5 de julho de 2015

Tiago 2.14-26

A Confissão de Fé Prática
(Tiago 2. 14 a 26)

Foco da Nossa Condição Decaída
Nosso coração tem uma inclinação pecaminosa perigosa para deturpar a realidade e nos afastar do ideal de Deus para a nossa vida. Se por um lado podemos ser atacados pela desconfiança e rejeição a Deus por meio do afastamento em relação a ele, por outro, podemos construir um castelo de segurança falsa baseado em um confissão de fé puramente teórica, que não se revela no dia a dia. Diante desta segunda possibilidade.
Tiago, nos versos que estamos separando para nossa meditação, nos conduz por uma exortação à Confissão de Fé Prática, que se define por meio de uma fé que se traduz em atos claros de amor e prática da Lei Perfeita. Pois a fé que não se traduz na vida prática não é verdadeira, tampouco teve origem em Deus, mas no homem em seu desejo iniquo de se auto convencer da própria salvação.

Introdução
Nesta última semana de junho de 2015, os noticiários de TV e rádio foram inundados por uma onde de comoção nacional por causa do falecimento de um jovem cantor sertanejo, Cristiano Araújo. Ele, aos 29 anos e sua namorada, com 19, foram vítimas fatais de um grave acidente automobilístico. 
O pai de Cristiano, em rede nacional, fez o seguinte desabafo:  "É uma tristeza muito grande. Será que Deus existe? Todos os dias faço uma oração pedindo que Deus acompanhe ele nas viagens. Entro no carro ou no avião e faço uma oração. Eu não estava com ele ontem? Será que Deus existe?”
Quero que vocês saibam que não consigo simplesmente recriminar este pai. Afinal, trata-se de um desabafo na hora de grande tristeza. Pois, a pergunta essa não é uma pergunta inédita, até mesmo os profetas como Habacuque, e reis como Davi, homens tementes como Jó, fizeram questões semelhantes. Em momentos de grande calamidade, quer nacional ou individual, nosso olhar se volta para aquele que julgamos ser o único capaz de nos livrar do mal e buscamos respostas.
O mundo clamo por algo em que crer. Antes de observarmos apenas a ignorância ou a distância que as pessoas parecem manter em relação a Deus, devemos nos lembrar como os reformadores de que o homem possui sinais da divindade implantados em sua constituição natural e que estes valores, mesmo que subjugados por uma mentalidade refratária a Deus, ainda possuem forte influência, principalmente nos momentos em que as emoções controlam os pensamentos humanos.
No final das contas, até mesmo os homens mais incrédulos, os mais displicentes quanto a Deus e os que crêem, mas vivem como se Deus não existisse, tanto quando os fideístas, buscarão a Deus como solução de suas calamidades ou o acusarão. Mas todas estas pessoas precisam encontrar neste mundo exemplos de fé. Eles precisam ver outros seres humanos que tornaram sua fé palpável a eles próprios a fim de que possam realmente confiar em Deus.
Esta noite, a partir do capítulo 2, versos 14 a 26 da epístola de ]Tiago, quero meditar na visão de Tiago a respeito da necessidade de que tenhamos uma Confissão de Fé Prática. Uma fé que se materializa e pode ser observada, percebida por todos e por isso mesmo se torne não somente convincente, mas real.
As pessoas estão vivendo como Jesus Cristo disse: como ovelhas que não tem pastor. Elas olham ao redor e muitas vezes não vêem nada. Nossa confissão de fé, precisa ser clara e isto só acontece quando é traduzida em realidade prática. Seus filhos, seus vizinhos, seus amigos, o pai do Cristiano Araújo e milhares de pessoas precisam ser impactadas por vidas cristãs autênticas e capazes de traduzir o amor de Deus em gestos e atividade viva e prática de amor.
Votemos nosso olhar para este texto na busca de consciência prática para a nossa fé. Percebamos que assim como muitas vezes nós, também aqueles crentes passaram a viver o sobressalto da perseguição e da perda. Eles, por conta de sua condição como dispersos passaram a viver um cristianismo mais teórico e não mais como nos primeiros dias de Jerusalém em que eram capazes de até vender suas propriedades particulares para ajudar os que tinham necessidade.
O texto de Tiago se estrutura em torno  de três exemplos que visam responder a pergunta do verso 14:
Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo? (Tiago 2.14).
Os três exemplos elencados por Tiago são: o sofrimento de um irmão na fé, o exemplo de Abraão, o  pai da fé e o exemplo da prostituta Raabe. Estes três exemplos constroem a conclusão do verso 26:
Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta (Tiago 2.26).

Uma Confissão de Fé Prática é Uma Reação Cristã ao Dia a Dia
No primeiro exemplo, Tiago trabalha com um fato do dia a dia. Ele expõe um problema comum daquela comunidade e faz perguntas que levantam o problema para que percebam.
Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo? Se um irmão, ou irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o  proveito disso? Assim também a fé, se não tiver obras, por si só está morta (Tiago 2.14-17).
O ponto de Tiago é levar os irmãos a refletirem sobre o que a Lei Perfeita, a Lei da Liberdade como ele prefere chamar a Lei Mosaica, deveria fazer no coração deles. Ele está propondo uma questão do dia a dia e isto era e é um desafio mais evidente.
Afinal, quando lidamos com questões históricas ou lemos a Bíblia pensando no seu contexto e naqueles dias em que os fatos ocorreram podemos cair no erro de não nos imaginar diante das situações. Tiago, ao contrário, apesar de fazê-los refletir sobre exemplos do passado, como nos dois que se seguem, ele quer que primeiramente pensem na sua própria situação.
Eles, apesar de estarem sendo perseguidos, deveriam considerar o sofrimento dos outros e não se esconderem de fazer o bem ou de viverem o seu cristianismo na íntegra, só porque encontraram alguma razão para não fazê-lo.
É muito comum encontrar pessoas que encontram razões para não fazer o que deveriam fazer. Isso é mais comum do que parece. Alguns se escondem atrás do sofrimento próprio, outros atrás da desgraça tão grande do mundo que os cerca, outros constroem teologias que os protegem etc.
Tiago, por sua vez, aponta um caminho diferente e todos os que lêem esta epístola como Palavra de Deus. A proposta de Deus aqui neste texto é que percebamos que nossa Confissão de Fé tem de ser prática e tem de alcançar o nosso dia a dia. Ela precisa alcançar seu louvor na igreja, tanto quanto tem de alcançar o seu casamento, o modo como você cuida dos seus filhos, como fala com o vizinho, como ganha o seu dinheiro, como vota, como exerce o seu papel como cidadão, como consegue tirar boas notas nas provas, como se diverte etc.
Tiago se utiliza principalmente do maior aspecto que devemos enfatizar, nós que queremos viver para Deus neste mundo: o bem estar dos outros. Uma fé que apenas vê a si mesmo e se interessa por si mesmo, está morta ou nunca nasceu de fato.
Por isso é que ele conclui: por si só está morta. Ele quer dizer que ela não prova nada. Essa fé autocentrada, egoísta, egorreferente é tão pecaminosa quanto uma fé em um deus falso.
A verdadeira fé é uma CONFISSÃO PRÁTICA QUE ALCANÇA O NOSSO DIA A DIA. SE ISTO NÃO OCORRE NÃO É FÉ VERDADEIRA, PODE SER COMPREENSÃO TEOLÓGICA, MAS NÃO MUDANÇA DE MENTE.  

Uma Confissão de Fé Prática é Uma Reação Cristã Que Revela Um Verdadeiro Discípulo
Os dois próximos exemplos, são extraídos das Escrituras. O primeiro deles é Abraão e o segundo Raabe. Tiago usará estes dois exemplos para argumentar a respeito de uma fé inoperante é uma loucura e uma revelação falsa de nossa ligação com Deus. Nos versos 18 a 20, ele propõe esta questão:
Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras, mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé.   Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem. Queres, pois, ficar certo, ó homem insensato, de que a fé sem as obras é inoperante (Tiago 2. 18 a 20)?
O questionamento de Tiago estabelece um paralelo que tem o propósito de chocar: até os demônios crêem e tremem. Em outras palavras, Tiago está dizendo àqueles irmãos que quando eles se afastam de uma confissão prática e transformadora do dia a dia, sua atitude é semelhante à crença que os demônios tem em Deus, ou seja, sabem que Deus existe, mas isso não muda nada para eles.
Tiago está pronto a definir o pensamento de alguém que se assegura em uma confissão meramente intelectual da fé como sendo alguém insensato. Alguém que não percebeu a pobreza de sua própria fé vazia.
Quando apenas estamos prontos a dizer que pertencemos a uma igreja histórica, onde se prega a verdade, onde há equilíbrio litúrgico ou qualquer outra qualidade, mas não estamos prontos para testemunhar a nossa fé no modo como vivemos e como tomamos decisões na nossa vida, nos caminhos que escolhemos, nos parecemos mais com os demônios que com discípulos de Jesus. Somos insensatos e não ouvimos os conselhos de Jesus verdadeiramente:
Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? (Mateus 7.15-16).
Neste famoso Sermão da Montanha, Jesus nos chama a uma fé que se comprova por uma vida realmente transformada pela prática da palavra. Neste mesmo contexto é que Jesus faz uma das afirmações mais duras do Novo Testamento:
Nem todo que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céu (Mateus 7.21).
Jesus continua sua advertência citando que as obras de falsa piedade nada podem fazer por nós, mas a prática da palavra ou  a transformação da Confissão em prática é que realmente pode nos dar um atestado de fé:
Todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado ao homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia (Mateus 7.26).
Caros irmãos, este foi o ensino que conduziu a mente de Tiago enquanto refletia sobre a vida daqueles cristãos que viveram em seu dia e este é justamente o ensino que deve refletir sobre nós hoje. Veja como Tiago se refere a este ensino no capítulo 1, versos 22 e seguintes.
Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos (Tiago 1.22).
Não nos enganemos, somente quando nossa CONFISSÃO FOR PRÁTICA E TRANSFORMADORA DO DIA A DIA é que estaremos realmente seguindo o caminho certo. Até que isto aconteça somos apenas crianças que pensam ser adultos, ou joio sonhando que é trigo.

Uma Confissão de Fé Prática é Uma Reação Cristã ao Preço Que Pagaremos Para Fazer a Vontade de Deus
Jesus enfatizou que “fazer a vontade de Deus” é o caminho da verdadeira e completa confissão de fé. Mas fazer a vontade de Deus não é sempre uma coisa fácil. Aliás, em geral, realmente descobrimos o quanto estamos dispostos a fazer a vontade de Deus e a recebe-la quando alguma coisa está em jogo ou quando para isto, ele nos convida a perder algo que amamos com amor maior por Ele.
Tiago propositadamente escolhe duas figuras bem distintas nas Escrituras. A primeira delas é o patriarca da Fé, o respeitado e amado Abraão; a segunda figura é uma prostituta, uma mulher que ganhou a sua vida em Jericó abrigando viajantes e oferecendo-lhes prazeres indevidos. Ambos tem em comum o fato  de terem crido em Deus e agido corretamente quando foram provados.
Abraão é chamado a perder o filho
Meus irmãos, é muito fácil alguém falar que deve confiar em Deus, mesmo que tenha de perder um filho. Mas, como já disse no início, nem sempre estamos tão dispostos a perder tanto e nem sempre temos fé para suportar tamanha perda. Tiago nos oferece o exemplo de Abraão:
Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque? Vês como a fé operava juntamente com as suas obras, com efeito, foi pelas obras que a fé se consumou, e se cumpriu a Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado por justiça; e, foi chamado amigo de Deus (Tiago 2.21-23).
Meus irmãos, Tiago deixa claro o seu pensamento. Ele não está propondo um meio de salvação baseado  no que fazemos, mas mostrando como a nossa fé, opera em conjunto com a nossa maneira de agir. No caso, Tiago toma como exemplo o preço que Abraão pagou em seu coração. Ele não chegou a sacrificar o seu filho, mas o mesmo tinha sim morrido em sua mente e ele sentiu a dor de quem perde. Perder um filho não é fácil!
Raabe é chamada a perder aquilo que lhe dava segurança
O outro exemplo é o de Raabe e Tiago o toma na mesma medida em que tomou Abraão, quando disse: de igual modo.
De igual modo, não foi também justificada por obras a meretriz Raabe, quando acolheu emissários e os fez partir por outro caminho?
Fácil não? Ela escolheu ficar ao lado do povo de Israel e foi uma excelente escolha. Vendo à distância pode parecer mesmo fácil, mas quando você para pensar que ela escolheu trair o povo que a havia abrigado em seus poderosos muros, o povo de Jericó. Quando pensamos que ela estava apenas agindo porque ouvira falar de que Deus havia aberto o mar vermelho e, agora, ouvira falar que eles estavam rodeando a cidade. Pera lá, que garantias ela tinha?
Raabe, não tinha garantias senão o fato de crer e agir segundo sua fé. Dispôs-se a perder tudo que durante a vida toda lhe dava segurança para apenas confiar em Deus e por isso agiu protegendo os servos de Deus.
Verificais que uma pessoa pé justificada por obras e não por fé somente (Tiago 2.24).
O ponto de partida da nossa justificação é a fé, mas só sabemos que ela realmente operou eficazmente nossa justificação quando ela começa a nos transformar e sabemos que estamos sendo transformados principalmente quando aceitamos amar a Deus a despeito do preço que a vida exigir.
Uma CONFISSÃO PRÁTICA SEMPRE EXIGIRÁ UM PREÇO E NOS LANÇARÁ À SEARA DA VIDA E DO DIA A DIA EXIGINDO QUE VIVAMOS TUDO O QUE DIZEMOS CRER.