Aprendendo a Ter Fome de Vida Eterna
João 6.1 a 15
(Sermão pregado na IP Vila Formosa em 28 de fevereiro de 2016 - início do ciclo da Cruz)
Introdução
A Galileia foi um dos principais lugares do ministério de Jesus Cristo. Jesus era um judeu galileu, morou em Nazaré e Cafarnaum. Nosso texto para esta noite relata acerca de um episódio ocorrido quando Jesus estava na Galileia. Quando esteve pela primeira vez, depois do seu batismo em Jerusalém, muitos galileus viram o que Jesus tinha realizado ali e quando ele retornou para a sua terra, o procuravam. Mas, Jesus conhecia o coração deles e sabia que um profeta não é honrado na sua terra.
Passados dois dias, partiu dali para a Galileia. Porque o mesmo Jesus testemunhou que um profeta não tem honras na sua própria terra. Assim, quando chegou à Galiléia, os galileus o receberam, porque viram todas as coisas que ele fizera em Jerusalém, por ocasião da festa, à qual eles também tinham comparecido (João 4.43-45).
João relata que Jesus voltaria à Jerusalém e começaria a ser perseguido pelas autoridades dali porque curou um enfermo que estava no poço de Betesda e o fez em um sábado. Também ali, mesmo vendo os sinais que Jesus fazia, eles resistiram crer em Jesus.
Eu vim em nome de meu Pai, e não me recebeis; se outro vier em seu próprio nome, certamente o recebereis. Como podeis crer, vós os que aceitais glória uns dos outros e, contudo, não procurais a glória que vem do Deus único? (João 5.43-44).
Logo em seguida vem a multiplicação dos pães e mais uma vez a grande dificuldade das pessoas para crer em Cristo é revelada. Aqui, já novamente na Galileia, eles começam a procurar Jesus porque ele lhes havia atendido à uma necessidade imediata e, por isso, por se apegarem ao pão que haviam comido, perderam de vista o “pão da vida”.
Uma pergunta que eu acredito que precisamos fazer para todo este contexto é: por que é tão difícil para o ser humano crer em Cristo numa perspectiva da eternidade? Por que somos tão traídos pela nossa percepção e mundo, que nos induz a buscar as coisas passageiras como se fossem finais e nos faz desprezar os valores mais elevados da vida de fé?
Se há uma verdade que precisamos encarar a respeito de nosso coração é o quanto ele tem dificuldade para alimentar-se de Jesus como o pão da vida. Como é um esforço para nossa alma poder olhar para Jesus e valorizar a eternidade que ele oferece por meio de sua preciosa cruz.
Vamos esta noite a este texto com uma pergunta muito clara: Como podemos aprender a ter fome do pão da vida? Como ter fome de Eternidade?
Para Ter Fome de Vida Eterna Precisamos Buscar em Cristo Uma Ligação Com Deus
Apesar de parecer tão obvia a afirmação acima, quero ponderar com os irmãos que nem todos os que dizem crer em Jesus realmente crêem que ele é o Filho de Deus. Nem todos os que seguem Jesus, realmente o seguem como o Filho de Deus.
Não podemos deixar nosso coração nos enganar. Não é porque gostamos de música evangélica, de igreja evangélica, de mensagem evangélica ou de rótulos evangélicos que somos realmente transformados pelo Evangelho.
Nos dias de Jesus como vimos no contexto, tinha muita gente andando atrás de Jesus, mas buscavam apenas o pão que comeram no dia anterior e precisavam comer de novo.
Ainda no capítulo quatro, quando Jesus encontra a mulher samaritana junto ao poço de Jacó, ele disse para ela que existe entre a água que se pode retirar do poço, com balde e a água que ele pode dar.
Quem beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna (João 4.13-14).
Pode parecer completamente obvio que é preciso ter fé em Jesus, mas o que Jesus está propondo é que tenhamos uma visão realmente espiritual do Cristo a quem seguimos.
Dirigiram-se, pois, a ele, perguntando: que faremos para realizar as obras de Deus? Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado (João 6.28-29).
A intenção deles aqui nada tinha a ver com Cristo. Eles passaram a pensar na possibilidade de realizarem a mesma obra que Jesus. Como Jesus havia multiplicado os pães e eles pensaram que isto só poderia ser feito por meio do poder de Deus, agora querem aprender como fazê-lo também.
Sua conversão não era sincera, apenas estavam interessados em seguir com sua maneira manipuladora de viver para Deus. A resposta de Jesus, veremos melhor a seguir, é um caminho bem oposto daquele que eles pretendem seguir.
A obra de Deus é esta - Jesus começa a sua resposta mostrando a origem do seu pensamento. É preciso fazer uma clara conexão entre o que Deus faz e o que Cristo faz.
Que creiais naquele que por ele foi enviado - Jesus estava dizendo para eles que era necessário que começassem a vê-lo de uma perspectiva diferente. Precisavam chegar e buscar Jesus no ponto de vista das coisas que tem origem na eternidade.
Infelizmente, meus irmãos, a perspectiva com que muitos vivem para Deus nada tem a ver com os valores da eternidade que estão envolvidos na mensagem do Evangelho.
É claro que o Evangelho realmente transforma esta vida. Mas a transformação que o Evangelho propõe para esta vida é trazer o Reino da Eternidade para ser visto neste mundo.
O Reino de Cristo, disse ele próprio não é deste mundo. Vocês já sabem o quanto esta é uma das frases de Jesus que mais me assunta: Se o meu reino fosse deste mundo meus discípulos lutariam por mim (João 18.36).
Você precisa seguir a Cristo com fome de eternidade e para isto precisa que seu coração tenha fome de eternidade e veja em Cristo a ligação pessoal com Deus.
Para Ter Fome de Vida Eterna Precisamos Desapegar de Verdades Que Nós Construímos e Deixar Cristo nos Mostrar a Verdade
Eles não haviam ainda compreendido a proposta de Jesus e continuaram a ver Jesus de uma posição de juízes da verdade. Veja como eles continuaram o diálogo.
Então, lhe disseram eles: Que sinal fazes para que o vejamos e creiamos em ti? Quais são os teus feitos? (João 6.30).
A motivação por detrás desta postura era a verdade que eles haviam aprendido desde pequenos no contexto do judaísmo. Eles sempre ouviram falar que ninguém poderia ser maior que os patriarcas, seus reis e seus profetas, com destaque para duas figuras proeminentes entre todas: Abraão, Moisés e Davi.
No caso, aproveitando que Jesus havia lhes dado pão para comer, eles usam o exemplo de Moisés:
Nossos pais comeram o maná do deserto, como está escrito: Deu-lhes a comer pão do céu (João 6.31).
A mim parece que eles estão fazendo uma comparação com o milagre que Jesus acabara de realizar no dia anterior e dizendo que o milagre que Moisés fez era ainda maior. Afinal, Jesus apenas multiplicara pão comum, Moisés, segundo o seu entendimento, havia lhes dado um pão do céu, diferente de tudo o que havia.
Na verdade, eles não conseguiram ver em Jesus o que o próprio Senhor já lhes propora que era ver a relação direta entre Jesus e Deus. Agora, eles tomam uma verdade que carregavam em seu coração e que se distanciava da verdade da Escritura, mas se apegaram a ela e esta falsa verdade sobre Moisés os afastava de Jesus.
Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: não foi Moisés quem vos deu pão do céu; o verdadeiro pão do céu é meu Pai quem vos dá (João 6.32).
Jesus corrige a sua teologia e o que eles haviam construído acerca de Moisés. O maná do deserto não era uma obra de Moisés, mas de Deus.
Este é um erro comum ainda hoje. Muitas vezes, estamos mais preocupados com os instrumentos de Deus e nem tanto com Deus. Por isso, Jesus já havia denunciado que os homens buscam glória dos homens e se contentam nisto. Jesus, porém, apontava para Deus.
É muito perigoso quando o nosso coração se apega a algumas verdades e não busca construí-la ou julgá-la a partir de Cristo Jesus e sua palavra. Às vezes, até mesmo dentro de uma igreja como a nossa é possível que sejamos controlados por verdades pessoais que não se sustentam quando julgadas à luz das Escrituras.
O que Jesus estava fazendo com eles é questionando a leitura que fizeram das Escrituras. E o modo como o coração deles os desviou da verdade, fazendo-os agora, em lugar de se submeter a Cristo, a verdade de Deus, eles se tornavam juízes da verdade.
Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida (João 5.39-40).
É impressionante, Jesus disse para eles: Eu sou o caminho a verdade e a vida. NO entanto, quando foi crucificado, eles o consideram um mentiroso e o condenaram a morte. Pilatos perguntou o que é a verdade. E os homens escolheram julgar a verdade como mentira.
Então, lhe disse Pilatos: Logo, tu és rei? Respondeu Jesus: Tu dizes que sou rei. Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz. Perguntou-lhe Pilatos: Que é a verdade? Tendo dito isto, voltou aos judeus e lhes disse: Eu não acho nele crime algum. É costume entre vós que eu vos solte alguém por ocasião da Páscoa; quereis pois, que vos solte o rei dos judeus? Então, gritaram todos, novamente: Não este, mas Barrabás! (João 18.37-40).
Dói o coração estas palavras. Mas é assim que muitos são enganados por suas verdades pessoais e se afastam de Jesus e nunca lhes nasce um senso ou desejo de eternidade.
A fome de vida eterna que está na sua alma crescerá à medida que você se libertar de falsas concepções da vida e buscar em Cristo a verdade que liberta: Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará (João 8.32).
Para Ter Fome de Vida Eterna Precisamos Reconhecer Que Tudo é Pela Graça de Deus
Gostaria de dividir em mais duas partes o tempo final desta mensagem, mas apenas por uma questão de tempo para a exposição condensarei esta última parte do texto em um só tópico da mesnagem.
AS duas partes que eu dividiria o texto são as seguintes: do verso 33 ao 38 e do 39 ao 40. Na primeira parte, eu enfatizaria a graça que nos busca para Deus e na segunda parte a graça que nos mantém com Deus. Mas é possível ver estas duas coisas apenas do ponto de vista que precisamos agora: reconhecer que tudo é pela graça.
Porque o pão de Deus é o que desce do céu e dá vida ao mundo. Então, lhe disseram: Senhor, dá-nos sempre desse pão (João 6.33-34).
Este é um dos temas centrais do modo como João apresenta Jesus, como aquele que desceu do céu, da parte de Deus para dar vida ao mundo. Aqui, João destaca a origem graciosa do presente de Deus. Esta frase pressupõe a necessidade do mundo que jaz na morte e também a origem da vida que vem ao mundo.
Com certeza, este é pão é diferente do pão que Moisés deu, porque aquele, vinha ao mundo, porque comeram e morreram, comiam num dia e precisavam de outro amanhã e quando sobrava apodrecia.
Este é o pão que desce de céu, em nada semelhante àquele que os vossos pais comeram, e, contudo, morreram, quem comer este pão viverá eternamente (João 6.58).
Eles não haviam entendido ainda, é fácil notar porque eles pedem que Jesus fizesse como Moisés que todos os dias dava o pão. Mas Jesus lhes corrigiu dizendo ser ele este pão e que este era um pão que alimentava para sempre.
Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome, e o que crê em mim jamais terá sede (João 6.35).
Não tenho muito tempo para analisar algumas palavras e a semelhança entre este episódio e o relato da mulher samaritana, mas vale a pena você se deter em estudar estes dois textos lado a lado.
Para nós, será importante ver que Jesus faz esta declaração solene e completa afirmando que eles não vieram a ele com fé porque a graça não havia operado em seus corações.
Porém eu já vos disse que, embora me tenhais visto, não credes (João 6.36).
Infelizmente é assim que muitos realmente reagem. Chegam tão perto, mas não são capazes de ver a eternidade e sentir fome dela, não conseguem alimentar a sua alma. Não conseguem verdadeiramente se entregar a Cristo. Não conseguem sentir este suprimento constante do pão da vida e água da vida.
Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora. Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou (João 6.37-38).
Talvez essa seja sua preocupação agora: será que eu tenho vivido perto de Jesus e não tenho tido vida de verdade? Como posso verdadeiramente me chegar a Cristo para comer do pão da vida eterna?
Não se trata de nós, meus queridos irmãos. Trata-se da obra de Deus. Confiar na graça é ser humilde suficiente para reconhecer que não se trata do que eu posso fazer para realizar as obras de Deus.
Lembram-se que foi assim que os judeus começaram a questionar Jesus? O que poderiam fazer para realizar a obra de Deus?! Bem, agora, Jesus está respondo a sua pergunta e está lhes dizendo: confiem somente na graça e abram mão de confiar em si mesmos.
Em geral a falsa verdade nos faz confiar em nós mesmos e na nossa capacidade de fazer coisas boas, ou de sermos capazes de ser melhores que outros seres humanos. A nossa segurança da eternidade não está em nós, mas em Cristo.
E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia. De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia (João 6.39-40).
Conclusão
Quem sabe um dia possamos ver melhor esta questão da obra da graça que salva e protege até o último dia. Mas quero hoje ressaltar o problema sério da falta de fome de eternidade que se acumula em muitos corações cristãos do nosso tempo.
Jonathan Edwards clamava: põe a eternidade como selo sobre os meus olhos! Precisamos buscar isto de Deus. Precisamos ver na nossa fé um sentido muito maior.
Quando o pão do céu realmente alimentar a nossa alma ela desenvolverá visão mais ampla do significa estar em Cristo e ter a Cristo. Por outro lado, nosso tempo, nossa tentativa de nos alimentarmos será frustrante.
No dia do reencontro com Cristo todo o sofrimento e toda a falta de pão comum terá passado e nada será importante. Mas naquele dia, a falta de pão da vida será sentida. Naquele dia, os que buscaram Jesus apenas por causa do pão e do peixe não poderão viver eternamente, porque neste pão que perece não há vida. Mas aqueles que se humilharam e confiaram na graça viverão eternamente. Eles não terão de lidar com seus pecados, apenas com a graça.
APLICAÇÃO
Quero dizer pouco nesta aplicação hoje. Quero apenas convocar você a buscar alimento da eternidade para a sua alma. A refletir sobre que tipo de pão você está buscando em Cristo e procurar a ter fome de vida eterna.
Hoje, se sua alma, sente sede de vida eterna eu quero te chamar a tomar uma decisão séria de mudança no seu relacionamento com a Graça de Deus. Primeiro, você não confiará mais na sua verdade e não verá as coisas apenas do ponto de vista do homem. Você confiará sua alma a Deus e confiará na sua graça e verá que é necessário ter uma relação com Deus, realmente espiritual.
Quero convidá-lo para orar também e buscar hoje ainda este pão! Não como os judeus pediram, mas como Cristo quer que você peça:
Oração
Senhor Deus, dá-me hoje esta fome, não somente de pão, mas de vida eterna.
Em nome de Jesus!
Amém.