida sem Deus é um enorme deserto que precisa ser enfrentado com realidade e, portanto, devemos atingir os aspectos reais da nossa situação.
Devemos observar com cuidado o fato de que a vontade de Deus estará operando em cada momento da nossa vida, ele está nos guiando, mesmo em meio as mais violentas tentações e provocações para que mudemos a nossa direção no encontro com Deus.
O grande desafio de todo o trabalho da nossa tarefa de existir como filhos de Deus em 2014, é o de continuarmos a viver à sombra da certeza de que Deus está conosco todos os dias.

Oração

Ajuda-nos a viver, cada dia, na tua presença, desfrutando dos teus cuidados e caminhando na direção de viver em comunhão contigo.
Amém.



29 de dezembro de 2013

Marcos 1.6-8

O Batismo Com o Espírito Santo

 

Foco da Nossa Condição Decaída

Devemos desejar seguir Jesus e o faremos com base em um poder do Alto, o Espírito Santo. O texto nos mostra que o Espírito Santo é a ferramenta celestial para nos consagrar a Jesus, pois, por nós mesmos somos incapazes de assumir qualquer posição no Reino dos Céus.
Nossa condição pecaminosa precisa ser revestida de Cristo, por meio do Espírito Santo. O que Marcos deseja indicar é que andar com Jesus implica em uma entrega total de confiança naquele que é o Filho de Deus e não um resultado da força ou do poder do homem.

Introdução

Falando um pouco mais sobre este Evangelho. Destacamos o fato de que a maior parte dos estudiosos entendem que Marcos teria sido o primeiro dos quatro evangelhos a ser escrito.
Já mencionamos a possibilidade de ter sido João Marcos, o sobrinho de Barnabé o seu autor e teria feito sob a orientação de Pedro. É claro que estas afirmações não podem ser totalmente comprovadas, mas inferidas por algumas evidências. Outra afirmação a ser pensada é o público inicial. Pensamos em um público romano. Isso decorre do uso dos nomes dados às moedas como “denário” ou “quadrante”, especialmente o “quadrante” que só se acha registrado em Marcos na oferta da viúva pobre.
Sabemos, entretanto, que o público não era judaico. Uma vez que uma característica deste evangelho é descrever alguns ritos judaicos, explicando-os. Obviamente, os leitores do Evangelho não conheciam muito bem a tradição destes ritos. Um bom exemplo disto é Marcos 7.1-3.

Ora, reuniram-e a Jesus os fariseus e alguns escribas, vindos de Jerusalém. E, vendo que alguns dos discípulos dele comiam pão com as mãos impuras, isto é, por lavar (pois os fariseus e todos os judeus, observando a tradição dos anciãos, não comem sem lavar cuidadosamente as mãos) (Marcos 7.1-3).

Uma das perguntas mais importantes para fazermos a essa passagem é: o que Marcos queria que seus leitores entendessem a respeito de Jesus e porque era importante que eles refletissem sobre isso?
Evidentemente, o fato de os leitores iniciais não serem de descendência judaica ou não conhecerem bem essas tradições sugere muito sobre o que seria muito importante que aprendessem e que Marcos desejasse que refletissem.
Um dos aspectos que nos chama a atenção nesse Evangelho é que ele se concentra em dois títulos de Jesus: Messias, o Cristo e Filho de Deus. Ambos com uma conexão profunda ao Velho Testamento.
Outro aspecto que enfatiza isso é que as passagens do Velho Testamento, são a moldura para a fala de Marcos nestes primeiros versículos.
Marcos vai direto ao ponto e está claro que está disposto a descrever o ministério de Jesus Cristo o Filho de Deus e como este ministério é a Boa Nova (Evangelho) de salvação para o que crê.
No trecho que estamos lendo esta noite, o que temos em destaque é a superioridade de Jesus Cristo em relação à João. Essa superioridade é demonstrada principalmente no fato de que Cristo batiza com o Espírito Santo.
João propunha aos seus ouvintes uma mudança  no deserto de sua relação com Deus. Uma mudança como os próprios textos proféticos já indicavam.
Os leitores de Marcos não são as pessoas que foram ao deserto para serem batizadas por João, mas esses leitores deveriam entender que a mesma graça que era oferecida no deserto, na pessoa de João, era oferecida a todos eles, só que em grau superior, na pessoa e obra de Jesus Cristo, o Filho de Deus.
Essa era a intenção de Marcos com os seus leitores que eles entendessem e desejassem o batismo com o Espírito Santo como a verdadeira experiência de vida com Deus, o verdadeiro pasto verdejante substituto do deserto árido e desolado.
Eu penso que esse entendimento sobre a pessoa de Jesus Cristo é uma das faltas que temos em nosso atual modo de vida cristã. Muitos sequer compreendem que Cristo Jesus veio ao mundo para nos dar vida em abundância, porque sequer se compreendem em vidas ressequidas e distantes do Senhor.
O batismo com o Espírito Santo é a única maneira de verdadeiramente vivenciarmos essa nova vida. O batismo com o Espírito Santo, em Marcos é a marca da nova vida em Cristo Jesus.
Não estamos interessados nas discussões teológicas que separam Pentecostais e Reformados. Estou interessado em explorar o Batismo com o Espírito Santo como a verdadeira obra de introdução no caminho novo de vida, que contrasta com a vida árida e desolada de uma fé distante de Deus.


O Batismo Com o Espírito Santo

é

Uma Obra da Graça

Pois Deus Vai ao Nosso Encontro

no Deserto

Seguindo a rotina proposta no sermão pregado nos primeiros versos. O que vemos é que os versos 7 e 8 são introduzidos pela descrição da figura de João Batista.

As vestes de João eram feitas de pelos de camelo; ele trazia um cito de couro e se alimentava de gafanhotos e mel silvestre (Marcos 1.6).

É evidente a ligação entre João Batista e os profetas do Velho Testamento. É importante notar que Marcos deseja que essa ligação fique bem clara e especialmente a ligação entre João Batista e o ministério do profeta Elias (2 Reis 1.8 Marcos 9.13).
Contudo, nossa observação deste verso caminha noutro detalhe. O início do Evangelho é uma descrição clara do lugar onde Deus chama o seu povo ao arrependimento e esse lugar é o deserto.
João Batista se vestia com pelos de camelos porque esse tipo de vestimenta apontava para o lugar onde vivia e o enfatizava. As vestes de pelos era o modo como os peregrinos do deserto andavam porque era a mais adequada àquela aridez e calor intensos. Elas protegiam à noite também do frio e, por causa do peso, não eram perdidas durante os intensos ventos do deserto. Por isso, eram amarradas também com um cito de couro, que não se rompia facilmente como os de linho.
Sua dieta, de gafanhotos e mel silvestre era uma dieta compatível com tudo o que se podia encontrar em mais abundância no deserto. Ela indicava que um homem do deserto se alimentava do deserto e vivia nas condições impostas pelo deserto.
Marcos está criando uma imagem sobre as condições de total incapacidade humana para a busca de Deus. Deus veio ao deserto pregar o arrependimento e, nestas condições foi que anunciou uma relação nova entre Deus e seu povo, baseada no poder de Cristo e no batismo, isto é, o recomeço que ele propunha.
Esse versículo introdutório deve ser visto como uma espécie de preparação da mente para a concepção de salvação exclusivamente pela graça. E isto poderá ser observado em todo o Evangelho, pois ele enfatiza o poder de Cristo Jesus, o Filho de Deus e a necessidade e impossibilidades dos que são por ele alcançados.
Destaco neste sentido uma passagem do capítulo 7, a cura da filha de uma mulher síro-fenícia:
Levantando-se, partiu dali para as terras de Tido (de Sidon). Tendo entrado numa casa, queria que ninguém o soubesse; no entanto, não pôde ocultar-se, porque uma mulher, cuja filhinha estava possessa de espírito imundo, tendo ouvido a respeito dele, veio e prostrou-se-lhe aos pés. Esta mulher era grega, de origem siro-fenícia, e rogava-lhe que expelisse de sua filha o demônio. Mas Jesus lhe disse: Deixa primeiro que se fartem os filhos, porque não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-los aos cachorrinhos. Ela, porém, lhe respondeu: Sim, Senhor; mas os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem das migalhas das crianças. Então lhe disse: Por causa dessa palavra, podes ir: o demônio já saiu de tua filha (Marcos 7.24-29).
O Batismo com o Espírito Santo não é uma experiência dado à pessoas especiais que se destacam dos demais. Ele é oferecido aos pecadores quando ainda estão andando no deserto. Trata-se de Deus, com sua graça e misericórdia, alcançando-nos e clamando a nós que endireitemos as veredas, enquanto nossos caminhos ainda são pelo meio do deserto.
O Evangelho de Marcos é um clamor a pessoas que precisam de Cristo e precisam reconhecer isso. Para muitas pessoas, o privilégio de servir a Deus só poderia ser dado a pessoas dignas e cheias de fé. O que é importante que destaquemos aqui é que Deus o faz por meio de sua poderosa graça, sem a qual nada poderemos fazer.
O verso 7, dará sequencia a esse pensamento, mostrando o modo como João se compreendia indigno de ser servo de Jesus Cristo.

O Batismo Com o Espírito Santo

é

Uma Obra do Poder de Deus e Não do Poder do Homem


Os leitores de Marcos talvez tivessem uma consciência muito clara da importância da figura de João Batista. Aliás ele é uma das personagens bíblicas do Novo Testamento que tem comprovações históricas fortes fora do contexto da religiosidade cristã.
Flávio Josefo, o conhecido historiador judeu, fala de João Batista e o coloca no deserto ligando-o a uma comunidade judaica retirada, conhecida como “essênios”.
João era de fato uma personagem conhecida e que chamava muito a atenção de todos que conheciam a sua história. Marcos, entretanto, faz questão de deixar clara a posição do próprio JOão a respeito de como se enxergava na sua relação com o Cristo.

E pregava, dizendo: após mim vem aquele que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de, curvando-me, desatar-lhe as correias das sandálias  (Marcos 1.7).

No verso 4, Marcos enfatiza o conteúdo da pregação e o seu objetivo: o arrependimento, o recomeço. Aqui, ele mostra a consciência de JOão Batista na sua relação como Messias.
Essa clara noção de diferenciação era importante ser destacada, devida a grande repercussão do ministério de João Batista.
O Evangelho de João, na sua parte inicial faz questão de  apresentar essa diferenciação, dizendo que João testemunhava da luz, mas ele não era a luz:
Houve um homem, enviado por Deus cujo nome era João. Este veio como testemunha para que testificasse a respeito da luz, a fim de todos virem a crer por intermédio dele. Ele não era a luz, mas para veio para que testificasse da luz (João 1.6-8).
O povo até confundia Jesus Cristo com João Batista:
Quem dizem os homens que sou eu? E responderam: João Batista; outros Elias, mas outros: algum dos profetas (Marcos 8.27-28).
Após mim vem aquele que é mais poderoso do que eu - hisquiróteros - é a palavra usada por Marcos para  descrever o sentimento de João ao se referir a Jesus. Ele estava exaltando a posição de Cristo como alguém em uma escala tão elevada de poder que não seria possível sequer comparar. O poderoso descrito por João era como se fosse o filho do Rei que viria a um vilarejo substituir um dos seus servos responsáveis locais.

Do qual eu não sou digno de desatar as sandálias - No oriente antigo, era costume que um senhor chegasse à sua casa, vindo de suas viagens pelos caminhos empoeirados e seus servos lhe oferecessem uma bacia de água para lavar os pés.
Eles deveriam descalçar-lhe as sandálias e depois deitar os seus pés em água para lavá-los. Este privilégio era dado somente a servos de grande confiança e com grande aceitação por parte do seu senhor, os servos mais chegados.
João Batista se apossa dessa figura e enfatiza que sua condição diante do poder que virá após ele é descrito pela sua total incapacidade e indignidade.
O poder que opera a transformação da nossa vida de deserto em manancial não é vinda de homens. Não pode ser manipulada pelos homens, não pode ser controlada por eles, não pode sequer ser recebida por eles, como já dissemos, se não for a graça.
A condição mais evidente de nossa ligação com Cristo é a nossa total percepção de seu poder e glória. O batismo com o Espírito Santo não é ministrado por homens. Não pode ser considerado um poder da Igreja ou de qualquer um dos seus ministros.
É um erro buscar uma experiência viva com Deus sem se render a Cristo somente. Os romanos e os gregos também confiavam no seu poder e na sua sabedoria, mas logo percebemos que este evangelho vem nos mostrar que a boa nova é que Deus veio salvar os humildes.



O Batismo Com o Espírito Santo

é

Uma Obra de Mudança Interior


Já nos referimos ao fato de que a moldura das profecias do Velho Testamento estão presentes nesse Evangelho. Uma das profecias mais importantes para o contexto da Igreja neo-testamentária é a de Joel, capítulo 2, verso 28.
E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda carne [...] (Joel 2.28).
Essa profecia foi tomada por Pedro no seu grande sermão no Pentecostes e sobre ela ele afirmou que se cumpria no dia em que o Espírito Santo desceu sobre a igreja e os discípulos falaram as grandezas de Deus em outras línguas.
Mas o que ocorre hoje é o que foi dito por intermédio do profeta Joel  (Atos 2.16).
Marcos usa a ideia de batismo o libação, derramar um líquido sobre as pessoas ou fazê-las entrar nele para comparar com o que Cristo fará com o seu Espírito. No caso, derramando o Espírito sobre as pessoas. Como de fato aconteceu no Pentecostes.
Meus irmãos, o ponto central a ser destacado na figura que João usa é que o seu batismo tinha um poder limitado de simbolizar externamente uma mudança, mas o batismo que Jesus operaria ocorreria no âmbito da obra sobrenatural da mudança feita pelo Espírito Santo.
O profeta Ezequiel, também falando sobre essa mudança e esse recomeço pelo batismo com o Espírito Santo diz assim:
Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis (Ezequiel 36.26-27)
Duas coisas devemos destacar sobre o modo como Marcos deseja que os seus leitores entendam. Primeiro destacamos a voz ativa da expressão “ele vos batizará”. O que implica em dizer que ele o fará e agirá segundo o seu querer.
O segundo aspecto é que esse batismo interior, operado por Cristo é o alvo da nova vida que todos os leitores devem almejar.
Da mesma forma, podemos entender hoje que esse é o ponto central da nossa nova vida com Deus. Não se trata em uma vida baseada em rituais exteriores somente: ir a igreja, cantar hinos, fazer orações. Trata-se muito mais de uma decisão de mudança interior que provoque realmente algo novo em nosso viver.
Um texto que me chama muito a atenção em Marcos é aquele que retrata o dia em que Maria e os outros irmãos de Jesus foram chamá-lo em um certo lugar onde ele ministrava o seu ensino. Eles chegam ao lugar e mandam chamá-lo, mas ele olha para todos os que o ouvem e pergunta: quem é minha mãe e meus irmãos? Ele mesmo responde:
E, correndo o olhar pelos que estavam assentados ao redor, disse: Eis minha mãe e meus irmãos. Portanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe (Marcos 3.34-35).
Junte isso ao que nos disse o profeta Ezequiel e veremos o que realmente significa “batismo com o Espírito”. Evidentemente, trata-se de um divisor de águas, que separa realmente os que entregaram a Jesus a sua vida e nele confiaram como sendo o seu único e suficiente salvador.

Conclusão

O Evangelho de Marcos é uma grande exaltação da pessoa e obra de Jesus Cristo do começo ao fim. Ele faz isso mostrando a nossa necessidade. Precisamos reconhecer isso e precisamos de Jesus desesperadamente.
O enchimento do Espírito Santo é a única possibilidade real de uma vida de relacionamento com Deus de um modo que o agrade.
Eu o convido a uma reflexão completa sobre sua relação com Deus. Também o convido a buscar esse enchimento do Espírito Santo e esse preencher da vida com os valores que devem nortear um novo caminhar com Cristo Jesus.
Não seja enganado, a verdadeira experiência de vida com Deus não acontecerá porque somos capazes de forjá-la. Não se trata de uma obra baseada no poder do homem. Antes precisamos saber que acontecerá no meio dos nossos desertos. Quando nos alimentamos do deserto e percebemos que há algo melhor a ser buscado. Também devemos vivencia-la de forma interior e buscá-la com avidez que ultrapasse a ideia de uma reputação cristã, mas uma vida plena diante de Deus.

Aplicação Para a Igreja Presbiteriana de Vila Formosa

Meus amados irmãos. Esse é o tipo de igreja que esperamos viver aqui. Ela é baseada em compromissos com Deus que ultrapassem os valores exteriores da nossa fé.
O que realmente esperamos e buscamos para cada membro da igreja é uma vida real diante de Deus, ou como diziam os antigos “Coram Deo”.
Esse tipo de vida começa em um verdadeiro quebrantamento e reconhecimento do deserto. Ela passa por uma busca que não é norteada pela capacidade pessoal ou a capacidade humana de produzir ambientes religiosos.
Devemos esperar que algo realmente vindo dos céus nos transforme e molde o nosso coração. Não podemos viver sem que do Alto sejamos revestidos e, cada vez mais, fortalecidos. Então, a Igreja Presbiteriana de Vila Formosa deve se sentir convocada a buscar a viver com avidez a busca do Enchimento do Espírito Santo e de uma relação com Deus digna.

Oração

Enche-nos Espírito, mais que cheio queremos estar.



22 de dezembro de 2013

Marcos 1.1-5

O Evangelho no Deserto


Foco da Nossa Condição Decaída

Jesus Cristo é a resposta de Deus para o deserto da existência humana vazia e inóspita. Nesse texto, o Senhor chama o seu povo para um novo começo, cheio de vida e do derramar da graça de Deus. Os que ouvem a voz do evangelho poderão viver dias de grande mudança. 


Introdução

Um dos problemas enfrentados em nossos dias é a desertificação. Alguns lugares do mundo, estão se tornando em lugares impróprios para a vida, porque, aos poucos estão se tornando em desertos. No Brasil, todas as regiões, de Norte a Sul, temos lugares que estão se tornando em desertos. 
Deus se utilizou de várias figuras para ensinar a respeito do nosso relacionamento com ele. Uma das figuras que mais exemplificam o viver do homem sem Deus é o "deserto". 
O deserto fazia parte da vida dos palestinos. Era um lugar que apontava para um dos mais significativos momentos da sua história, a caminhada de Moisés e o do povo por quarenta anos, aguardando a terra que mana lei e mel. 
Deus desejava usar essa figura para fazer o seu povo lembrar de como é ruim viver em um lugar caótico, inóspito, cuja habitação é precária e a vida difícil. O texto que temos diante de nós é uma referência ao começo da vida pública de Jesus. Antes mesmo do início do ministério público de Jesus, Deus cumpriu a profecias de Isaías enviando uma voz, João Batista, ele clamava no deserto e chamava o povo de Deus ao arrependimento, por que era chegado o reino de Deus. 
Quando vivemos sem Deus, descobrimos que a vida pode se transformar em um grande deserto. Podemos ir, aos poucos, aprendendo o mal que faz afastar Deus dos nossos planos, do nosso dia-a-dia e dos nossos ideais de vida. O deserto não se faz em um dia, ele vai se intensificando e se espalhando.


Para Que a Vida Não Seja Um Deserto, Precisamos Admitir o Deserto

A profecia que emoldura o texto de Marcos 1.2-6 é Isaías 40.3. Ela aponta para um tempo, como temos visto, nas pregações em Miquéias, para um tempo desértico na relação dos homens com Deus. 
O problema não era a falta de religião, mas a própria falta de Deus. Eles o  buscavam, criam nele, mas o seu coração não se rendia ao Senhor. Eles se serviam de Deus e não estavam dispostos a integrar a vida toda à vontade de Deus. 

Voz do que clama no deserto - Com essa expressão, o que o Senhor enfatiza é que o lugar onde o Evangelho de Jesus é pregado não é um lugar maravilhoso, mas um deserto. 
Deus vem ao deserto para chamar o homem ao caminho da transformação. Todas as vezes que nos fechamos e perdemos de vista a desertificação da nossa vida, nos tornamos presas fáceis dos efeitos devastadores do pecado. 
A chegada de Jesus, o transformador do deserto, é antecedida pela chegada da percepção do deserto, a isso chamamos de o processo de arrependimento, quebrantamento do coração. 

Apareceu João Batista o deserto - Deus, propositadamente, envia João Batista a clamar literalmente no deserto. Ele não cumpre a profecia apenas por que prega no deserto, mas porque deserta era a vida do povo de Israel nos seus dias. 
Nos dias de João Batista, havia corrupção na terra, quem dominava eram os romanos e as autoridades religiosas eram corruptas, o templo era o de Herodes e o sacerdócio não seguia a linhagem bíblica. A pregação de João, era ilustrada pelo próprio lugar onde ele pregava.

A admissão da desertificação é um dos indícios mais claros de que estamos caminhando para o processo de restauração. Precisamos, abandonar todo e qualquer orgulho, pois isto desertifica a nossa vida. Também precisamos de um genuíno quebrantamento vindo de Deus, que proporcione o rompimento como quadro devastador da nossa alma, do nosso relacionamento com Deus. 


Para Que a Vida Não Seja Um Deserto, Precisamos de Uma Correção do Caminho

A profecia de Isaías, repetida por Marcos, emoldurou também a mensagem de João Batista. O seu conteúdo era: 

Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas -  ainda que a chegada de Deus na nossa história não dependa de nós, o próprio Deus deseja que nosso coração seja estimulado a buscá-la. O profeta Isaías, tanto quanto muitos outros, clamou pelo retorno do coração do povo de Deus à sensatez e ao próprio Deus. 
O clamor da profecia era para que todos os homens preparassem o caminho do Senhor e o fariam por uma correção de seu caminho. O que chamamos de conversão a Deus. 
Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho, o iníquo os seus pensamentos; converta-se ao Senhor, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar (Isaías 55.6-7). 
Pregando batismo de arrependimento para a remissão de pecados  - a mensagem pregada por João era direta e ia ao ponto central. Ele não chamava a desertificação da vida e do relacionamento com Deus de "enfraquecimento da fé", não a chamava de "uma diminuição do interesse"... Ele dizia que os homens estavam dominados pelo "pecado". Ele os exortava a não se presumirem santos, mas a reconhecerem seus pecados e buscarem caminhos novos para os pés. 
Dizia ele, pois, às multidões que saiam para serem batizadas: Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento e não comeceis a dizer entre vós mesmos: temos por pai Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão (Lucas 3.7-8). 
Meus irmãos, novas atitudes devem compor a nossa vida com Deus. Novas atitudes são necessárias para evitar a desertificação da vida com Deus. Muitas vezes, vejo as pessoas orando e pedindo transformações na sua vida e na vida de outras pessoas queridas. 
Acredito que as orações sejam uma parte muito importante da nossa vida, mas elas não podem ser um fim em si mesmas. Não poderemos dizer a Deus que nossa vida não se transformou porque ele não atendeu às orações. 
Deus nos chama a viver para ele e a buscá-lo. Deixar o  mal caminho e se converter ao Senhor. O arrependimento é composto de duas coisas: reconhecimento e mudança. 


Para Que a Vida Não Seja Um Deserto, Precisamos de Jesus Cristo, o Filho de Deus

O verso primeiro é uma introdução à mensagem de todo o Evangelho. Marcos, escreve seu evangelho com a perspectiva de toda a obra de transformação que Deus pode fazer e esta obra está centrada na vida de Jesus Cristo. 

Princípio do Evangelho de Jesus Cristo Filho de Deus - Jesus Cristo é o centro da experiencia transformadora e da mudança do Evangelho em manancial de águas. Marcos coloca em destaque a figura de Jesus como o Filho de Deus. 
Também os espíritos imundos, quando o viam, prostravam-se diante dele e exclamavam: Tu és o Filho de Deus! (Marcos 3.11). 
Quando, de longe, viu Jesus, correu e o adorou, exclamando em alta voz: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? (Marcos 5.6-7).
O centurião que estava em frente dele, vendo que assim expirara, disse. Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus (Marcos 15.39).
Todos estes testemunhos vinham de estranhos à experiência com Deus. Marcos prefere nos mostrar a insensatez do povo de Deus quando não percebe isso. Precisamos voltar nosso olhar para a nossa realidade e perceber os desertos do nosso relacionamento com Deus, mas, em seguida, precisamos olhar para Cristo Jesus e notar o seu poder transformador. 

Saia a ter com ele toda a província da Judéia e todos os habitantes de Jerusalém; e, confessando os seus pecados eram batizados no rio Jordão - Algumas agências de viagem proporcionam uma viagem para Israel e muitos desejam ir até as margens do Rio Jordão para se batizar. 
Na verdade, esse gesto, muitas vezes, cheio de fé, carece de qualquer significado bíblico. O que devemos também lembrar é que o batismo para o qual o Senhor nos chama é o de arrependimento dos nossos pecados e o início de uma vida nova, com transformações. Isso só pode verdadeiramente ocorrer quando Cristo é o centro da nossa experiência. 
Evidentemente, como veremos no texto que segue, o batismo de João tinha como propósito a mudança e a reaproximação dos homens a Deus, por meio de Cristo Jesus. 
Eu vos tenho batizado com água; ele porém, vos batizará com o Espírito Santo (Marcos 1.8). 


Conclusão

O Natal é revestido de forma muito especial desse significado de mudança. Quero chamá-los a uma profunda reavaliação da sua vida com Deus. Essa é uma das épocas mais oportunas para uma reaproximação com Deus, afinal, além do Natal nos fazer olhar para Jesus como o centro da vida, também nos aproximamos do recomeço do ano novo. 
Evite a desertificação da sua vida, voltando a traçar caminhos para uma vida cheia da presença de Jesus Cristo. Deus o chama a viver para ele e a fazer caminhos direitos para os seus pés. 

Aplicação Para a Igreja Presbiteriana de Vila Formosa

Caros irmãos, a nossa missão como Igreja é proclamar a mensagem do Evangelho. Devemos nos tornar pessoas conscientes de nossos próprios desertos, mas ao mesmo tempo, ser os primeiros a caminhar na direção certa. 
Deus nos tem abençoado, mas também tem nos provado muito. Muitos irmãos e irmãs vivem momentos difíceis. Somos tão susctíveis à desertificação quanto qualquer um. Por isso, devemos buscar a vida com Deus de forma insistente, contínua. 
Quero estimulá-los a pensar com toda a seriedade nessas coisas da nossa vida com Deus e a tomarem decisões que promovam significativas e positivas mudanças. Em nossas casas, voltemos a Deus. Em nossos planos, voltemos a Deus. Em nossas atitudes, voltemos a Deus. 

Oração

Conceda o fim de toda a desertificação.

1 de dezembro de 2013

Miquéias 6.1-8

A Justiça do SENHOR
Aprendendo a Viver de Forma Justa

Foco da Nossa Condição Decaída

Em boa parte das vezes, a abordagem de confronto parece ser incompatível com a fé cristã. Imaginamos que Deus estará sempre pronto a apaziguar os ânimos e entender nossos erros. Ao considerar um Deus que perdoa e esquece as nossas transgressões, podemos ser tentados a pensar também que podemos ter um relacionamento com Ele displiscente, levando em conta que ele nos perdoará no final. Bem, é um grande erro imaginar que Deus não será exigente. O texto que temos diante de nós, nos chama a atenção para o fato de que Deus tem uma controvérsia conosco e essa controvérsia tem a ver com o modo como vivemos. A vida reta, baseada na justiça de Deus, é uma exigência do Senhor. Precisamos de um compromisso cada vez mais completo com isso.


Introdução

Os homens de Judá haviam pensado que poderiam negociar alguns valores com Deus. Imaginaram que o Senhor deveria considerar que já estavam fazendo muito para manter a religião em Israel. 
A acusação do profeta Miquéias aponta para o fato de que Deus não estaria disposto a negociar ou a fazer vistas grossas para os pecados do seu povo. Neste capítulo, o profeta usa dois quadros que indicam Deus como um juiz e estabelece a controvérsia de Deus contra a injustiça dos seus filhos. 
Convido você a perceber as características próprias da justiça de Deus e a impossibilidade de uma negociação de valores com o Senhor. O quadro vivido de um tribunal é visto neste primeiro trecho do capítulo. Temos um juiz, os réus, as testemunhas, a acusação e a defesa. Todos esses elementos pintam um quadro importante que nos leva a compreender o que o SEnhor espera realmente de nós. 

Para Um Viver Justo Precisamos Admitir o Fato de Que Deus Realmente se Importa

Com toda certeza um dos elementos que desagregam a nossa fé e nos afastam de um viver em contínua retidão e justiça é a falta de profunda percepção da importância que Deus dá ao fato de que nos criou para um viver reto. 
A ideia de ilustrar a frustração de Deus com o modo de vida do seu povo por meio da figura de um tribunal não é única de Miquéias. O capítulo 5 de Isaías também nos faz uma convocação para julgarmos entre Deus e o seu povo. 
Julgai, vos peço, entre mim e a minha vinha. Que mais se podia fazer ainda à minha vinha, que eu lhe não tenha feito? E como, esperando eu que desse uvas boas, veio a produzir uvas bravas? (Isaías 5.3-4). 
O profeta Miquéias semelhantemente mostra a frustração de Deus com o fato de que o seu povo tenha dado às costas para o modelo pactual de vida que Ele havia proposto na sua Lei. O fato é que Deus esperava que o resultado da presença do seu povo na terra Canaã e do seu compromisso com a Lei santa, produzisse uma sociedade dirigida pela justiça, mas o fato é que o resultado prático da vida daqueles homens era a exploração e a injustiça. O mesmo trouxe Isaías que falou no mesmo tempo para o povo da cidade de Jerusalém: 
Porque a vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta dileta do SEnhor; este desejou que exercessem juízo, e eis aí quebrantamento da lei, justiça, e eis aí clamor (Isaías 5.7). 
Também Miquéias mostra essa frustração de Deus e acusa o povo do Senhor de viver de uma forma completamente divergente à todas as expectativas de Deus com os seus filhos. 
Ai de mim! Porque estou como quando são colhidas as frutas do verão, como os rabiscos da víndima: não há cacho de uvas para chupar, nem figos temporãos que a minha alma deseja (Miquéias 7.1). 
Viver como se Deus não se importasse. Continuar na prática do pecado ou seguindo o curso do caminho dos ímpios ou viver segundo o curso deste mundo e sob as regras dele é uma postura que não se enquadra no desejo de Deus para o seu povo. 
Precisamos da consciência clara de que DEUS SE IMPORTA SIM COM O MODO COMO VIVEMOS EM SEUS MÍNIMOS DETALHES. Quando realmente admitirmos que Deus se importa, então o nosso critério para a vida será mais elevado. 
No texto o que observamos sobre esse fato é que Deus convoca o seu povo a pensar e julgar a si mesmo. 
Levanta-se, defende a tua causa perante os montes, e ouçam os outeiros a tua voz. Ouvi, montes, a controvérsia do Senhor, e vós, duráveis fundamentos da terra, porque o Senhor tem controvérsia com o seu povo e com Israel entrará em juízo.
Os termos usados por Miquéias dão conta de que se trata de uma convocação, uma ordem judicial para comparecer diante do tribunal. Ele estabelece os montes e outeiros como juri, uma vez que eles estiveram presentes desdes os dias antigos (fundamentos da terra) e toda a história puderam assistir e contemplaram o amor do Senhor para com o seu povo. 
Estamos diante da fase de instrução do tribunal, Deus apresentará suas queixas e estabelece uma controvérsia, ou disputa, um desacordo. Ele havia proposto ao seu povo um modo de vida e, para tanto, lhe dera tudo o que era necessário, mas o seu povo resgatado, não correspondera e agora o Senhor lhes argui sobre isso. 
Povo meu, que te tenho feito? E com que te enfadei? Responde-me! Pois eu te fiz sair da terra do Egito e da casa da servidão te remi; e enviei adiante de ti Moisés, Arão e Miriã. Povo meu, lembra-te, agora, do que maquinou Balaque, rei de Moabe, e do que lhe respondeu Balaão, filho de Beor, e do que aconteceu dede Sitim até Gilgal, para que conheças os atos de justiça do Senhor 
A nossa história e todos os atos de redenção do Senhor não acontecem por acaso. São todos eles para nos conduzir a um padrão de vida que agrada a Deus. Não vivemos para nós mesmos, mas para Deus! Esse deveria ser o nosso pensamento. 
Pense, meu caro irmão: DEUS SE IMPORTA E TENHA CONSCIÊNCIA DISSO. Uma vida de retidão e justiça depende de incluir essa premissa em sua maneira de pensar. Quando fizer um negócio, quando resolver uma questão familiar, quando corrigir ou ensinar os seus filhos. Naquilo que reprovas e naquilo que aprovas. Em tudo e em qualquer pensamento, palavra, ação, resolução... tudo deve incluir a premissa de que Deus se importa com o modo como vivo e faço escolhas. 

Para Um Viver Justo Precisamos Admitir o Fato de Que Deus Não Pode Ser Enganado

Uma das passagens bíblicas que mais me impressionam pelo seu poder exortativo é aquela do Sermão da Montanha, quando Jesus Cristo disse: 
Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus (Mateus 7.21a). 
Jesus completa o pensamento, justificando a sua afirmação com uma declaração bombástica sobre o fato de que muitos pensam que podem enganar a Deus: 
Muitos, naquele dia, hão de dizer: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? (Mateus 7.22). 
E, de forma explicita, Jesus declara a impossibilidade de que Deus seja realmente enganado: 
Então, lhes direi explicitamente:nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade (Mateus 7.23). 
O texto do profeta Miquéias aponta para a tentativa inútil de Israel se esconder por detrás de suas obras de justiça aparente. Uma grande ironia permeia o seu argumento, pois eles irão dizer que Deus está recebendo bem mais do que tem pedido. 
Eles apresentam a sua defesa diante da acusação de Deus da seguinte maneira: 
Com que me apresentarei ao Senhor e me inclinarei ante o Deus excelso? Virei perante ele com holocaustos, com bezerros de um ano? 
 Eles iniciam o argumento de defesa, propondo uma reflexão sobre o fato de que a Lei de Moisés parecia muito objetiva quanto aos atos prescritos. Eles estavam certos, exceto por uma coisa: Deus não se agrada de sacrifícios, mais que um coração quebrantado. O problema de Deus não era receber os animais em holocaustos ou a precisão da prática externa dos atos religiosos, mas de uma profunda convicção de pecado e confiança nEle. 
Mas os homens de Israel se achavam justificados por estarem praticando os ritos externos e até ridicularizam Deus ao darem continuidade ao argumento: 
Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros, de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu corpo, pelo pecado da minha alma? 
Há sempre alguém tentando argumentar com Deus, dizendo que já tem feito bastante. Será que Deus não se cansa de receber? Por outro lado, há aqueles que, na tentativa de se safarem das acusações da Palavra de Deus, procuram refúgio em uma prática externa, sem o verdadeiro quebrantamento e envolvimento do coração. Os dois estão errados: os que acham que fazem demais e também os que querem fazer mais externamente. 

DEUS NÃO PODE SER ENGANADO! Porque Deus vê o coração! Meus irmãos, nada do que fizermos será muito para Deus e também nada será o suficiente. Um viver reto nada tem a ver com o quanto ou o quê fazemos. Um viver reto está ligado muito mais ao "para a glória de quem fazemos nós" ou "para agradar a quem".

Deus cuidou de nós durante toda a nossa história de vida. Assim como nos dias passados, nos dias de Balaão, ele também nos preservou quando os inimigos tentaram nos destruir. Ele nos corrigiu e nos abriu caminhos novos.  Ele sempre teve um propósito de nos conceder todas as coisas para nos conduzir para uma vida de piedade. 
Permutar valores com o mundo é uma alta traição aos propósitos de Deus para a nossa vida é desconsiderar o valor da Cruz e da vida e morte de Jesus. Todos estes são os atos de justiça de Deus e por eles, devemos não dar apenas nossos cultos, nossos dízimos, nossas ofertas, mas a própria vida como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. 

Para Um Viver Justo Precisamos Viver de Acordo Com o Seu Querer

Deus não tem como objetivo final desta controvérsia apenas a acusação. Ele deseja que o seu povo reconheça o seu mau caminho e deseja que estejam prontos para ouvir o que o Senhor espera deles e deseja que vivam segundo o seu querer. 
Deus é misericordioso e sempre se fez pronto em chamar o seu povo a novamente reatar os laços de aliança e vida que apontam o fato de que Deus ama o seu povo. 
Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve;ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã. Se quiserdes e me ouvirdes, comereis o melhor desta terra. Mas, se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados à espada; porque a boca do Senhor o disse (Isaías 1.18-20). 
É tão clara a misericórdia do Senhor. Ele se volta ao seu povo rebelde e mais uma vez declara, antes que a sentença seja anunciada, qual deveria ser o procedimento e qual o propósito e expectativa de Deus para com o seu povo. 

Ele declarou,  ó homem - primeiro é preciso que fique claro que Deus é maior que o homem. Ele e só Ele tem o direito de dizer o que é reto e justo. Não se trata de uma justiça que tenha como parâmetro os sentimentos pessoais e exclusivos do homem, mas é o padrão de Deus que tem a primazia. 

O que é bom e o que é o que o Senhor requer de ti - Mais uma vez fica claro o fato de que é necessário considerar quem é quem e quem tem direito sobre quem. Deus é o ponto de partida e não se trata de nossas expectativas do que Deus deve fazer, mas das expectativas dele para com o que devemos fazer. 

Que pratiques a justiça e ames a misericórdia - Do que estamos falando? Estamos falando da Lei de Deus e de tudo o que ela exige em termos de nosso amor puro para com o nosso semelhante. Deus não podia aceitar que seus filhos se tornassem tão ímpios quanto os próprios ímpios e tivessem um modelo de vida baseado na ganância injusta ou em qualquer forma de injustiça. O Senhor também não admitiria que o seu povo visse a miséria do próximo e ficasse como quem nada viu. Deus não quer que assim viva o seu povo, com o coração autocentrado e egoísta. Ao contrário, como em toda a Escritura ele nos chama a amar o próximo de uma maneira tal que reflitamos verdadeiramente o seu amor. 

E andes humildemente com o seu Deus - Este texto nos faz lembrar do que foi dito sobre Enoque, Noé e para Abraão: andar com Deus. Meus irmãos, o resultado mais oportuno de uma vida reta é que ela é vivida na companhia de Deus. A companhia do Altíssimo não se torna real porque temos uma religiosidade externa, mas a sua intimidade acontece quando o nosso coração realmente se rende a Deus e à sua vontade. 
Andar humildemente com o nosso Deus é, entre tantas coisas, viver para Ele e dispor tudo para a glória dele. Ele é justo e nos dará tudo o que precisamos para esse viver. 


Conclusão

O que posso dizer senão que é um ato de amor que Deus esteja nos chamando a refletir e propondo que hoje reavaliemos e comecemos ou retomemos a caminhada na justiça. Não se trata de um julgamento humano sobre quem quer que seja, trata-se de Deus que conhece o seu coração e sabe o que é necessário que você mude. 
Portanto, considerando essas verdades, promova em sua vida tudo que é necessário para que sua vida siga o padrão de retidão e justiça traçados pelo Senhor. 

Aplicação Para a Igreja Presbiteriana de Vila Formosa

Minha amada igreja!
Tudo o que eu gostaria de viver em Deus tem como objetivo agradar ao meu Deus, mesmo que eu tenha falhado tanto; deixar um bom exemplo para as minhas filhas e netos que virão; e caminhar com vocês ensinando e aprendendo o caminho da retidão. 
Lamento que, de alguma maneira eu tenha falhado em fazer o que era necessário fazer. Na verdade, nem sempre sei o que fazer para lhes convencer de que ouvir a Palavra é tudo o que precisamos. 
Eu vos exorto a ouvirem a Palavra do Senhor e participarem da Santa Ceia esta noite com o coração pronto a ouvir a voz de Deus e desejo de fazer caminhos novos para os seus pés. 
Caminhem comigo e vamos juntos ao encontro de um modelo de vida conduzido pela justiça de Deus e de sua palavra. Ajudem-me neste propósito e não dificultem isso. Não posso viver para ninguém e nem quereria, pois não tenho santidade para isso. Mas desejo ensinar o que sei e aprender o que não sei para ensinar ainda mais, para que todos andemos na estrada de justiça do Senhor. 

Oração

Permita-me, Senhor, que tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado! Amém!