24 de março de 2016

Marcos 15.34

“O Desamparo de Cristo e o Amparo de Deus a Nós”

(Marcos 15.34)

(Sermão Pregado na IP Peniel, por ocasião do culto das Sete Palavras da Cruz - Março –2016)

Foco da Nossa Condição Decaída

A reação do Salvador na Cruz de agonia quando o Pai lhe dá as costas e lança sobre ele a solidão divina, o desamparo, deveria nos fazer repensar sobre a loucura da nossa maligna atitude de distância em relação a Deus e valorizar cada segundo de nossa pessoal comunhão com o Pai Celestial).

Introdução

Tenho poucos minutos para me dirigir aos irmãos na intenção de lhes falar a respeito da frase mais dolorosa de toda a história humana. Nenhum grito dor ou horror pode superar este brado do Salvador.
Nossos mais terríveis gritos de medo ou espanto são reações de pecadores ao exercício do pecado no mundo. Mas o horrendo grito “Eloí, Eloí, Lama Sabactani” - “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?” é a expressão mais profunda do terror daquele que é perfeito, para quem e por meio de quem todas as coisas foram feitas, aquele que nunca jamais experimentara um microssegundo sequer de distância do Pai. É o horrendo grito de quem realmente sabia discernir que no vácuo da comunhão, o inferno do DESAMPARO DIVINO é lançado sobre o domínio da alma.
Nos poucos minutos que tenho, preciso deixar de lado muitas coisas importantes a respeito de todo o quadro em torno deste horrível brado, como, por exemplo, o fato da própria natureza reagir com trevas e terremotos. Este grito, como disse o profeta: ABALOU O MUNDO.
Vamos, portanto, caminhar em um processo de identificação direta entre Ele e nós. Entre o desamparo dele como a chave do nosso amparo. Procuraremos aprender com o seu grito de horror e buscar uma mentalidade cristã que nos faz valorizar a comunhão com Deus a cada segundo.
Diante da Distância e Desamparo de Deus, Cristo se Apegou à Sua Fé

Enquanto, tantas vezes, nos acostumamos a ver irmãos na fé que vão perdendo a comunhão com Deus se tornando frios em sua fé. Sim, os vemos deixando de lado o progresso de sua santidade, murmurando sobre tantas coisas, às vezes até condenando a Deus por supostamente tê-las abandonado, quando olhamos para a Cristo na Cruz e o  profundo desamparo que aterrou a sua alma, o que vemos é um homem que busca na sua fé a reconciliação.
O texto grego original não tem pontuações. Portanto, boa parte das vezes, os tradutores supõem estas pontuações que hoje nos auxiliam tanto na leitura em  português.
Com certeza, algumas vezes, restam dúvidas sobre o sentido original e precisamos reavaliar um pouco estas questões. No entanto, a frase que temos diante de nós não tem equívocos, o brado de dor é uma pergunta, pois o salvador usa uma das palavras que os judeus aprendem a usar deste pequenos: “Lama” - Por quê?”.

Elohin, Elohin, lama sabactaní - Em sua fé ele não questionou a decisão de Deus, mas queria saber o que estava causando aquilo, ele buscava a reconciliação. Era algo novo, jamais experimentado. Ele nunca, nem sequer por um microssegundo havia experimentado a face de Deus oculta a seus olhos, sua oração lançada em uma cinzenta nuvem de incerteza, ele jamais havia experimentado a vida sem Deus e agora, o que ele mais quer é a reconciliação, o que devo fazer?

Porque me desamparaste - Marcos deu sua interpretação e usou o verbo “katalipo” - jogar no esquecimento ou deixar para trás. O que é uma interpretação da palavra “sabactani” (em aramaico) que é da raíz shobeq, deixar só, ou separar.
O Mestre sentiu a dor de ficar só e sem Deus. Não foi à toa que se preocupou tanto com as pessoas que estavam perdidas como ovelhas que não tem pastor. Ele naquela cruz sentiu o peso de estar sem Deus no mundo.
Ele experimentou a vida sem Deus e percebeu a dor que esta morte causa. Ali, o Salvador teve sua primeira morte, a morte espiritual, quando o inferno caiu sobre ele. Até mesmo o malvado Caim sentiu o peso insuportável do desamparo:
És, agora, pois, maldito por sobre a terra, cuja boca se abriu para receber de tuas mãos o sangue de teu irmão. Quando lavrares o solo, não te dará ele a sua força, serás fugitivo e errante pela terra. Então, disse Caim ao Senhor: É tamanho o meu castigo, que já não posso suportá-lo (Gn 4.11-13).
Diante de um quadro terrível de desamparo, de morte, de dor indescritível, de alma sendo corroída pela ausência de Deus, o Salvador buscou socorro no “seu Deus”: Deus meu.
Ele apelou para as relações pactuais. É verdade, que agora ele não clamou “Pai”. A comunhão tinha sido rompida, mas ele buscava retomá-la pelas promessas pactuais: “eu serei o seu Deus e vós sereis o meu povo”, então, na certeza de que este era o único caminho, bradou: “Deus meu”! Enfático repetiu: “Deus meu”!

O Nosso Amparo
“Por que me desamparaste” é um grito de dor e de fé. Mas há um outro desta realidade. Quando Jesus bradou sua dor e seu desamparo, ao mesmo lado, ali na Cruz, Deus estava reconciliando consigo mesmo o mundo.
O desamparo de Cristo abriu caminho para o nosso amparo. Aparentemente, enquanto voltava as costas para seu Unigênito, Deus começou a olhar para nós.
A pergunta do profeta Naum estava sendo respondida:
Quem pode suportar a sua indignação? E quem subsistirá diante do furor da sua ira? A sua cólera se derrama como fogo, e as rochas são por ele demolidas (Naum 1.6).
Ali na cruz estava Cristo, sofrendo o desamparo e a  cólera de Deus. Também ali na cruz estávamos nós, mas a ira que se destinava a nós passou ao largo, como o anjo da morte que passou por sobre as casas dos hebreus no Egito. A cólera de Deus, que deveria ser derramada sobre nós caiu sobre ele:
O castigo que nos trás a paz estava sobre ele e pelas suas pisaduras fomos sarados (Isaías 53.5b).

Eloí, Eloí, Lama Mishan
Deus meu, Deus meu, porque me amparaste. Era o meu pecado, minha sentença, minha morte. Por que me amparaste? Davi cantou a misericórdia e a graça do Senhor e assim se expressou:
Assaltaram-me no dia da minha calamidade, mas o Senhor me serviu de amparo (2Samuel 22.19).
Deus me amparou porque me amou. Ele viu a justiça de Cristo em mim, no mesmo momento em que viu a minha maldição sobre ele. Ele, que nada devia ao tribunal de Deus, por amor, me abriu o caminho e o Pai, também por amor, julgou-me no seu filho.
Aquele que não conheceu o pecado, ele o fez pecado por nós;  para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus (2Coríntios 5.21).
Ele te amou, como me amou, por isso, desamparou seu filho. Jesus deu a vida para que nós que não éramos filhos, fôssemos feitos filhos de Deus.

Conclusões
Muitos outros aspectos são preciosíssimos para todos nós. Este brado de dor e de fé é uma inundação de graça e ensinos para todos nós. Destacamos dois aspectos que queremos que todos reflitam sobre eles.
Primeiro, quando você se sentir distante, solitário até mesmo na sua relação com Deus, nunca se deixe caminhar para ainda mais longe de Deus. Grite para seu Deus, busque com fé. Confie nas promessas! Lembre-se, aquele que deu a vida por você o fez para que nunca você ficasse desamparado.
Pense no valor do amparo de Deus. Pense no preço que foi pago e valorize sua vida com Deus. Crentes que não têm uma percepção clara do amor de Deus e do preço que sua vida custou para Filho e para o Pai evidentemente são incapazes de se santificar e dedicar tudo a ele. Estes verão a vida como qualquer homem comum.
Mas o crente que entende que o desamparo de Cristo é a porta de abraço de Deus sobre a sua vida e responde com fé a este amor, certamente não viverá mais do  mesmo jeito, saberá que sua vida pertence a Cristo e viverá para ele.
Eloí, Eloí, Lama Mishan - Porque me amaste! Agora eu me rendo.


“Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo. Logo já não sou eu  quem vive, mas Cristo vive em mim e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim”.

(Gálatas 2.19-20).

20 de março de 2016

João 7.37-44


O Que é Preciso Para Beber
da Verdadeira Fonte

João 7.37-44

(Sermão pregado na IP Vila Formosa em 13 de março de 2016 - Domingo de Ramos)


Introdução
Quando lemos o Evangelho de João fica muito clara a sua proposta: “...para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.31). Todas as histórias nele relatadas apontam para Jesus Cristo e procuram despertar e impregnar os elementos da fé verdadeira.
O Evangelho de João deixa claro que um dos problemas a ser enfrentado pela igreja cristã é o desenvolvimento de um tipo de fé distorcida. A fé distorcida, em lugar de nos conduzir à segurança e à vida abundante, nos faz correr atrás de elementos efêmeros, completamente passageiros e destituídos dos elevados significados e valores da eternidade: “Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna” (João 6.27).
A palavra “verdade” encerra um dos conceitos mais importantes do Evangelho: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8.32); “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14.6); “Eu para isto nasci..., a fim de dar testemunho da verdade” Jo 18.37.  A verdade sobre quem é Jesus é o centro da fé cristã, por isso, é importante não somente crer, mas também saber quem é Jesus.
À mulher samaritana, Jesus disse: “Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em Verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores” (Jo 4.13). Desta forma é possível notar que João busca estabelecer o Evangelho como sendo a Verdade como o padrão de Deus para o relacionamento com o homem.  Cristo é o elo entre Deus e o homem e por isso é fundamental que nossa fé seja estabelecida nele de forma verdadeira. 
Quando construímos um Cristo pessoal, segundo nossos interesses, ou um Cristo fracionado, não completo, somente um profeta, restrito aos valores morais que ensinou, ou um Cristo espiritualizado, ritualizado, sem contato com a realidade etc., enfim, quando nosso Cristo não é o do Evangelho completo e verdadeiro, este Cristo que seguimos é comida que passa e não aquele pão que dá vida eterna.
João entendeu a importância de se saber quem é o Cristo que cremos e por isto, seu Evangelho veio nos apresentar o grande desafio de amadurecimento da nossa fé. Por isso, é que é importante notar o detalhe destas palavras: “Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva” (Jo 7.38). Note: Como diz a Escritura.
 



Para Beber da Verdadeira Fonte o Cristão Precisa se Libertar da Sede de Mera Moralidade Profética

Irmãos precisamos reconhecer que esta passagem pode dizer muito sobre o cristianismo de nossos dias. A estrutura da passagem que lemos esta noite pode ser dividida em duas partes: a primeira, falando sobre a fonte verdadeira e os seus efeitos sobre a vida do crente (vs 37-39); a segunda, aponta para dois grupos que estavam próximos da fonte não conseguiram usufruir da sua verdadeira essência, encerrando com as consequências desta aproximação caótica deles em  relação à fonte, que é Cristo (vs (40-44). Vamos começar nossa exposição falando sobre esta aproximação caótica e suas características e consequências.
Assim houve dissensão entre o povo por causa dele - Com certeza, quando a nossa busca pela vida cristã está baseada em premissas inadequadas e diferentes das verdadeiras estradas do Evangelho ela termina em caos e não em harmonia. Esta era uma consequência direta desta busca engedrada de caos, que eles fizeram quando estiveram com Cristo.
Voltando, vejamos o exemplo do primeiro grupo caótico de busca da fonte. Eles viram o evangelho pela força da moralidade e fizeram desta mera moralidade o evangelho. PARA BEBER DA VERDADEIRA FONTE PRECISAMOS NOS LIBERTAR DA SEDE POR MERA MORALIDADE, OU MORALISMO.
Não tenho dúvidas de que aqueles que se achegam a Cristo e à sua mensagem, ao Reino e ao Evangelho, encontrarão uma mensagem permeada de uma santa moral e uma vida plena de respeito e ética santificada. Com certeza, o Evangelho poderá oferecer aos cristãos conceitos de elevada moral, baseada na instrução de Deus para a conduta humana.
Contudo, não podemos buscar o Evangelho apenas com o desejo de saciar a nossa sede por moralidade. Alguns pais querem criar seus filhos na igreja porque eles acreditam que eles precisam de valores para construir o seu caráter. Sim, estão certos de que isto é necessário e de que a Igreja pode lhes oferecer isto, mas o problema com esta atitude de limitar a busca do Evangelho é que o moralismo não pode produzir vida abundante, apenas conduta melhor, mas não vida eterna. Os fariseus talvez fossem um exemplo de grande moral exterior, muitos deles, homens de grande reputação, mas sem vida interior.
Então, os que dentre o povo tinham ouvido estas palavras diziam: Este é verdadeiramente o profeta (Jo 7.40).
Eles ouviram os discursos de Jesus no templo e se encantaram pelo modo como ele ensinava e a sua sabedoria peculiar. Encontraram em Cristo o estilo profético, que tanto amavam, por ler continuamente as Escrituras.
Corria já em meio à festa, e Jesus subiu ao templo e ensinava. Então, os judeus se maravilhavam e diziam: como sabe este letras, sem ter estudado? (João 7.14-15).
Irmãos, quando alguém se aproxima do Evangelho encantado com o ensino do Evangelho, mas se permite apenas a considerar o ensino no âmbito intelectual da sua moralidade, fazendo do Evangelho apenas mais uma escola de conduta humana, mesmo que o aprecie muito e o valorizes, não está bebendo da verdadeira fonte, porque a verdadeira fonte, nos transforma moralmente, transformando-nos a partir do interior, do coração, dando-nos vida.
O erro daqueles homens e que repercurtiu depois em fazê-los discutir entre si e mais tarde leva-lo à cruz para o matar, trocando-o por Barrabás é que eles ficaram apenas com sua moral e não com a vida eterna que ele tinha a dar.
João está propondo que vejamos em Cristo muito mais que moralidade profética.


Para Beber da Verdadeira Fonte o Cristão Precisa se Libertar da Sede de Viver de Aparências

O outro grupo que se distanciou da verdadeira fonte é o grupo que buscava nas aparências a sua vida. Bem, eles admitiam que poderia ser o Cristo, mas sediam ao argumento de que era muito estranho que o Cristo viesse da Galileia e que era descendente real.
Outros diziam: Ele é o Cristo, outros porém, perguntavam: Porventura, o  Cristo virá da Galileia? Não diz a Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi e da aldeia de Belém, donde era Davi? (João 7.41-42).
Aqui temos um grupo que se afastava de Cristo por causa do seu forte apego às formalidades da aparência. Jesus atendia a todos os requisitos que a Escritura propunha. Ele era descendente de Davi, nascido em Belém, contudo, também atendendo à Escritura foi morar na Galiléia donde  disse o profeta Isaías que a luz viria para alumiar os jaziam nas trevas.
Por que esta parte da profecia não lhes veio à mente em suas indagações? Porque eram extremamente seletivos em sua fé e buscavam crer apenas em coisas que lhes causasse alguma impacto e aparência positivos, e um Rei Galileu não interessava ao orgulho judeu e à sua busca por aparências.
Infelizmente não são poucos os que tratam a sua fé do ponto de vista das aparências, tomando decisões meramente pelo efeito estético que possam desfrutar. A escolha de ministérios para servir, a escolha da igreja, do lugar e até mesmo o padrão de cristianismo que viverão, precisa combinar com o seu estilo de vida social.
Não diz a Escritura - Um dos grandes perigos que João aponta neste texto é que eles manipulavam a Escritura para manter o seu padrão distorcida de fé. Este cuidado precisamos tomar. Porque não podemos usar a Escritura com critérios que meramente favorecem a nossa escolha estética, a busca de uma fé de aparências.
O diálogo dos fariseus mostra sua prepotência e arrogância em relação à Jesus e como se baseavam na aparência e o fato de Jesus ser Galileu fez a diferença para os afastar:
Voltaram, pois, os guardas à presença dos principais sacerdotes e fariseus, e estes lhes perguntaram: Por que não o trouxestes? Responderam eles: jamais alguém falou como este homem. Replicaram-lhes, pois, os fariseus: Será que também fostes enganados? Porventura, creu nele alguém dentre as autoridades ou algum dos fariseus? Quanto a esta plebe que nada sabe da lei, é maldita. Nicodemus, um deles, que antes fora ter com Jesus, perguntou-lhes: Acaso a nossa lei julga um homem sem primeiro ouvi-lo e saber o que ele fez? Responderam eles: Dar-se-á o caso de que também tu és da Galiléia? Examina e verás que da Galiléia não se levanta profeta (João 7.45-52).
Irmãos, quando buscamos só a aparência não bebemos da verdadeira fonte e quando selecionamos segundo os nossos interesses a verdade que desejamos crer, podemos nos alegrar com nossas descobertas, mas não adquirimos a vida que só pode ser adquirida na verdadeira fonte que é o verdadeiro Cristo.

Para Beber da Verdadeira Fonte o Cristão Precisa Descobrir a Vida Espiritual
Voltemos agora à primeira parte do texto, ao ponto em que Jesus se define com a verdadeira fonte e vejamos o que é preciso para beber da verdadeira fonte.
Se alguém tem sede, venha a mim e beba - A primeira coisa importante é que a sede só pode ser realmente saciada em Cristo. Você precisa ter sede de Cristo e buscar nele saciá-la.
Quem crer em mim, como diz a Escritura - Compreendo que podemos entender que a expressão “como diz a Escritura” pode ser uma referência ao tema seguinte: fluir águas, porque há muitos textos bíblicos sobre as águas vivas. No entanto, João, que era um mestre em usar a linguagem para nos conduzir a sentidos complementares, usa palavras que podem ser unidas de outra forma: quem crer em mim como diz a Escritura do seu interior fluirão rios de água viva.
As Escrituras são o critério mais seguro para o desenvolvimento de nossa fé em Cristo. Beber da verdadeira fonte é beber do ensino da Escritura. O Cristo a quem servimos é o Cristo da Bíblia toda, do Gênesis ao Apocalipse. É o Cristo Juiz, a rocha de tropeço, é o amor do Pai e a glória eterna etc...
Com respeito ao Espírito que haviam de receber - A junção destes dois versos apontam para a verdadeira vida que será produzida em nós. Ela não é baseada nos nossos jogos moralistas, nem nas aparências que podemos controlar, mas numa profunda experiência espiritual.
Por isto é que estou afirmando que QUEM DESEJA BEBER DA VERDADEIRA FONTE PRECISA DESCOBRIR A VIDA ESPIRITUAL.
À mulher, junto ao poço, Jesus disse: Que adorem em Espírito e em Verdade. Este é o ponto que hoje precisamos recomendar a todos os irmãos: NOSSO EVANGELHO DEVE NOS CONDUZIR AO PADRÃO DA VIDA NO ESPÍRITO.

Conclusão
Sendo esta uma semana tão importante para o calendário cristão, por ser a semana da Páscoa. Seria de grande valor se começássemos uma profunda avaliação sobre a verdadeira espiritualidade da nossa fé.
O que é que te move em direção a Cristo? O que lhe atrai? O que lhe  torna mais apegado e mais persistente? São valores realmente ligados ao crescimento e ao enchimento do Espírito que estão fluindo dentro da sua experiência de fé ou você é movido por coisas externas e particulares, ligadas a outros fatores e que tornam você volúvel, fraco na fé e altamente imprevisível?
Tome uma decisão ainda hoje e busque a Deus com a consciência de que servi-lo é desenvolver uma relação espiritual, ou como dissemos na semana passada, viver num outro patamar, um padrão que vê o mundo com os olhos de Cristo e não busca a Cristo com os olhos do mundo.



13 de março de 2016

João 6.60-65


Condições Para Ouvir as Palavras de Vida Eterna

João 6.60-65

(Sermão pregado na IP Vila Formosa em 13 de março de 2016 - parte inicial do ciclo da Cruz)


Introdução
O texto que separamos para nossa meditação esta noite está na parte final de uma grande sessão, que se iniciou na multiplicação dos pães e peixes.
Resumindo, o que Jesus pôs em discussão neste momento de seu ministério é o seu real objetivo em ter vindo ao mundo. Jesus estava propondo um reino, que não se baseava nos valores pecaminosos que orientavam o estabelecimento da sociedade humana como eles conheciam, mas se levantava a partir de valores eternos.
Obviamente eles não compreenderam o que Jesus estava expondo, a partir dos sinais que estava fazendo e muito menos, como nossa passagem deixa claro, o que Jesus expunha na mensagem que lhes pregava.
Vamos para o texto com duas verdades importantes a respeito da dificuldade de ouvir a palavra de Cristo que o texto aponta. Primeiro, eles não haviam compreendido o significado eterno da vinda de Jesus, que é o pão do céu. Eles valorizavam tanto o seu modo de ter compreendido o papel de Moisés e do maná que comeram no deserto, que não podiam confiar em Cristo como o pão do céu, tampouco entender que ele era o verdadeiro significado do maná.
Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu  vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá (João 6.54-57).
Estas palavras assustaram grandemente até mesmo alguns dos discípulos de Jesus. Eles o seguiam, mas não tinham em seu coração as mesmas percepções da vida e nem os mesmos anseios do Reino de Deus.
Eles desejam um líder que apenas lhes conduzisse segundo o seu próprio projeto, não estavam dispostos a abrir mão de sua perspectiva para a abraçar uma visão superior, por amar mais as trevas que a luz.
Um ponto que me chama a atenção é que João classifica três tipos de pessoas que estão seguindo Jesus na Galiléia. Aqueles que o rejeitam abertamente, que são chamados no texto de “judeus” (verso 41). Estes judeus possivelmente era líderes da religião judaica que seguiam Jesus e não o quiseram receber como o Messias, pois não puderam, de forma alguma, abrir mão de sua visão deturpada de Moisés e seu papel.
O segundo grupo é chamado de “discípulos”. Quando ele usa esta palavra, o faz para se referir de forma abrangente a todos os que o seguem e que têm algum desejo de tê-lo como um líder, um Messias. Este grupo é citado na nossa passagem, mas devemos fazer uma distinção com um grupo que o texto separa e que está dentro deste grupo, os doze (verso 67).
Os doze, são os seus discípulos, aqueles que foram chamados pessoalmente por ele, dentre os quais ele identificou eu havia um traídor.
Bem, voltando ao grupo que está apresentado na nossa passagem. Os discípulos, como a passagem claramente nos diz e o verso 66 reforça, não eram tão fiéis, eles tinham algumas restrições a Cristo. Este grupo havia buscado Jesus por algum motivo, mas não tomaram uma decisão radical de romper com os valores que conduziam a sua vida, a ponto de ouvir a mensagem do Senhor e desistirem de o seguir.
Vamos nos preocupar conosco. Vamos pensar sobre que tipo de discípulo nós somos. Você, pense em que tipo de discípulo você é. Qual a medida do seu amor e do seu desejo de seguir a Jesus? Pedro, respondendo a Jesus, disse que somente Jesus tinha palavras da vida eterna. Pedro está dizendo que aquilo que Jesus falava apontava para outro patamar de entendimento da vida e que se era necessário viver num outro patamar, não havia escolha, era necessário continuar ouvindo.
O ponto importante para nós é que o desafio de Jesus aos discípulos era a medida em que realmente estavam interessados nesta vida de outro patamar, a vida eterna. A palavra que os conduz a um novo nível de vida, um novo modelo, uma nova percepção que punha em cheque seus pensamentos, caminhos, sua opção pessoal e eles foram desafiados a ouvi-las e viver por elas.
E a sua fé, sua jornada como discípulo de Jesus vai até onde? Qual o nível de seu desejo de ver a vida a partir de um novo prisma? Esta noite, vamos procurar perceber no texto o que é necessário para que você tenha a mesma vontade de ouvir palavras de vida eterna. O que dentro do nosso coração pode ocorrer para nos impedir e o que fazer para que isto não aconteça? 



Para Ouvir as Palavras de Vida Eterna é Preciso Estar Dispostos a Ouvir Coisas Que Confrontem Nosso Padrão Pessoal

Muita coisa que Jesus diz era completamente aceitável. O cristianismo é uma mensagem que tem muita coisa que a maior parte das pessoas acatam como muito boas. Mas a proposta do Evangelho vai  muito além daquilo que em geral os homens comuns podem concordar. O Evangelho exige, por exemplo, o negar-se a si mesmo, isto é, uma mudança de matriz de entendimento sobre o próprio papel e anseios pessoas, o lugar da pessoa no projeto de Deus. Enfim, muitos não quiseram acatar as palavras de Cristo que apontavam para um tipo de vida que era segundo o seu ensino e se alimentar deste ensino que é uma proposta de vida num novo patamar.
Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: Duro é este discurso, quem o pode ouvir? Mas Jesus, sabendo por si mesmo que eles murmuravam a respeito de suas palavras, interpelou-os: isto vos escandaliza? (João 6.60-61).

Muitos dos seus Discípulos tendo ouvido tais palavras - Precisamos encarar esta realidade do que é ser discípulo de Jesus. Aqueles homens também seguiam Jesus, era seus discípulos, mas sua caminhada com Cristo ia somente até um ponto. Nestes versos, Jesus constata que eles estavam caminhando fisicamente com ele, mas o seu coração já se afastava de Jesus.
João destaca duas coisas nesta expressão: muitos discípulos e tais palavras - o verbo ouvir aponta para o fato de que agora eles não estavam ouvindo a mensagem, recebendo o ensino na sinagoga. Eles estavam recendo a instrução do mestre. Havia algo que os aproximava deste ensino. NO final do sermão da Montanha está registrado que eles se impressionavam com a autoridade com que Jesus ensinava. Agora, no entanto, é preciso encarar o fato de que existem coisas na mensagem de Jesus que eles não desejavam ouvir - “tais palavras”. O uso do pronome demonstrativo define que havia algumas palavras que foram centrais para o seu desconforto.
Murmuravam a respeito de suas palavras - veja que o centro de toda a discórdia deles era o ensino de Jesus. A palavra de Jesus tinha se tornado em uma pedra de escândalo para eles, pedra de tropeço.
Isto vos escandaliza? - Em outras palavras, isto lhes confronta e lhes afasta? Vocês não conseguem sentir conforto no confronto que as minhas palavras fazem a vocês?
Precisamos estar dispostos a ouvir o que Jesus tem a dizer que confronta o modo como nós escolhemos viver. AS palavras do patamar do qual Jesus nos fala, apontam para uma vida mais elevada, mais envolvida com o Reino Celestial, com um modelo superior, que está acima daquelas coisas que corriqueiramente determinam nosso modo de vida.
Isto implica em mudanças sobre o ponto focal do ego como centro de todas as coisas. É preciso fazer das palavras de Jesus, alimento. Comida e bebida. É preciso fazer da vontade de Deus nossa comida, nossa bebida. Saber que ele tem caminhos mais elevados que os nossos e pensamentos que são mais elevados que os nossos.
Para ouvir esta mensagem, precisamos estar dispostos a ouvir coisas que confrontem o nosso padrão pessoal.  Tem muito discípulo que se coloca na posição de julgar as palavras de Jesus e de assumir o controle de como deve ser o Reino de Cristo para ele. Constrói as coisas com Deus segundo o seu próprio coração e estes tais não seguem Jesus em todos os seus caminhos.
Você precisa, em nome de Jesus, perceber se este tal não é você.

Para Ouvir as Palavras de Vida Eterna é Preciso Considerar o Patamar Superior Que é Viver Para Cristo

Sei que já venho falando um pouco nesta própria terminologia. Mas Jesus Cristo insistiu em que eles percebessem isto e eu quero repetir para falar diretamente sobre este ponto.
Ao longo do seu discurso, Jesus lhes disse que ele era o pão que desceu do céu.
Porque o pão de Deus é o que desce do céu e da vida ao mundo (João 6.33).
Quando Jesus se definiu como “o pão que desce do céu”, João está reafimando justamente seu entendimento de que era Jesus: ele era Deus que se fez carne, sua origem não é meramente humana, mas divina e celestial.
João usa a origem celestial do ensino de Jesus para mostrar que a proposta da vida que Jesus nos dá, a chamada vida em abundância, tem a ver com um modo de ver as coisas de um ponto de vista superior.
Quem vê as ruas do nível da calçada e da multidão é diferente da visão de quem sobrevoa a cidade numa asa delta, ou de helicóptero. O panorama da vista lá de cima, sem dúvida alguma é mais completa, sem dizer que também é mais bonita.
A visão de Jesus para a vida não é contrastada entre o completo e o incompleto, mas da verdade e da mentira. Veja que ele diz: verdadeira comida, verdadeira bebida.  
Que será se virdes o Filho do homem subir para o lugar onde primeiro estava? O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e vida (João 6.61-62).
Este é o ponto que Jesus trabalha aqui. Ele os desafia a pensar sobre o fato a verdade a respeito de quem ele é e como reagiriam se descobrissem que ele tem uma origem celestial.
Contraste entre espírito e carne - o contraste que Jesus propõe tem a ver com o tipo de percepção espiritual da vida que eles não conseguiam desenvolver. Jesus está justamente convocando-os a pensar num patamar elevado e discernir que a proposta de vida que ele trazia tem a ver com o verdadeiro valor da vida.
Este se tornaria no grande pecado deles. Ou seja, eles puderam perceber que havia algo novo em Jesus, viram a vida que estava em Jesus, pois vida era a luz dos homens, mas eles amaram mais as trevas que a luz.
Você e eu precisamos ter o discernimento do que realmente significa a nossa fé cristã, baseada na Palavra de Jesus. Ela é uma proposta que visa um padrão superior e por isso deveria ser parte integrante da nossa contínua preocupação.
O fato de buscarmos tão pouco a Palavra de Cristo para sabermos o que realmente é o projeto de Deus para nossa vida só aumenta a nossa certeza de que muitos de nós também abandonaríamos Jesus e seu duro discurso.

Para Ouvir as Palavras de Vida Eterna é Preciso Ter Um Coração Transformado
Quando tivemos a oportunidade de meditar na passagem de João 6.37 a 40, pontuamos sobre a obra da graça e identificamos dois grandes trabalhos: a graça nos trazendo a Cristo e a graça nos mantendo em Cristo. Bem, novamente Jesus se volta à obra da graça e as implicações da vida sem esta obra.
Contudo, há descrentes entre vós. Pois Jesus sabia, desde o princípio, quais eram os que não criam e quem o havia de trair. E  prosseguiu: por causa disto é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido (João 6.64-65).
O centro de toda a obra do Senhor em nos dar uma visão superior da vida não acontece como resultado apenas da nossa capacidade de entender o projeto de Deus, mas tem de nascer de um nascer de novo, obra que somente a graça de Deus pode efetuar.
Há descrentes entre vós - A descrença não se apresenta neste texto apenas como uma rejeição a tudo o que Jesus ensinava, mas a descrença é característica de todo aquele que segue a Jesus parcialmente. Aquele que não estiver disposto a deixar tudo para seguir Jesus não pode segui-lo. Isto implica em uma disposição de ser confrontado e mudar e de entender e receber o desafio de viverem um patamar elevado.
A mudança que precisa ocorrer tem acontecer primeiramente no nosso coração. Deus precisa agir em nosso coração. Então, o que este texto nos oferece é uma saída que tem a ver com a obra da graça.
Ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não  lhe for concedido (João 6.65).  
Lembremos um pouco do que ensinou Jesus no sermão do Monte: pedi e dar-se-vos-á, buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á. Todo o que pede, recebe, que procura, acha, bate abrir-se-lhes-á (Mateus 7.7-8).
O avivamento da nossa fé começa na busca de um novo modelo de vida, mas em um novo modo de ouvir a Palavra de Deus.