3 de setembro de 2017

Gálatas 5.16-26

Identificando a Presença da Graça no Coração
Gálatas 5.16-26


Introdução
Toda a luta do apóstolo Paulo com as igrejas da Galácia não tinha nenhum interesse de supremacia do seu domínio sobre o pensamento da igreja. O problema de Paulo é que a igreja estava entregando ao mundo uma vida prática que revelava sua imatura relação com Deus.
O grande sinal do problema e da doença que eles tinham estava claro no fato de que no seio da igreja o que havia crescido era um movimento de luta interna e disputas de egos possuídos de vanglória. Evidentemente, as coisas não estavam bem. Eles precisavam refletir sobre isto.
Dentro deste pensamento, vamos nos deter nos versos 16 a 26 e falar um pouco sobre os sinais práticos da vida no espírito e como é necessário identifica-los para que possamos avaliar nosso caminho e fazer caminhos novos e retos para nossos pés.
Você precisa estar disposto a essa autoinvestigação esta noite. Precisa preparar seu coração para olhar no espelho por meio da fé e perceber quem realmente você é. Caso o que você irá encontrar em você não seja os sinais da graça do Espírito, o que é necessário não é o desespero, mas a fé. A fé para dispor seu coração a retomar a caminhada certa.
Acredito que muitos perceberão que estão no caminho certo. Muitos saberão que tem falhas, mas também notarão que muitas coisas boas já se mostram na sua vida. Isto é bom, mas não se deixe acomodar, não permita que isso seja apenas confortável, lembre-se que temos de ser zelosos pelo bem e ter toda a nossa vida e natureza cativa de Cristo.

Identificamos a Presença da Graça no Coração Quando nos Identificamos Sinais da Vida do Espírito em Nós

Digo, porém, andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer (Gálatas 5.16-17).
O apóstolo Paulo está partindo de uma observação clara sobre o que estava acontecendo no seio da Igreja. As lutas, disputas internas, acusações, facções e todas a falta de amor presente naquela igreja eram sinais evidentes de que eles não estavam caminhando bem, estavam desviados da verdade. No entanto, Paulo quer que eles busquem essa percepção neles próprios, que investiguem a si mesmos e se notem no erro.
Andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne – O apóstolo Paulo está chamando os crentes a olharem para o fato de que o dia a dia deles estava permeado pela inclinação da carne. A linguagem que ele usa “peripasete” (andai), indica um ato natural e contínuo no andar comum. Não se trata de desenvolver grandes habilidades misteriosas, ou secretas, especiais, que somente os grandes mestres são capazes, Paulo está dizendo que o crente que faz o básico, segundo a direção do Espírito não satisfaz à uma inclinação natural da carne. Portanto, o que realmente revela e identifica a graça na nossa vida é a natural inclinação para vencer a também natural inclinação para o mal (epiphemia – concuspiscência, uma forte inclinação para o que é mal).
A carne milita contra o Espírito e o Espírito contra a carne – a luta interior é, num certo sentido uma grande bênção, afinal ela aponta para o fato de que o Espírito está vivo em nós e resiste às inclinações naturais da carne. A questão que Paulo qualifica aqui é que os crentes deveriam perceber que isto estava acontecendo entre eles. Eles sabiam que aquele estado de coisas não era bom e precisavam lutar corretamente contra tudo o que estava acontecendo que os estavam levando a viver longe da graça.
A vida do Espírito em nós nos leva a clamar: Aba Pai! Isto e tantos outros aspectos dessa nossa relação com Deus são frutos do agir do Espírito Santo em nossa mente, em nosso coração.
O Espírito Santo é o responsável pelo desenvolvimento de nossa vida com Deus. Os filhos de Deus são aqueles que nasceram de novo e o Espírito trabalha em nossa mente para que descubramos e venhamos à consciência de que realmente somos filhos de Deus. Paulo está dizendo que este mesmo Espírito opera em nós a percepção de nossos erros, nossos desvios e nos faz ver quem realmente somos. Ele nos convence do pecado, do juízo e da justiça. Essa é uma obra do parácleto divino.
Pessoas altamente autocentradas, autoconvencidas de espiritualidade e que estão somente dispostas a apontar erros dos outros, sem nunca perceberem-se pecadores, os legalistas em geral, assim como os libertinos, os que vivem de qualquer maneira são pessoas que não denotam esta percepção do próprio pecado. Perceber-se pecador, perceber as próprias trevas não é um sinal de ruim, ao contrário, é um sinal de vida.
O Espírito é oposto à carne e por isso mesmo não podem conviver harmonicamente. Portanto, qualquer um que viver no Espírito não se sentirá bem com as obras da carne.

Identificamos a Presença da Graça no Coração Quando Identificamos Resultados Práticos da Vida do Espírito em Nós

Mas, se sois guiados pelo Espírito não estais sob a lei. Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam. Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei. (Gálatas 5.18-23).
Se sois guiados pelo Espírito não estais sob a lei - Neste trecho, o apóstolo Paulo resolve descrever de um lado as obras da carne e do outro o resultado da obra do Espírito. A desculpa deles para deixarem o Evangelho da graça era a de que estavam tentando viver pela Lei de Deus. Neste ponto Paulo, então, está dizendo que o Espírito santo nos guia a um resultado prático que não é em tempo algum condenado pela lei. Por isso, ele começa dizendo que a Lei não condena que anda no Espírito, porque o resultado prático do andar na Lei é um tipo de vida, baseado no cumprimento da Lei.
Obras da carne são conhecidas e são... – Não se trata de nenhuma coisa nova para eles, ao contrário, eram coisas conhecidas. Paulo começa acusando aquilo que era mais claro para todos: prostituição (porneia), impureza (akatarsia), lascívia (asselgheia)... estes pecados, quase sempre ligados à licenciosidade sexual eram claramente recebidos como obras da carne, da mente pecaminosa. Idolatrias e feitiçarias (famaquéias), apontavam para falta de compromisso com o Deus verdadeiro.  

Paulo, no entanto, completa fazendo menção à pecados que estavam sendo cometidos entre eles e que se escondiam sob uma capa de vida de acordo com a Lei. Ou seja, em nome da retidão, eles deixaram a igreja se impregnar de lutas, dissensões, inimizades, facções etc... O que o apóstolo está fazendo é levando-o as perceber que o resultado prático da vida deles não era retidão da Lei, mas apontava para a natureza maligna que os dominava fortemente.
Não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam – a força desta frase é que ela nos faz pensar na prática, no resultado do que realmente estamos fazendo. Isso deveria nos servir de alerta fortemente. No final, devemos fortemente pensar, o que realmente estamos entregando como vida tem sinais práticos da vida do Espírito ou não?!
Mas o fruto do Espírito é – essa maneira de dizer é uma forma de usar a força da comparação, isto é, o resultado prático da vida no Espírito não pode ter, de forma alguma, contradições práticas do resultado da lei, que é amor.
Contra estas coisas não há lei – o que Paulo intencionava é que eles compreendessem que se eles realmente estavam interessados em viver para Deus e não contrariar a Lei, não poderiam deixar de notar o resultado prático de sua vida na Lei. Ou seja, a maturidade na Lei não pode, de forma alguma, nos conduzir a qualquer tipo de vida prática que nega a Lei, ao contrário, temos de trabalhar para que a nossa vida resulte em coisas que comprovem que somos mais maduros como a Lei nos quer direcionar.
Seria interessante, mas deixarei para um outro momento, um detalhamento maior deste fruto do Espírito. Por hora, vale a pena notar eu o ponto de Paulo é nos fazer perceber o resultado prático da nossa vida e notar o que realmente estamos revelando, mais domínico da carne ou do Espírito.

Identificamos a Presença da Graça no Coração Quando  Identificamos em Nós Movimentos de Autonegação e Auteridade

E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito. Não nos deixemos possuir de vanglória, provocando uns aos outros, tendo inveja uns dos outros (Gálatas 5.24-26).
A palavra “auteridade” não é muito comum, por isso, precisamos defini-la melhor. Auteridade é aquilo que é próprio do outro, que pertence à natureza do outro, da outra pessoa. Auteridade é também a capacidade de pensar como o outro, ou pensar no outro. Não somente a autonegação é um valor do cristianismo, mas o pensar e sofrer o que sofre o outro é um distintivo do verdadeiro cristianismo.
Os que são de Cristo crucificaram a carne e suas paixões e concupiscências – com certeza, Paulo está sendo bastante claro em dizer que eles não estavam em Cristo se a marca e sua vida era justamente o oposto do que o Espírito realmente faz no crente. Então, ele deseja que pensem com muita seriedade sobre o resultado daquele falso evangelho que fazia Cristo nada significar para eles, antes, ao contrário, os estava levando a negar a obra de Cristo.
Se vivemos no Espírito andemos também no espírito – dito do jeito que Paulo disse: sonem pneumati – pneumati stoikomem – tem a força da sonoridade, como um dito popular que rima, que tem um efeito retórico pela sonoridade. Isto é, Paulo está mais ou menos dizendo que aquilo que deve ser conceitual deve ser também prático.
Não nos deixemos possuir de vanglória – esta é profunda exortação final. Paulo está dizendo que o tipo de cristianismo que eles estavam buscando, que se baseava neles próprios e num autoconvencimento da justiça pessoal, era um tipo de vida que na prática negava o que eles buscavam. Então, eles não poderiam ceder aquilo e sim, lutar contra este modelo fracassado de vida autocentrada.
Paulo usa aqui algumas palavras que podem nos ajudar. Gnomai – Ele diz, que não devemos nos tornar por meio do pensamento. Ou seja, ele deseja que os crentes pensem melhor sobre o que estão fazendo e lhes diz enfaticamente, não se deixem convencer de que são – kenodoxai – cheios de glória. A demonstração mais clara de que eles não eram, é que eles estavam tendo facções e lutas entre eles. Este sinal era o mais perigoso e mais importante a ser detectado.
Auteridade – Uma igreja madura, que vive o evangelho da graça estará inclinada a auteridade, porque o evangelho da graça muda o foco da nossa atenção. O outro se torna prioridade e o principal objeto interesse. Quando você percebe esta intencionalidade, ficará mais fácil ler os versos seguintes, basta dar uma olhada no que ele diz. Por isso é preciso ser tão enfático com o “não nos deixemos convencer de glória pessoal”.

Conclusão
Claro que podemos ouvir este sermão e ficar pensando em tudo o que outras pessoas precisam fazer para serem melhores e não errarem tanto. Mas, com certeza, o que realmente precisamos é nos perceber e identificar em nós os sinais da presença da graça.
A graça nos faz ver nossos próprios pecados? Estamos sensíveis para perceber nossa própria maldade. O verdadeiro e profundo despertamento do Espírito primeiramente nos faz perceber quem somos. Somos atingidos pela percepção e nossa própria pecaminosidade e isso nos leva ao chão, nos leva ao patamar do clamor, da necessidade.
Podemos sim, pensar em tudo que outras pessoas precisam fazer para serem melhores. Mas sem dúvida hoje notamos o quanto precisamos olhar na prática aonde o Evangelho está nos levando, quando voltamos para nossa casa e vamos viver o dia a dia do casamento, lidar com os filhos, qual é o nosso real comportamento mais natural. Somos mais dominados pela carne e percebemos isto.
O sinal prático da vida do Espírito é que estaremos incomodados de ver estas coisas acontecendo em nós. O sinal prático da vida do espírito em nós é que queremos ver a vida se manifestando e não a morte nos dominando. Com certeza, Paulo sabia que a igreja sentiria isto e refletiria sobre essa situação. Esse é o ponto que precisamos parar para concluir esta noite.
Aonde ser o que somos e fazer o que fazemos está nos levando na prática. Está nos moldando a fazer as coisas próprias do Espírito, está nos levando a amar? Irmãos, olhemos para nós mesmos como igreja, olhemos para nós, como maridos, esposas, pais, mães, filhos, filhas, amigos, companheiros de luta... olhemos para nós como pessoas e nos percebamos...
A auteridade tem moldado a nossa postura diante das coisas que nos cercam, ou o orgulho e a vanglória têm comandado? Aqui está o que precisamos fazer: precisamos buscar a vida no Espírito, precisamos buscar andar no espírito.

Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito.



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