30 de dezembro de 2018

Efésios 4.1 a 6

O Rei Nos Chamou Para Sermos Sua Família
Efésios 4.1-6
(ÚLTIMO SERMÃO COMO PASTOR DA IP VILA FORMOSA - 30 DE DEZEMBRO DE 2018)

Introdução

Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai, de quem toma o nome toda família, tanto no céu como sobre a terra (Ef 3.14-15). 

No capítulo primeiro, Paulo trata do tema da “adoção de filhos” no qual, por meio da obra do seu amor em Cristo, Deus Pai, nos separa para sermos seus filhos, por meio do sacrifício de Cristo. 
Bendito o Deus e pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo Jesus, assim como nos escolheu nele, antes da fundação do muno, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade (Ef 1.3-5). 
Esse conceito fica ainda mais claro quando ele trata do modo como Deus une judeus e gentios, rompendo os muros de divisão entre estes povos, unificando-os em Cristo, por meio da obra santificadora do Espírito Santo: 
E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe e paz também aos que estavam perto; porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito. Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus (Ef 2.17-19).
Pensando na Igreja como a família de Deus, precisamos considerar o que Deus espera de sua família. O que Pai requer de seus filhos e como espera que ela se comporte em sua caminhada na terra. 
Por isso, olhando para este texto do capitulo 4, versos 1 a 6, vamos buscar entender o que Deus espera de seu povo e como deseja que seus filhos se ajuntem para ao louvor da sua glória. O Rei da glória, Jesus Cristo, conduz filhos ao Pai e nos chama para compreender este CHAMADO PARA SER SUA FAMÍLIA. 






QUANDO O REI NOS CHAMA PARA SERMOS SUA FAMÍLIA ELE ESPERA QUE TENHAMOS COMPROMISSO COM ESTE CHAMADO

Não tem como não perceber claramente que Jesus nos faz filhos de Deus por meio de uma obra espiritual, mas exige de nós um comprometimentos moral com esse chamado. Em outras palavras, nosso NOVO NASCIMENTO é uma obra divina monergista, ou seja, Deus opera com o poder transformador e regenerador do Espírito Santo, mas nossa SANTIFICAÇÃO é um concursos sinergético, Deus opera em e através de nossas forças e coração. 
Rogo-vos, pois eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados (Efésios 4.1).
Rogo-vos, pois, que andeis de modo digno da vocação- Diante de toda a exposição anterior, na qual Paulo trata do modo maravilhoso por que se manifestou a nossa união com Cristo, em seu sacrifício e pelo poder do Pai, que nos elege, adota, santifica, faz habitar o Espírito; o mesmo que ressuscitou Cristo e o colocou no centro de tudo, unindo-o à Igreja para exercer seu poder redentivo; o mesmo Pai que nos dá vida em Cristo, perdoando nossos pecados gratuitamente nEle, nos designa para boas obras e nos une uns aos outros em um só corpo etc. Diante de toda essa profunda exposição da nossa unidade em Cristo, Paulo conclama a Igreja a compreender a importância de toda essa obra, por meio de uma vida de consagrado empenho no seu andar diário como filhos do Pai. 

QUANDO O REI NOS CHAMA PARA SERMOS SUA FAMÍLIA ELE ESPERA QUE TENHAMOS COMPROMETIMENTO UNS COM OS OUTROS

Paulo é um dos maiores exemplos de compromisso com os irmãos. Sua dedicação pastoral às igrejas e aos irmãos são exemplos de como devemos cuidar uns dos outros, se necessário, em prejuízo de nossos sonhos e anseios pessoais. Ele, deixou tudo para servir ao Corpo de Cristo. Ele compreendeu a importância e a necessidade dessa decisão de vida. 
Com toda humildade e mansidão com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor (Ef 4.2). 
Humildade, Mansidão, longanimidade – Suportando uns aos outros em amor– Claramente Paulo está tratando de um chamado dirigido pelo Espírito Santo, usado os frutos do amor e os afetos que ele nos dá como base da manifestação da nossa nova vida, evidência clara do nosso chamado. Uma igreja sem o fruto do Espírito é uma igreja que precisa se perguntar se de fato é igreja de Cristo?!
O resultado mais óbvio da presença do Espírito na Igreja é a sua capacidade de manifestar amor entre as partes do Corpo. Esse é o que ele mesmo vai chamar de movimento de auxílio entre as juntas e medulas que produzem crescimento, proveniente do amor. 
O comprometimento como o nosso chamado é COMPROMETIMENTO UNS COM OS OUTROS. Fomos chamados para manifestar a unidade do corpo de Cristo, como testemunho da presença de Deus, Cristo e do Espírito em nós. 

QUANDO O REI NOS CHAMA PARA SERMOS SUA FAMÍLIA ELE ESPERA QUE TENHAMOS COMPROMETIMENTO COM A UNIDADE E A PAZ

Na verdade, não estamos falando de dois temas distintos, mas de um único tema: A PAZ QUE SE MANIFESTA NA UNIDADE. Fomos criados para manifestar a PAZ e cuidar da PAZ no mundo criado por Deus. O Ser Humano era o grande VICE-REGENTE, por meio do qual, a perfeição de Deus se manifestaria neste mundo, pelo funcionamento pacífico e bem sucedido de toda  obra criada, inclusive os relacionamentos humanos.
Quando o pecado entra no mundo, uma guerra é declarada, uma inimizade é iniciada. Primeiramente, contra Deus, pois o homem se coloca em oposição ao seu Criador; em segundo lugar uma guerra entre o homem e o seu semelhante, basta perceber como Adão acusou Eva, Caim matou Abel, Lameque matou tantos outros etc; por fim, foi declarada uma guerra contra a própria Criação natural, pois o homem passou a lidar com as dificuldades para sujeitar a terra e retirar dela a produtividade shalomica, dificuldade simbolizada nos espinhos e abrolhos. 
A separação da torre de Babel é um ponto importante deste grande lição, pois ali, Deus separa os povos. Na descida do Espírito Santo em Pentecostes, ele faz o contrário, ele os une na Palavra.
Paulo está falando dessa unidade dos povos, na união dos gentios em uma mesma família com os judeus. Unidade que é mais que um mero ajuntamento social, um acordo geopolítico entre nações diferentes. Essa unidade é espiritual em Cristo. 
Esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz (Ef 4.3). 
Esforço diligente– Esse é um único tema: a nossa paz com Deus exige paz com os irmãos e isso redunda em uma unidade do corpo. O dever de todo crente é PRESERVAR E SE ESFORÇAR DILIGENTEMENTE para manter essa unidade. Toda vez que um irmão, inadivertidamente se levanta contra essa unidade, está lutando em terreno minado, muito perigoso e, com muita chance de estar errado. Qualquer um que luta contra a unidade do povo de Deus precisa cuidar muito para não estar agindo contra Deus. Digo “cuidar muito” porque pode ser que em algumas vezes, precisemos lutar contra uma falsa paz, que se faz em torno de falsas concepções de unidade. Mas todo trabalho desta natureza precisa ser muito, muito equilibrado e controlado pela palavra e a oração.
Preservar a unidade do espírito no vinculo da paz– Paulo está informando a Igreja que aquela unidade entre gentios e judeus era a prova cabal de que o Espírito Santo era presente naquele grupo em Éfeso. Eles deveriam compreender como a vontade do Espírito Santo que estivessem unidos. 
Quando ele nos chama para sermos sua família deseja que estejamos compromissados com a unidade e com a paz da igreja. 
QUANDO O REI NOS CHAMA PARA SERMOS SUA FAMÍLIA ELE ESPERA QUE TENHAMOS COMPROMETIMENTO COM A TEOCENTRIZAÇÃO DA NOSSA VIDA

Um dos grandes temas dessa carta é a CENTRALIDADE DE DEUS POR MEIO DA CENTRALIDADE EM CRISTO. Logo no capítulo 1, Paulo nos diz que o PAI revelou no ápice dos tempos o FILHO, a quem fez herdeiro de todas as coisas e NELE fez COVERGIR toda a realidade material e não material. 
Desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra (Ef 1.9-10). 
E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à Igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas (Ef 1.22-23). 
A teocentrização da realidade é um dos temas centrais da carta. Esse tema é principalmente caracterizado no modo como os FILHOS DE DEUS SE CONDUZEM NA VIDA, levando toda a sua realidade a ser uma resposta a este chamado TEORREFERENTE. 
Isto, portanto, digo, e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheias à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração (Ef 4.17-18). 
Fora estes textos, podemos ver essa TEORREFERENCIA DA VIDA nos ensinos sobre os que são da luz e os que são das trevas no capítulo 5, ou ainda a luta do cristão no capítulo 6. 
Aqui, no nosso texto, o ponto alto do argumento é nos mostrar que a CENTRALIDADE EM DEUS É UMA REALIDADE IRREFUTÁVEL QUE DEVE SER VIVIDA. 
Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos (Ef 4.4-6). 
Há somente um– a expressão que domina as afirmações seguintes é esta: “há somente um...”. Aqui dois temas são primordiais: o TEMA DA REAL EXISTENCIA DE UM – trata-se de uma declaração solene: HÁ UM... O outro tema primordial é o TEMA DA SINGULARIDADE EXISTENCIAL deste que há: HÁ UM, MAS HÁ SOMENENTE UM. 
Como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação- Essa realidade singular de Deus é real, como real é o nosso chamado para viver essa verdade. Nossa vocação inclui o pensar de forma clara sobre a existência dessa singularidade de Deus, a ponto de nos conduzir à fidelidade total a Ele. 
Um só SENHOR – FÉ – BATISMO – DEUS E PAI DE TODOS– Estas afirmações controladas pela EXISTENCIA SINGULAR AFIRMADA NO INÍCIO são expansões do pensamento que Paulo deseja que os crentes considerem. Senhor, como a  realidade de uma só fonte de governo na nossa vida; Fé, como a ideia de um só caminho de crença; Batismo, como um compromisso único de devoção e entrega; DEUS PAI DE TODOS – por fim o tema direto da teocentrização. 
O QUAL AGE POR MEIO DE TODOS E ESTÁ EM TODOS– partindo do pressuposto da realidade singular inequívoca de Deus, é necessário que saibamos que a nossa unidade é uma manifestação da sua presença. Ele está em todos e age em nossa vida usando as pessoas e nos usando para as abençoar. 
Irmão uma IGREJA TEORREFERENTE VIVE PARA SER INSTRUMENTO DE DEUS. Precisamos de comprometimento com este chamado. 

Conclusão
Meus irmãos, quando eu preguei o meu primeiro sermão em Vila Formosa, preguei na Carta aos Efésios. Lembro-me bem que usei como tema, o mesmo que o grande John Stott deu à carta, em um dos seus livros, que foi meu auxílio naquela ocasião: A NOVA HUMANIDADE EM CRISTO. Certamente, este Sermão Escrito eu tenho os rascunhos dele, guardado em minha mudança, devo localizá-lo qualquer hora. 
Naquela oportunidade, preguei um sermão que era um resumo de toda a carta. Bem ousado por sinal! Soube, depois, que um irmão comentou com o Rev. Abel: “se continuar pregando assim, em um ano não terá mais o que pregar”. Claro que tinha um tom de crítica, mas todo pastor iniciante precisa de algumas críticas para ficar mais atento... Eu dou graças a Deus pela vida deste irmãos, que hoje já está com o Senhor e depois se tornou nosso intercessor, junto ao Pai. Não se tratava de um mal crente ou algum crente que trouxe problema, graças a Deus. 
Hoje, meu último sermão de domingo como pastor da Igreja volto a Efésios. Claro que já preguei em outras ocasiões nessa mesma carta. Mas hoje volto à Carta da NOVA HUMANIDADE EM CRISTO.
Quero dizer que ESSA NOVA HUMANIDADE EM CRISTO É A IGREJA DO SENHOR. A nossa responsabilidade de vivermos o nosso chamado é enorme e não podemos, não temos o direito de abrir mão disto.
Quero pedir à IGREJA PRESBITERIANA DE VILA FORMOSA QUE SE COMPROMETA COM ESSE CHAMADO E QUE SIRVA AO NOSSO ÚNICO SENHOR COM AMOR, REVELANDO SUA PRESENÇA GLORIOSA NA UNIDADE E NA PAZ DO REBANHO. 
Estou seguindo para uma outra igreja e confesso que fiquei tentado em pregar no texto de Atos 20, quando Paulo, chega a Mileto, caminhando para sua última viagem, no caso última mesmo e chama seus grandes amigos, os presbíteros de Éfeso para uma emocionante despedida. Mas, achei que não aguentaria abordar todos os temas como Lucas o fez ali e não conseguiria terminar o sermão. 
Mas da mesma forma quero hoje contar com suas orações e lhes prometer orar pelos irmãos, rogando que sejam diligentes em tratar as coisas de Deus e suplico a vocês irmãos que se emprenhem na fé e no crescimento do Corpo para a glória de Cristo, para serem modelos para outros e mostrarem ao mundo UMA NOVA HUMANIDADE CHEIA DE AMOR, CENTRADA NA VONTADE DE DEUS.  
“Tendo dito estas coisas, ajoelhando-se, orou com todos eles. Então, houve grande pranto entre todos, e, abraçando afetuosamente à Paulo, o beijavam, entristecidos especialmente pela palavra que ele dissera: que não mais veriam o seu rosto. E acompanharam-no até o navio (At 20.36-38). 
Claro que nem tudo o que aconteceu com Paulo está acontecendo aqui entre nós. Mas gostaria de poder repetir aquilo que é possível. Quero convidar todos os presbíteros a virem à frente comigo, para ajoelharmos e orarmos. Estes, representando toda Igreja, porque vocês todos sabem que eu os amo no Senhor. 
Felizmente, não estou indo para Roma para ser preso ou decaptado. Estou apenas seguindo para outra igreja, por um tempo, quem sabe, Deus o sabe. Nos encontraremos outras vezes depois disto, mas o sentimento de afeição é tão grande quanto aquele entre Paulo e os seus irmãos de Éfeso. 

23 de dezembro de 2018

Lucas 1.26-38

O Poderoso Agir de Deus no Natal
Lucas 1.26-38

Introdução
Caros irmãos, não podemos fazer uma leitura do Natal sem ter em mente o todo da História da Redenção. Devemos olhar antes e depois do Natal, o princípio e o fim. 
Desde o início da História da Redenção um filho, um descendente prometido, é o foco das atenções. Fica evidente que o plano de Deus para resgatar sua Criação envolveria a instrumentalidade humana. De uma certa maneira, o mesmo homem, chamado para ser o vice-regente da Criação, aquele que deveria conduzir a Criação em seu ato supremo de glorificação de Deus, foi quem a sujeitou à Queda, mas também este será também o instrumento, por meio do qual, a Criação caída será restaurada. 
A ardente expectativa da Criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a Criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que também a própria Criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a Criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo (Rm 8.19-23). 
Por outro lado, também devemos olhar para o futuro da nossa gloriosa Redenção e verificar que em tudo isto Deus tem um objetivo claro: QUE SEU FILHO SEJA ADORADO COMO SENHOR E SALVADOR DE TODA A CRIAÇÃO. Este é um ponto que tem me importado muito ultimamente, isto é, crescer no conhecimento de Cristo como o Cordeiro que tira o pecado do mundo e se tornou o Senhor de toda a Criação. 
Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor (...) Aquele que está assentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos (Ap 5.12-13). 
O reino deste mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos (...) Graças te damos, Senhor Deus, Todo-poderoso, que és, que eras, porque assumiste o teu grande poder e passaste a reinar (Ap 11.15-17). 
Nosso texto pressupõe este grande poder em operação com a finalidade de estabelecer o reinado eterno de Cristo sobre todas as coisas. Mas, no transcorrer da História da Redenção, Deus usaria e usa este poder para trazer à realidade este Cristo e fazê-lo reinar, por meio da instrumentalidade de todas as suas criaturas, em particular o ser humano. 
Claro que esta história não parou na manjedoura de Belém, tampouco na Cruz de Jerusalém. Essa história de Redenção tem um capítulo muito especial na instrumentalidade humana da Igreja, que é o agente dessa mensagem de Redenção e do espalhar deste Reino. Este é o ponto central do trabalho dos Evangelhos, mostrar à igreja que é na sua instrumentalidade que o Reino se espalha e alcança os homens e mulheres que viverão com Cristo para sempre. 
Devemos, portanto, ir a este texto e compreender de que forma a disposição do serviço das criaturas de Deus, usadas naqueles dias do nascimento de Cristo, podem nos servir de modelos para nosso serviço como agentes do Evangelho e do Reino de Cristo. 

O Poder de Deus Traz o Natal aos Homens Independentemente dos Homens 

No sexto mês, foi o Anjo Gabriel enviado, da parte de Deus, para uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré a uma virgem desposada com certo homem da casa de Davi, cujo nome era José, a virgem se chamava Maria. E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Alegra-te, muito favorecida! O Senhor é contigo. Ela, porém, ao ouvir esta palavra, perturbou-se muito e pôs-se a pensar no que significava aquela saudação. Mas o anjo lhe disse: Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus (Lc 1.26-31). 
Claro que há muitos ensinos e conteúdos maravilhosos nessa passagem, mas nesta noite vamos focar em alguns aspectos desta história. Por isso, chamo a sua atenção par ao fato de que há expressões no texto que nos mostram que Deus está agindo aqui, independentemente dos homens. 
Foi o Anjo Gabriel enviado da parte de Deus– a história da vida de Maria e José estava seguindo o seu curso natural. Tudo estava certo e logo seriam marido e mulher como qualquer outro casal daquele tempo, que estivesse compromissado em casamento como era o caso dos dois. Mas, o que vemos aqui é que Deus interfere na História da humanidade e não está preocupado com o andamento das coisas naturais dos homens, ele não deseja, neste caso claramente, aguardar os movimentos humanos, ele age, independentemente dos homens e para isto envia Gabriel. 
Este mesmo anjo havia aparecido à Zacarias e da mesma forma, independentemente dos homens, mostrou o seu poder e na velhice dele e de Isabel, deu-lhes um filho, como diz o texto, seis meses antes de aparecer à Maria, tendo aparecido à Zacarias. 
Alegra-te muito favorecida– Porque achaste graça diante de Deus-  Estas são outras expressões que denotam esse agir divino independente dos homens. AS duas palavras tem como raiz “Karis” (graça) – Kekaritomene e Karin estas duas palavras apontam para um tipo de amor que é dado independentemente do objeto amado. O anjo diz que Maria era alvo de uma abundante graça e que esta graça era da parte de Deus. 
Todo o desenvolvimento deste momento histórico é conduzido por Deus e não pelo homem. Deus age com a vontade humana aqui, mas independentemente dela e de sua condição e possibilidade, como veremos a seguir. 
Esse é um ponto que precisamos muito considerar quando pensamos que Deus está completando o Reino de Cristo Jesus. Com certeza, ele não depende dos homens e está fazendo tudo o que é preciso para que este reino se espalhe entre os homens e alcance seus filhos em todos os lugares. Precisamos nos contentar e nos alegrar no poder de Deus que age e traz o natal independentemente dos homens. Isso nos ajuda a pensar que muitas vezes, tentamos fazer o natal chegar às pessoas, usando nossas armas e muita vezes nos frustramos, quando pessoas não se entregavam a Cristo e o Natal não acontecia de fato. Mas devemos, mesmo nestes momentos em que tudo parece perdido, que Deus não precisa das condições humanas para agir, ele age independentemente dos homens.   

O Poder de Deus Deus Traz o Natal aos Homens Apesar dos Homens

Então, disse Maria ao anjo: Como se dará isto, pois não tenho relação com homem algum? Respondeu-lhe o anjo: descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus. E Isabel, tua parenta, igualmente concebeu um filho na sua velhice, sendo este já o sexto mês para aquela que diziam ser estéril. Porque, para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas (Lc 1.34-37). 
Mudando um pouco o foco, olhamos para o fato de que nestes versos duas mulheres sem nenhuma condição de ter filhos são alvos de promessas divinas e passariam a ser mães. 
Como se dará isto– o primeiro caso é o da própria Maria. Ela não tinha relação com José, ainda não lhes era permitido, segundo a tradição. Então, ela tem uma objeção à promessa que o anjo está fazendo, como alguém que está pondo dificuldade ou se mantendo um pouco incrédula num primeiro momento.
Isabel tua parenta concebeu– o modo de ajudar Maria na sua fraqueza para crer nas promessas de Deus é fazê-la meditar sobre o fato de que Isabel, também estava grávida, sendo ela considerada estéril, além do fato de ser ela e seu marido avançados em idade. 
Descerá sobre ti o Espírito Santo - O poder do Altíssimo te envolverá com sua sombra– aqui, mais uma vez as limitações humanas estão no foco das atenções. Isso não poderia ser feito apenas pelo poder dos homens, porque os homens são pecadores e o Filho de Deus que irá nascer tem de nascer SANTO. 
O Ente Santo que há de nascer– Maria não seria capaz de impedir que o seu pecado contaminasse o menino. Ela não possuía meios para tal. Por isso, o agir do poder de Deus foi independentemente dos homens e APESAR DOS HOMENS. 
Sim, Maria não tinha condições sociais para ter aquele filho, Isabel não possuía condições clínicas e cronológicas para gerar filhos, mas Deus está construindo o reino de Cristo e trazendo o Natal ao mundo apesar das condições dos homens e de suas possibilidades sempre finitas. 
Este e o outro aspecto da realidade do Reino de Cristo que precisamos pensar. Quando olhamos para o nosso mundo e também vemos o pecado e a distância para com Deus como uma realidade irrefutável, basta ver como estão as coisas ao nosso redor. 
De vez em quando, ouvindo as notícias e estatísticas sobre violência, sobre corrupção, sobre desordem moral, tudo o que vemos nos faz pensar que este mundo parece não ter jeito algum. Contudo, devemos nos lembrar de que APESAR DOS HOMENS, o do seu pecado e da sua condição de MORTO, Deus pode trazer o Natal genuinamente para qualquer vida, até para aquelas mais afundadas na sombra da morte. Deus age APESAR DOS HOMENS.

O Poder de Deus Traz o Natal aos Homens Usando os Homens

Então, disse Maria: Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra. E o anjo se ausentou dela (Lc 1.38). 
Este é o ponto alto da passagem! Aqui o que temos em tela é que Deus, independentemente dos homens e apesar deles, deseja que sua vontade venha a este mundo e se realize também pela instrumentalidade de pecadores como eu, você e Maria. 
A resposta de Maria é de absoluta confiança e entrega a Deus. Ela se dispõe e se coloca a serviço da vontade de seu Deus. Mais à frente, Lucas faz um registro ainda mais profundo, nos versos em que se registra o “Cântico de Maria”. 
Aqui está a serva do Senhor– o poder de Deus iria agir, a história iria mudar por vontade soberana do Senhor, mas Maria se vê como parte deste projeto e a sua parte é “pertencer ao Senhor”. A consciência de pertencimento ao Senhor é a mola propulsora para a sua decisão de entrega. Como se dissesse a si mesma: eu pertenço a ti, então não estou aqui para fazer exigências ou estipular roteiros, somente estou aqui: Aqui está a serva do Senhor. Uma disposição de estar onde Deus deseja que estejamos, esse e o papel de quem Deus usa para trazer o Natal aos homens. 
Que se cumpra em mim– todas as implicações de uma gravidez sem marido conhecido, poderiam gerar para Maria muitos e importantes transtornos. A ideia de que ela se posiciona em submissão à vontade de Deus, fica ainda mais demonstrada no modo como ela se coloca, pessoalmente à disposição de ser usada, como Deus quer: se cumpra em mim. Não somente, um desejo de que Deus faça a sua obra, mas o desejo de participar do plano de Deus do jeito de Deus, não importa o que ele deseja fazer comigo para alcançar os seus planos. 
Conforme a tua palavra– você pode pensar em que essa disposição pode ser fruto de uma voluntariedade impensada, mas não é o caso de Maria. Ela está consciente de que fará aquilo que Deus disse que nela faria. Em outras palavras, conforme a sua palavra, é uma confiança absoluta nos propósitos divinos e um depósito absoluto de fé naquilo que Deus diz. Este é um ponto decisivo para que o poder de Deus nos use, no propósito de cumprir a missão de trazer e ou levar o Natal aos homens. 
Deus escolheu a sua igreja, nós os seus filhos e espera, sem dúvida alguma que tenhamos essa mesma disposição de entrega e submissão à sua vontade. 

Conclusão

Você deve ter notado que em nossa exposição não abordamos os versos 32 e 33. 
Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim (Lc 1.32.33).
Este é o ponto de nosso encontro esta noite com a Palavra de Deus, ou seja, precisamos avaliar que o Natal é a chegada de Jesus ao mundo, é o começo da mensagem do Evangelho. Devemos lembrar sempre que a manjedoura é o começo, mas nunca o fim do Evangelho, a manjedoura é só mais um passo para que Deus realize a sua vontade soberana de tornar seu filho o Rei de todas as coisas. 
Ele será grande – Filho do Altíssimo– Deus escolheu tornar o seu filho Senhor de todas as coisas. Este é o ponto! Ele fará isso acontecer e parte dessa história tem a ver com o fato dele fazer tudo, independentemente de você desejar ou não, gostar ou não, estar preparado ou não. Quando chegar a hora ele te usará e enviará a você suas ferramentas para te despertar do sono e te fazer ouvir e desejar cumprir seus planos. 
Ele reinará para sempre e sempre– Deus escolheu que apesar das suas limitações como ser humano pecador, caído, incapaz, despreparado, ele vem a você e te levanta para fazer a sua obra. E a obra de Deus é que todos saibam que CRISTO É REI. Isso é natal! 
Você, quando requisitado para esta obra o que vai fazer? Melhor é que esteja pronto para ser usado, pronto para se inserir de forma livre e completamente entregue para servir a Deus e aos seus propósitos redentivos. O REINO DE CRISTO É A GRANDE OBRA DO NATAL E ELA AINDA ESTÁ SE CONTRUINDO, POIS AINDA TODOS PRECISAM SER CONVOCADOS PARA AQUELE ENCONTRO. ESSA É A NOSSA MISSÃO, VIVER E ANUNCIAR O REINO PARA QUE TODOS SAIBAM QUE CRISTO VIVEU ENTRE NÓS E ATRAVÉS DE SEUS FILHOS HOJE. 

2 de dezembro de 2018

Salmo 24. 1 a 10

Para Que Entre, na Cidade,
o Rei da Glória
Salmo 24.1-10


Introdução
Tenho certeza de que este Salmo é de uma suprema importância para a Igreja de Cristo no Século XXI. Neste Salmo de Davi propõe uma pergunta ousada e propõe uma resposta desafiadora para todos nós. 
Davi questiona sobre a natureza do homem que pode viver em comunhão íntima com Deus. Ele deseja saber, como o fez no Salmo 15, o que Deus espera daqueles que viverão no seu Santo Monte. Aqui, entretanto, Davi vai além, pois propõe que o Senhor vem a este homem, a esta cidade para habitar com este homem, com este povo. 
Tudo indica que o contexto é o da chegada da Arca da Aliança na cidade de Jerusalém. Ele havia passado a grande tristeza de ver Deus fulminando o servo Uzá, quando este tocou inadvertidamente a Arca do Senhor. Seu coração se encheu de tristeza e foi levado por Deus a questionar a si mesmo sobre “Quem poderia morar com Deus”. 
Agora que a Arca está novamente a caminho da cidade de Jerusalém, novamente este tema volta ao coração de Davi. Ele percebe, no entanto, que não é o homem que busca morar com Deus, mas Deus vem morar com o homem. Mas, resta ainda esta questão: COMO DEVE SER ESTE HOMEM QUE VIVE COM DEUS, QUE RECEBE O REI DA GLÓRIA. O QUE A CIDADE PRECISA TER PARA QUE ENTRE ESTE REI DA GLÓRIA. 
Caros irmãos, precisamos nos perguntar mais sobre esse nosso relacionamento com Deus. Mais vez, quero lembrar que a Igreja de Cristo é a Nova Jerusalém. Sim, a Igreja é a habitação do Rei. Ela, a Igreja é quem recebe este Rei da Glória. Mas a questão toda é: ESTAMOS PRONTOS PARA QUE SUA PRESENÇA ENTRE NÓS SEJA REALMENTE GLORIOSA? 
Algumas vezes, parece-me que a Igreja de Cristo parece não perceber o que realmente é a Igreja. Muitas vezes, não notamos a seriedade do momento que vivemos e da elevada condição a que o nosso relacionamento com Cristo nos levou. Porque, afinal, ele não poderia habitar em uma Cidade suja, cheia de sangue. O próprio texto bíblico convoca Jerusalém a lavar-se e purificar-se. 
Pedro, de forma contundente conclama a Igreja: SEDE SANTOS, PORQUE O VOSSO PAI É SANTO. Esta noite, meus irmãos, o Salmo 24 nos mostrará o QUE PRECISAMOS PARA RECEBER O REI DA GLÓRIA. Como deve estar a nossa vida e o nosso coração para que seja o lugar onde ENTRA O REI DA GLÓRIA. Penso que eu e você precisamos levar muito a sério este nosso chamado para VIVER PARA A GLÓRIA DO SENHOR e nos tornarmos a MORADA DO SENHOR. 


A Cidade Que Recebe o Rei da Glória Precisa Saber Que Ele é a Origem de Tudo e Que Tudo é Dele
Quando Salomão terminou o Templo de Jerusalém, ergue a Deus uma oração de gratidão por ter recebido aquele alto privilégio, contudo, reconhecia o grande e sábio Rei, que homens não podem preparar uma morada digna do Senhor. 
Mas, de fato, habitaria Deus na terra? Eis que os céus e até o céu dos céus não te podem conter, quanto menos esta casa que eu edifiquei (1 Reis 8.27). 
Salomão sabia que Deus é quem escolhia habitar com o seu povo. Que Deus é quem, misericordiosamente cedia a si mesmo para estar com seu povo e habitar ali no templo, fazendo sua glória ali repousar. Não se tratava de uma capacidade humana de invocar e domesticar Deus, mas do Grande Eu Sou chegar a nós e viver conosco, Emanuel. 
Davi, da mesma forma, começa o seu Salmo com uma declaração a respeito da supremacia divina sobre todas as coisas. 
Ao SENHOR pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam (Sl 24.1). 
Ao SENHOR pertence a terra– precisamos nos lembrar desta verdade, porque, muitas vezes, parecemos não nos lembrar de que TUDO PERTENCE A ELE. Para dizer isto que em nossa tradução foi usado o verbo “pertence”, o salmista usou um recurso da língua hebraica. Aqui, no texto original não há nenhum verbo, apenas o verbo de ligação subentendido: “LeYahweh haaretz” – ele usa um Lamed, uma preposição à frente do nome Yahweh, como quem diz: PARA O SENHOR É A TERRA. 
E tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam – aqui, o salmista só completa o seu pensamento inicial, para poder concluir a respeito da chegada de Deus à cidade. Em outras palavras, está dizendo o seguinte: TUDO É DE DEUS, QUE HISTÓRIA É ESSA DE PENSAR QUE ESTAMOS DANDO ALGO A ELE? 
Fundou-a ele sobre os mares e sobre as correntes a estabeleceu (Sl 24.2).
Fundou-a ele sobre os mares– o salmista completa ainda o seu pensamento para dizer que na verdade, a cidade que achamos que organizamos para servir de morada para ele, já era dele, porque Ele é quem a fundou, quando fundou toda a terra. Tudo é dele, porque Ele é o Criador de tudo, tudo existe e se mantém por causa dEle. 
Este é o ponto de partida de toda a realidade, ou seja, precisamos colocar a nossa mente para começar a pensar a realidade a partir deste ponto e reconhecer que tudo, inclusive quem nós somos, nasce em Deus, na sua vontade e está debaixo dos seus pés. 
Sobre as correntes a estabeleceu - O recurso do Salmista é o de dizer a mesma coisa de forma incisiva, repetindo o conceito de outra forma: fundou-a e a estabeleceu. A questão é que fazer isto sobre os mares e sobre as correntes de águas é decorrente da intenção do salmista de revelar que Deus fez uma obra que nenhum outro poderia fazer, somente ele.
A humildade cristã consiste primordialmente em saber que nada que somos e temos existe por si a parte da vontade de Deus. A humildade cristã começa no reconhecimento absoluto da supremacia divina sobre o homem. PARA SER O LUGAR QUE RECEBE O REI DA GLÓRIA, SUA VIDA E A MINHA, A IGREJA PRECISA SABER QUE ELE É A ORIGEM DE TUDO, INCLUSIVE DE NOSSA PRÓPRIA EXISTÊNCIA.
Essa percepção da realidade dará a você o equilíbrio que é desejável que você tenha para saber como se relacionar com Deus de forma entregue e submissa. 


A Cidade Que Recebe o Rei da Glória Precisa Saber Que Ela Precisa Se Adaptar ao Padrão Divino de Morada
Neste ponto, o argumento de Davi é desenvolvido como uma resposta à duas perguntas inquietantes: 
Quem subirá ao monte do Senhor? Quem já de permanecer no seu santo lugar? (Sl 24.3). 
Possivelmente, o que está por detrás destas perguntas é o questionamento que Davi fez quando tentou trazer a Arca a si e não teve sucesso, no momento da morte de Uzá. 
Desgostou-se Davi, porque o Senhor irrompera contra Uzá; pelo que chamou aquele lugar de Peres-Uzá, até ao dia de hoje. Temeu Davi a Deus, naquele dia, e disse: como trarei a mim a arca de deus? (1Cr 13.11-12). 
A questão que está por detrás das perguntas do Salmo é o fato de Davi saber que as exigências de Deus sobre o que o homem precisa fazer para recebe-lo é um elevado padrão, baseado na vontade de Deus e não na impulsividade dos desejos humanos. 
O que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à falsidade, nem jura dolosamente. Este obterá do Senhor a bênção e a justiça do Deus da sua salvação (Sl 24.4-5). 
O que é limpo de mãos– a resposta de Davi é focada nas atitudes práticas da vida. Ser limpo de mão é ter a prática de retidão em atos claros e visíveis de demonstração da santidade na vida diária. Mãos é uma representação desta vida prática. 
Puro de coração– veja que o texto une as duas coisas, o que é limpo de mãos, que faz as coisas retamente, o faz como resultado verdadeiro do seu coração, daquilo que o homem é na realidade do seu mundo interior. 
Devemos pensar que estas coisas não são duas partes que Deus espera do homem, mas uma única proposta de vida, ou seja, que a vida interior deve resultar numa prática exterior que evidencia a pureza do coração e vice-versa. Um ser humano que não somente simula uma prática de vida santa, mas vive a santidade. 
Que não entrega a sua alma à falsidade, nem jura dolosamente– Aqui, Davi propõe outra resposta, que tem a ver com a atitude de vida vazia, essa é uma referência à uma atitude idolátrica da vida neste mundo, isto é, aquele que não vive no mundo de Deus focado na vaidade das coisas, mas se fixa em Deus que é a verdade eterna. Este homem, usa a palavra com retidão e define a vida de forma a escolher a verdade como seu método de vida. 
Este obterá do Senhor a bênção e a justiça– Ele está dizendo que o homem-cidade que pode viver em comunhão com Deus e receber a sua glória é a pessoa que desfruta da presença de Deus, que é completado na justiça de Deus e nela encontra a importância da vida. 
Em todas as coisas descritas nestes versos, o foco de Davi é a vida do homem, que deve ser um completo desfrutar da verdade de Deus e a realidade na qual ele se revela e manifesta. A Cidade que recebe a glória de Deus deve saber que é importante que ela se torne este lugar de profundidade existencial, um padrão existencial muitíssimo elevado. 
Isso trata de mim e de você nos mostrando que devemos estabelecer uma relação com Deus tão intensa que em nossos atos práticos e visíveis, tanto quanto nossa vida de pensamentos e sentimentos do mundo interior, revelemos temor e disposição para viver no mundo de Deus, sempre encontrando a Deus. 
Sem esse modelo profundo, não poderemos conduzir a Arca da Aliança para dentro da nossa experiência vivencial, porque não podemos simular a presença de Deus, só porque sabemos fazer coisas que simulem Deus em nós.
Tal é a geração dos que buscam a Deus, dos que buscam a face do Deus de Jacó (Sl 24.6). 
 Os que buscam a face de Deus– os reformados desenvolveram um ideal chamado CORAM DEO - Viver na face de Deus, esse é o ideal de viver em comunhão constante, percebendo Deus em todos os detalhes da vida cotidiana, um elevado padrão de vida espiritual completa e de completo desfrute de Deus.

A Cidade Que Recebe o Rei da Glória Precisa Saber Que Ele Vem a Nós e Revela a Sua Glória
O ponto anterior, Davi diz que o homem que vive retamente receberá do Senhor a bênção. Mas ele não define exatamente o que é essa bênção, acredito que devamos compreender que é exatamente o que vem a seguir, isto é, a bênção é o desfrute da presença de Deus entre os muros da cidade. Podemos notar que nos versos seguintes, ele não trata mais do homem, ele está dizendo que a glória do Senhor resolve se manifestar na sua cidade, não se trata de uma vontade do homem, mas de Deus de se fazer conhecido em nossa vida. 
Levantai, ó portas, as vossas cabeças, levantai-vos ó portais eternos para que entre o Rei da Glória. Quem é o Rei da Glória? O Senhor, forte e poderoso, O Senhor, poderoso nas batalhas (Sl 24.7-8). 
Levantai ó portas e portais eternos– Davi pode estar pensando nas portas da cidade de Jerusalém no dia em que elas se abriram para receber a arca da aliança. Mas aqui, Davi não está dizendo que eles estão trazendo a Arca, mas que a Arca está se trazendo à cidade. Não é Davi quem está trazendo Deus até à Cidade, mas Deus está abrindo o caminho e decidindo que deseja entrar na cidade. Esse foi o entendimento de Davi sobre o que estava acontecendo finalmente naquele dia: DEUS RESOLVEU FAZER MORADA NA CIDADE DE DAVI. Não foram as portas da cidade simplesmente que foram abertas para receber, mas portais eternos permitiram que Deus entrasse naquela cidade. 
Para que entre o Rei da Glória – o Senhor poderoso-  ou seja, o texto propõe que as portas se abram porque o Rei está vindo e não parará, não será impedido. Ele é forte e poderoso e nada, nenhuma porta pode resistir a sua chegada. Ele vence todas as batalhas. O rei da glória é poderoso e tomou a decisão de que irá se revelar e fazer morada naquela cidade e o fará. 

Aquela cidade se tornará a cidade da glória de Deus porque Deus escolheu se revelar através dela e virá a ela e fará nela morada. 
Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória. Quem é esse Rei da Glória? O Senhor dos Exércitos, ele é o Rei da Glória (Sl 24.9-10).
Nestes versos o que temos é uma repetição dos conteúdos dos versos anteriores. Esse é um método hebraico de mostrar sua ênfase, isto é, por meio da repetição. Este é o ponto central do que se deseja que seja aprendido e percebido, que Deus escolheu Jerusalém e nela manifestará a sua glória. 
Davi está dizendo que não é Davi quem vence batalhas, mas quem realmente é o Rei da Glória é o Senhor dos Exércitos. Ele é o verdadeiro Rei, o verdadeiro Senhor de Israel e o verdadeiro Rei de Jerusalém. O Rei da GLÓRIA! Isto é, é ele quem dá à vida a percepção mais profunda do que realmente importa: viver para a glória de Deus. 
A Cidade precisava entender que deve ser uma cidade santa, porque o Deus santo decidiu fazer morada nela. 


Conclusão

Erramos muito, meus irmãos, quando achamos que nosso relacionamento com Deus pode se desenvolver nos nossos termos e segundo as nossas condições. Você está completamente equivocado, se, por acaso, está tentando impor a Deus a sua vontade e o seu modo de pensar. 
Verdadeiramente, ele vem a nós, desce até nós se faz EMANUEL, mas ele faz isso sem deixar de ser o REI DA GLÓRIA. Ele apenas se veste com nossas roupas e aprecia nossos louvores e ouve as nossas orações, mas ELE não precisa de nada disto, apenas está vestindo nossas roupas, mas ELE FAZ ISSO NOS SEUS TERMOS E NÃO NOS NOSSOS. 
Não podemos domesticar Deus e trazê-lo a nossos pés. Ao contrário, devemos apreciar o seu amor por nós, mas precisamos nos submeter a ele e a seu governo. O Rei da Glória vem ao mundo revelar a sua glória em nós e isto é tudo para nós. 
Não faz sentido algum que eu ou você resistamos a Deus e caminhemos noutra direção que aquela que nos torna a CIDADE ONDE O REI DA GLÓRIA ESTÁ! Olhando para nós, os homens poderão ver a Deus! Assim, o Rei da Glória vem a homens e EMANUEL se faz, para que através de nós e em nós, se revele ao mundo. 
A Cidade que recebe o Rei da Glória precisa... 
1 ) Reconhecer que Ele é a origem de toda realidade...
2 ) Perceber que é necessário viver de forma adequada à realidade de Deus...
3 ) É necessário compreender que Ele escolheu que irá nos usar para revelar a sua glória a este mundo. 
Você e eu precisamos saber que somos essa cidade escolhida. Que Deus, escolheu as coisas loucas deste mundo para em nós revelar a sua glória e mostrar ao mundo o seu glorioso nome. 
Privilégio e responsabilidade – esse é o modo como devemos encarar essa realidade da presença de Deus na nossa vida e não podemos nos omitir sobre a necessidade de considerar que precisamos assumir esse papel e essa tarefa. Olhe para nós, irmãos, vamos pedir ao Rei da Glória que se revele em nós e através de nós.