21 de maio de 2017

1 Coríntios 15.35-49

A União do Temporal e do Eterno na Vida Cristã
1Coríntios 15.35-49



Foco da Nossa Condição Decaída
Contra o erro de imaginar que a presente vida é destituída de algum valor verdadeiro em face da chegada da Vida Eterna em Cristo, Paulo vem trabalhar o conceito de unidade vital entre o Eterno e Temporal na vida cristã. A atitude de unidade entre estes dois pólos conduz o crente a viver na vida temporal os valores superiores da eternidade e desta forma o mundo é marcado por um modo de vida que faz a vida temporal também valer a pena.

Introdução
Muito cedo no cristianismo alguns pensamentos errôneos tomaram conta do comportamento da vida cristã. Um destes erros, um pouco depois da morte dos apóstolos, veio a ser conhecido como “gnosticismo”.
O gnosticismo, entre tantas características, aprofundou um sentimento de “desvalor” pela vida cristã natural e levou crentes a viverem numa perspectiva de falta de compromisso com os valores do dia a dia do Evangelho. Para os gnósticos, o cristianismo verdadeiro seria aquele vivido após a morte ou quando Jesus Cristo voltasse, o cristianismo da vida eterna.
O efeito deste modo de pensar foi duplo: em primeiro lugar, algumas pessoas passaram a não ver valor na vida e de certa maneira viver de forma muito pobre e desanimada a sua relação com Deus, e outros, começaram a assumir compromissos com o pecado, uma vez que, para eles as coisas que aconteciam nesta vida, nada importava com o futuro, pois o que realmente contava eram os valores da “alma eterna”.
Claro que, de certa maneira, este pensamento ainda perdura hoje, quando percebemos que existem pessoas que não conseguem entender a necessidade de viver a vida cristã natural de forma elevada, pensando que ela é um prenúncio da vida eterna, uma espécie de ante sala da eternidade. Em geral, muitas pessoas vivem uma certa desconexão entre os valores espirituais e naturais, entre as coisas temporais e as eternas e vivem em mundo dicotomizado, isto é, dividido em dois, comumente chamando-os de “profano” e “sagrado”, “material” e “espiritual”.
Para quem divide a vida desta forma, parece que as regras e necessidades de um mundo nada tem a ver com o outro e vivem uma espécie de licença mental para viver um modelo de modo diferente do que vivem o outro. Então, alguém com muita espiritualidade no culto, acha que pode usar as regras mundanas para vender um carro ou adquirir uma casa; outros, acreditam que quando estamos na igreja precisamos de reverência, mas que não há nenhum problema em ser um piadista baixo nas redes sociais, desde que o pastor não acompanhe as minhas postagens.
O maior problemas destas pessoas é que elas não conseguem desfrutrar adequadamente da oportunidade que todos nós temos neste mundo caído: o de usar este mundo como um desafio e uma escola para fortalecer nossos laços e predisposições para coisas gloriosas e eternas.
Convido você, meu irmão, a adentrar este texto com uma mentalidade de unidade entre temporal e eterno, sacro e profano, natural e espiritual, dando à sua vida contornos de unidade e fazendo nesta vida, tudo aquilo que te prepara e faz desfrutrar aquele que ainda há de vir, quando Cristo voltar.

A União entre o Temporal e o Eterno Revela a Unidade das Duas Esferas Permitindo Que a Glória da Segunda Confira Direção à Primeira
Mas alguém dirá: Como ressuscitam os mortos? E em que corpo vêem? Insensato! O que semeias não nasce, se primeiro não morrer; e quando semeias, não semeais o corpo que há de ser, mas o simples grão, como de trigo ou de qualquer outra semente (1Coríntios 15.35-37).
A pergunta que Paulo usa para introduzir a questão revela como os crentes de Corinto tinham dificuldade para pensar na unidade entre temporal e eterno. Claro que como bons gregos, os coríntios tinham uma concepção muito elevada da vida futura, especialmente, porque, de alguma maneira, eles pensavam que o corpo é uma espécie de prisão da alma e, portanto, quando a morte vem para um homem ela o liberta do cativeiro do corpo.
Por outro lado, eles conheciam a doutrina da ressurreição do cristianismo e, não sem muita luta, os que criam desta forma, também tinham que responder como o corpo, sendo uma prisão, poderia ser ressuscitado? NO final das contas, era mais cômodo para muitos que tinham de responder a estas questões trabalhar com uma ideia de DESCONTINUIDADE entre a vida temporal e a eterna.

Como ressuscitam os mortos? E em que corpo vêm? – As perguntas que eles faziam apontava para sua dificuldade e Paulo, neste trecho, está trabalhando o conceito de unidade entre a vida temporal e a eterna. Mas, ele precisa que eles saibam que, embora elas sejam interligadas e estejam completamente unidas de forma vital, ou seja, trata-se da mesma vida em fases diferentes, eles deveriam saber que a vida eterna é de caráter superior, porque é uma espécie de progressão e não interrupção da vida natural.

Insensato – Paulo está recriminando a forma dividida que eles pensavam a vida. A postura do apóstolo mostra que eles não tinham uma dúvida, mas sua pergunta revelava uma posição longe do princípio da Escritura.
Em outras palavras, Paulo está lhes apontando a ideia de que precisam ter senso de direção para a vida natural e a direção é a construção de valores que combine com a vida eterna. Para explicar este ponto ele usa a ideia de uma semeadura.

O que semeias não nasce se primeiro não morrer – Paulo começa falando sobre o modo como as sementes se transformam em árvores. Elas são simples sementes plantadas, mas antes de brotar elas precisam ser rompidas pela próprio morte da semente, o rompimento da sua casca. Paulo está dizendo que uma fase, necessariamente precede a outra. No caso da vida humana, não chegaremos à eternidade sem primeiro a luta da vida presente.

Quando semeias, não semeias o corpo que há de ser, mas o simples grão – Veja não conseguimos desfrutar da eternidade e dos valores, glórias e alegrias, sem que primeiro viva as dificuldades e os problemas do tempo presente.

O que Paulo está expondo aqui é que precisamos aprender a lidar com a vida temporal neste primeiro estágio, sabendo que ela deve colaborar para que a vida eterna surja naturalmente sobre nossa vida. A semente não brota se não morrer, você não nasce para a vida eterna se não cumprir adequadamente as etapas da vida presente.

Em lugar de ficar reclamando e vivenciando todas as coisas sem propósitos e de forma perdida, como se a vida não tivesse nenhuma direção ou propósito, ou como as coisas da sua vida fossem aleatórias, Paulo está nos conclamando a perceber que Deus, nesta vida, nos proporciona uma preparação adequada para a vida vindoura. Paulo pensa que esta mentalidade de continuidade pode dar à vida humana sentido, isto é, uma direção a seguir.

O crente que sabe que pode viver por todas as coisas com esperança, melhor do que só viver esperando que a eternidade chegue, ele faz de cada momento uma oportunidade para se preparar e adequar melhor para a vida vindoura.

A União entre o Temporal e o Eterno Revela a Unidade das Duas Esferas Regida e Determinada Pela Soberania de Deus
Mas Deus lhe dá corpo como lhe aprouve dar e a cada uma das sementes, o seu corpo apropriado (1Coríntios 15.38).
Claro que o nosso maior problema tem a ver como o modo como vivemos a vida presente e, de certa forma, este é ponto que realmente importa neste momento, afinal, como é que vou vivenciar a realidade atual, preparando-me para a eternidade?

Paulo, então, precisa trabalhar o conceito de que Deus é quem nos dá a realidade presente e futura, conforme o seu querer. Este era um aspecto que nem todos os crentes de Corinto estavam compreendendo. Por exemplo, muitos deles não compreendiam realmente o papel dos dons que Deus nos dá na presente vida e tinham dificuldades com as diversificações, então, Paulo precisou escrever-lhes sobre o fato de que todos precisavam entender que nem todos tem os mesmos dons.

Deus dá o corpo da semente - Aqui, ele prefere apontar para as lutas da semente com as suas cascas. Uma é a casca do caroço de Abacate e outra é a casca do feijão. Eu não sou especialista em botânica, nem agricultor, então eu não saberia dizer qual é a casca que se rompe com maior facilidade, eu imagino que a do feijão. Então, a luta que a semente do feijão tem para fazer despertar o que será no futuro, um pé de feijão, é bem menor que a luta que tem a semente do abacate.

Como lhe apraz – este é o ponto! Você deve se lembrar que Deus é quem conduz o que você é. Portanto, não olhe para o tamanho das dificuldades ou as lutas que você tem de enfrentar para desenvolver em si mesmo os valores da eternidade. Deus é quem controla o que você precisa passar e o que deverá vencer.     

O seu corpo apropriado – eu gostaria de ser um botânico ou compreender um pouco melhor desta área do conhecimento para poder ilustrar melhor. Mas eu tenho uma ideia geral de que a casca do feijão e as características do que é o pé de feijão não poderia ser bem desenvolvido se estivesse dentro de um caroço como o de abacate e vice-versa. Assim como Maurício não poderia estar dentro do corpo de José e José no de Maurício. Nossa vida cristã e o que ela ainda há de ser está sendo desenvolvida dentro da semente mais apropriada possível.

Precisamos começar a pensar em nossa vida não como como uma coisa acidental, mas como um plano perfeito de Deus e nossa história não está separada do que somos. Ele escolheu o corpo, no sentido mais amplo possível do que isto pode significar, para lhe oferecer o melhor instrumento de transformação possível. O que você precisa aprender é viver e desfrutar desta perfeita ferramenta que é a sua vida e a sua história.
Nem toda a carne é a mesma, porém uma é a carne dos homens, outra, a do animal, outra, a das aves, e outra, a dos peixes. Também há corpos celestiais e corpos terrestres; e, sem dúvida, uma é glória dos celestiais e outra a dos terrestres. Uma é a glória do sol, outra, a glória da lua, e outra, a das estrelas, porque até entre estrela e estrela há diferenças de esplendo. (1Coríntios 15.39-41).
Precisamos aprender que a soberania de Deus conduz também as diferenças entre nós e precisamos aprender a não julgar uns aos outros por comparação. Nossa atitude é que devemos viver o que Deus nos dá e nossa comparação é a vontade dele para cada um de nós.

Não quero me deter muito neste ponto, porque preciso ir adiante. Mas usa como o exemplo a ideia de coisas que estão sobre a terra e coisas colocadas no firmamento, os corpos celestes e os terrestres, a comparação entre a carne do homem, do animal, das aves e dos peixes seguem na mesma direção.

A ideia de Paulo é que a glória de um não deve ser comparada com a glória do outro, não é assim que devemos considerar a vida, mas devemos considerar que Deus tem um propósito para o sol e outro para a lua, então um não tem mais luminosidade que o outro para competir com o outro. Imagine se a luz resolvesse competir com o sol e, hoje à noite, resolvesse brilhar do mesmo modo? Seria um caos e o mundo seria destruído em pouco tempo. Da mesma forma, somos diferentes para sermos harmônicos e nos completarmos. Assim devemos viver em família, na igreja e na sociedade. O importante é saber que existe propósitos eterno para o que somos e como somos.

A União entre o Temporal e o Eterno Revela a Unidade das Duas Esferas e Aponta Para a Necessidade de Nossa Vida Ser Uma Amostra Disto

Claro que o nosso maior problema tem a ver como o modo como vivemos a vida presente e, de certa forma, este é ponto que realmente importa neste momento, afinal, como é que vou vivenciar a realidade atual, preparando-me para a eternidade?

Os versos 42 a 47 formam uma unidade baseada em uma série de paralelismos. Você poderá notar isto facilmente. Estes paralelismos cedem espaço para os versos 48 e 49, onde uma declaração emite uma opinião sobre como lidar com estas verdades paralelas:
Como foi o primeiro homem, o terreno, tais também os demais terrenos; e, como é o homem celestial, tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do que é terreno, devemos trazer também a imagem do celestial (1Coríntios 15.48-49).
Adão e Cristo – O “Nós Hoje” e o “Nós Eterno” – Pense que o pé de feijão, assim como o abacateiro são a continuidade da semente do feijão e da semente do abacate, assim também o que somos hoje está diretamente relacionado com o que seremos amanhã. Paulo, escrevendo aos Romanos, diz que a glória futura é decorrência do sofrimento do tempo presente, mas será muito melhor, o aperfeiçoamento do que somos hoje.
Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós (Romanos 8.18).
Na verdade, quando a planta nasce, floresce e dá fruto, o tempo em que ela era somente uma semente que precisava morrer para nascer pouco importa. Plantamos sementes, mas esperamos colher frutos, desejamos ter árvores no pomar é assim que pensamos e é assim que devemos encarar nossa própria vida.

Assim é a ressurreição - os paralelismos – Nos versos 42 a 47, os paralelismos nos dão conta de que são uma explicação sobre o processo da nossa ressurreição, que é o tema central de Paulo.
Pois, assim também é a ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo na corrupção, ressuscita na incorrupção. Semeia-se na desonra, ressuscita na glória. Semeia-se na fraqueza, ressuscita em poder. Semeia-se o corpo natural, ressuscita corpo espiritual (1Coríntios 15.42-44a).
Um movimento é apresentado e é o de progressão. Primeiro o inferior e depois o superior, isto é importante ser notado. Precisamos lembrar que a nossa atual existência é um passo inferior da futura e ambas estão interligadas. A semente não é mais importante que a árvore, mas a árvore nasce da semente. Com certeza, o alvo é a árvore e o fruto, mas ambos precisam de uma semente bem cuidada.

Paulo está dizendo à igreja que é necessário que a igreja trabalhe a semente pensando na árvore e cuide da semente na intenção da árvore. Você precisa ver a sua vida da mesma forma. Alguns daqueles crentes desejavam viver as alegrias e glórias da vida futura, sem trabalhar que a vida presente aponte para isto.  

Este é um princípio simples da vida. Quem deseja ver o sol nascer, precisa acordar cedo o que implica em descansar cedo, ou pagar o preço de dormir menos. Assim devemos ser mais cuidadosos com a nossa vida cristã atual e plantar as coisas de acordo com nossas expectativas de colheita.
Ainda nos paralelismos, veja como Paulo liga Adão e Cristo. Na verdade, ele usa a ideia de primeiro Adão e último Adão.
Se há corpo natural, há também, corpo espiritual. O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante. Mas não é o primeiro espiritual, e sim o natural, depois o espiritual. O primeiro homem, formado da terra, é terreno; o segundo homem é do céu (1Conríntios 15.44b-47).
Claro que ele está falando da nossa velha natureza e da nova, está falando de quem somos em Adão e no pecado e quem somos em Cristo, na sua ressurreição e santidade. Precisamos nos comprometer, ainda em nossa casca de semente atual, com aquilo que devemos ser no futuro.

Ele concluirá esta etapa dizendo que do mesmo modo como carregamos a imagem de Adão e a sua malignidade do pecado, devemos carregar a santidade de Cristo, a sua imagem do que é celestial.
Ele diz que estes dois homens tem sua origem, um é terreno e o outro celestial, um natural e o outro espiritual. Aqui ele nos responsabiliza, dizendo que temos o dever de trazer em nosso viver natural, a imagem do viver espiritual de Cristo Jesus.  

Vestir – Ephoréssamen – Paulo usa um jogo de palavras importante no verso 49. Em nossa tradução temos: assim como trouxemos a imagem do que é terreno, devemos trazer também o que é celestial. Ele usa o verbo “phoreu” (carregar, vestir, usar). Ele é usado em duas formas interessantes: assim como fomos vestidos, agora vistamos. O seu compromisso superior de progresso, que é o sentido deste ponto do texto é para como ÚLTIMO ADÃO e assim como você é capaz de revelar em você o Primeiro, porque foi vestido dele no pecado, agora, pois SE REVISTA DO ULTIMO.

Conclusão
Algumas vezes, vivemos de uma forma muito estranha e parece que estamos um pouco perdidos. O resultado é que parece que não encontramos muito espaço para a nossa vida com Deus neste mundo ou quando estamos aqui, parece que não vemos muito sentido para a nossa vida no mundo, dentro do nosso contexto espiritual. O que vemos é pessoas vivendo de forma dividida.
Enquanto você viver assim dividido sua vida não terá um real sentido, lhe faltará algo. Você não verá o mesmo Deus que parece ser um valor tão elevado e cheio de glória, presente no seu dia a dia, como se de alguma maneira estivesse privado de desfrutar de Deus no seu viver diário. Isso é terrível!! Você precisa mudar.
Paulo está nos propondo um modo de vida natural que seja um reflexo de nossa consciência espiritual. Um modo de vida que está baseado em algumas premissas:

1)    A vida natural deve ser dirigida pela percepção de que a segunda e eterna é uma direção para a qual devemos apontar tudo o que fazemos.
2)    A vida natural deve ser submetida à soberania de Deus e suas lutas naturais são resultados da melhor casca para que sua vida produza o melhor fruto. Deus sabe tirar o melhor de você e planejou fazê-lo.
3)    A vida natural não é um fim em si mesmo, devemos trazer a finalidade eterna como um projeto e começar a fazer os valores da eternidade presentes em cada gesto, declaração, escolha... precisamos desfrutar de prazeres da eternidade ainda vivendo aqui. ]

Desta forma que momento terá significado e cada momento será pleno de importância e, desta forma também, você descobrirá valor na sua presente existência e poderá revesti-la da mais gloriosa perspectiva de redenção e ressurreição. Você é alguém que ressuscitou com Cristo, embora ainda na casca, já pode se livrar da casca, por meio de uma mente que pense nos frutos e na árvore final.
Traga o eterno para a sua experiência natural.





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