O Terceiro Mandamento
PARA UMA VIDA EMOLDURADA PELO EVANGELHO
Êxodo 20.7
“Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão, porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão”
Introdução
A incrível ausência de vida piedosa tem sido uma marca do modo de vida da Igreja Cristã em nossos dias. Aparentemente, tem sumido da face da terra o crente piedoso, dedicado à oração, que faz o bem a todos e que vive para Cristo. Até mesmo entre os homens ligados ao ministério, os oficiais da Igreja, chamados para serem modelos do rebanho, os piedosos aparecem em menor número e, muitas vezes, não é possível conhece-los pois essas virtudes não tem sido consideradas prioritárias.
Em meio a esse vazio de piedade o que é que surge? Surge uma fé midiática, de autopromoção, que busca interesses pessoais acima do amor maior a Deus. A Igreja vira massa de manobra nas mãos de ministérios personalistas e, em compensação, os crentes vivem vidas muito mais moldadas pelo mundo que pelo poder do Evangelho. O púlpito virou um palco de apresentação e demonstração de habilidades pessoais e não mais o lugar de onde Deus fala ao seu povo, por quem Cristo deu a sua vida.
Onde está o problema? Quais foram as estradas erradas que tomamos que nos trouxeram a esta realidade tão diferente daquela pretendida pela Palavra de Deus? Por que nos tornamos tão diferentes dos apóstolos e dos primeiros crentes em sua fé tão aplicada e decidida? Por que os efeitos da Reforma protestante e sua vivacidade bíblica se afastaram da Igreja moderna? Onde foi que perdemos o ardor missionário e a paixão pelo Evangelho simples e transformador que anuncia o céu sem omitir a realidade do inferno? Por que os crentes de nosso tempo investem mais tempo, recursos e anseios naquilo que é passageiro e sentem mais alegria em correr atrás do vento que construir sólido fundamento para a vida eterna?
Parece-me que o ponto central da resposta é que não existe mais temor de Deus, que, como diziam o salmista e o sábio, era o princípio da sabedoria. Ele foi diluído sob o pretexto de termos nos desenvolvido e nos tornado mais entendidos do amor de Deus. E, se nos tornamos mais entendidos do amor de Deus por que é que o amamos menos? O que aconteceu com o nosso amor que se esfriou? Com certeza estava certo Jesus que já nos anunciava que o amor de muitos se esfriaria quando a iniquidade se multiplicasse.
Não há temor do Senhor e esse é o nosso problema. Nossos corações se inclinaram para esse mundo e se tornaram carnais, ainda que nossos credos sejam espirituais e a nossa fé se reduziu a uma porção de atitudes como o vir à igreja e o cantar canções com conteúdo religioso. Contudo, nossa vida tem outro foco e se aplica, cada dia mais, a construir a casa sobre a areia movediça dos interesses meramente naturais. O culto e o serviço a Deus são meros componentes e não o centro do interesse e da vida dos crentes.
Essa visão da Igreja de nossos dias, vocês sabem, não é apenas um amargo pessimismo. É real e completamente perceptível àqueles que possuírem um pouco de bom senso e consciência sobre o que ensina o Senhor a respeito do que Ele espera de nós e do valor e intenções da Cruz de Cristo. Para muitos, meras crianças na fé, que jamais viveram em contato com o Evangelho que brota da fé verdadeiramente bíblica, esse deserto pode parecer um oásis, como o cativeiro do Egito por causa das suas carnes pareciam melhores que a liberdade de Canaã.
Essa mensagem que entrego hoje à Igreja Presbiteriana de Santa Maria da Vitória não é uma palavra doce ao paladar, mas será como mel para aqueles que desejarem uma fé mais viva, construída na mais absoluta entrega a Deus e consideração pela Palavra. Será uma palavra de direção para os que se decidirem a emoldurar a sua vida pelo evangelho e, possivelmente escândalo para os que insistem em viver para si mesmos.
O terceiro mandamento é assustador para os que se tornaram indolentes na sua jornada cristã, mas um norte maravilhoso para aqueles que desejarem viver piedosamente em santo temor e reverência ao Senhor.
O que tem de assustador no terceiro mandamento só pode ser percebido quando realmente refletimos sobre o que de fato deve significar “tomar o nome de Deus em vão”. Para muitos, isso apenas se reporta a não dizer o nome de Deus de maneira inadvertida, com deboche ou coisa assim. Mas isso, com certeza é muito pouco para Deus incluir em seus Dez Mandamentos, o coração da sua Lei.
Há pessoas que se quer se perguntam ou procuram entender melhor o que está por detrás dessa proibição. Por exemplo, sequer desejam saber como é que alguém toma o nome de Deus e de qual nome dele próprio, Deus está falando.
Viver tão displicentemente não é uma boa moldura para quem ama a Deus. Mas quem deseja emoldurar a sua vida pelo Evangelho precisará conhecer essas coisas e se preocupar com cada uma delas.
A vida emoldurada pelo Evangelho precisa de uma consciência clara do poder da Ira de Deus
Historiadores cristãos insistem em nos informar que o sermão de Jonathan Edwards - Pecadores nas Mãos de um Deus Irado - produziu um terror tão grande no coração de sua congregação que as pessoas se agarravam aos bancos para não serem lançadas no inferno, tamanha o poder de quebrantamento da ação do Espírito Santo, naquele dia.
Eu não posso garantir a veracidade dessas descrições. Mas considero que a nossa falta de temor nos torna tão céticos que tais relatos soam muito mais como exagero que despertam nossa mente a considerar que Deus pode realmente nos conduzir a uma mudança viva e sua Palavra pode realmente produzir algo novo.
Contudo, quando olhamos para aquilo que os nossos símbolos de fé nos ensinam como sendo “as razões anexas do mandamento” devemos refletir com cuidado sobre o poder da Ira de nosso Deus e devemos incluir em nossa percepção de vida que realmente é terrível coisa cair nas mãos de um Deus irado.
Porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão.
Palavras como essas deveriam soar como um grande e importante alerta. Deveriam acender todos os comandos de preocupação da nossa fé e nos colocar em estado de calamidade pessoal. Contudo, estão passando despercebidas, como se tivessem um sentido menor no mandamento. Às vezes, até nos esquecemos dessas razões anexas.
Deus não ter por inocente - com essas palavras o próprio Deus anuncia a Moisés que presa tanto a santidade do seu nome que se voltará como juiz contra todo aquele que tomar o seu nome em vão.
A palavra inocente é um termo bíblico que está ligado a todo o processo de quebra da Lei de Deus e da condenação que está colocada sobre o homem pecador.
O pecado trouxe-nos a uma condição de pessoas culpadas diante de Deus e, a Palavra afirma que o pecado de Adão colocou-nos todos sob a maldição da Lei, que é contra nós, pois o que ela faz é nos mostrar nossa condição espiritual.
Deus derrama do céu sua ira contra todo o pecado. Não há escape, não há nada moral o suficiente para evitar o fato de que fomos condenados por Adão.
Você não conseguirá recorrer desta sentença, revelando suas obras, porque as suas obras todas são para Deus como trapos de imundícia. De nada valerá toda a sua vida moralmente correta. Não lhe serão úteis, para este fim, suas esmolas, suas visitas de caridade etc.. Porque Deus vê o coração e, se no seu coração Ele não é o primeiro, a prioridade, absoluto todos os dias, o pecado continua dominando você, mesmo que você ainda tente nos convencer do contrário. Não podemos esconder o nosso coração de Deus e não é possível enganá-lo com nossas desculpas esfarrapadas.
Deus não terá por inocente aquele que tomar o seu nome em vão - Se você nem sabe como é que toma o nome de Deus sobre sua vida, como saberá que não o tomou em vão? E se tomou o nome de Deus em vão, o que é que você deve esperar? Só não espere que Ele irá se esquecer deste mandamento, porque isso jamais acontecerá.
Mas, o que Deus fará com essa pessoa que Ele não tomar por inocente? Não vamos detalhar tantas coisas, embora seria muito interessante que você saiba os detalhes. Vamos nos limitar ao fato de que Deus lançará para longe de si mesmo todos aqueles que estão condenados pelos seus pecados.
Como já dissemos, a palavra inocente revela que Deus está falando em termos usados em um tribunal. Então devemos encarar este mandamento como nos falando de Deus como um juiz.
Pense em no que um juiz faz quando, na avaliação de um caso, entende e reconhece a culpabilidade de um réu. Evidentemente, ele profere a sua sentença condenando e prescrevendo uma pena. Eu considero culpado!
Qual o crime do homem que rejeitou o seu eterno Deus e escolheu viver para outro deus em seu coração, escolheu viver para si mesmo? Qual a penalidade a Bíblia diz que é dada àqueles que deixaram o Senhor?
Consumirei os homens e os animais, consumirei as aves do céu, e os peixes do mar, e as ofensas com os perversos; e exterminarei os homens de sobre a face da terra, diz o Senhor. Estenderei a mão contra Judá e contra todos os habitantes de Jerusalém; exterminarei deste lugar o resto de Baal, o nome dos ministrantes dos ídolos e seu sacerdotes; os que sobre os eirados adoram o exército do céu e os que adoram ao senhor e juram por ele e também por Milcom; os que deixam de seguir ao Senhor e os que não buscam o Senhor, nem perguntam por ele (Sofonias 1.3-6).
Gostaria, mas não posso me deter em falar mais sobre a Ira de Deus. Não considero fantasia os relatos sobre Edwards e seu sermão. Eu considero que o melhor que Deus faz para a nossa consciência e que nos faz buscar a moldura do Evangelho como um abrigo para a nossa vida, é nos revelar a importância de pensar sobre o que é a sua Ira e como é terrível coisa cair nas mãos de um Deus irado.
Pense melhor sobre sua inocência, não a presuma sem uma reflexão. Considere a importância dessa razão anexa ao mandamento. Por isso, vamos agora voltar no texto e considerar a respeito do Nome de Deus que temos que não podemos tomar de forma vã.
A vida emoldurada pelo Evangelho precisa de uma consciência clara do propósito salvador de Deus
Deus revelou-se através de muitos nomes. Geralmente eles apontam para faces de sua gloriosa majestade e virtude. Os nomes de Deus apontam para seu caráter e para a glória do seu poder. Os nomes de Deus revelam quem Ele é como deseja ser amado e adorado.
Deus revelou-se, por exemplo, como Elohim, o Deus Criador. Senhor de toda a criação. Adonai, o Senhor, dono de tudo e de todos. El Shaday, o todo poderoso, aquele que é providente, que tudo pode fazer para nos conduzir nessa vida. El Hoy, o Deus que tudo vê, diante cujos olhos nada pode se esconder e que principalmente vê o nosso sofrimento.
Há um sentido em que todos esses nomes de Deus devem ser honrados, amados, reverenciados e que nenhum deles pode ser tomado em vão. Mas, há ainda um outro nome que está mais ligado diretamente a este mandamento.
Eu sou o SENHOR - Não tomarás o Nome do SENHOR em vão -porque o SENHOR - Está intimamente ligado a este texto o nome Jehovah.
Desde o princípio, quando Moisés teve uma visão de Deus do meio duma sarça ardente, foi por este nome que o Senhor se revelou.
Disse Moisés a Deus: Eis que quando eu vier aos filhos de Israel e lhes disser: o Deus de vossos pais me enviou a vós outros; e eles me perguntarem: Qual é o seu nome? Que lhes direi? Disse Deus a Moisés: Eu Sou o que Sou. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: Eu Sou me enviou a vós outros. Disse Deus ainda mais a Moisés: Assim dirás aos filhos de Israel: O Senhor, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e do Deus de Jacó, me enviou a vós outros; este é o meu nome eternamente, e assim serei lembrado de geração em geração (Êxodo 3.13-15).
Eu SOU O QUE SOU - Jehovah é a revelação de um Deus que moveu-se na direção dos homens perdidos, escravizados pelo pecado. Meus irmãos, por mais que nos esforcemos para fugir da ira de Deus isso é impossível. Porque não somos capazes de mudar a natureza de nossa alma, Deus precisou ir à nossa prisão e nos libertar.
O Nome que devemos honrar, amar, servir e para ele viver não é outro, senão o nome de um Deus libertador. Jehavah é o NOME que Deus usou para nos mostrar a força de sua eterna fidelidade e a força das promessas que ele nos faz.
Naqueles dias, as guerras e dominações de nações e cidades eram regidas por pactos de suserania. Acontecia que um vilarejo era escravo e quando um rei inimigo dos seus dominadores os libertava, fazia com eles um pacto de suserania, que implicava em que eles deveriam viver agora escravas do seu novo suserano, como uma espécie de gratidão por terem sido libertados da escravidão do seu Senhor.
Deus conquistou a casa do Valente, onde estávamos aprisionados sob o seu poder. Ele entrou no Império das trevas e nos libertou e nos chamou a viver em um novo pacto de suserania, ele nos disse: EU SOU o seu Deus, o Deus de teus pais, Eu SOU O QUE SOU, Jehovah é o meu nome.
Certo homem muito rico, vivia muito bem na Inglaterra e ficou sabendo de excelentes oportunidades nos Estados Unidos. Estamos falando dos idos de meados do século XVIII. Viajando para os Estados Unidos para fazer negócios, montou um escritório na cidade de Nova Orleans (New Oleans). Ouviu falar de um mercado de escravos, famoso naqueles dias e resolveu ir conhecer.
Quando chegou ao lugar onde ocorria este comércio, ficou impressionado e, em certo momento, seus olhos se fixaram em uma mulher. Uma negra escrava, com olhar altivo. O leiloeiro anunciava a venda da mulher e, ao lado do homem, dois outros homens conversavam entre si e faziam lances pela mulher. Enquanto ofereciam lances, falavam sobre o que pretendiam fazer com a mulher e seus planos eram sujos.
O homem que ouvia, levantou a mão e ofereceu três vezes o valor da última oferta. O leiloeiro disse: ninguém jamais pagou um preço tão alto por um escravo, o senhor tem este dinheiro? No mesmo instante ele tirou do bolso um saco de moedas de ouro. Os outros ofertantes desistiram da compra e ele levou a escrava. Quando o leiloeiro lhe chamou para busca-la, a escrava cuspiu-lhe no rosto. Ele tomou um lenço e limpou, ela cuspiu-lhe novamente e ele limpou sem nada dizer.
Caminharam até o escritório sem nada se falarem. Ele entrou, puxou uma cadeira para ela, sentou-se do outro lado da mesa e tomou um papel e começou a escrever. Nada disse e após escrever lhe entregou um papel assinado com seu nome. Ela disse que não sabia ler, então ele leu: a portadora desta foi liberta por e pós o seu nome.
Depois que ele leu este papel, ela olhou para ele e cuspiu-lhe no rosto. Ele disse: você não entende? Você é uma mulher livre, nunca mais será escrava e servirá àqueles homens maus.
Ela fez silêncio e depois de um longo choro. Olhou de novo para aquele homem e lhe disse: você me libertou? Ele disse sim. Posso lhe pedir mais uma coisa? O silêncio tomou conta de ambos, ele parou para ouvi-la. Ele disse: posso agora ser sua escrava?
Meus irmãos, espero que vocês estejam compreendendo do que estamos falando. Jehovah, garantiu sua palavra, pagou o mais elevado preço e nos libertou. É o nome desse libertador que carregamos no nosso documento de alforria do pecado.
Jehovah é o nome santo e precioso do Deus que nos libertou e todos sabemos o preço que ele pagou para tal. Estamos falando de ter Ele dado o seu único filho.
Será que dá para entender por que este NOME não pode ser tomado em vão e por que a razão anexa é tão dura e importante?
Uma vida emoldurada pelo evangelho é saber olhar para Lei e perceber o preço pago por aquele que nos deu o seu NOME. Falemos agora sobre a última parte, que na verdade é a primeira deste mandamento.
A vida emoldurada pelo Evangelho precisa de uma consciência clara da nosso novo relacionamento com Deus
Pais dão seus nomes aos seus filhos e esperam que estes respeitem e honrem o nome que está recebendo.
Inacabado....