28 de fevereiro de 2016

João 6.28-40


Aprendendo a Ter Fome de Vida Eterna

João 6.1 a 15

(Sermão pregado na IP Vila Formosa em 28 de fevereiro de 2016 - início do ciclo da Cruz)


Introdução
A Galileia foi um dos principais lugares do ministério de Jesus Cristo. Jesus era um judeu galileu, morou em Nazaré e Cafarnaum. Nosso texto para esta noite relata acerca de um episódio ocorrido quando Jesus estava na Galileia. Quando esteve pela primeira vez, depois do seu batismo em Jerusalém, muitos galileus viram o que Jesus tinha realizado ali e quando ele retornou para a sua terra, o procuravam. Mas, Jesus conhecia o coração deles e sabia que um profeta não é honrado  na sua terra.
Passados dois dias, partiu dali para a Galileia. Porque o mesmo Jesus testemunhou que um profeta não tem honras na sua própria terra. Assim, quando chegou à Galiléia, os galileus o receberam, porque viram todas as coisas que ele fizera em Jerusalém, por ocasião da festa, à qual  eles também tinham comparecido (João 4.43-45).
João relata que Jesus voltaria à Jerusalém e começaria a ser perseguido pelas autoridades dali porque curou um enfermo que estava no poço de Betesda e o fez em um sábado. Também ali, mesmo vendo os sinais que Jesus fazia, eles resistiram crer em Jesus.
Eu vim em nome de meu Pai, e não me recebeis; se outro vier em seu próprio nome, certamente o recebereis. Como podeis crer, vós os que aceitais glória uns dos outros e, contudo, não procurais a glória que vem do Deus único? (João 5.43-44).
Logo em seguida vem a multiplicação dos pães e mais uma vez a grande dificuldade das pessoas para crer em Cristo é revelada. Aqui, já novamente na Galileia, eles começam a procurar Jesus porque ele lhes havia atendido à uma necessidade imediata e, por isso, por se apegarem ao pão que haviam comido, perderam de vista o “pão da vida”.
Uma pergunta que eu acredito que precisamos fazer para todo este contexto é: por que é tão difícil para o ser humano crer em Cristo numa perspectiva da eternidade? Por que somos tão traídos pela nossa percepção e mundo, que nos induz a buscar as coisas passageiras como se fossem finais e nos faz desprezar os valores mais elevados da vida de fé?
Se há uma verdade que precisamos encarar a respeito de nosso coração é o quanto ele tem dificuldade para alimentar-se de Jesus como o pão da vida. Como é um esforço para nossa alma poder olhar para Jesus e valorizar a eternidade que ele oferece por meio de sua preciosa cruz.
Vamos esta noite a este texto com uma pergunta muito clara: Como podemos aprender a ter fome do pão da vida? Como ter fome de Eternidade?

Para Ter Fome de Vida Eterna Precisamos Buscar em Cristo Uma Ligação Com Deus

Apesar de parecer tão obvia a afirmação acima, quero ponderar com os irmãos que nem todos os que dizem crer em Jesus realmente crêem que ele é o Filho de Deus. Nem todos os que seguem Jesus, realmente o seguem como o Filho de Deus.
Não podemos deixar nosso coração nos enganar. Não é porque gostamos de música evangélica, de igreja evangélica, de mensagem evangélica ou de rótulos evangélicos que somos realmente transformados pelo Evangelho.
Nos dias de Jesus como vimos no contexto, tinha muita gente andando atrás de Jesus, mas buscavam apenas o pão que comeram no dia anterior e precisavam comer de novo.
Ainda no capítulo quatro, quando Jesus encontra a mulher samaritana junto ao poço de Jacó, ele disse para ela que existe entre a água que se pode retirar do poço, com balde e a água que ele pode dar.
Quem beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna (João 4.13-14).
Pode parecer completamente obvio que é preciso ter fé em Jesus, mas o que Jesus está propondo é que tenhamos uma visão realmente espiritual do Cristo a quem seguimos.
Dirigiram-se, pois, a ele, perguntando: que faremos para realizar as obras de Deus? Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado (João 6.28-29).
A intenção deles aqui nada tinha a ver com Cristo. Eles passaram a pensar na possibilidade de realizarem a mesma obra que Jesus. Como Jesus havia multiplicado os pães e eles pensaram que isto só poderia ser feito por meio do poder de Deus, agora querem aprender como fazê-lo também.
Sua conversão não era sincera, apenas estavam interessados em seguir com sua maneira manipuladora de viver para Deus. A resposta de Jesus, veremos melhor a seguir, é um caminho bem oposto daquele que eles pretendem seguir.
A obra de Deus é esta - Jesus começa a sua resposta mostrando a origem do  seu pensamento. É preciso fazer uma clara conexão entre o que Deus faz e o que Cristo faz.
Que creiais naquele que por ele foi enviado - Jesus estava dizendo para eles que era necessário que começassem a vê-lo de uma perspectiva diferente. Precisavam chegar e buscar Jesus no ponto de vista das coisas que tem origem na eternidade.
Infelizmente, meus irmãos, a perspectiva com que muitos vivem para Deus nada tem a ver com os valores da eternidade que estão envolvidos na mensagem do Evangelho.
É claro que o Evangelho realmente transforma esta vida. Mas a transformação que o Evangelho propõe para esta vida é trazer o Reino da Eternidade para ser visto neste mundo.
O Reino de Cristo, disse ele próprio não é deste mundo. Vocês já sabem o quanto esta é uma das frases de Jesus que mais me assunta: Se o meu reino fosse deste mundo meus discípulos lutariam por mim (João 18.36).
Você precisa seguir a Cristo com fome de eternidade e para isto precisa que seu coração tenha fome de eternidade e veja em Cristo a ligação pessoal com Deus. 

Para Ter Fome de Vida Eterna Precisamos Desapegar de Verdades Que Nós Construímos e Deixar Cristo nos Mostrar a Verdade
Eles não haviam ainda compreendido a proposta de Jesus e continuaram a ver Jesus de uma posição de juízes da verdade. Veja como eles continuaram o diálogo.
Então, lhe disseram eles: Que sinal fazes para que o vejamos e creiamos em ti? Quais são os teus feitos? (João 6.30).
A motivação por detrás desta postura era a verdade que eles haviam aprendido desde pequenos no contexto do judaísmo. Eles sempre ouviram falar que ninguém poderia ser maior que os patriarcas, seus reis e seus profetas, com destaque para duas figuras proeminentes entre todas: Abraão, Moisés e Davi.
No caso, aproveitando que Jesus havia lhes dado pão para comer, eles usam o exemplo de Moisés:
Nossos pais comeram o maná do deserto, como está escrito: Deu-lhes a comer pão do céu (João 6.31).
A mim parece que eles estão fazendo uma comparação com o milagre que Jesus acabara de realizar no dia anterior e dizendo que o milagre que Moisés fez era ainda maior. Afinal, Jesus apenas multiplicara pão comum, Moisés, segundo o seu entendimento, havia lhes dado um pão do céu, diferente de tudo o que havia.
Na verdade, eles não conseguiram ver em Jesus o que o próprio Senhor já lhes propora que era ver a relação direta entre Jesus e Deus. Agora, eles tomam uma verdade que carregavam em seu coração e que se distanciava da verdade da Escritura, mas se apegaram a ela e esta falsa verdade sobre Moisés os afastava de Jesus.
Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: não foi Moisés quem vos deu pão do céu; o verdadeiro pão do céu é meu Pai quem vos dá (João 6.32).
Jesus corrige a sua teologia e o que eles haviam construído acerca de Moisés. O maná do deserto não era uma obra de Moisés, mas de Deus.
Este é um erro comum ainda hoje. Muitas vezes, estamos mais preocupados com os instrumentos de Deus e nem tanto com Deus. Por isso, Jesus já havia denunciado que os homens buscam glória dos homens e se contentam nisto. Jesus, porém, apontava para Deus.
É muito perigoso quando o nosso coração se apega a algumas verdades e não busca construí-la ou julgá-la a partir de Cristo Jesus e sua palavra. Às vezes, até mesmo dentro de uma igreja como a nossa é possível que sejamos controlados por verdades pessoais que não se sustentam quando julgadas à luz das Escrituras.
O que Jesus estava fazendo com eles é questionando a leitura que fizeram das Escrituras. E o modo como o coração deles os desviou da verdade, fazendo-os agora, em lugar de se submeter a Cristo, a verdade de Deus, eles se tornavam juízes da verdade.
Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida (João 5.39-40).
É impressionante, Jesus disse para eles: Eu sou o caminho a verdade e a vida. NO entanto, quando foi crucificado, eles o consideram um mentiroso e o condenaram a morte. Pilatos perguntou o que é a verdade. E os homens escolheram julgar a verdade como mentira.
Então, lhe disse Pilatos: Logo, tu és rei? Respondeu Jesus: Tu dizes que sou rei. Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz. Perguntou-lhe Pilatos: Que é a verdade? Tendo dito isto, voltou aos judeus e lhes disse: Eu não acho nele crime algum. É costume entre vós que eu vos solte alguém por ocasião da Páscoa; quereis pois, que vos solte o rei dos judeus? Então, gritaram todos, novamente: Não este, mas Barrabás! (João 18.37-40).
Dói o coração estas palavras. Mas é assim que muitos são enganados por suas verdades pessoais e se afastam de Jesus e nunca lhes nasce um senso ou desejo de eternidade.
A fome de vida eterna que está na sua alma crescerá à medida que você se libertar de falsas concepções da vida e buscar em Cristo a verdade que liberta: Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará (João 8.32).

Para Ter Fome de Vida Eterna Precisamos Reconhecer Que Tudo é Pela Graça de Deus

Gostaria de dividir em mais duas partes o tempo final desta mensagem, mas apenas por uma questão de tempo para a exposição condensarei esta última parte do texto em um só tópico da mesnagem.
AS duas partes que eu dividiria o texto são as seguintes: do verso 33 ao 38 e do 39 ao 40. Na primeira parte, eu enfatizaria a graça que nos busca para Deus e na segunda parte a graça que nos mantém com Deus. Mas é possível ver estas duas coisas apenas do ponto de vista que precisamos agora: reconhecer que tudo é pela graça.
Porque o pão de Deus é o que desce do céu e dá vida ao  mundo. Então, lhe disseram: Senhor, dá-nos sempre desse pão (João 6.33-34).
Este é um dos temas centrais do modo como João apresenta Jesus, como aquele que desceu do céu, da parte de Deus para dar vida ao mundo. Aqui, João destaca a origem graciosa do presente de Deus. Esta frase pressupõe a necessidade do mundo que jaz na morte e também a origem da vida que vem ao mundo.
Com certeza, este é pão é diferente do pão que Moisés deu, porque aquele, vinha ao mundo, porque comeram e morreram, comiam num dia e precisavam de outro amanhã e quando sobrava apodrecia.
Este é o pão que desce de céu, em nada semelhante àquele que os vossos pais comeram, e, contudo, morreram, quem comer este pão viverá eternamente (João 6.58).
Eles não haviam entendido ainda, é fácil notar porque eles pedem que Jesus fizesse como Moisés que todos os dias dava o pão. Mas Jesus lhes corrigiu dizendo ser ele este pão e que este era um pão que alimentava para sempre.
Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome, e o que crê em mim jamais terá sede (João 6.35).
Não tenho muito tempo para analisar algumas palavras e a semelhança entre este episódio e o relato da mulher samaritana, mas vale a pena você se deter em estudar estes dois textos lado a lado.
Para nós, será importante ver que Jesus faz esta declaração solene e completa afirmando que eles não vieram a ele com fé porque a graça não havia operado em seus corações.
Porém eu já vos disse que, embora me tenhais visto, não credes (João 6.36).
Infelizmente é assim que muitos realmente reagem. Chegam tão perto, mas não são capazes de ver a eternidade e sentir fome dela, não conseguem alimentar a sua alma. Não conseguem verdadeiramente se entregar a Cristo. Não conseguem sentir este suprimento constante do  pão da vida e água da vida.
Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora. Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou (João 6.37-38).
Talvez essa seja sua preocupação agora: será que eu tenho vivido perto de Jesus e não tenho tido vida de verdade? Como posso verdadeiramente me chegar a Cristo para comer do pão da vida eterna?
Não se trata de nós, meus queridos irmãos. Trata-se da obra de Deus. Confiar na graça é ser humilde suficiente para reconhecer que não se trata do que eu posso fazer para realizar as obras de Deus.
Lembram-se que foi assim que os judeus começaram a questionar Jesus? O que poderiam fazer para realizar a obra de Deus?! Bem, agora, Jesus está respondo a sua pergunta e está lhes dizendo: confiem somente na graça e abram mão de confiar em si mesmos.
Em geral a falsa verdade nos faz confiar em nós mesmos e na nossa capacidade de fazer coisas boas, ou de sermos capazes de ser melhores que outros seres humanos. A nossa segurança da eternidade não está em nós, mas em Cristo.
E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu  perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia. De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o  Filho e nele crer tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia (João 6.39-40).

Conclusão
Quem sabe um dia possamos ver melhor esta questão da obra da graça que salva e protege até o último dia. Mas quero hoje ressaltar o problema sério da falta de fome de eternidade que se acumula em muitos corações cristãos do nosso tempo.
Jonathan Edwards clamava: põe a eternidade como selo sobre os meus olhos! Precisamos buscar isto de Deus. Precisamos ver na nossa fé um sentido muito maior.
Quando o pão do céu realmente alimentar a nossa alma ela desenvolverá visão mais ampla do significa estar em Cristo e ter a Cristo. Por outro lado, nosso tempo, nossa tentativa de nos alimentarmos será frustrante.
No dia do reencontro com Cristo todo o sofrimento e toda a falta de pão comum terá passado e nada será importante. Mas naquele dia, a falta de pão da vida será sentida. Naquele dia, os que buscaram Jesus apenas por causa do pão e do peixe não poderão viver eternamente, porque neste pão que perece não há vida. Mas aqueles que se humilharam e confiaram na graça viverão eternamente. Eles não terão de lidar com seus pecados, apenas com a graça.

APLICAÇÃO
Quero dizer pouco nesta aplicação hoje. Quero apenas convocar você a buscar alimento da eternidade para a sua alma. A refletir sobre que tipo de pão você está buscando em Cristo e procurar a ter fome de vida eterna.
Hoje, se sua alma, sente sede de vida eterna eu quero te chamar a tomar uma decisão séria de mudança no seu relacionamento com a Graça de Deus. Primeiro, você não confiará mais na sua verdade e não verá as coisas apenas do ponto de vista do homem. Você confiará sua alma a Deus e confiará na sua graça e verá que é necessário ter uma relação com Deus, realmente espiritual.
Quero convidá-lo para orar também e buscar hoje ainda este pão! Não como os judeus pediram, mas como Cristo quer que você peça:
Oração
Senhor Deus, dá-me hoje esta fome, não somente de pão, mas de vida eterna. 
Em nome de Jesus!
Amém.


14 de fevereiro de 2016

João 6. 1 a 15


Uma Visão Cristã da Escassez e da Abundância

João 6.1 a 15

(Sermão pregado na IP Vila Formosa em 14 de fevereiro de 2016 - início do ciclo da Cruz)


Foco da Nossa Condição Decaída
João apresenta a primeira multiplicação dos pães e peixes como um desafio para a igreja dos seus dias, que precisava aprender a vivenciar a abundância e a escassez de modo positivo, aprendendo a olhar para Cristo sempre.
   
Introdução
O apóstolo João dedicou seu Evangelho ao intuito de relatar os sinais que Jesus fez e o seu objetivo era promover a fé no Filho de Deus, desenvolvendo e aprofundando a nova vida que nos foi dada por meio da obra do Senhor (Jo 20.30-31).
Nem todas as pessoas que viram os sinais que Jesus operou alcançaram a graça de desenvolver fé no Filho de Deus: “Em verdade, em verdade vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes” (Jo 6.26). Este é um dos mistérios da fé, pois nem todos os que veem, creem.
Mas o que é necessário para que alguém se aproxime de Cristo e sua vida seja completamente renovada? Como a experiência com a obra de Cristo pode produzir fé em nosso coração?
João sabia e afirmava que a obra de iluminação espiritual era espiritual e que só poderia acontecer pela ação de Deus: “Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1.13). A questão que estamos discutindo é como essa obra divina se manifesta efetiva na vida dos homens, uma vez que, apesar da salvação depender da vontade de Deus, ela é efetivada tendo como ferramenta o agir humano.
Este Evangelho foi escrito para atender uma necessidade vital para a continuidade da igreja. À medida que os anos iam se passando, estava se intensificando uma ofensiva do mundo contra os cristãos. Cada vez mais era nítida a oposição que as autoridades do Império Romano tinha para com a fé cristã. Aumentavam as dificuldades para ser cristão naqueles dias.
Os cristãos estavam se deparando com uma forte dificuldade para ficarem firmes no propósito de seguir a Cristo. Eles não percebiam, mas a perseguição e a dificuldade imposta pelos inimigos da Cruz de Cristo, estava minando os valores que precisavam nortear o viver em comunhão com Deus.
Um dos aspectos mais sensíveis para qualquer cristão era a questão da sobrevivência material. Acredito que João atende a este problema quando aponta para um sinal que tem a ver com a questão da vida material, a multiplicação dos pães.
João queria que eles parassem para ter uma experiência transformadora com Cristo, compreendendo que ele controla os elementos da vida material também. Na verdade, o episódio tem seus desdobramentos, pois, lemos no capítulo 6.22-27, notaremos que eles não conseguiram discernir exatamente o que significava a multiplicação dos pães.
Precisamos de uma consciência mais madura do significado da vida material. Nesta mensagem vamos considerar a relação que devemos ter com a escassez e com a abundância, de tal maneira que ambas nos levem a Cristo.

Para Jesus, Escassez e Abundância São Apenas Circunstâncias Que Nos Dão Oportunidade de se Preparara Para Aprender Quem é Jesus
Os versos iniciais desta passagem dão o tom didático desta passagem. Eles revelam que a numerosa multidão que seguia Jesus por causa dos sinais ofertou a Jesus uma oportunidade para ensinar os seus discípulos.
Então, subiu Jesus ao monte e assentou-se ali com os seus discípulos. Ora, a Páscoa, festa dos judeus, estava próxima. Então, Jesus, erguendo os olhos e vendo que grande multidão vinha ter com ele, disse a Filipe: Onde compraremos pães para lhes dar a comer? Mas dizia isto para o experimentar, porque ele bem sábio o que estava para fazer (João 6.3-5).
Subiu ao monte e assentou-se ali com os seus discípulos - Este gestual era próprio dos antigos mestres gregos e judeus. Os leitores de João perceberiam logo que aquela era uma situação em que Jesus haveria de ensinar os seus discípulos.
Erguendo os olhos viu a multidão - Jesus tinha noção muito clara de tudo o que estava acontecendo e tinha noção exata da multidão que o seguia. Portanto, João está propondo que o teste que Jesus propunha propositalmente difícil.
Onde compraremos pães para lhes dar a comer - o desafio de Jesus era muito superior a qualquer possibilidade dos discípulos. Ele sabia que não tinham dinheiro para aquilo. O teste tinha uma clara intenção de desafiar sua fé, não no sentido de que Jesus esperasse que eles tivessem a ideia: Jesus só se o Senhor fizer o mesmo que fez com a água e o vinho. Acredito que Jesus queria que eles preparassem o seu coração para o que ele estaria para fazer.
Para os experimentar, porque ele sabia o que estaria para fazer - meus irmãos, o que estava para acontecer seria grandemente surpreendente, fora do comum, extraordinário. Ó teste não era para ver qual a saída dos discípulos, mas era a preparação do seu coração para entender quem era aquele que ali estava. Os discípulos, segundo os outros evangelistas, tiveram uma ideia: que as pessoas fossem dispersadas para ir comprar elas próprias. O que era uma ideia muito razoável, mas Jesus queria lhes mostrar quem era Ele próprio, e aquela era a oportunidade para lhes ensinar que Jesus é o Senhor da vida e que sustenta a todos.
A vida material é uma área muito sensível para todos nós. Ela pode ser vivenciada com muita apreensão por qualquer um de nós. O que Jesus está mostrando aos seus discípulos é que ele é o supridor de todas as nossas necessidades. Mas o mais importante não é o suprimento em si, mas como nós o  percebemos gloriosamente vindo de sua mão.
Nos dias de João, o evangelista, a questão do suprimento, da sobrevivência eram muito sensíveis, pois estavam vivendo no limite. Escassez e abundância eram temas que circulavam suas conversas e preocupações. O que eles precisavam discernir é que o papel deste eventos é muito maior na vida dos que se entregam a Cristo é servir-lhes de oportunidade para conhecer melhor o próprio Senhor.
O apóstolo Paulo nos diz que aprendeu a viver bem em toda e qualquer situação (Fp 4.11-13). Ele encerra este tópico de sua carta conduzindo os crentes a adorarem a Deus pelo suprimento que nos dá:
E o meu Deus, segundo a sus riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma das vossas necessidades. Ora, a nosso Deus e Pai seja a glória pelos século dos séculos. Amém (Fp 4.19-20).
Ninguém está brincando ou menosprezando sua situação de escassez ou abundância. A questão que levantamos aqui é o quanto o seu coração está preparado para reconhecer o Cristo extraordinário que está por detrás de cada uma destas coisas.

Para Jesus, Escassez e Abundância São Apenas Circunstâncias Que Nos Dão Oportunidade de Aprender Que os Nossos Limites Não Limitam Deus
Não lhes bastam duzentos denários de pão - Com certeza, o que os discípulos dispunham não seria suficiente. Não seria possível comprar tantos pães para tanta gente. Eles tinham alguns recursos, mas eram muito menores do que era necessário.
Cinco pães e dois peixes - Esta informação trazida por André me confunde. Na verdade, era como se André estivesse apenas reforçando a falta de recursos de que dispunham. Não acredito que André estivesse mesmo propondo uma solução, mas apontando para a falta de solução. E aí está: é a partir destes cinco pães e dois peixes que Deus irá produzir o milagre da multiplicação.
Tomo os pães e, tendo dado graças, distribui-os entre eles o quanto queriam - o gestual significativo para o cristianismo dos dias de Jesus era uma sinalização clara do grande sinal da cruz: o pão repartido com abundância para todos. Pode parecer somente um gestual comum: dar graças e partir, mas aqui, os discípulos haveriam de compreender mais tarde o significado claro deste procedimento de Jesus. Mais a frente, Jesus vai dizer que é necessário comer da sua carne e beber do seu sangue. João não está usando estas palavras aleatoriamente, mas com o propósito de nos mostrar a abundância que o poder de Deus tem para cuidar de nossas necessidades.
Encheram doze cestos que sobraram - Todos comeram e se fartaram e havia pão para muitos mais. Eles aprenderiam mais à frente que as limitações dos homens não limitam Deus jamais.

Precisamos desta percepção de vida: o Deus a quem servimos não está limitado pelos nossos limites. Meus irmãos, a questão não é o quanto possuímos e somos capazes de fazer, mas o quanto Ele é poderoso para fazer muito mais que nós pensamos.
Os irmãos dos dias de João e nós também, muitas vezes, não vemos saídas claras para que a nossa fé avance. Algumas vezes, não há mesmo saídas pessoais. Caros irmãos, nesta hora precisamos estar prontos para seguir em frente, mesmo que tenhamos apenas cinco pães e dois peixes para alimentar uma multidão. 

Para Jesus, Escassez e Abundância São Circunstâncias Que Podem Nos Conduzir ao Erro
Nos dois pontos iniciais tratamos positivamente de tudo o que aconteceu no dia em que os pães foram multiplicados pela primeira vez. Mateus e Marcos nos informam de uma segunda multiplicação dos pães e peixes.
O relato de João, no entanto, caminha em um sentido muito negativo em tom de crítica. Os versos finais deste relato informam que Jesus se esquivou da multidão que não conseguira discernir adequadamente aquele milagre e se levantara para o fazer rei apenas porque havia multiplicado os pães. Mais tarde, ainda no capítulo 6 de João, o próprio Jesus irá censurá-los, dizendo que se aproximavam dele novamente por causa dos pães que tinham comido.
Em verdade, em verdade, vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes (João 6.26).
Escassez e abundância são apenas circunstâncias da vida, elas não são a vida. Não quero menosprezar as bênçãos que Deus dá, nem as necessidades sentidas de ninguém. Mas, é preciso entender que estas circunstâncias devem sempre nos conduzir a Cristo.
Vendo, pois os homens o sinal que Jesus fizera, disseram: Este é, verdadeiramente, o profeta que devia vir ao mundo. Sabendo, pois, Jesus que estavam para vir com o intuito de arrebata-lo para o proclamarem rei, retirou-se novamente, sozinho para o monte (João 6.14-15).
Vendo o sinal - o termo bíblico informa que eles analisaram o que  Jesus havia feito e chegaram à seguinte conclusão: é o profeta que devia vir. Possivelmente estavam se referindo ao que foi dito no livro de Malaquias, que um profeta seria enviado, ou simplesmente o que foi dito por Moisés, que um profeta apareceria no meio do povo. A questão é que eles discerniram aquele milagre com um perspectiva errada e não conseguiram discernir o propósito do próprio Cristo.
Intuito de o fazerem rei— Jesus sabia que o queriam rei apenas por que viram a possiblidade de ganho pessoal com o seu poder. Não estavam com o seu coração preparado para reconhecerem o Cristo, como dissemos no início que era o teste de Jesus. Não estavam prontos para confiar em Deus, mesmo em seus limites pessoais. Eles, tentariam, por força de sua astúcia, manipular o próprio Cristo.

É muito comum que percamos Cristo de vista em meio ao dia a dia. Pois, temos uma tendência natural para entender a nossa vida material apenas por um único prisma: a sobrevivência pessoal.
Existe uma riqueza enorme em cada uma das nossas circunstâncias, quer de abundância ou de escassez e nós precisamos aprender a enxergar além das nossas necessidades imediatas.
Mas, podemos errar enormemente por não saber considerar o Deus que age por meio das circunstâncias. Mais uma vez quero repetir, não desejo menosprezar as bênçãos de Deus sobre a sua vida, muito menos, não desejo desprezar o valor e a dor dos momentos de escassez na sua vida. Mas é preciso que tenhamos um olhar mais elevado para o Deus a quem servimos.
Abundância e escassez podem ser situações que nos conduzam ao erro. O erro sempre o de não conseguir compreender a vida que há em cada uma destas situações e nos limitarmos apenas a elas e aos seus resultados diretos.
O sábio Agur compreendia a armadilha da escassez e da abundância e pediu a  Deus que o protegesse deste perigo:
Duas coisas te peço; não mas negue, antes que eu morra: afasta de mim a falsidade e a mentira;  não me dês nem a pobreza, nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; para não suceder que, estando farto, te negue e diga: Quem é o Senhor? Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus (Provérbios 30.7-9).

Conclusão
Precisamos atentar para o fato de que Jesus tem propósitos muito mais elevados para nossa vida que apenas nos provar com bens ou a falta deles. Ele usa estas circunstâncias de forma a moldar em nós um espírito rico.
O verdadeiro alimento desta vida, o verdadeiro pão não é a comida que perece, mas o próprio Jesus. O pão que alimenta para a vida eterna.
Ele é a verdadeira comida que precisamos para viver neste mundo e esta deve ser a maior esperança que nos faça viver: ele está no controle.
Diante da escassez e da abundância eu lhe convoco a olhar além e perceber o Cristo e a sua vontade. Aproveite cada momento de sua vida na riqueza que ele lhe oferece para que você tenha mais comunhão com ele. É o desejo dele que cada circunstância seja uma oportunidade para que você o conheça e ame.
Deixe ele te surpreender e não o limite medindo-o a partir de si mesmo. Não o ofenda com sua increduilidade e não o desqualifique por causa das suas próprias limitações. Ele, com certeza, mais do que te surpreender, irá renovar a sua fé se você se preparar para vê-lo agir.
Mas, tome muito cuidado para que tendo em suas mãos essa grande riqueza da vida em si, se perca e se distancie do propósito de Deus. Não adianta dar nomes cristãos à sua arrogância ou egocentria: ele é o meu Rei. Mas, humildemente se alimente dele e nele confie.

APLICAÇÃO
Por que é que você anda com Jesus? E, atendendo ao tempo que você anda com Jesus o que é que tem aprendido dele? Você consegue ver a vida com a riqueza que ela tem e as oportunidades diárias que ela oferece para aprender a amar Jesus.
Dependendo de quais são as suas respostas eu preciso te dizer que você precisa refazer muito do modo como você está seguindo a Jesus.
Siga-o não somente pelo que pode te dar, mas pelo que ele deseja ser na sua vida: Senhor. Ame-o não pelo que ele te dá, mas aprenda a honrá-lo também quando ele não te dá.
Quando o seu interesse em Cristo o levar a desfrutá-lo sempre, em qualquer situação, então, você terá começado a andar verdadeiramente com Ele e aprender dEle.
Até que isto aconteça peça-lhe que te ajude e tenha misericórdia de você.

Oração
Senhor Deus, preciso crescer para desfrutar de cada circunstância da minha vida de modo sábio e maduro, pois quero ter mais e mais de Cristo em mim!
Em nome de Jesus!
Amém.