24 de setembro de 2017

Gálatas 6.11-18

A Vida de Conformidade Com a Regra da Graça
Gálatas 6.11-18


Introdução
No último sábado, ouvi uma mensagem bíblica pregada pelo Rev. Dr. Samuel Logan, presidente emérito do Westminster, no culto dos 500 anos da Reforma no Mackenzie em São Paulo. Ele falou da história ilustrando-a como sendo um grande garrafão, um gigantesco garrafão de vidro com um gargalo bem apertado. Ele diz que tem uma destas garrafas em casa e quando a vê se lembra de Cristo como sendo o ponto focal para o qual toda a história aponta. Cada gota de vinho colocada neste garrafão tem um único propósito, um dia sair por aquele gargalo. Assim ele diz que toda a existência de todas as coisas tem um único propósito, um dia trazer à luz a glória de Cristo.
Na verdade, podemos, de alguma forma, buscar algum tipo de proeminência ou protagonismo neste mundo, mas tudo, absolutamente tudo o que acontece, toda a história, quer a de Martinho Lutero, Calvino, apóstolo Paulo ou a sua, tudo isto são apenas pequenas gotas de uma construção que visa, no final de tudo, revelar a glória de Cristo. Você existe e Deus te criou e te deu uma história de vida porque ele deseja que sua vida aponte para Cristo.
Existimos para que Cristo seja glorificado isso é o que afirmamos quando reafirmamos a nossa crença de que o fim principal do homem é glorificar a Deus. Nossa vida toda, cada minuto, cada mínima fração da nossa existência é um ato do Criador de trazer glória ao nome de Cristo, para quem converge todas as coisas. Contudo, devemos considerar atentamento o fato de que nos inclinamos pecaminosamente a buscar outro ponto focal para viver e estabelecemos conosco mesmo uma relação de proeminência pessoal como um modelo de vida.
Em outras palavras, o que o pecado fez conosco foi mudar nosso centro de interesse existencial retirando-nos do propósito original e maior de glorificar a Deus e levando o nosso coração cativo à uma ideia de busca de nós mesmos como ponto de partida existencial.
Existe um perigo eminente para todos nós e temos de ficar mais atentos para ele. Todos corremos o risco de nos mover neste mundo guiados pelos nossos interesses com o fim de buscarmos nos completar em nós mesmos. Paulo viu o que estava acontecendo nas igrejas da Galácia, quando eles perverteram o Evangelho da Graça, que deveria nos levar naturalmente a viver segundo as regras da graça que buscam a glória de Cristo, e se focaram em um outro evangelho, maldito, que os fazia buscar na autojustiça, na autorrealização, no busca de interesses pessoais o conforto para sua alma.
O ponto central das observações de Paulo é que o evangelho falso da autovalorização que eles adotaram não estava produzindo a vida de Cristo na igreja, mas algo que nada tinha a ver com Cristo. Aquela igreja não estava mais refletindo a sua unidade com Cristo, ela não apresentava os sinais característicos de quem vive para Cristo, quem vive segundo a graça. Por isso, a sua carta está tão permeada de repreensões pastorais neste sentido. Ele propõe mais que uma reflexão, ele apresenta a eles uma maneira de se autoavaliarem e se enxergarem. Paulo propõe que eles se meçam pela regra da graça (o cânon da graça). Por isso, nessa exortação final, que o próprio Paulo escreve pessoalmente, ele tem algo muito sério a dizer que tem a ver com a realidade de quem somos e como devemos nos avaliar a partir do que Deus espera fazer em nós. Eu te convido a pensar sobre essa medida da graça, essa régua que deveria delinear o que é ser igreja para você. Pense sobre o que a regra da graça deve gerar em você e se avalie. Ao final, tome uma decisão positiva em favor de sua vida com Cristo. Ore e seja sábio diante da Palavra.

A Regra da Graça Lança Fora a Busca do Favorecimento Pessoal

Vede com que letras grandes vos escrevi do meu próprio punho. Todos os que querem ostentar-se na carne, esses vos constrangem a vos circuncidardes, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo. Pois nem mesmo aquele que se deixam circuncidar guardam a lei, antes, querem que vos circuncideis, para se gloriarem na vossa carne. (Gálatas 6. 11-13).
Em geral, estamos preocupados primeiramente com nossos interesses e depois com o restante. Buscamos, quase que naturalmente, organizar as coisas de um modo que os acontecimentos nos favoreçam.
Não estou dizendo que exista algum erro absoluto nesta postura. Não há! Na verdade, parece-me natural e saudável que uma pessoa deseja o seu próprio benefício. O problema começa a surgir quando fazemos do favorecimento pessoal um modo de vida e a busca suprema da nossa existência. Porque, na verdade, devemos saber que existimos primordialmente para a glória de Deus e não para fazer ressaltar a nós mesmos.

Grandes letras de próprio punho - Paulo começa essa última sessão e toma agora a pena da mão de seu amanuense e resolve, ele próprio fazer o registro de suas palavras finais. Ele está ressaltando a importância e seu interesse pessoal em que estas últimas palavras sejam marcantes. Ele, como um pastor fortemente interessado no seu rebanho, quer que eles saibam que existe aqui mais que um apóstolo cuidando de interesses eclesiásticos, mas existe um servo com um interesse particular na vida dos seus irmãos.
Os que querem ostentar-se na carne – Paulo está fazendo uma comparação direta entre a sua atitude de interesse genuíno na vida dos irmãos e os falsos mestres judaizantes que a única coisa que busca é o favorecimento pessoal. A sua busca de influência não tem um interesse genuíno de ver a igreja rendida e absolutamente em comunhão com Deus, mas manipulam as coisas da fé para serem favorecidos pessoalmente através da igreja.
Vos constrangem a circuncidar somente para não serem perseguidos -  a busca destes falsos mestres era o de provarem aos seus compatriotas que eles também guardavam a lei o que queriam não era uma regra de santidade para o povo de Deus, mas um escape da perseguição, que havia se tornada intensa contra os cristãos, a quem os judeus acusavam de incredulidade porque não guardavam corretamente a lei.
Eles que se circuncidam não guardam a lei – a prova de sua insinceridade era o fato de que mesmo guardando alguns rituais da lei, quando a lei os punha à prova eles não a cumpriam. Paulo está falando de uma maneira muito prática de ver a vida cristã. O fim da lei é que nos pareçamos mais com Cristo e o critério para a avaliação mais prático era o amor ao próximo. Entretanto, o que ele via acontecer na prática daquela igreja era o surgimento de lutas, contendas, invejas e busca de favorecimento pessoal como regra. Paulo está dizendo que isto somente aponta para o fato de que o cristianismo deles estava equivocado, porque havia deixado a verdadeira instrução, ou regra do Evangelho da Graça e partido para um outro tipo de fé, baseado no interesse e promoção pessoal.
A verdadeira vida regrada, ou medida pela graça (kanoni - regra) ela lança fora a busca do favorecimento pessoal, do interesse pessoal como ponto central da vida. Quando a graça é quem realmente conduz a nossa vida, nos transformamos em pessoas que se sentem felizes e completos numa proposta que tem como objetivo central fazer os seus interesses se sobressaírem. Assim, o que realmente nos move e nos faz escolher agir de um jeito ou de outro não é o que vamos ganhar com isso e sim como é que Cristo será exaltado nisto que faço.
O gargalo de toda o nosso interesse não está centrado em nós, mas em Cristo. Por isso, Paulo dizia: não sou mais eu quem vive, mas Cristo vivem em mim. A regra da graça é que lançamos fora o interesse pessoal como ponto central de nossa busca existencial e estamos dispostos a não sermos movidos em direção a nós mesmos.
Paulo está dizendo que este é o que revelava a falta da graça na vida daqueles falsos mestres, que não estavam interessados em nada senão em seus próprios interesses, o que forçosamente os levava a viver manipulando pessoas.

A Regra da Graça Produz Vida Que Busca Um Padrão Elevado de Esvaziamento de Si Mesmo

Mas longe esteja de mim gloriar-me senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo. Pois nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o ser nova criatura. (Gálatas 6.14-15).
Longe de mim gloriar-me a não ser na cruz - O contraste deste tipo de postura centrada no interesse e favorecimento pessoal, Paulo propõe o seu modo de pensar sobre o que é glória. Enquanto os falsos mestres tentavam manipular a igreja para se protegerem contra a perseguição dos judeus que viam na mensagem da cruz uma abominação. Paulo diz que a cruz era a razão de sua glória. Vamos tentar entender um pouco mais isso.
O mundo está crucificado para mim e eu para o mundo – Paulo diz que a cruz de Cristo é o símbolo de como os valores que controlam este mundo não mais controlam sua vida. Os interesses mundanos, centrados no ganho pessoal e no favorecimento pessoal não são o fundamento do modo como ele vive. Paulo está dizendo que consegue, por causa da cruz de Cristo, aprender o valor do esvaziamento de si mesmo.
A cruz de Cristo é o mais absoluto símbolo do auto esvaziamento. Na verdade, o Rei da Glória deixou a sua glória para se fazer homem e morrer, a morte de Cruz, este é o mais elevado momento do esvaziamento de Cristo e o modelo mais absoluto de como é realmente que uma pessoa vive para Deus, destituindo-se de si mesmo para servir, como Cristo serviu.
Nada tem valor senão o ser nova criatura – a Lei de Deus deseja produzir um novo homem, baseado em valores do reino, onde o maior é o que serve e se sente feliz nisto. Sim, Paulo está nos dizendo que ele, por causa da cruz, está aprendendo o verdadeiro modelo de vida baseado em Cristo e isso faz dele um novo homem, uma nova criatura. Ele está nos dizendo que a regra da graça produz este novo Paulo, que não visa mais fazer prevalecer a si mesmo, mas vê valor no ato do servir autoesvaziado.
O egoísmo é tão contrário ao Evangelho que Paulo diz que o homem que vive de forma egocentrada vive um OUTRO EVANGELHO QUE DEVERIA SER CONSIDERADO MALDITO.
Este pensamento que se vale do autovalor como principio de satisfação, representado na circuncisão que era usada como formo de autoafirmação judaica, é um pensamento que nada tem a ver com a nova vida que Cristo busca nos dar por meio do Espírito que produz em nós o fruto que nos capacita servir.
A regra da graça produz satisfação no autoesvaziamento como forma de valor superior. Em outras palavras, a graça nos faz sentir bem em fazer o bem, mesmo que isto tenha um custo para nós. Assim como Cristo se sentiu satisfeito ao dar a sua alma como oferta por nós, mesmo que não merecêssemos, da mesma forma, fazer o bem ao outro, mesmo que ele não mereça é um padrão da graça e nos fará sentir felicidade.  

A Regra da Graça nos Conduz à Paz Produzida Pela Identificação Com Cristo

E, a todos quantos andarem de conformidade com esta regra, paz e misericórdia sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus. Quanto ao mais, ninguém memoleste, porque eu trago no corpo as marcas de Jesus. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja, irmãos, com o vosso espírito. Amém (Gálatas 6.16-18).
Aproveitando este ponto, Paulo dá uma palavra final às igrejas da Galácia, apontando para a identificação com Cristo como o ponto mais elevado da nossa tarefa de ser igreja neste mundo.
Voltando ao garrafão de Samuel Logan, existimos para revelar a glória de Cristo em nós. Na verdade, nada será mais eficaz para que a nossa vida aponte para Cristo que o exalar da obra da graça em nossa vida.
Paz e misericórdia para quem anda segundo essa regra – Israel de Deus – Paulo está usando aqui de uma certa ironia, mas ao mesmo tempo, usando uma figura que reforça a ideia de resultados. Em outras palavras, Paulo estava comparando os judaizantes que diziam viver segundo as regras da Lei, mas o resultado de sua vida prática eram intrigas, facções, invejas etc. Aqui, ele ironiza este falso comportamento que usava a lei como cortina de fumaça para a carne e chama o verdadeiro evangelho de Kanon, regra e medida, esta baseada na graça, que faz a vida não buscar o interesse pessoal, mas a marca da graça como regra de vida, amor ao próximo e não autoamor como prova de comunhão com Deus. O resultado desta vida não é supremacia de uns sobre os outros é misericórdia e paz, isto é, gestos e tratos baseados no amor, produzindo unidade. Esse é o Israel de Deus, assim sabemos que essa igreja pertence a Deus e tem comunhão com ele e pertence a Ele.
As marcas de Cristo no corpo de Paulo – Faz muito sentido que Paulo diga isto aos crentes da Galácia. Ele pregou o evangelho àqueles irmãos sob intensa perseguição e foi preso e muito castigado por causa disto. Certa vez, por causa da sua decisão de não abandonar as igrejas e persistir em pregar o evangelho da salvação, que anuncia Cristo, Paulo foi apedrejado até a morte. Nisto, o que ele fez, mostrou o seu amor verdadeiro por eles e com isso, a graça de Deus que usou Paulo como instrumento. Essas marcas, que ele trazia no corpo deveriam fazer os crentes se lembrar de que era o resultado da operação da graça de Deus através da vida de Paulo que foi o instrumento que Deus usou e marcou para salvá-los.
Quero lhes dizer, meus irmãos, que precisamos estar dispostos a sofrer as marcas que porventura a graça quiser infringir sobre a nossa vida, a nossa alma, nossa mente, nosso coração, para cumprirmos cabalmente o nosso dever final de nos identificar com Cristo. São essas marcas, as melhores lembranças que teremos para a eternidade de que nos identificamos com Cristo.  
O que realmente irá produzir em nossa alma o sentimento de paz que Paulo tratou nestes versos não é a ausência de lutas, mas a presença de sinais de que aprendemos e vivemos por Cristo Jesus, fazendo o que foi necessário para ele seja glorificado em nossa vida.
A graça seja com vosso espirito – a saudação final é mais que um adeus ou um desejo de boas coisas. Paulo está propondo uma verdadeira presença da ação da graça no interior do coração da igreja. O que realmente precisa acontecer em nós para que sejamos esta igreja com as marcas de Cristo é algo que só Deus pode fazer em nossa vida, nos fazendo morrer para nós mesmos e vivos para Cristo Jesus.

Conclusão
O que marca sua vida neste mundo? O que é que você realmente busca ser? O que realmente te faz feliz e completo?
Claro que quando nós nos medimos pela graça o que vemos no final deve ser resultado da obra da graça. Às vezes, o que vemos após a medida da graça é uma vida completamente em desacordo e desajustada com o que a graça deveria produzir.
O que Paulo propõe é algo muito simples, que nos conheçamos pelo próprio fruto que produzimos.
Graças a Deus nem sempre o que temos feito e vivido é tão ruim. Muitas e muitas vezes o que fazemos e como vivemos revela que Deus está trabalhando em nós. Creio que isto era o que Paulo pensava sobre as igrejas da Galácia. Ele os chamou a considerar os próprios erros e a revisar os seus caminhos.
Com este término de carta o que percebemos é o anseio de um homem de Deus que o liga a seus irmãos com amor. Ele que havia dado parte de sua vida para ser usada por Deus em favor daqueles irmãos, os amava como a filhos verdadeiros no Espírito. Agora, portanto, tudo o que ele esperava é que eles acordassem do seu sono.
Caro irmão, longe de mim tentar fazer qualquer comparação indevida com o sentimento do apóstolo Paulo ou com a sua ilibada conduta pastoral, mas tudo que eu desejo é andar ao lado de vocês de mãos dadas com um único objetivo, que a regra da graça nos guie a lugares melhores.
Podemos também estar bem equivocados e não fazer o que a graça manda. Podemos estar construindo uma falsa ideia de vida cristã. Por isso, eu os conclamo a buscar a Deus e se refugiar unicamente na graça. Devemos ter como alvo um padrão de vida que foque na glória de Cristo como alvo existencial. Hoje, vamos lançar fora toda a busca de vantagem e exaltação pessoal, vamos nos deixar moldar pela graça a ponto de produzir um modelo baseado no modelo de autoesvaziamento de Cristo, façamos da graça uma marca de conduta.

Deus nos chama a confiar somente nele e viver somente para ele!

3 de setembro de 2017

Gálatas 5.16-26

Identificando a Presença da Graça no Coração
Gálatas 5.16-26


Introdução
Toda a luta do apóstolo Paulo com as igrejas da Galácia não tinha nenhum interesse de supremacia do seu domínio sobre o pensamento da igreja. O problema de Paulo é que a igreja estava entregando ao mundo uma vida prática que revelava sua imatura relação com Deus.
O grande sinal do problema e da doença que eles tinham estava claro no fato de que no seio da igreja o que havia crescido era um movimento de luta interna e disputas de egos possuídos de vanglória. Evidentemente, as coisas não estavam bem. Eles precisavam refletir sobre isto.
Dentro deste pensamento, vamos nos deter nos versos 16 a 26 e falar um pouco sobre os sinais práticos da vida no espírito e como é necessário identifica-los para que possamos avaliar nosso caminho e fazer caminhos novos e retos para nossos pés.
Você precisa estar disposto a essa autoinvestigação esta noite. Precisa preparar seu coração para olhar no espelho por meio da fé e perceber quem realmente você é. Caso o que você irá encontrar em você não seja os sinais da graça do Espírito, o que é necessário não é o desespero, mas a fé. A fé para dispor seu coração a retomar a caminhada certa.
Acredito que muitos perceberão que estão no caminho certo. Muitos saberão que tem falhas, mas também notarão que muitas coisas boas já se mostram na sua vida. Isto é bom, mas não se deixe acomodar, não permita que isso seja apenas confortável, lembre-se que temos de ser zelosos pelo bem e ter toda a nossa vida e natureza cativa de Cristo.

Identificamos a Presença da Graça no Coração Quando nos Identificamos Sinais da Vida do Espírito em Nós

Digo, porém, andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer (Gálatas 5.16-17).
O apóstolo Paulo está partindo de uma observação clara sobre o que estava acontecendo no seio da Igreja. As lutas, disputas internas, acusações, facções e todas a falta de amor presente naquela igreja eram sinais evidentes de que eles não estavam caminhando bem, estavam desviados da verdade. No entanto, Paulo quer que eles busquem essa percepção neles próprios, que investiguem a si mesmos e se notem no erro.
Andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne – O apóstolo Paulo está chamando os crentes a olharem para o fato de que o dia a dia deles estava permeado pela inclinação da carne. A linguagem que ele usa “peripasete” (andai), indica um ato natural e contínuo no andar comum. Não se trata de desenvolver grandes habilidades misteriosas, ou secretas, especiais, que somente os grandes mestres são capazes, Paulo está dizendo que o crente que faz o básico, segundo a direção do Espírito não satisfaz à uma inclinação natural da carne. Portanto, o que realmente revela e identifica a graça na nossa vida é a natural inclinação para vencer a também natural inclinação para o mal (epiphemia – concuspiscência, uma forte inclinação para o que é mal).
A carne milita contra o Espírito e o Espírito contra a carne – a luta interior é, num certo sentido uma grande bênção, afinal ela aponta para o fato de que o Espírito está vivo em nós e resiste às inclinações naturais da carne. A questão que Paulo qualifica aqui é que os crentes deveriam perceber que isto estava acontecendo entre eles. Eles sabiam que aquele estado de coisas não era bom e precisavam lutar corretamente contra tudo o que estava acontecendo que os estavam levando a viver longe da graça.
A vida do Espírito em nós nos leva a clamar: Aba Pai! Isto e tantos outros aspectos dessa nossa relação com Deus são frutos do agir do Espírito Santo em nossa mente, em nosso coração.
O Espírito Santo é o responsável pelo desenvolvimento de nossa vida com Deus. Os filhos de Deus são aqueles que nasceram de novo e o Espírito trabalha em nossa mente para que descubramos e venhamos à consciência de que realmente somos filhos de Deus. Paulo está dizendo que este mesmo Espírito opera em nós a percepção de nossos erros, nossos desvios e nos faz ver quem realmente somos. Ele nos convence do pecado, do juízo e da justiça. Essa é uma obra do parácleto divino.
Pessoas altamente autocentradas, autoconvencidas de espiritualidade e que estão somente dispostas a apontar erros dos outros, sem nunca perceberem-se pecadores, os legalistas em geral, assim como os libertinos, os que vivem de qualquer maneira são pessoas que não denotam esta percepção do próprio pecado. Perceber-se pecador, perceber as próprias trevas não é um sinal de ruim, ao contrário, é um sinal de vida.
O Espírito é oposto à carne e por isso mesmo não podem conviver harmonicamente. Portanto, qualquer um que viver no Espírito não se sentirá bem com as obras da carne.

Identificamos a Presença da Graça no Coração Quando Identificamos Resultados Práticos da Vida do Espírito em Nós

Mas, se sois guiados pelo Espírito não estais sob a lei. Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam. Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei. (Gálatas 5.18-23).
Se sois guiados pelo Espírito não estais sob a lei - Neste trecho, o apóstolo Paulo resolve descrever de um lado as obras da carne e do outro o resultado da obra do Espírito. A desculpa deles para deixarem o Evangelho da graça era a de que estavam tentando viver pela Lei de Deus. Neste ponto Paulo, então, está dizendo que o Espírito santo nos guia a um resultado prático que não é em tempo algum condenado pela lei. Por isso, ele começa dizendo que a Lei não condena que anda no Espírito, porque o resultado prático do andar na Lei é um tipo de vida, baseado no cumprimento da Lei.
Obras da carne são conhecidas e são... – Não se trata de nenhuma coisa nova para eles, ao contrário, eram coisas conhecidas. Paulo começa acusando aquilo que era mais claro para todos: prostituição (porneia), impureza (akatarsia), lascívia (asselgheia)... estes pecados, quase sempre ligados à licenciosidade sexual eram claramente recebidos como obras da carne, da mente pecaminosa. Idolatrias e feitiçarias (famaquéias), apontavam para falta de compromisso com o Deus verdadeiro.  

Paulo, no entanto, completa fazendo menção à pecados que estavam sendo cometidos entre eles e que se escondiam sob uma capa de vida de acordo com a Lei. Ou seja, em nome da retidão, eles deixaram a igreja se impregnar de lutas, dissensões, inimizades, facções etc... O que o apóstolo está fazendo é levando-o as perceber que o resultado prático da vida deles não era retidão da Lei, mas apontava para a natureza maligna que os dominava fortemente.
Não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam – a força desta frase é que ela nos faz pensar na prática, no resultado do que realmente estamos fazendo. Isso deveria nos servir de alerta fortemente. No final, devemos fortemente pensar, o que realmente estamos entregando como vida tem sinais práticos da vida do Espírito ou não?!
Mas o fruto do Espírito é – essa maneira de dizer é uma forma de usar a força da comparação, isto é, o resultado prático da vida no Espírito não pode ter, de forma alguma, contradições práticas do resultado da lei, que é amor.
Contra estas coisas não há lei – o que Paulo intencionava é que eles compreendessem que se eles realmente estavam interessados em viver para Deus e não contrariar a Lei, não poderiam deixar de notar o resultado prático de sua vida na Lei. Ou seja, a maturidade na Lei não pode, de forma alguma, nos conduzir a qualquer tipo de vida prática que nega a Lei, ao contrário, temos de trabalhar para que a nossa vida resulte em coisas que comprovem que somos mais maduros como a Lei nos quer direcionar.
Seria interessante, mas deixarei para um outro momento, um detalhamento maior deste fruto do Espírito. Por hora, vale a pena notar eu o ponto de Paulo é nos fazer perceber o resultado prático da nossa vida e notar o que realmente estamos revelando, mais domínico da carne ou do Espírito.

Identificamos a Presença da Graça no Coração Quando  Identificamos em Nós Movimentos de Autonegação e Auteridade

E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito. Não nos deixemos possuir de vanglória, provocando uns aos outros, tendo inveja uns dos outros (Gálatas 5.24-26).
A palavra “auteridade” não é muito comum, por isso, precisamos defini-la melhor. Auteridade é aquilo que é próprio do outro, que pertence à natureza do outro, da outra pessoa. Auteridade é também a capacidade de pensar como o outro, ou pensar no outro. Não somente a autonegação é um valor do cristianismo, mas o pensar e sofrer o que sofre o outro é um distintivo do verdadeiro cristianismo.
Os que são de Cristo crucificaram a carne e suas paixões e concupiscências – com certeza, Paulo está sendo bastante claro em dizer que eles não estavam em Cristo se a marca e sua vida era justamente o oposto do que o Espírito realmente faz no crente. Então, ele deseja que pensem com muita seriedade sobre o resultado daquele falso evangelho que fazia Cristo nada significar para eles, antes, ao contrário, os estava levando a negar a obra de Cristo.
Se vivemos no Espírito andemos também no espírito – dito do jeito que Paulo disse: sonem pneumati – pneumati stoikomem – tem a força da sonoridade, como um dito popular que rima, que tem um efeito retórico pela sonoridade. Isto é, Paulo está mais ou menos dizendo que aquilo que deve ser conceitual deve ser também prático.
Não nos deixemos possuir de vanglória – esta é profunda exortação final. Paulo está dizendo que o tipo de cristianismo que eles estavam buscando, que se baseava neles próprios e num autoconvencimento da justiça pessoal, era um tipo de vida que na prática negava o que eles buscavam. Então, eles não poderiam ceder aquilo e sim, lutar contra este modelo fracassado de vida autocentrada.
Paulo usa aqui algumas palavras que podem nos ajudar. Gnomai – Ele diz, que não devemos nos tornar por meio do pensamento. Ou seja, ele deseja que os crentes pensem melhor sobre o que estão fazendo e lhes diz enfaticamente, não se deixem convencer de que são – kenodoxai – cheios de glória. A demonstração mais clara de que eles não eram, é que eles estavam tendo facções e lutas entre eles. Este sinal era o mais perigoso e mais importante a ser detectado.
Auteridade – Uma igreja madura, que vive o evangelho da graça estará inclinada a auteridade, porque o evangelho da graça muda o foco da nossa atenção. O outro se torna prioridade e o principal objeto interesse. Quando você percebe esta intencionalidade, ficará mais fácil ler os versos seguintes, basta dar uma olhada no que ele diz. Por isso é preciso ser tão enfático com o “não nos deixemos convencer de glória pessoal”.

Conclusão
Claro que podemos ouvir este sermão e ficar pensando em tudo o que outras pessoas precisam fazer para serem melhores e não errarem tanto. Mas, com certeza, o que realmente precisamos é nos perceber e identificar em nós os sinais da presença da graça.
A graça nos faz ver nossos próprios pecados? Estamos sensíveis para perceber nossa própria maldade. O verdadeiro e profundo despertamento do Espírito primeiramente nos faz perceber quem somos. Somos atingidos pela percepção e nossa própria pecaminosidade e isso nos leva ao chão, nos leva ao patamar do clamor, da necessidade.
Podemos sim, pensar em tudo que outras pessoas precisam fazer para serem melhores. Mas sem dúvida hoje notamos o quanto precisamos olhar na prática aonde o Evangelho está nos levando, quando voltamos para nossa casa e vamos viver o dia a dia do casamento, lidar com os filhos, qual é o nosso real comportamento mais natural. Somos mais dominados pela carne e percebemos isto.
O sinal prático da vida do Espírito é que estaremos incomodados de ver estas coisas acontecendo em nós. O sinal prático da vida do espírito em nós é que queremos ver a vida se manifestando e não a morte nos dominando. Com certeza, Paulo sabia que a igreja sentiria isto e refletiria sobre essa situação. Esse é o ponto que precisamos parar para concluir esta noite.
Aonde ser o que somos e fazer o que fazemos está nos levando na prática. Está nos moldando a fazer as coisas próprias do Espírito, está nos levando a amar? Irmãos, olhemos para nós mesmos como igreja, olhemos para nós, como maridos, esposas, pais, mães, filhos, filhas, amigos, companheiros de luta... olhemos para nós como pessoas e nos percebamos...
A auteridade tem moldado a nossa postura diante das coisas que nos cercam, ou o orgulho e a vanglória têm comandado? Aqui está o que precisamos fazer: precisamos buscar a vida no Espírito, precisamos buscar andar no espírito.

Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito.