3 de julho de 2016

Atos 9.31

O Ideal de Uma Igreja Espiritualmente Saudável
Atos 9.31

FCD
Neste texto, os elementos que veremos são aqueles que indicam que existe saúde espiritual na igreja. Tais elementos distinguem o verdadeiro agir do Espírito Santo na igreja de todas as tentativas meramente humanas de forjar uma aparente saúde espiritual na igreja. 

INTRODUÇÃO
Com certeza, temos nos tornado especialistas em marketing espiritual. Quando as pessoas nos veem em nossa performance espiritual, com o tanto de coisas que fazemos “para Deus”, realmente acreditam que somos pessoas especiais e cheias de uma verdadeira intimidade com Deus.
O pior de uma tentativa teatral de mostrar espiritualidade quando ela não existe de fato não é o que as pessoas, sem saber a verdade, pensam de nós. Acredito que seja muito pior o fato de que, com o passar do tempo, nós mesmos nos convençamos de que realmente está tudo certo e de que vida com Deus pode ser desenvolvida como um mero teatro.
Neste desejo de autoafirmação espiritual, nos apegamos aos nossos talentos, ministérios, privilégios etc, como se fossem resultados de nossa capacidade pessoal. Isto tudo só reforça nossa autossatisfação vazia.
A igreja descrita em Atos dos Apóstolos e o seu impressionante ministério não vivia assim. Era um corpo que crescia movido pela força do Espírito de Deus. Não se tratava de uma jogada de marketing pessoal ou coletivo. Aquela igreja experimentava uma verdadeira vida com Deus e o resultado era a sua SAÚDE ESPIRITUAL.
Vamos meditar esta noite neste verso que funciona como uma espécie de marcador no livro de Atos, ao menos na primeira etapa, cujo o foco central é mostrar o desenvolvimento coletivo da igreja. Este marcador é um desdobramento de Atos 2.42 a 47. Lucas, mais uma vez informa que a igreja estava se desenvolvendo rapidamente.
Aqui, em especial, Lucas dá algumas informações sobre este desenvolvimento e são estas informações que nos interessam para avaliar a saúde espiritual da igreja.
A grande questão é que este texto pode ou não ser um espelho de nossa vida com Deus hoje. É bem possível que, diante deste texto, eu identifique falhas em minha relação com o Senhor e o objetivo é que este espelho me corrija.
Então, estaremos diante de uma outra questão: TEMOS MESMO CORAGEM PARA ACEITAR QUE PRECISAMOS MUDAR E EFETIVAMENTE MUDAR? TEREI CORAGEM PARA ACEITAR QUE MINHA VIDA COM DEUS É UM TEATRO E ELA PRECISA SER REAL? ESTAREI, AO FINAL, DISPOSTO A BUSCAR SAÚDE VERDADEIRA DIANTE DE MEU DEUS?

UMA IGREJA ESPIRITUALMENTE SAUDÁVEL DEVE TER UM IDEAL DE PAZ
“A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria”
Estas palavras destacam uma das marcas da igreja descrita em Atos dos Apóstolos. Mas para compreendê-la, acredito que seja necessário um exercício temporal hermenêutico.
Devemos nos lembrar que, uma coisa é o relato do que aconteceu nos dias iniciais do Evangelho e outra o que estava acontecendo nos dias em que Lucas escreveu o livro de Atos dos Apóstolos.
Nos dias em que Lucas esteve escrevendo este livro, crentes Judeus e Gregos, por todas as igrejas, com algumas exceções, estão enfrentando crises de relacionamentos.
Quando Lucas diz que Galiléia, Samaria e Judéia, regiões de em geral tinham dificuldades para um relacionamento pacifico, viviam em paz, Lucas está apontando para a necessidade de pensarmos no valor da paz como sinal do que realmente é uma igreja saudável.
A igreja – ao usar o termo “eclesssia” em sua forma singular, mesmo se tratando de igrejas em regiões diferentes, Lucas está destacando o  Corpo de Cristo como algo abrangente e total. Em outros lugares ele se refere à igreja em um determinado lugar, como por exemplo em a “igreja que estava em Jerusalém” (Atos 11.22). Neste verso, a Igreja é um todo. A paz é um desfrute de todos.
Na verdade – é uma expressão de conclusão. Poderia ser um “portanto”. Isto aponta para uma constatação clara de Lucas sobre a realidade da igreja. Não se trata de uma mera opinião, mas de uma aferição da verdade. Não era um desejo de Lucas, mas uma realidade que a igreja realmente vivia em paz.
Tinha paz -   “Eiko Eirene” – O verbo “ter” indica a ideia de uma “posse experimental”, afinal, ninguém pode realmente “ter” a paz. Ela não é um bem que se possa pegar com as mãos e guardar em uma gaveta ou armário. A paz é algo que se tem, quando a experimenta. Paz, isto é, “Eirene”, era uma espécie de ideal cristão. Na verdade, “paz”  é um conceito bíblico de “harmonia”, o “Shalom” de Deus. Este conceito perpassa toda a Escritura como um alvo da plenitude da vida com Deus:
Orai pela paz de Jerusalém! Sejam prósperos os que te amam. Reine paz dentro de teus muros e prosperidade nos teus palácios. Por amor dos meus irmãos e amigos, eu peço: haja paz em ti! (Salmo 122.6-8).
Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Principe da Paz; para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim sore o trono de Davi e sobre o seu reino (Isaías 9.6-7ª).
Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize (João 14.27).
Nem sempre os crentes vivem em paz e nem sempre a igreja vive em paz. Algumas vezes, nós decidimos privilegiar as diferenças e aquelas coisas que nos afastam uns dos outros e nos tornamos doentes espiritualmente.
Nem sempre temos olhos para perceber que nos falta saúde espiritual e isso não é o pior. O pior é que muitas vezes sabemos que não temos saúde espiritual, mas preferimos viver como se nada estivesse errado.
Precisamos olhar para estas palavras de Lucas sobre a igreja e repensar o nosso ideal de igreja.

UMA IGREJA ESPIRITUALMENTE SAUDÁVEL DEVE TER UM IDEAL DE EDIFICAÇÃO NA COMUNHÃO
“Edificando-se e caminhando no temor do Senhor”
As palavras gregas podem nos ajudar muito nesta frase: oikodomoumêne poreumêne. Lucas usa a combinação destes dois verbos para nos dizer o que ele entendeu sobre o que havia acontecido nos dias da igreja primitiva.
Oikodomoumene – Edificando uma casa – Lucas nos diz que aqueles irmãos que viviam em paz, estavam empenhados em construir uma casa (oikos – casa e oikoumene – comunhão). Em outras palavras, Lucas está relatando que a igreja que foi alimentada na doutrina dos apóstolos e perseverava nas orações, estava construindo uma comunidade de comunhão, como uma casa. A ação dos irmãos não era visando a sua edificação pessoal, mas viviam num ideal de edificação mútua. Eles consideravam a vida na perspectiva do crescimento e edificação do outro.
Poreumêne – caminhando – o verbo é básico para definir o ato de caminhar. Lucas diz que a construção da sua comunhão ou do seu ambiente de comunhão acontecia enquanto serviam na sua missão básica de ir ao mundo. Algo muito interessante é que eles eram conhecidos como sendo “os do  Caminho” (Atos 9.2).
Estas duas palavras dão uma noção clara do que os irmãos entenderam como sendo o verdadeiro trabalho de uma igreja: realizar a obra do Senhor, construindo e fortalecendo uma casa de comunhão, que torna as pessoas mais próximas umas das outras.
Acredito que outra  figura neotestamentária que aponta para esta realidade é a do Corpo de Cristo. Mas, sem dúvida a proximidade e amor dos irmãos era uma das marcas daquela igreja.
Da multidão dos creram era só um o coração e alma. Ninguém considerava exclusivamente seu nem uma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era comum (Atos 4.32).
 Mas de onde vinha esta força moral? De onde estes irmãos retiravam os elementos que lhes fortalecia para uma atitude tão corajosa?
No temor do Senhor – os valores que definiam aquela igreja eram determinados pelo modo como se relacionavam com Deus. Eles temiam a Deus.
O temor do Senhor é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino (Provérbios 1.7).
O temor do Senhor é uma atitude de coração. Este temor nos conduz ao quebrantamento reverente, que provoca em nós uma disposição de vida que valoriza o que Deus valoriza, que ama o que ama e que nos faz desfrutar desta vida com o objetivo de agradar a Deus.
Acredito eu a falta de temor do Senhor é  um mal do nosso século e da igreja nos nossos dias. Deus foi diminuído em nossa consciência e nosso dever religioso mudou de senhorio e isto nos fez caminhar numa direção cada vez mais em direção aos nossos interesses e não na  direção do interesse dos outros.
O ideal de edificar a igreja em um espírito de comunhão depende diretamente do nosso temor do Senhor.


UMA IGREJA ESPIRITUALMENTE SAUDÁVEL DEVE TER UM IDEAL DE COMUNHÃO COM O ESÍRITO SANTO
“e no conforto do Espirito Santo, crescia em número”
O livro de Atos dos Apóstolos tem uma agenda que visa mostrar o modo como a palavra de Jesus em Atos 1.8 haveria de se cumprir por meio o ministério da Igreja e dos apóstolos.
O final deste verso 31 é a ênfase de Lucas, mas aqui ele mostra o que estava acontecendo nos bastidores desta missão e deste crescimento. E os bastidores revelavam a intensa comunhão que eles tinham com o Espírito Santo.
No conforto do Espírito Santo – o termo “paraklesis”, aqui traduzido por “conforto”, pode ser traduzido também como “exortação” ou “encorajamento”. Eu particularmente, prefiro pensar que eles caminham e edificavam a sua vida mediante uma percepção da vontade do Espírito que os impulsionava, os encorajava a uma vida cada vez mais adequada do seu chamado.
A obra do Espírito Santo é o motor por detrás do ministério impressionante daquela igreja. Como disse o Dr. Kuiper, o livro de Atos dos Apóstolos poderia ser chamado também de “Atos do Espírito Santo”. O que diferenciava na vida daqueles irmãos era que a sua comunhão como Espírito Santo e a sua percepção aguçada para a vontade do Espírito.
Eles tinham sensibilidade para entender que o Espírito escolhia seus missionários (Atos 13.2) e era o Espírito Santo que os ajudava a tomar decisões difíceis (At 15.;28). Aquela igreja era sensível ao desejo e obra do Espírito Santo.
Por isso, eram encorajados a viver na contramão da mentalidade humana egocentrada e eram capazes de viver em comunhão de vida uns com os outros. Eram capazes de viver em paz, superando diferenças, doutra forma incontornáveis.
A nossa falta de ânimo e coragem para estas mudanças só denunciam a nossa falta de comunhão com o Espírito Santo. Preocupado com isto é que Paulo orientou os crentes de Éfeso e se encherem do Espírito:
Não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo (Efésios 5.18-21).
Crescia – na verdade, no texto grego temos apenas a palavra “eplephineto” que pode significar “se completar”. Não temos diretamente a ideia de número presente aqui, embora ela esteja bem presente no texto do livro. Mas, me parece que ideia de Lucas era muito mais de mostrar um valor conceitual de que a igreja chegava ao ponto ideal de estatura do que Deus deseja para seus filhos. Lucas usou a mesma palavra “eplephineto” para descrever o crescimento da Palavra de Deus (At 6.7 e 12.24).
Com certeza precisamos aprender a depender mais do Espírito Santo e a entender melhor a sua vontade para as nossas vidas. Precisamos começar a tomar mais decisões que sejam de acordo com uma verdadeira vida no Espírito Santo e não nos deixar influenciar por outras autoridades.
Algumas vezes nos deixamos mover por outros interesses e por interesses de outros para não andarmos segundo o Espírito. Precisamos fugir deste tipo de vida que nos impede de crescer na direção certa e nos ideais que Deus estabeleceu para nós.
Não consigo pensar em um ideal mais elevado que uma igreja que cumpre a sua missão como resultado da sua comunhão com o Espírito Santo.

CONCLUSÃO E APLICAÇÃO
“UMA PROFUNDA REVISÃO PESSOAL E COLETIVA”
No começo desta mensagem eu disse que estaríamos diante de uma questão:
TEMOS MESMO CORAGEM PARA ACEITAR QUE PRECISAMOS MUDAR E EFETIVAMENTE MUDAR? TEREMOS CORAGEM PARA ACEITAR QUE NOSSA VIDA COM DEUS É UM TEATRO E ELA PRECISA SER REAL? ESTAREMOS, AO FINAL, DISPOSTOS A BUSCAR SAÚDE VERDADEIRA DIANTE DE NOSSO DEUS?
O ideal que você deve procurar agora é de se sentir diante de Deus e manter os olhos fixos nos olhos de Deus. Neste momento, ele olha para nós pessoal e coletivamente e precisamos encarar o que somos e o que Ele quer que sejamos.
Diante de nós está a necessidade de mudança para uma vida em paz, plena do temor de Deus, de amor uns para com os outros, que nos faça capazes de vencer nossas diferenças, que nos faça capazes de perdoar o irmão, de buscar o crescimento do outro e de viver em comunhão constante e crescente.
Também é importante que saibamos que não temos poder para fazer estas coisas se não buscarmos a mais íntima comunhão com o Espírito Santo. Por detrás da nossa falta está a falta da presença do Espírito naquilo que fazemos. Portanto, se uma mudança irá acontecer, começará neste ponto. Este ponto muda quando olhamos para Deus e nos sentimos pequenos e o temor do Senhor constrange o nosso coração.
Toda a sua vida está passando por este portão agora e você não pode se permitir escapar mais uma vez. Não pode deixar seu coração fugir de Deus mais uma vez. Enfrente o seu medo! Enfrente aquilo que está te afastando de Deus. Pode ser uma pessoa, pode ser um sentimento, pode ser um desejo pecaminoso, pode ser um vício, pode ser apenas a falta de atenção às coisas de Deus. Vença!!! VENÇA!! SE FORTE E CORAJOSO!!!!

Aplicação para a Igreja Presbiteriana de Vila Formosa
Não se trata de nenhum juízo que fazemos sobre os irmãos ou sobre nós mesmos. Trata-se de olhar para a Palavra e ver a nossa igreja no seu espelho e não podemos negar que temos muito que crescer.
Ainda não somos uma igreja que busca no crescimento mútuo o modo de vida que marca quem nós somos. Precisamos do temor do Senhor que se transforme em crescimento e em edificação na comunhão e principalmente em paz entre nós, meus amados irmãos.
Crentes da IPBVF busquemos ao Senhor!
Oração
Senhor, produza quebrantamento e verdadeira comunhão em nossa igreja. Ajuda-nos a viver para Cristo e somente para ele!
Amém


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