14 de fevereiro de 2016

João 6. 1 a 15


Uma Visão Cristã da Escassez e da Abundância

João 6.1 a 15

(Sermão pregado na IP Vila Formosa em 14 de fevereiro de 2016 - início do ciclo da Cruz)


Foco da Nossa Condição Decaída
João apresenta a primeira multiplicação dos pães e peixes como um desafio para a igreja dos seus dias, que precisava aprender a vivenciar a abundância e a escassez de modo positivo, aprendendo a olhar para Cristo sempre.
   
Introdução
O apóstolo João dedicou seu Evangelho ao intuito de relatar os sinais que Jesus fez e o seu objetivo era promover a fé no Filho de Deus, desenvolvendo e aprofundando a nova vida que nos foi dada por meio da obra do Senhor (Jo 20.30-31).
Nem todas as pessoas que viram os sinais que Jesus operou alcançaram a graça de desenvolver fé no Filho de Deus: “Em verdade, em verdade vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes” (Jo 6.26). Este é um dos mistérios da fé, pois nem todos os que veem, creem.
Mas o que é necessário para que alguém se aproxime de Cristo e sua vida seja completamente renovada? Como a experiência com a obra de Cristo pode produzir fé em nosso coração?
João sabia e afirmava que a obra de iluminação espiritual era espiritual e que só poderia acontecer pela ação de Deus: “Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1.13). A questão que estamos discutindo é como essa obra divina se manifesta efetiva na vida dos homens, uma vez que, apesar da salvação depender da vontade de Deus, ela é efetivada tendo como ferramenta o agir humano.
Este Evangelho foi escrito para atender uma necessidade vital para a continuidade da igreja. À medida que os anos iam se passando, estava se intensificando uma ofensiva do mundo contra os cristãos. Cada vez mais era nítida a oposição que as autoridades do Império Romano tinha para com a fé cristã. Aumentavam as dificuldades para ser cristão naqueles dias.
Os cristãos estavam se deparando com uma forte dificuldade para ficarem firmes no propósito de seguir a Cristo. Eles não percebiam, mas a perseguição e a dificuldade imposta pelos inimigos da Cruz de Cristo, estava minando os valores que precisavam nortear o viver em comunhão com Deus.
Um dos aspectos mais sensíveis para qualquer cristão era a questão da sobrevivência material. Acredito que João atende a este problema quando aponta para um sinal que tem a ver com a questão da vida material, a multiplicação dos pães.
João queria que eles parassem para ter uma experiência transformadora com Cristo, compreendendo que ele controla os elementos da vida material também. Na verdade, o episódio tem seus desdobramentos, pois, lemos no capítulo 6.22-27, notaremos que eles não conseguiram discernir exatamente o que significava a multiplicação dos pães.
Precisamos de uma consciência mais madura do significado da vida material. Nesta mensagem vamos considerar a relação que devemos ter com a escassez e com a abundância, de tal maneira que ambas nos levem a Cristo.

Para Jesus, Escassez e Abundância São Apenas Circunstâncias Que Nos Dão Oportunidade de se Preparara Para Aprender Quem é Jesus
Os versos iniciais desta passagem dão o tom didático desta passagem. Eles revelam que a numerosa multidão que seguia Jesus por causa dos sinais ofertou a Jesus uma oportunidade para ensinar os seus discípulos.
Então, subiu Jesus ao monte e assentou-se ali com os seus discípulos. Ora, a Páscoa, festa dos judeus, estava próxima. Então, Jesus, erguendo os olhos e vendo que grande multidão vinha ter com ele, disse a Filipe: Onde compraremos pães para lhes dar a comer? Mas dizia isto para o experimentar, porque ele bem sábio o que estava para fazer (João 6.3-5).
Subiu ao monte e assentou-se ali com os seus discípulos - Este gestual era próprio dos antigos mestres gregos e judeus. Os leitores de João perceberiam logo que aquela era uma situação em que Jesus haveria de ensinar os seus discípulos.
Erguendo os olhos viu a multidão - Jesus tinha noção muito clara de tudo o que estava acontecendo e tinha noção exata da multidão que o seguia. Portanto, João está propondo que o teste que Jesus propunha propositalmente difícil.
Onde compraremos pães para lhes dar a comer - o desafio de Jesus era muito superior a qualquer possibilidade dos discípulos. Ele sabia que não tinham dinheiro para aquilo. O teste tinha uma clara intenção de desafiar sua fé, não no sentido de que Jesus esperasse que eles tivessem a ideia: Jesus só se o Senhor fizer o mesmo que fez com a água e o vinho. Acredito que Jesus queria que eles preparassem o seu coração para o que ele estaria para fazer.
Para os experimentar, porque ele sabia o que estaria para fazer - meus irmãos, o que estava para acontecer seria grandemente surpreendente, fora do comum, extraordinário. Ó teste não era para ver qual a saída dos discípulos, mas era a preparação do seu coração para entender quem era aquele que ali estava. Os discípulos, segundo os outros evangelistas, tiveram uma ideia: que as pessoas fossem dispersadas para ir comprar elas próprias. O que era uma ideia muito razoável, mas Jesus queria lhes mostrar quem era Ele próprio, e aquela era a oportunidade para lhes ensinar que Jesus é o Senhor da vida e que sustenta a todos.
A vida material é uma área muito sensível para todos nós. Ela pode ser vivenciada com muita apreensão por qualquer um de nós. O que Jesus está mostrando aos seus discípulos é que ele é o supridor de todas as nossas necessidades. Mas o mais importante não é o suprimento em si, mas como nós o  percebemos gloriosamente vindo de sua mão.
Nos dias de João, o evangelista, a questão do suprimento, da sobrevivência eram muito sensíveis, pois estavam vivendo no limite. Escassez e abundância eram temas que circulavam suas conversas e preocupações. O que eles precisavam discernir é que o papel deste eventos é muito maior na vida dos que se entregam a Cristo é servir-lhes de oportunidade para conhecer melhor o próprio Senhor.
O apóstolo Paulo nos diz que aprendeu a viver bem em toda e qualquer situação (Fp 4.11-13). Ele encerra este tópico de sua carta conduzindo os crentes a adorarem a Deus pelo suprimento que nos dá:
E o meu Deus, segundo a sus riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma das vossas necessidades. Ora, a nosso Deus e Pai seja a glória pelos século dos séculos. Amém (Fp 4.19-20).
Ninguém está brincando ou menosprezando sua situação de escassez ou abundância. A questão que levantamos aqui é o quanto o seu coração está preparado para reconhecer o Cristo extraordinário que está por detrás de cada uma destas coisas.

Para Jesus, Escassez e Abundância São Apenas Circunstâncias Que Nos Dão Oportunidade de Aprender Que os Nossos Limites Não Limitam Deus
Não lhes bastam duzentos denários de pão - Com certeza, o que os discípulos dispunham não seria suficiente. Não seria possível comprar tantos pães para tanta gente. Eles tinham alguns recursos, mas eram muito menores do que era necessário.
Cinco pães e dois peixes - Esta informação trazida por André me confunde. Na verdade, era como se André estivesse apenas reforçando a falta de recursos de que dispunham. Não acredito que André estivesse mesmo propondo uma solução, mas apontando para a falta de solução. E aí está: é a partir destes cinco pães e dois peixes que Deus irá produzir o milagre da multiplicação.
Tomo os pães e, tendo dado graças, distribui-os entre eles o quanto queriam - o gestual significativo para o cristianismo dos dias de Jesus era uma sinalização clara do grande sinal da cruz: o pão repartido com abundância para todos. Pode parecer somente um gestual comum: dar graças e partir, mas aqui, os discípulos haveriam de compreender mais tarde o significado claro deste procedimento de Jesus. Mais a frente, Jesus vai dizer que é necessário comer da sua carne e beber do seu sangue. João não está usando estas palavras aleatoriamente, mas com o propósito de nos mostrar a abundância que o poder de Deus tem para cuidar de nossas necessidades.
Encheram doze cestos que sobraram - Todos comeram e se fartaram e havia pão para muitos mais. Eles aprenderiam mais à frente que as limitações dos homens não limitam Deus jamais.

Precisamos desta percepção de vida: o Deus a quem servimos não está limitado pelos nossos limites. Meus irmãos, a questão não é o quanto possuímos e somos capazes de fazer, mas o quanto Ele é poderoso para fazer muito mais que nós pensamos.
Os irmãos dos dias de João e nós também, muitas vezes, não vemos saídas claras para que a nossa fé avance. Algumas vezes, não há mesmo saídas pessoais. Caros irmãos, nesta hora precisamos estar prontos para seguir em frente, mesmo que tenhamos apenas cinco pães e dois peixes para alimentar uma multidão. 

Para Jesus, Escassez e Abundância São Circunstâncias Que Podem Nos Conduzir ao Erro
Nos dois pontos iniciais tratamos positivamente de tudo o que aconteceu no dia em que os pães foram multiplicados pela primeira vez. Mateus e Marcos nos informam de uma segunda multiplicação dos pães e peixes.
O relato de João, no entanto, caminha em um sentido muito negativo em tom de crítica. Os versos finais deste relato informam que Jesus se esquivou da multidão que não conseguira discernir adequadamente aquele milagre e se levantara para o fazer rei apenas porque havia multiplicado os pães. Mais tarde, ainda no capítulo 6 de João, o próprio Jesus irá censurá-los, dizendo que se aproximavam dele novamente por causa dos pães que tinham comido.
Em verdade, em verdade, vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes (João 6.26).
Escassez e abundância são apenas circunstâncias da vida, elas não são a vida. Não quero menosprezar as bênçãos que Deus dá, nem as necessidades sentidas de ninguém. Mas, é preciso entender que estas circunstâncias devem sempre nos conduzir a Cristo.
Vendo, pois os homens o sinal que Jesus fizera, disseram: Este é, verdadeiramente, o profeta que devia vir ao mundo. Sabendo, pois, Jesus que estavam para vir com o intuito de arrebata-lo para o proclamarem rei, retirou-se novamente, sozinho para o monte (João 6.14-15).
Vendo o sinal - o termo bíblico informa que eles analisaram o que  Jesus havia feito e chegaram à seguinte conclusão: é o profeta que devia vir. Possivelmente estavam se referindo ao que foi dito no livro de Malaquias, que um profeta seria enviado, ou simplesmente o que foi dito por Moisés, que um profeta apareceria no meio do povo. A questão é que eles discerniram aquele milagre com um perspectiva errada e não conseguiram discernir o propósito do próprio Cristo.
Intuito de o fazerem rei— Jesus sabia que o queriam rei apenas por que viram a possiblidade de ganho pessoal com o seu poder. Não estavam com o seu coração preparado para reconhecerem o Cristo, como dissemos no início que era o teste de Jesus. Não estavam prontos para confiar em Deus, mesmo em seus limites pessoais. Eles, tentariam, por força de sua astúcia, manipular o próprio Cristo.

É muito comum que percamos Cristo de vista em meio ao dia a dia. Pois, temos uma tendência natural para entender a nossa vida material apenas por um único prisma: a sobrevivência pessoal.
Existe uma riqueza enorme em cada uma das nossas circunstâncias, quer de abundância ou de escassez e nós precisamos aprender a enxergar além das nossas necessidades imediatas.
Mas, podemos errar enormemente por não saber considerar o Deus que age por meio das circunstâncias. Mais uma vez quero repetir, não desejo menosprezar as bênçãos de Deus sobre a sua vida, muito menos, não desejo desprezar o valor e a dor dos momentos de escassez na sua vida. Mas é preciso que tenhamos um olhar mais elevado para o Deus a quem servimos.
Abundância e escassez podem ser situações que nos conduzam ao erro. O erro sempre o de não conseguir compreender a vida que há em cada uma destas situações e nos limitarmos apenas a elas e aos seus resultados diretos.
O sábio Agur compreendia a armadilha da escassez e da abundância e pediu a  Deus que o protegesse deste perigo:
Duas coisas te peço; não mas negue, antes que eu morra: afasta de mim a falsidade e a mentira;  não me dês nem a pobreza, nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; para não suceder que, estando farto, te negue e diga: Quem é o Senhor? Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus (Provérbios 30.7-9).

Conclusão
Precisamos atentar para o fato de que Jesus tem propósitos muito mais elevados para nossa vida que apenas nos provar com bens ou a falta deles. Ele usa estas circunstâncias de forma a moldar em nós um espírito rico.
O verdadeiro alimento desta vida, o verdadeiro pão não é a comida que perece, mas o próprio Jesus. O pão que alimenta para a vida eterna.
Ele é a verdadeira comida que precisamos para viver neste mundo e esta deve ser a maior esperança que nos faça viver: ele está no controle.
Diante da escassez e da abundância eu lhe convoco a olhar além e perceber o Cristo e a sua vontade. Aproveite cada momento de sua vida na riqueza que ele lhe oferece para que você tenha mais comunhão com ele. É o desejo dele que cada circunstância seja uma oportunidade para que você o conheça e ame.
Deixe ele te surpreender e não o limite medindo-o a partir de si mesmo. Não o ofenda com sua increduilidade e não o desqualifique por causa das suas próprias limitações. Ele, com certeza, mais do que te surpreender, irá renovar a sua fé se você se preparar para vê-lo agir.
Mas, tome muito cuidado para que tendo em suas mãos essa grande riqueza da vida em si, se perca e se distancie do propósito de Deus. Não adianta dar nomes cristãos à sua arrogância ou egocentria: ele é o meu Rei. Mas, humildemente se alimente dele e nele confie.

APLICAÇÃO
Por que é que você anda com Jesus? E, atendendo ao tempo que você anda com Jesus o que é que tem aprendido dele? Você consegue ver a vida com a riqueza que ela tem e as oportunidades diárias que ela oferece para aprender a amar Jesus.
Dependendo de quais são as suas respostas eu preciso te dizer que você precisa refazer muito do modo como você está seguindo a Jesus.
Siga-o não somente pelo que pode te dar, mas pelo que ele deseja ser na sua vida: Senhor. Ame-o não pelo que ele te dá, mas aprenda a honrá-lo também quando ele não te dá.
Quando o seu interesse em Cristo o levar a desfrutá-lo sempre, em qualquer situação, então, você terá começado a andar verdadeiramente com Ele e aprender dEle.
Até que isto aconteça peça-lhe que te ajude e tenha misericórdia de você.

Oração
Senhor Deus, preciso crescer para desfrutar de cada circunstância da minha vida de modo sábio e maduro, pois quero ter mais e mais de Cristo em mim!
Em nome de Jesus!
Amém.


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