A Unidade da Graça no Evangelho
Gálatas 2.1-10
Introdução
Paulo estava determinado a
combater um falso evangelho que estava pervertendo a fé dos Gálatas, mas estava
também disposto a ir mais longe e vencer a si mesmo, ou ao orgulho dos irmãos,
para fazer vencer o Evangelho de Cristo na vida da Igreja.
Com certeza, precisamos de
muita coragem para enfrentar os inimigos da fé e de coragem ainda maior para
conduzir os amigos à verdade, tendo de enfrentar suas certezas equivocadas.
Não estamos diante da luta de
Paulo para fazer prevalecer a sua opinião, mas a importante luta para que a
Igreja não se deixasse seduzir por uma ideia errada de falsa piedade. Por isso,
este texto é altamente desafiador, porque ele nos expõe e nos revela a possibilidade
de que nossas certezas podem ser mais fruto da nossa arrogância e orgulho que
provenientes da Verdade.
O resultado que podemos colher
depois de um texto como este é o quebrantamento e uma maior capacidade de
tolerar e receber pessoas para andar conosco. Não tenho dúvidas de que estamos
diante de um desafio e que precisamos nos preparar para ouvir a voz de Deus e deixar
que o Espírito nos conduza à Verdade.
A unidade produzida pela Graça
é fundamentada na Verdade e a Verdade tem de ser maior que o orgulho pessoal.
Para que você consiga vencer o orgulho e receber irmãos pela obra da unidade da
Graça no Evangelho você precisa lutar. Este texto é a apresentação desta luta e
uma convocação para a luta, prepare-se...
Prepare-se
Para Submeter a Sua Reputação Para Servir à Verdade do Evangelho
Em toda a sessão anterior, o
que nós vimos foi uma forte afirmação de Paulo: recebi o Evangelho não de homens mas de Deus. Na verdade, a ênfase
de Paulo não é nele próprio e na sua particular condição privilegiada, mas na
peculiar origem do Evangelho. O EVANGELHO NÃO PERTENCE A HOMENS E NÃO É UMA
VERDADE GUIADA, CRIADA E CONDUZIDA POR HOMENS. O EVANGELHO É DE DEUS.
A boa notícia que Paulo apregoava
agora com a sua vida tinha uma origem divina e não podia ser manipulada pela
vontade humana. Os homens é que devem servir ao EVANGELHO e não o Evangelho aos
homens.
Meus irmãos, Paulo, apesar
desta consciência da origem divina do Evangelho, compreendia que o Evangelho
não lhe pertencia e nem podia ser vivido somente segundo os pensamentos de Paulo.
Ele, por isso, se submete pessoalmente aos outros apóstolos. Ele, como fica
claro neste texto que lemos, não o faz para pedir alguma permissão, mas para
que ao expor o Evangelho, os outros irmãos lhe ofereçam a destra de companhia,
não porque gostaram de Paulo ou o compreenderam, mas porque viram que o seu
Evangelho é genuíno e não outro.
Catorze anos depois, subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, levando também a Tito. Subi em obediência a uma revelação, e lhes expus o evangelho que prego entre os gentios, mas em particular aos que pareciam ser de maio influência, para que, de algum modo, não correr ou ter corrido em vão. Contudo, bem nem mesmo Tito, que estava coigo, sendo grego, foi constrangido a circuncidar-se. E isto por causa dos falsos irmãos que se entremeteram com o fim de espreitar a nossa liberdade que temos em Cristo Jesus e reduzir-nos à escravidão; aos quais nem ainda por uma hora nos submetemos, para que a verdade do evangelho permanecesse entre vós. E, quanto àqueles que pareciam ser de maior influência (quais tenham sido, outra, não me interessa; Deus não aceita a aparência do homem), esses, digo, que me pareciam ser alguma coisa nada me acrescentaram (Gl 2.1-6).
Este texto precisa ser lido com
muita atenção porque pode ser complexo para nosso entendimento. Mas devemos
notar algumas coisas aqui e como Paulo está usando esta palavra para ensinar
aos Gálatas.
Note que Paulo está se
reportando ao passado do seu relacionamento inicial com os principais apóstolos
no que diz respeito à questão da circuncisão de Tito e ao fato de que alguns
falsos mestres estavam tentando perverter a igreja acrescentando ao Evangelho
outras práticas, como por exemplo a observação da circuncisão, como se a morte
de Cristo não fosse suficiente para expiar os pecados e nos fazer justificados
diante de Deus.
Então, Paulo está dizendo que
mesmo naquela época em que o Evangelho estava sendo inicialmente pregado aos
gentios, os apóstolos já haviam dado seu consentimento. Eles diz que estes
homens respeitados, apesar do seu grande respeito, respeito maior tiveram para
com o Evangelho.
Expus o Evangelho que prego – Paulo nos
diz que o ponto central da decisão dos grandes de Jerusalém, entre os
principais estavam os primeiros apóstolos, não foi que eles se convenceram por
causa da pessoa de Paulo ou de Barnabé, mas o foco de sua decisão foi o
Evangelho. Este é um ponto importante! O que Paulo tem em mente é mostrar aos
crentes que todos estamos a serviço do Evangelho e não o contrário. Paulo não
prega o Evangelho de Paulo, mas o Evangelho de Deus e de Cristo Jesus, Nosso Senhor.
A boa nova não é uma mensagem que se adequa ao que Paulo mais gosta ou o que
Pedro mais gosta, mas é a mensagem de Cristo.
Aos que pareciam de maior influência –
Paulo diz que naquela ocasião, eles se apresentaram aos homens que tinham mais
força e maior poder de decisão e o texto, depois de uma pequena explicação, completa
que estes de maior influencia nada lhe acrescentaram. Isto é, eles não
precisaram corrigir nada, nem tirar ou acrescentar parte alguma, senão uma
recomendação quanto ao trato com os pobres (verso 10). Paulo está nos dizendo
que a grandeza daqueles homens, daqueles nomes pouco importava, o que importava
realmente era a VERDADE DO EVANGELHO. Eles submeteram seu prestígio,
influência, peso de decisão humildemente ao Evangelho.
Para que a verdade do Evangelho permanecesse entre vós – meus irmãos, Paulo faz uma pequena explicação dos seus motivos nos
versos 4 e 5. Ele diz que ele subiu à Jerusalém sem antes circuncidar a Tito
por uma razão, para que os falsos mestres não usassem isto para falar contra o
Evangelho. Vale lembrar que noutra ocasião, Paulo pediu a Timóteo que se
ciruncidasse para não causar escândalo. Na verdade, Paulo sabia muito bem que
nem a circuncisão ou a incircuncisão tem algum valor, mas neste caso, ele via a
necessidade de manter uma posição mais firme, porque havia gente tentando
perverter a mensagem e desviar as igrejas. Paulo diz que sua decisão era para
que a VERDADE DO EVANGELHO FOSSE PRESERVADA. Notem que importante coisa e esta:
Paulo não está tentando fazer amigos ou trabalhar com diplomacia, ou agradar
pessoas, mas vivendo e gastando a sua vida pela VERDADE DO EVANGELHO. Devemos
submeter a nossa vida, a nossa reputação, qualquer grandeza pessoal ao
EVANGELHO E NUNCA O CONTRÁRIO. A MENSAGEM DO EVANGELHO, A VERDADE QUE ELA
APRESENTA SOBRE A VIDA E O RELACIONAMENTO COM DEUS NÃO PODE SER ESCRAVA DA
NOSSA VONTADE, MAS O CONTRÁRIO, NÓS SOMOS ESCRAVOS DA VERDADE DE DEUS E SEUS
SERVOS.
Você realmente só está vivendo para
o Evangelho quando você está vivendo para servir ao Evangelho. Portanto,
algumas vezes, a verdade do evangelho pode te incomodar e você é quem tem de se
adaptar a ela e nunca o contrário.
Prepare-se
Para Submeter a Sua Reputação Para Servir ao Senhor Que Opera na Vida Pelo Evangelho
Nos versos 7 a 9, Paulo diz que
aqueles homens de grande reputação se submeteram ao Evangelho, porque
reconheceram que o Dono do Evangelho é o Senhor e não a Igreja. E que,
portanto, todos os que estão à serviço do Evangelho, estão na verdade à serviço
de Deus.
Antes, pelo contrário, quando viram que o Evangelho da incircucisão me fora cofiado, como a Pedro o da circuncisão (pois aquele que operou eficazmente em Pedro para o apostolado da circuncisão, também operou eficazmente em mim para com os gentios) e, quando conheceram a graça que me foi dada, Tiago, Cefas e João, que eram reputados colunas, me estenderam a mim e a Barnabé, a destra de comunhão (Gl 2.7-9).
Quando tentamos manter o
Evangelho aprisionado por nossa vontade, o que estamos fazendo e resistindo à
Deus e não servindo ao Evangelho. Temos de lidar com muito cuidado para não nos
tornarmos senhores do Evangelho, resistindo a Deus. Isso foi exatamente o ponto
central do conselho de Gamaliael no Sinédrio.
Agora, vos digo: dai de mão a estes homens, deixai-os; porque, se este conselho ou esta obra vem de homens, perecerá; mas, se é de Deus, não podereis destruí-los, para que não sejais, porventura, achados lutando contra Deus. E concordaram com ele (At 5.38-39).
A mesma atitude foi a de Pedro,
quando viu que deus havia dado aos gentios de Cesaréia, na casa de Cornélio, o
mesmo Espírito que aos judeus de Jerusalém:
Pois, se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus, quem era eu para que pudesse resistir a Deus? E, ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para a vida (At 11.17-18).
O Evangelho me fora confiado o mesmo que a Pedro – O que precisamos considerar nestes versos é que eles estão
concentrados em perceber a VERDADE e o conteúdo que Paulo prega e notam que é o
mesmo que Pedro pregava aos judeus. Eles estão submissos à verdade. Paulo usa a
expressão: Pepisteumai euangelion –
me foi dado a crer – isto é como se Paulo estivesse enfatizando que o Evangelho
que ele estava anunciando era fruto de uma revelação e não fruto de sua
imaginação e isso é o que eles tinham identificado na mensagem que Paulo
pregava e no modo como pregava.
O mesmo que operou eficazmente em Pedro, operou eficazmente em mim (energuesas) – agora Paulo
chama a atenção para as obras que Deus operou através da pregação de Pedro e
dele. Em fim, ele diz que aqueles homens, as colunas da fé, notaram que não
podiam resistir a Deus, porque só poderia ser de Deus a obra que fosse tão
eficaz para transformar vidas, como, por exemplo a de Tito ou a do próprio
Paulo.
Não se trata de pragmatismo, de
submissão a Deus e este é um ponto importante. A verdade do Evangelho não está
à serviço da Igreja, mas a Igreja à serviço da Verdade do Evangelho. Deus não
trabalha para a Igreja, mas a Igreja para Deus. Precisamos ter a humildade de
nos submeter a Deus, mesmo que para isto, precisemos dizer não a nós mesmos.
Devemos estar bem preparados
quando a obra de Deus nos exigir obedecer a Deus, antes de satisfazer os nossos
gostos pessoais. Neste momento, somente os verdadeiros servos de Deus conseguem
se submeter.
Prepare-se
Para Submeter a Sua Reputação e Cumprir os Seus Deveres Sem Negligência e em
Unidade da Graça
O ponto de Paulo é questionar
porque os crentes da Galácia se deixaram persuadir por um evangelho falso,
mentiroso, um outro evangelho que deveriam considerar maldito e porque, agora,
estavam a serviço de si mesmos e não de Deus. Para isto, o que ele propõe é que
vejam o que Deus já havia feito e como os próprios Tiago, Pedro e João, que
deveriam, aparentemente, defender aquele retorno ao judaísmo haviam aprovado o
Evangelho pregado por Paulo e reconhecia sua autoridade vinda de Deus.
NO ponto final, ele mostra como
o trabalho dos judeus e dos gentios era exatamente o mesmo e como cada um
deveria ser esforçar para cumprir a sua parte. Aqui temos um grande aprendizado
e precisamos ponderar grandemente sobre isto para não pecarmos: CADA PESSOA TEM
O SEU TRABALHO E DEVE FAZER A SUA PARTE, CONFORME DEUS LHE DÁ, DE MANEIRA
COMPLETA, DEDICADA E UNIDADE.
Quando conheceram a graça que me foi dada – meus irmãos, um ponto primordial para este tipo de submissão do
serviço a Deus é a capacidade espiritual de perceber que Deus está operando.
Algumas vezes, nos tornamos cegos para as obras de Deus e não conseguimos ver
Deus agindo. Sei muito bem do perigo do pragmatismo, mas devo também considerar
o perigo do ceticismo. Precisamos de uma percepção aguçada e submissa à Deus. O
que lhes preencheu de certeza para dar apoio à Paulo e Barnabé não foi somente
um assentimento intelectual à mensagem, ou seja ao conteúdo da verdade, mas ao
fato de que a VERDADE ESTAVA SENDO PROVADA PELA OBRA DA GRAÇA E ESTA ERA UMA
PERCEPÇÃO VINDA DE DEUS.
Uns para os judeus outros para os gentios – ministérios diferentes, todos eles de Deus e para a sua glória. Irmãos,
agora o que havia era uma só obra de evangelização em várias frentes, mas um só
Senhor no comando de tudo e de toda a sua igreja. Umas das lições que CS Lewis
parece nos dar em “O Príncipe Caspian” é que Deus pode ser servido por alguém,
que tendo nascido no meio do povo inimigo, o caso um telmarino, Deus resolveu
escolher para fazer a sua obra e que o mesmo ASlan que ajuda Luci, Pedro,
Suzana e Edmundo, é o que ajuda Caspian a restaurar a paz em Nárnia.
Bem, irmãos, o que Paulo está
nos dizendo é que ele, Barnabé e Tito estão à serviço do mesmo Deus e na mesma
obra que Tiago, Pedro e João. Precisamos compreender esta unidade na graça, que
a obra da graça revela. Quando a verdade é preservada e Deus faz a sua vida vir
ao mundo, não importa quem faça, mas todos devemos fazer isto com diligência.
A destra de comunhão – apoio incondicional
e intencional no trabalho. A destra de companhia sinaliza para intenção
positiva em favor daquela obra. Os líderes dos apóstolos estavam unidos à Paulo
e seus companheiros no obra de alcançar os gentios. Não se trata de uma
delimitação de áreas de trabalho, até porque, ficaria claro que o Evangelho foi
pregado por Pedro também a gentios e Paulo, por onde passava, sempre primeiramente
falava a judeus piedosos. O fato aqui a ser destacado era que Paulo enfatizava
que o Evangelho não está à serviço de uma raça ou prefenrência pessoal, mas a
serviço de Deus, o Senhor o Evangelho e os trabalhadores servem ao mesmo
Senhor.
Recomendação – a recomendação não é uma
reparação, mas uma necessária ênfase e dinâmica muito particular daquele
período. A igreja de Jerusalém, em particular, vira o Evangelho crescer e a
necessidade de repartir as riquezas como uma forma visível do Evangelho se
manifestar. Então, recomendam que as mesmas marcas do Evangelho sejam visíveis
em todo lugar onde é anunciado, onde a fragrância da boa nova é sentida, deve
ser sentida também marcantemente as suas primordiais características, entre
elas, o AMOR.
A unidade no trabalho deve ser
um empreendimento do Evangelho e por isso o amor é sua marca. Esta e uma luta
que exigirá um preparo grande da parte de qualquer servo do altíssimo. Porque o
trabalho em comunhão é uma marca do Evangelho, a unidade da graça é o sinal da presença
do Espírito entr4e nós. Por isso, precisamos de muito cuidado com a ideia de
equilíbrio entre a Verdade que defendemos contra os falsos mestres e o
Evangelho e sua pureza que defendemos de nós mesmos e nossos gostos pessoais.
Conclusão
Meus irmãos, precisamos pensar
seriamente sobre o perigo que corremos em nossos dias, especialmente neste ano
de comemoração de 500 anos da Reforma Protestante. Diante dos grandes desafios
que temos com mensagens de Evangelho falso, também somos surpreendidos quando
somos tentados a proteger nossos interesses pessoais e, com isso, errar também
nos afastando de irmãos tendo como desculpa nossa chamada pureza.
Claro que devemos ter em mente
a VERDADE DO EVANGELHO E JAMAIS NEGOCIÁ-LA, mas também temos de tomar o mesmo cuidado com nossas próprias
posturas. Temos que muitas vezes estejamos nos servindo do Evangelho para fazer
prevalecer nossas perspectivas e DEIXANDO DE SERVIR A DEUS.
Como identificar isto, então? Este
texto parece indicar caminhos de humilde submissão ao Evangelho e à sua
Verdade. Crescer na percepção da graça e desenvolver uma visão que nos permita
olhar para Deus e submetermo-os a Ele e nunca tentar fazer o contrário.
Ao final, é preciso que sejamos
mais capazes de andar juntos com pessoas com missões diferentes do que lutar
uns contra os outros. A carta aos Gálatas parecem identificar essa necessidade,
especialmente a de lutar juntos pela VERDFADE até que Deus seja tudo em todos.
Que Deus nos conceda a
sabedoria para estas percepções de sua graça e presença em nosso meio!!