10 de julho de 2016

Atos 10.44 a 48

O Espírito Rompe Barreiras Entre os Filhos de Deus
Atos 10.44 a 48

FCD
Uma Igreja verdadeiramente espiritual tem uma marca fundamental: a sua unidade. Seres humanos, por causa da queda, resistem à ideia de verdadeira unidade, porque o egocentrismo domina o coração humano, mas o novo nascimento produz uma nova percepção do outro e esta é uma marca essencial de uma igreja verdadeiramente espiritual. No texto de hoje, assim como Pedro aprendeu, podemos aprender também a respeito da nossa unidade no Espírito.   
INTRODUÇÃO
O capítulo 9, certamente é dedicado a nos mostrar as grandes lições aprendidas pela igreja através da instrumentalidade de Pedro. O capítulo 10, por outro lado, certamente é dedicado a nos mostrar as lições que o próprio Pedro aprendeu.
Quando Lucas escreveu este livro não tinha a intenção de promover pessoas, construir reputações heroicas para a motivação da igreja. Não estava na agenda de Lucas outra coisa senão nos mostrar como o poder do Espírito Santo usou homens simples nas mãos do Senhor.
A igreja que crescia e se espalhava pela Galiléia, Samaria, Judeia e depois por toda a Ásia, Acaia, Europa etc., tinha um ministério impressionante, mas não se tratava de uma igreja em si impressionante. Era uma igreja comum, de gente comum, uma igreja simples, de gente simples.
Quando Paulo escreveu para os crentes de Corinto ele deixou claro que a vocação da igreja havia privilegiados os homens simples, aqueles que nada são. Deus o fez assim para que o poder que viesse a ser exaltado na Igreja não fosse o do homem, mas o de Deus e do Espírito de Cristo.
O capítulo 10 de Atos é dedicado a uma história de transformação da visão e do coração de Pedro. Nele, Lucas relata que Cornélio, um gentio, manda chamar Pedro. Ele é um homem temente a Deus, está orando e Deus o orienta a chamar o grande apóstolo.
Pedro, por sua vez, tinha uma visão restrita da obra de Deus. Mas irá, após uma visão espetacular de um lençol com animais imundos, aprender a lição do valor dos gentios para o Senhor e do amor do Senhor por todos os povos da terra. Isto mudaria radicalmente a visão dos apóstolos, pois estes encontrariam o caminho para a verdadeira obra de Deus: alcançar todos os filhos de Deus e não somente aqueles que interessavam aos judeus.
Aprender a receber o outro, não apenas por educação, não apenas por causa do convívio social, mas recebe-lo como irmão, como parte de nós, como alguém que foi amado e escolhido por Deus, este foi o grande desafio de Pedro naquele dia, assim como é para nós.
Vamos buscar neste texto os elementos que nos ajudem a repensar os valores que guiam o processo que nos faz irmãos. Vamos buscar neste a importância de entender que o que nos une está acima de nós.
O ESPÍRITO SANTO USA A PALAVRA COMO INSTRUMENTO PARA ROMPER AS BARREIRAS ENTRE OS FILHOS DE DEUS
Nem sempre é fácil entender a importância deste texto para o argumento que Lucas está construindo com a história da igreja primitiva. Lucas, viveu o contexto das importantes discussões iniciais do cristianismo e, entre as questões mais difíceis, estava a união entre gentios e judeus.
Lucas toma Pedro como o seu exemplo mais importante. Ele mostra aos seus leitores iniciais e para nós como Pedro, aquele que representava melhor que todos os demais a origem judaica do cristianismo, para servir de aprendizado para toda a igreja dos seus dias sobre a natureza espiritual da Igreja.
As diferenças entre judeus e gentios eram históricas e profundamente arraigadas no coração dos judeus, em particular. Era muito difícil para um judeu compreender o que é uma vida espiritual para um gentio. O judeu não conseguia conceber que o pacto de Abraão se estendesse também a homens que não fossem descendentes de Abraão no sangue. O Novo Testamento, em muitas das suas cartas, discutirá fortemente esta questão.
Mas Pedro foi enviado ao Centurião Cornélio por um chamado do Espírito Santo. Teve uma visão desafiadora sobre o valor das pessoas que Deus criou e que não deveriam jamais ser consideradas imundas, quando chegam os homens de Cornélio com uma mensagem:
Enquanto meditava Pedro acerca da visão, disse-lhe o Espírito: estão aí dois homens que te procuram; levanta-te, pois, desce e vai com eles, nada duvidando, porque eu os enviei. E, descendo Pedro para junto dos homens, disse: Aqui me tendes, sou eu a quem buscais? A que viestes? Então, disseram: O centurião Cornélio, homem reto, temente a Deus e tendo bom testemunho de toda a nação judaica, foi instruído por um santo anjo para chamar-te a sua casa e ouviras tuas palavras (Atos 10.19-22).
O Espírito Santo estava conduzindo aquele episódio e preparando para Pedro ter este encontro na casa de Cornélio. O que é interessante é que Cornélio mandou chamar Pedro para poder “ouvir a suas palavras”. Pedro foi com eles e na casa de Cornélio expôs a mensagem do Evangelho.
O próprio Cornélio ajuntou em sua casa seus parentes e se posicionaram para ouvir o que Deus tinha ordenado para a sua vida:
Portanto, sem demora, mande chamar-te, e fizeste bem em vir. Agora, pois, estamos todos aqui, na presença de Deus, prontos para ouvir tuo que te foi ordenado da parte do Senhor (Atos 10.33).
Pedro, portanto, anunciou como o Espírito Santo ungiu Jesus de Nazaré para o seu ministério e como ele foi morto e ressuscitou, tendo aparecido aos apóstolos e os enviado a pregar a mensagem do juízo de Deus contra os homens e de sua salvação.
Ainda, Pedro, falava estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, que vieram com Pedro, admiravam-se, portanto, que também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo; pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus (Atos 10.44-45).
O Espírito, como resultado da Palavra, ofereceu aos homens da casa de Cornélio o mesmo dom que havia concedido aos apóstolos em Jerusalém no dia de Pentecostes. O Espírito estava mostrando que OUVIR A PALAVRA DE DEUS É UMA DÁVIDA QUE DEUS DÁ SOMENTE AOS SEUS FILHOS.
Naquele momento ele estava rompendo várias barreiras culturais, religiosas, que se impunha separando as pessoas. Os judeus, como o texto destaca, não faziam mal juízo dos gentios porque eram simplesmente homens maus, mas tinham construído uma maneira de ver a vida que precisava mudar e uma maneira de ver as outras pessoas que precisava mudar e DEUS ESTAVA MUDANDO A SUA VISÃO DOS OUTROS.
É tão fácil construir barreiras para a nossa relação com os outros. Basta o nosso coração sentir que há erros nos outros ou coisas que não apreciamos: ele tem isso, aquilo, faz isto ou aquilo, se veste assim ou assado... Para Pedro e seus irmãos judeus, o Espírito precisou lhes mostrar: ELES TAMBÉM OUVEM A PALAVRA DE DEUS.
Irmãos, precisamos trabalhar com uma visão de irmandade que se faz em torno da Palavra de Deus e não da nossa. O outro é seu irmão por vontade de Deus e não por sua vontade. Tomemos muito cuidado com as barreiras que temos levantado, porque o fato de levantar barreiras pode indicar que quem não está ouvindo a Palavra somos nós.  

O ESPÍRITO SANTO USA O NOVO NASCIMENTO E SEUS DONS PARA ROMPER BARREIRAS ENTRE OS FILHOS DE DEUS
Quando o Espírito Santo deu aos gentios da casa de Cornélio o mesmo dom que dera aos discípulos no cenáculo em Jerusalém, ficou claro para os judeus que Deus estava agindo no coração deles. Pedro, chegou a uma conclusão teológica fundamental: eles haviam nascido de no Espírito!
Então, perguntou Pedro: Porventura, pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo? (Atos 10.46-47).
Pedro propõe uma reflexão aos irmãos judeus que o seguem e, implicitamente uma reflexão para todo o pensamento judaico a respeito do que significa alguém ser batizado com o novo nascimento do Espírito Santo, com as evidências naturais disto.
Mais tarde, Pedro teve de dar explicações em Jerusalém e disse que entendeu que o que havia acontecido era um batismo com o Espírito Santo, como Jesus havia ensinado e que diante disto não pode resistir a Deus.
Quando, porém, comecei a falar, caiu o Espírito Santo sobre eles, como também sobre nós, no princípio. Então, me lembrei da palavra do Senhor, quando disse: João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo. Pois, se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus, quem era eu para que pudesse resistir a Deus? (Atos 11.15-17).
Irmãos, a vida em irmandade é produto da soberana vontade de Deus e de nenhuma outra realidade humana. Precisamos discernir estes aspectos de quem somos e de quem são os nossos irmãos. As barreiras que deixamos construir, muitas vezes, são negações capciosas do pecado que age em nosso coração e DUREZA DE CORAÇÃO PARA COM DEUS.
Pedro desafiou os seus companheiros, mais ou menos dizendo: vocês estão vendo o que Deus está fazendo, vocês conseguem negar a água para recebe-los na nossa irmandade da fé? Pedro estava identificando a natureza comum do chamado do Espírito naqueles gentios e em todos os judeus que haviam crido em Cristo Jesus.
Os valores que devem ser considerados para a construção da nossa visão de irmandade não podem se estabelecer em nossas percepções pessoais. Devemos ter muito cuidado quando nos tornamos seletivos demais em nossa relação espiritual dentro da nossa irmandade. Corremos o risco de estar resistindo a Deus e isto é muito sério.


O ESPÍRITO SANTO USA A COMUNHÃO PARA ROMPER AS BARREIRAS ENTRE OS FILHOS DE DEUS
Esta unidade entre judeus e gentios não foi resolvida muito facilmente. Diferenças, em geral, não são resolvidas com facilidade. Precisamos aprender a usar melhor os recursos que Deus nos dá para diminuir estes problemas.
O próprio Pedro lidou com uma enorme dificuldade diante desta relação. O apóstolo Paulo, na sua carta aos Gálatas, nos diz que teve de resistir a Pedro e repreendê-lo, porque teve um comportamento estranho em Antioquia. Afinal, quando estava só com gentios, comia e se alegrava, mas quando chegaram alguns judeus, enviados por Tiago, ele se afastou dos gentios.
Como eu disse, a Bíblia não está a serviço das reputações pessoais, mas a serviço de uma verdadeira vida com Deus, a serviço da construção de uma família da fé, daqueles que são chamados por Deus para serem seus filhos.
Assim que Pedro identificou a irmandade dos que foram batizados na casa de Cornélio, ele permaneceu com eles por alguns dias.
E ordenou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo. Então, lhe pediram que permanecesse com eles por alguns dias (Atos 10.48).
Duas coisas se destacam neste verso. A primeira é que Pedro ordenou que eles fossem batizados como cumprimento da ordem de Jesus: em nome de Jesus, ou seja, deu início à vida deles como discípulos de Cristo, reconhecendo-os na irmandade de Cristo. O segundo destaque é que a comunhão é o resultado mais direto da vida em irmandade.
Quando Pedro retornou à Jerusalém, as inquirições começaram justamente sobre o fato deles terem comido com pessoas incircuncisas.
Quando Pedro subiu a Jerusalém, os que eram da circuncisão o arguiram, dizendo: Entraste em casa de homens incircuncisos e comeste com eles. (Atos 11.2-3).
Pouco percebemos, porque achamos que comunhão é fruto apenas de uma relação social. Portanto, imaginamos que comunhão é uma atitude que deriva de nossa simples preferencia social.
O convívio social é uma coisa própria da nossa humanidade e até os que não crêem são capazes de viver bem uns com os outros. Comunhão na irmandade da fé é algo espiritual e só pode acontecer quando começamos a ver o outro com os olhos de Cristo. As regras do convívio social são, em geral, baseadas em questões das preferências pessoais, as regras da comunhão espiritual são baseadas nas regras do Espírito Santo.
Viver em comunhão é coisa que se aprende. Mas para aprender isto precisamos usar os recursos de que dispomos e estar juntos uns dos outros é fundamental.
As últimas décadas do século XX, por causa do progresso da tecnologia, marcou a história humana como a época do individualismo e da solidão social. De muitas formas, nos tornamos pessoas tendentes à solidão e isto está nos matando como sociedade. Quando isto chega à igreja rompe a mais importante marca do que é ser cristão: o amor ao irmão.
Pedro foi instado a permanecer com eles e ele ali ficou. Jesus também foi acusado de comer com pecadores, pessoas indesejáveis, mas foi assim que o Mestre nos mostrou a vencer barreiras. Foi convivendo com Paulo que Barnabé pode lapidar o maior de todos os pregadores do mundo antigo.
A igreja se constrói não nos sermões, mas na prática da verdade na nossa vida do dia a dia como irmãos uns dos outros. Vocês são para mim a bênção do desenvolvimento da nossa vida cristã. Sabe porque temos tantos crentes infantis na sua fé, porque não conseguem afiar sua fé, como o ferro afia o ferro, na comunhão com os outros.
Por esta razão é que a igreja de Corinto era tão criticada, por causa da sua dificuldade na comunhão. Isto refletiu na ceia, em que cada um buscava o seu interesse. Mas, Paulo, para corrigir este problema escreve o grande capítulo 12, do Corpo e conclui com o capítulo 13 sobre o amor.
O Espírito usa a nossa comunhão para romper as barreiras que existem entre nós. De tal forma que podemos sim aprender a amar o outro, mas para isto, precisamos de comunhão, o que implica em dar e receber vida uns aos outros.

CONCLUSÃO E APLICAÇÃO
Irmãos, a igreja que Deus usa neste mundo é aquela que está disposta a pagar o preço ´para ser um só corpo no Senhor. Aquela que irá buscar pessoas não para serem frequentadores do seu culto, mas para serem membros do corpo.
Por isso, é tão importante que você tenha tempo para comunhão, traga seu filho para construir amizades no corpo, abrace o visitante e o receba como alguém para viver ao seu lado e saiba estar ao lado do irmão quando ele está fraco e caído.
O Espírito SANTO é quem torna a nossa unidade espiritual e ele é aquele que habita no coração de todos nós. Portanto, não há nada em mim que me torme melhor ou pior que você, ao contrário, espiritualmente falando, a mesma graça nos une.

Aplicação para a Igreja Presbiteriana de Vila Formosa
Quero que você se desperte para ser menos individualista e viva mais a vida da Igreja como uma coletividade da fé. Alguns moram muito longe, sei da dificuldade de vocês, outros têm muitas ocupações profissionais, estudantis, muitos projetos pessoais. Tenham muito cuidado para não deixarem de lado aquilo que pode dar à sua vida a experiência mais verdadeira e preciosa, a comunhão do Espírito.
Precisamos trabalhar em algum ministério, em alguma necessidade ou simplesmente ter amigos que possam frequentar nossa casa e que possamos ir em suas casas. Cultos nos lares, almoços, jantares, momentos sociais, estudos bíblicos em grupo, participar das sociedades internas... seremos cobrados por Deus por desperdiçarmos tantas oportunidades para desfrutar do Espírito Santo que foi dado também aos outros irmãos.

Oração
Senhor, produza quebrantamento e verdadeira comunhão em nossa igreja. Ajuda-nos a viver para Cristo e somente para ele!
Amém


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