25 de agosto de 2010

Atos 11.19 a 26

Uma Identidade Cristã Inconfundível



A questão da “Identidade Presbiteriana” tornou-se um dos temas mais comuns dos fóruns de debate da nossa denominação. Com certeza esse é um assunto muito importante para todos nós, afinal é necessário saber o que pensa, como age e o que se esperar de uma igreja com mais de um século e meio de história. Mas o tipo de identidade que gostaria de abordar nessa pequena mensagem é muito mais abrangente e importante. Desejo considerar a “Identidade do Cristão”.
Da mesma maneira que é desejável saber o que esperar da igreja como instituição cristã, também o é em relação a cada um de nós como “cristãos”. Em outras palavras, o que se esperar de alguém que se identifica com Cristo tão fortemente, a ponto de se dizer “cristão”?
Em Atos dos Apóstolos, Lucas registrou algo impressionante ocorrido em Antioquia. Ali, pela primeira vez, os discípulos foram chamados “cristãos”. Do modo como é citado em At.11.26, parece que esse fato decorreu em resultado ao trabalho dos discípulos naquela comunidade. Que trabalho foi esse e como se desenvolveu? O que é necessário absolutamente para que nosso cristianismo esteja tão evidente, que deixe de ser um mero sistema em nossos pensamentos mas se torne um modelo de vida, passível de ser identificado?

FCD - Foco da Nossa Condição Decaída
O que desejamos discutir nessa mensagem é essa identificação com Cristo. O que de fato precisa acontecer em minha vida, que mudanças precisam ocorrer em meu caráter e que elementos devem ser apresentados através do meu viver diário que de fato me qualifiquem de forma inconfundivel a ser semelhante a Jesus. 

Consideração Inicial
Uma das situações, para a uma abordagem adequada do texto, que precisa ser  melhor esclarecida é que os crentes de Antioquia não fizeram um trabalho procurando criar uma imagem que os identificasse com Cristo. O que ocorreu foi algo natural, conseqüência natural do que viviam. Não foi um golpe de marketing religioso, não foi algo proposital. Ao denominarem aquele grupo como "cristãos" as pessoas estavam apenas resumindo o que viam e como viam aquele grupo. 
Isso é relevante nesse momento, pois a nossa reflexão não deverá ir na direção do: quais os cinco elementos que eu tenho de apresentar às pessoas para que eu seja um cristão... na verdade, é: sendo um cristão, o que é ser um cristão, para que, simplesmente sendo o que tenho de ser, seja reconhecido como tal. 

ARGUMENTAÇÃO 
Partindo do verso 19, gostaria que primeiramente considerássemos o contexto histórico daquela identificação de cristãos. A partir do próprio contexto histórico podemos levantar nossa primeira argumentação. 

Uma Identificação Inconfundível Com Cristo Não Está Atrelada às Circunstâncias Para se Tornar Possível
O contexto de perseguição é muito claro. O livro de Atos nos relata sobre essa dispersão dos discípulos por todas as regiões. No verso 19, diz que eles sairam pregando o evangelho aos judeus que estavam espalhados pelas cidades onde eles iam. 
O texto irá destacar dessa multidão de discípulos dispersos, um grupo diferenciado que irá chegar até Antioquia. Esses depois foram chamados de cristãos e sua identificação inconfundível não foi obscurecida, dificultada, atrapalhada por que eles viviam num contexto de perseguição. 
Há sempre aqueles crentes que na hora das dificuldades, dos apertos da vida, se transformam em pessoas muitíssimo identificadas com o mundo e os seus processos. Eles tentam resolver sua vida, se ela está muito bagunçada, não de uma maneira que frua de seu cristianismo autêntico e verdadeiro, mas de um agir segundo os principios e padrões dos ímpios. Algumas vezes, esses crentes não percebem que deixaram Cristo de lado e agora vivem como se não fossem cristãos. 
Os crentes que chegaram a Antioquia e que foram comparados com Cristo não se deixaram mover para o mundo porque estavam sendo perseguidos, pelo contrário, procuraram viver o padrão do evangelho que lhes havia atingido e transformado. 
O começo dessa nossa história é esse: ser um cristão verdadeiro, inconfundivelmente identificado com Cristo não é algo que depende das circunstâncias. 
O outro lado da moeda também pode ser visto. Ou seja, aqueles crentes que são mais crentes quando as coisas estão ruins, mas quando as coisas estão melhores, esquecem de Deus, de Cristo e de sua nova vida cristã. Esses, de uma maneira inversa, também são determinados pelas circunstÂncias. 
Podemos também falar de um grupo mixto. Um grupo que é tão tocado pelas circunstâncias que para tais, o comportamento muda de uma hora para outra, dependendo da circunstância e ambiente ao redor. 
É um jovem que se estiver na igreja em uma programação matinal, lerá a Bíblia e irá orar com fervor, ensaiará músicas para o próximo culto etc. Mas, se no mesmo dia à noite, estiver numa festa com pessoas não crentes, conseguirá ter um comportamento tão mundano, que não será possível reconhecer nele sequer uma sombra de Cristo. 
Todos devem aprender que nosso cristianismo é um fator que só é naturalmente identificável quando passar a fazer parte de nossa própria maneira de ser e pensar.  
Ser um cristão verdadeiro, inconfundivelmente identificado com Cristo não é algo que depende das circunstâncias.



Uma Identificação Inconfundível Com Cristo Será Resultado Natural de Uma Vida Que Não Se Deixa Determinar Pelo Corriqueiro
Nem todos os cristãos poderão ser notados como de fato seguidores de Jesus. Alguns viverão para Cristo nesse mundo, nutrirão sua fé de maneira natural, servirão à igreja e partirão para o céu ao encontro de sua herança, mas jamais demonstrarão claramente aos homens que tinham a identificação com Cristo. 
Não estou dizendo que não darão bom testemunho ou que farão uma série de coisas que colocarão em cheque seu cristianismo. Na verdade, estou tentando dizer que muitos de nós não serão notados pelo mundo como servos do Altíssimo e sua permanência entre os homens influenciará a muito poucos. 
Eu sei que estou mexendo em uma caixa de marimbondos, pois estou ferindo a auto-estima de muitos crentes que apenas serão chamados de crentes, mas jamais será dito deles: são cristãos! Estou me referindo à identificação inconfundível com Cristo, aquele tipo de vida que sai do lugar comum e se torna uma torre forte de alerta aos homens de que Deus visita e transforma os seres humanos. 
Não posso julgar outras pessoas, posso apenas falar de mim. Sinto que meu cristianismo precisa se tornar público no sentido de se tornar mais relevante ao meu redor. Sinto-me fechado em meu amor a Deus e encapsulado num tipo de vida cristã normal e bastante discreta. Não almejo ser condecorado com algum tipo de medalha de honra ao cristianismo, mas gostaria de que todos os outros homens fossem capaz de visualizar minha fé em Cristo com mais facilidade. 
Tomo por exemplo aqueles homens e mulheres de Antioquia. Eles deram um passo de muita coragem. Enquanto o texto nos informa que os que foram dispersos saíram pregando o evangelho aos judeus que encontravam, Lucas faz uma referência importante àqueles que chegaram à Antioquia: alguns deles porém, ...falavam também aos gregos, anunciando-lhes o evangelho do Senhor Jesus (At.11.20).
Para que chegassem ao ponto de serem identificados com Cristo, esses discípulos de Jesus compreenderam a necessidade de que o evangelho alcança-se os perdidos e eles decidiram romper barreiras culturais imensas, eles deram um passo em uma direção que jamais haviam dado antes e se dispuseram a arriscar muito mais pelo evangelho. O comum já estava bom, mas eles se dispuseram a fazer o incomum para realizar a vontade de Deus. 
Quando nos deixamos dominar pelo usual, corriqueiro e o comum, temos a tendência a viver mais tranquilamente, sem sobressaltos. No entanto, perderemos os mais excitantes trabalhos que nos farão mais felizes e corajosos no Reino. Quando nos deixamos dominar pela tranquilidade do mais fácil, também estaremos deixando de experimentar as mais gloriosas profundidades do conhecimento do poder de Deus e de sua graça e providência. 
Poucos serão os cristãos que nessa vida poderão experimentar as grandes profundidades do conhecimento de Deus, como John Wesley, João Calvino, JOnathan Edwards, Dwight Moody e tantos outros. Estes viveram de forma incomum. Não me refiro ao fato de terem se tornado notórios em seus feitos e famosos pela história que protagonizaram, mas pelo fato de terem sido desafiados a um cristianismo incomum e o terem abraçado com fé. 
Os crentes de Antioquia, demonstravam, desde o início de sua vida com Deus e evangelismo, uma inclinação para ações não corriqueiras. Estavam dispostos a pregar a Cristo a qualquer custo. Seu amor pelo evangelho e por Cristo Jesus os levou a romper com o corriqueiro. 
Se desejamos uma inconfundivel identificação com Cristo também devemos nos dispor a mais que o corriqueiro da fé. 


. Um cristão tem compreensão clara da necessidade de se pregar o evangelho aos perdidos.






Podemos notar na leitura do texto que o agir daqueles homens transmitia a clara presença de Deus (At.11.23). Não estamos neste mundo para propagar nosso próprio nome, somos representantes de Cristo, devemos exalar o seu bom perfume. Os homens devem ver a presença de Deus em nós, isso nos identifica com Cristo.
Muito se pode pontuar a respeito da nossa identidade com Cristo. Encerro esse texto com apenas um último ponto: cristãos são pessoas boas. Veja o que diz o verso 24, a respeito do líder Barnabé. No fundo, nossa identidade com Cristo não pode se resumir em nosso desejo de transformar os outros, ou na nossa ligação pessoal com Deus, pois ser um cristão é ser chamado para amar as pessoas até mesmo os inimigos.