Identificando a Presença da Graça no
Coração
Gálatas 5.16-26
Introdução
Toda a luta do apóstolo Paulo
com as igrejas da Galácia não tinha nenhum interesse de supremacia do seu domínio
sobre o pensamento da igreja. O problema de Paulo é que a igreja estava
entregando ao mundo uma vida prática que revelava sua imatura relação com Deus.
O grande sinal do problema e da
doença que eles tinham estava claro no fato de que no seio da igreja o que
havia crescido era um movimento de luta interna e disputas de egos possuídos de
vanglória. Evidentemente, as coisas não estavam bem. Eles precisavam refletir
sobre isto.
Dentro deste pensamento, vamos
nos deter nos versos 16 a 26 e falar um pouco sobre os sinais práticos da vida
no espírito e como é necessário identifica-los para que possamos avaliar nosso
caminho e fazer caminhos novos e retos para nossos pés.
Você precisa estar disposto a
essa autoinvestigação esta noite. Precisa preparar seu coração para olhar no
espelho por meio da fé e perceber quem realmente você é. Caso o que você irá
encontrar em você não seja os sinais da graça do Espírito, o que é necessário
não é o desespero, mas a fé. A fé para dispor seu coração a retomar a caminhada
certa.
Acredito que muitos perceberão
que estão no caminho certo. Muitos saberão que tem falhas, mas também notarão
que muitas coisas boas já se mostram na sua vida. Isto é bom, mas não se deixe
acomodar, não permita que isso seja apenas confortável, lembre-se que temos de
ser zelosos pelo bem e ter toda a nossa vida e natureza cativa de Cristo.
Identificamos a Presença da Graça no
Coração Quando nos Identificamos Sinais da Vida do Espírito em Nós
Digo, porém, andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer (Gálatas 5.16-17).
O apóstolo Paulo está partindo
de uma observação clara sobre o que estava acontecendo no seio da Igreja. As
lutas, disputas internas, acusações, facções e todas a falta de amor presente
naquela igreja eram sinais evidentes de que eles não estavam caminhando bem,
estavam desviados da verdade. No entanto, Paulo quer que eles busquem essa
percepção neles próprios, que investiguem a si mesmos e se notem no erro.
Andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne – O apóstolo Paulo está chamando os crentes a olharem para o fato
de que o dia a dia deles estava permeado pela inclinação da carne. A linguagem
que ele usa “peripasete” (andai), indica um ato natural e contínuo no andar
comum. Não se trata de desenvolver grandes habilidades misteriosas, ou
secretas, especiais, que somente os grandes mestres são capazes, Paulo está
dizendo que o crente que faz o básico, segundo a direção do Espírito não
satisfaz à uma inclinação natural da carne. Portanto, o que realmente revela e
identifica a graça na nossa vida é a natural inclinação para vencer a também
natural inclinação para o mal (epiphemia – concuspiscência, uma forte
inclinação para o que é mal).
A carne milita contra o Espírito e o Espírito contra a carne – a luta interior é, num certo sentido uma grande bênção, afinal
ela aponta para o fato de que o Espírito está vivo em nós e resiste às
inclinações naturais da carne. A questão que Paulo qualifica aqui é que os
crentes deveriam perceber que isto estava acontecendo entre eles. Eles sabiam
que aquele estado de coisas não era bom e precisavam lutar corretamente contra
tudo o que estava acontecendo que os estavam levando a viver longe da graça.
A vida do Espírito em nós nos
leva a clamar: Aba Pai! Isto e tantos outros aspectos dessa nossa relação com
Deus são frutos do agir do Espírito Santo em nossa mente, em nosso coração.
O Espírito Santo é o responsável
pelo desenvolvimento de nossa vida com Deus. Os filhos de Deus são aqueles que
nasceram de novo e o Espírito trabalha em nossa mente para que descubramos e
venhamos à consciência de que realmente somos filhos de Deus. Paulo está
dizendo que este mesmo Espírito opera em nós a percepção de nossos erros,
nossos desvios e nos faz ver quem realmente somos. Ele nos convence do pecado,
do juízo e da justiça. Essa é uma obra do parácleto divino.
Pessoas altamente
autocentradas, autoconvencidas de espiritualidade e que estão somente dispostas
a apontar erros dos outros, sem nunca perceberem-se pecadores, os legalistas em
geral, assim como os libertinos, os que vivem de qualquer maneira são pessoas
que não denotam esta percepção do próprio pecado. Perceber-se pecador, perceber
as próprias trevas não é um sinal de ruim, ao contrário, é um sinal de vida.
O Espírito é oposto à carne e
por isso mesmo não podem conviver harmonicamente. Portanto, qualquer um que
viver no Espírito não se sentirá bem com as obras da carne.
Identificamos a Presença da Graça no
Coração Quando Identificamos Resultados Práticos da Vida do Espírito em Nós
Mas, se sois guiados pelo Espírito não estais sob a lei. Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam. Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei. (Gálatas 5.18-23).
Se sois guiados pelo Espírito não estais sob a lei - Neste trecho, o apóstolo Paulo resolve descrever de um lado as
obras da carne e do outro o resultado da obra do Espírito. A desculpa deles
para deixarem o Evangelho da graça era a de que estavam tentando viver pela Lei
de Deus. Neste ponto Paulo, então, está dizendo que o Espírito santo nos guia a
um resultado prático que não é em tempo algum condenado pela lei. Por isso, ele
começa dizendo que a Lei não condena que anda no Espírito, porque o resultado
prático do andar na Lei é um tipo de vida, baseado no cumprimento da Lei.
Obras da carne são conhecidas e são... –
Não se trata de nenhuma coisa nova para eles, ao contrário, eram coisas
conhecidas. Paulo começa acusando aquilo que era mais claro para todos:
prostituição (porneia), impureza (akatarsia), lascívia (asselgheia)... estes
pecados, quase sempre ligados à licenciosidade sexual eram claramente recebidos
como obras da carne, da mente pecaminosa. Idolatrias e feitiçarias (famaquéias),
apontavam para falta de compromisso com o Deus verdadeiro.
Paulo, no entanto, completa
fazendo menção à pecados que estavam sendo cometidos entre eles e que se
escondiam sob uma capa de vida de acordo com a Lei. Ou seja, em nome da
retidão, eles deixaram a igreja se impregnar de lutas, dissensões, inimizades,
facções etc... O que o apóstolo está fazendo é levando-o as perceber que o
resultado prático da vida deles não era retidão da Lei, mas apontava para a
natureza maligna que os dominava fortemente.
Não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam – a força desta frase é que ela nos faz pensar na prática, no
resultado do que realmente estamos fazendo. Isso deveria nos servir de alerta
fortemente. No final, devemos fortemente pensar, o que realmente estamos
entregando como vida tem sinais práticos da vida do Espírito ou não?!
Mas o fruto do Espírito é – essa maneira
de dizer é uma forma de usar a força da comparação, isto é, o resultado prático
da vida no Espírito não pode ter, de forma alguma, contradições práticas do
resultado da lei, que é amor.
Contra estas coisas não há lei – o que
Paulo intencionava é que eles compreendessem que se eles realmente estavam
interessados em viver para Deus e não contrariar a Lei, não poderiam deixar de
notar o resultado prático de sua vida na Lei. Ou seja, a maturidade na Lei não
pode, de forma alguma, nos conduzir a qualquer tipo de vida prática que nega a
Lei, ao contrário, temos de trabalhar para que a nossa vida resulte em coisas
que comprovem que somos mais maduros como a Lei nos quer direcionar.
Seria interessante, mas
deixarei para um outro momento, um detalhamento maior deste fruto do Espírito.
Por hora, vale a pena notar eu o ponto de Paulo é nos fazer perceber o
resultado prático da nossa vida e notar o que realmente estamos revelando, mais
domínico da carne ou do Espírito.
Identificamos a Presença da Graça no
Coração Quando Identificamos em Nós Movimentos de Autonegação e
Auteridade
E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito. Não nos deixemos possuir de vanglória, provocando uns aos outros, tendo inveja uns dos outros (Gálatas 5.24-26).
A palavra “auteridade” não é
muito comum, por isso, precisamos defini-la melhor. Auteridade é aquilo que é
próprio do outro, que pertence à natureza do outro, da outra pessoa. Auteridade
é também a capacidade de pensar como o outro, ou pensar no outro. Não somente a
autonegação é um valor do cristianismo, mas o pensar e sofrer o que sofre o
outro é um distintivo do verdadeiro cristianismo.
Os que são de Cristo crucificaram a carne e suas paixões e concupiscências
– com certeza, Paulo está sendo bastante claro em
dizer que eles não estavam em Cristo se a marca e sua vida era justamente o oposto
do que o Espírito realmente faz no crente. Então, ele deseja que pensem com
muita seriedade sobre o resultado daquele falso evangelho que fazia Cristo nada
significar para eles, antes, ao contrário, os estava levando a negar a obra de
Cristo.
Se vivemos no Espírito andemos também no espírito – dito do jeito que Paulo disse: sonem pneumati – pneumati stoikomem – tem a força da sonoridade,
como um dito popular que rima, que tem um efeito retórico pela sonoridade. Isto
é, Paulo está mais ou menos dizendo que aquilo que deve ser conceitual deve ser
também prático.
Não nos deixemos possuir de vanglória – esta
é profunda exortação final. Paulo está dizendo que o tipo de cristianismo que
eles estavam buscando, que se baseava neles próprios e num autoconvencimento da
justiça pessoal, era um tipo de vida que na prática negava o que eles buscavam.
Então, eles não poderiam ceder aquilo e sim, lutar contra este modelo
fracassado de vida autocentrada.
Paulo usa aqui algumas palavras
que podem nos ajudar. Gnomai – Ele diz,
que não devemos nos tornar por meio do pensamento. Ou seja, ele deseja que os
crentes pensem melhor sobre o que estão fazendo e lhes diz enfaticamente, não
se deixem convencer de que são – kenodoxai
– cheios de glória. A demonstração mais clara de que eles não eram, é que eles
estavam tendo facções e lutas entre eles. Este sinal era o mais perigoso e mais
importante a ser detectado.
Auteridade – Uma igreja madura, que vive
o evangelho da graça estará inclinada a auteridade, porque o evangelho da graça
muda o foco da nossa atenção. O outro se torna prioridade e o principal objeto
interesse. Quando você percebe esta intencionalidade, ficará mais fácil ler os
versos seguintes, basta dar uma olhada no que ele diz. Por isso é preciso ser
tão enfático com o “não nos deixemos convencer de glória pessoal”.
Conclusão
Claro que podemos ouvir este
sermão e ficar pensando em tudo o que outras pessoas precisam fazer para serem
melhores e não errarem tanto. Mas, com certeza, o que realmente precisamos é
nos perceber e identificar em nós os sinais da presença da graça.
A graça nos faz ver nossos
próprios pecados? Estamos sensíveis para perceber nossa própria maldade. O verdadeiro
e profundo despertamento do Espírito primeiramente nos faz perceber quem somos.
Somos atingidos pela percepção e nossa própria pecaminosidade e isso nos leva
ao chão, nos leva ao patamar do clamor, da necessidade.
Podemos sim, pensar em tudo que
outras pessoas precisam fazer para serem melhores. Mas sem dúvida hoje notamos
o quanto precisamos olhar na prática aonde o Evangelho está nos levando, quando
voltamos para nossa casa e vamos viver o dia a dia do casamento, lidar com os
filhos, qual é o nosso real comportamento mais natural. Somos mais dominados
pela carne e percebemos isto.
O sinal prático da vida do Espírito
é que estaremos incomodados de ver estas coisas acontecendo em nós. O sinal
prático da vida do espírito em nós é que queremos ver a vida se manifestando e
não a morte nos dominando. Com certeza, Paulo sabia que a igreja sentiria isto
e refletiria sobre essa situação. Esse é o ponto que precisamos parar para
concluir esta noite.
Aonde ser o que somos e fazer o
que fazemos está nos levando na prática. Está nos moldando a fazer as coisas
próprias do Espírito, está nos levando a amar? Irmãos, olhemos para nós mesmos
como igreja, olhemos para nós, como maridos, esposas, pais, mães, filhos,
filhas, amigos, companheiros de luta... olhemos para nós como pessoas e nos
percebamos...
A auteridade tem moldado a
nossa postura diante das coisas que nos cercam, ou o orgulho e a vanglória têm
comandado? Aqui está o que precisamos fazer: precisamos buscar a vida no
Espírito, precisamos buscar andar no espírito.
Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito.
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