7 de janeiro de 2018

Marcos 1.7-11

Percebendo a Sublimidade de Cristo
Marcos 1.7-11


Introdução
Uma visão clara de quem era Cristo! Isto é o que Marcos entendeu que era necessário para construir uma fé inabalável. Este foi o grande desafio deste servo escritor, ou seja, apresentar a glória do Filho de Deus que viveu entre nós e hoje reina soberano sobre toda a terra.
Quando leio o Evangelho de Marcos eu posso ver o rosto das pessoas diante de Cristo, o espanto e a admiração que sua esposa provocava. Marcos, parece-nos oferecer imagens de como a personalidade, o poder e a pureza de Cristo impactavam as pessoas. Neste Evangelho, as pessoas estão, o tempo todo, de queixo caído, diante de Cristo: “Quem é este que até o vento e o mar obedecem?”; “Quem é este que perdoa pecados?”; “Este homem verdadeiramente era o Filho de Deus!” Este Jesus causa mudanças na mente e a percepção de Jesus é um duro golpe na incredulidade e na dureza do coração humano.
O que será necessário para provocar em nós um cristianismo revolucionário, do mesmo tipo que moveu homens como Pedro e Paulo a darem as próprias vidas pelo Evangelho? O que é necessário para mover um homem de estrondoso poder pessoal, como João Batista para fazer dele uma prioridade de vida?
O que realmente eu e você precisamos para que nossa vida suplante a mesmice e surja neste mundo como um ponto de mudança, como a vida de Lutero, Calvino, Edwards, Livingstone, Teresa D’Ávila ou outros etc... é um aprofundamento de uma visão gloriosa de Cristo! Ele precisa ser revelado à nossa mente com poder e precisamos ver a sua SUBLIMIDADE!
SUBLIME é aquilo que é elevado, desconcertantemente perfeito, absoluta e indiscutível e transtornadoramente divino e glorioso que causa um enorme espanto, admiração e êxtase. Este foi o impacto da pessoa de Cristo na mente de Paulo e foi isso que mudou a vida do promissor fariseu de Tarso e o fez se tornar o mais completo de todos os apóstolos e pregadores de toda a história do Cristianismo:
“Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para conseguir Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé; para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos” (Filipenses 3.8-11).
Este tipo de depoimento é uma declaração da necessidade que todos temos de que Cristo se apresente à nossa mente e aprofunde essa visão que os medievais, chamavam de “visão beatífica de Cristo”. Calvino nos falava de como uma percepção do ser completo de Cristo nos é dada nas Escrituras para que o amemos acima de todas as coisas.
Penso que este é um ponto que vale a pena meditarmos esta noite, a respeito da sublimidade da pessoa de Cristo. Creio que precisamos formar uma imagem clara em nossa mente sobre quem é o Cristo a quem rendemos a nossa vida e a quem devemos obediência, adoração, honra e a própria vida.
Infelizmente, muitos crentes tem uma relação com Cristo muito fragilizada pela sua falta de percepção sobre quem realmente é Jesus Cristo, o Filho de Deus. Render a vida a Ele como resultado de uma ideia clara de quem é Ele, é um passo essencial para a maturidade da nossa fé.
Portanto, quero tomar com os irmãos este texto de Marcos 1.7-11 olhando para SUBLIMIDADE DA PESSOA DE CRISTO, conforme ela é apresentada aqui por Marcos. Primeiro no testemunho de João Batista e no final pelo testemunho do Pai e do Espírito Santo. Nesta pequena porção, Marcos propõe uma visão da medida da glória daquele homem que esteve entre nós e que foi crucificado e ressuscitou para ser o nosso Rei. Quero que você pense sobre quem é Cristo e qual a sua condição como servo dele! Vamos ao texto!!

Percebemos a Sublimidade de Cristo Quando Meditamos na Sua Perfeita Humanidade 
E pregava, dizendo: Após mim vem aquele que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de curvando-me, desatar-lhe as correias das sandálias. (Marcos 1.7).
Marcos usa muito este recurso que aqui ele repete, o de tomar um ponto anterior como âncora do próximo parágrafo. Note que nos versos anteriores, ele falava sobre o ministério de João Batista e sua atividade de pregador no deserto, quando a partir disto começa a descrever o conteúdo desta pregação:
E pregava dizendo – para nós é importante que percebamos, então, que aquele homem que havia dedicado a vida a anunciar o Reino de Deus, fazendo desta pregação a sua absoluta prioridade, tomou aquela decisão por causa da percepção de que a sua tarefa apontava (ministério do holofote) para uma PESSOA SUBLIME. Cristo era a razão da sua completa e total dedicação. João foi um exemplo de pessoa que compreendeu quem era Cristo e rendeu a vida a Ele, por quem ele era. Tome este ponto como um ponto de partida para como você se dedica. A sublimidade de Cristo deveria dar o tom do seu esforço por ele. Isso depende de sua percepção de quem é Cristo. Veja como João o percebia em sua mente.
Após mim vem aquele que é mais poderoso (isquiróteros) que eu – João compreendia a sua missão no contexto de Cristo e não no seu contexto pessoal. Antes de perceber quem é Jesus, João percebia a si mesmo e se compreendia, se definia à luz que quem era Cristo Jesus: Após mim, vem AQUELE que é mais poderoso do que EU. Note o “eu” no contexto do “aquele”. Posso dizer que precisamos medir a nós mesmos à luz de quem é Cristo. João Batista tinha a exata noção de que o Cristo era maior que ele e seu interesses. Isto é de um significado extremamente importante para todos nós. Poderoso (isquiroteros) é um adjetivo que aponta para a força do outro, a força para a guerra, a força física, o tamanho... na verdade é uma maneira de apresentar o outro em comparação consigo.
Do qual eu não sou digno de curvando-me desatar-lhe as sandálias – Aqui, João Batista, se vale de uma figura muito forte, a de um escravo que tinha como obrigação receber seu Senhor com um gesto de completa submissão. O escravo que fazia esta honraria ao seu senhor era considerado um privilegiado, pela aproximação que aquele momento de receber o senhor provocava, estão esta era uma tarefa que indicava que aquele escravo era importante na relação com o senhor. Bem, aqui, João diz que quando ele olha para si e se compara com a sublimidade da pessoa de Cristo, ele se percebe absolutamente indigno, ele não se vê em nenhuma condição e poder se aproximar de seu senhor e curvar-se para o mais absoluto gesto de submissão. Não pelo gesto em si, mas pela sua completa indignidade.
Este é o ponto, precisamos perceber a nossa vileza e depois olhar para sublimidade de Cristo e reconhecer que essa é uma relação díspare, distante... na verdade, termos sido feitos servos de Cristo é um privilégio que nós deveríamos considerar elevado demais para nós, porque nossa vileza é extrema, nossa miséria é extrema e ele é perfeito.  
Precisamos de uma completa mudança sobre nossa postura, estupidamente ousada diante de Cristo e a petulância com que tratamos as coisas do Rei Sublime, como se ele não fosse quem é ou como se fôssemos alguma coisa. Antes, precisamos reconhecer a nossa condição indigna e a partir daí considerar o privilégio que temos de servi-lo. Ele nunca pode nos esperar, ele não pode ser posto em segundo lugar, ou em qualquer situação, jamais poderemos privilegiar o nosso interesse em lugar dos interesses do Rei, afinal ele é o Rei sublime.
A honestidade deste reconhecimento é um primeiro passo para nos achegarmos adequado para o servir e honrar.

Percebemos a Sublimidade de Cristo Quando Meditamos na Perfeição do Seu Poder Espiritual 
Eu vos tenho batizado com água; ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo. (Marcos 1.8).
O segundo aspecto de comparação para João Batista era a obra que Jesus fazia. No primeiro ponto, ele o compara em termos de sua humanidade perfeita, em comparação à humanidade pecaminosa do homem e dele, João Batista, em particular. Agora, João Batista irá observar o ministério e o poder espiritual da obra de Cristo.
Eu batizo com água – João diz que sua tarefa era importante, ele a chamou de batismo (baptismo) que era um ato extremamente importante no contexto da cultura judaica. Todos os judeus tinham um elevado apreço pelos atos batismais (veja Marcos 7.1-4), mas João entendia que as coisas mais sublimes que ele fazia, apenas tinham forças temporais, materiais. O máximo que ele conseguiria seria o de realizar uma cerimônia de força moral, ética, temporal, física etc. Todo o esforço que ele empreendesse sempre seria humano e limitado. Mas quando ele olhava para Jesus, ele via uma realidade absolutamente superior e distinta.
Ele porém vos batizará com o Espírito Santo – a obra de Cristo era uma realidade espiritual absoluta, por isso, era uma obra superior e totalmente distinta e mais poderosa que a obra que qualquer outro homem fosse capaz de fazer. A sabedoria e a glória de Salomão ficariam humilhadas diante de Cristo; Daniel e sua grandiosa fé, não seria mais que a poeira de um menino; a força de Sansão, nada significaria diante de Cristo.
Irmãos, o que João estava dizendo com estas palavras é que nada que qualquer outra pessoa viesse a fazer teria as mesmas repercurssões do que aquilo que o Filho de Deus fez. Batizar com o Espírito Santo – tem o significado de constratar com o batismo de João no ponto em que a realidade espiritual é maior que a mera realidade física ou social. Marcos nos mostra o homem da mais forte personalidade, dentre os nascidos de mulher, como disse o próprio Jesus, de joelhos, reclinado, sem palavras, admirado, espantado e pronto a se render, diante da GLORIOSA E SUBLIME PESSOA DE CRISTO JESUS.
Esta percepção foi dada a João pelo Pai Celestial, ela não foi simplesmente construída pela análise da mente de João, mas um forte poder celestial foi o responsável por isto. Jesus falou algo semelhante de Pedro, quando este, indagado sobre quem era Jesus, tem uma das mais completas e perfeitas respostas: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, diante de tão gloriosa afirmação, Jesus diz: “Bem aventurado Simão Barjonas, porque não foi nem carne nem sangue que to revelaram, mas meu Pai que está no céu” (Mt 16.16-17).
Marcos propõe esta visão beatífica como o instrumento modelador de nossa fé e a origem de um poder transformador que pode nos usar para fazer a vontade de Deus neste mundo, assim como usou João Batista tão poderosamente que os próprios governantes não suportavam e tremiam de medo da figura e personalidade de João.
Uma visão gloriosa da SUBLIMIDADE ESPIRITUAL DE Cristo precisa tomar conta da nossa mente e precisamos perceber que a esfera que ele move é mais elevada que a nossa! A sua força espiritual deve também nos espantar e para isso precisamos de uma especial obro do próprio Deus e devemos com oração buscar isto!
Precisamos, Deus, que nos revele Cristo!

Percebemos a Sublimidade de Cristo Quando Meditamos na Beleza da Sua Natureza Divina 
Naqueles dias, veio Jesus de Nazaré da Galiléia e por João foi batizado no rio Jordão. Logo ao sair da água, viu os céus rasgarem-se e o Espírito descendo como pomba, sobre ele. Então, foi ouvida uma voz dos céus: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo. (Marcos 1.9-11).
Marcos, agora, deixa João Batista de lado na cena e a personagem principal não será o poderoso pregador dos desertos, porque agora, o testemunho sobre a pessoa de Jesus vem do próprio Deus, do Pai e do Espírito Santo.
Naqueles dias, veio Jesus de Nazaré da Galiléia - O Evangelista segue sua preferida forma de relatar, tomando o gancho da cena anterior e projetando a continuidade da cena seguinte. “Naqueles dias, veio Jesus de Nazaré da Galileia” é uma apresentação simples de Jesus, focando a sua humilde procedência. Ele certamente, está só nos mostrando que aquele momento era um ponto de mudança na obra de Jesus Cristo. O Batismo de Jesus foi o ponto inicial de seu ministério, foi no Batismo que Jesus recebeu a chancela divina para assumir as funções de Profeta, Sacerdote e Rei. A autoridade do Cristo é oficialmente investida no batismo, como diz o profeta Isaías:
O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados, a apregoar o ano aceitável do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar os que choram etc (Isaías 61.1-2).
O próprio Jesus compreendeu isto, quando, após o seu batismo e tentação, volta à sinagoga de Nazaré e lê esta passagem no profeta Isaías e diz aos ouvintes: esta passagem se cumpriu (Lc 4.16-21); também quando os discípulos de João foram procurar saber dele ser ele era o Messias ou deviam esperar outro, ele os mandou de volta à João e dizer que os coxos estão andando, os cegos vendo, isto é, Isaías está se cumprindo.
Logo ao sair da água viu os céus rasgarem-se e o Espírito descendo como pomba sobre ele (Marcos 1.10).
Muito se pergunta sobre o que esta figura significa. Eu particularmente, penso que devemos simplesmente conectá-la à Isaías 61, como o modo de Deus creditar o ato de unção espiritual do Cristo. Podemos dizer que aqui, a Trindade Santíssima está envolvida na obra de apresentar o FILHO DE DEUS AO MUNDO e sua excepcional SUBLIMIDADE DIANTE DOS HOMENS.
Céus rasgados – Espirito descendo como pomba - As figuras usadas apontam para a origem transcendente daqueles acontecimentos, a quebra da ordem natural e a percepção do mundo espiritual pelos olhos e ouvidos dos homens. A visão espiritual se tornou natural para que todos pudessem aquilatar o momento. Eles perceberam algo em um vôo como de pomba ao pousar, vindo do alto... estes são verbos e figuras que são usados para representar o vôo do Espírito Santo sobre as águas da criação, evolvente com suas asas que abraçam o ar para poder descer.
Então foi ouvida uma voz dos céus: Tu és meu filho amado, em ti me comprazo (Marcos 1.11).  
A Voz dinda dos céus – o Pai -  Este é o clímax deste testemunho. Não está no discurso direto a pessoa que fala, mas é claro que é o Pai Celestial. O próprio Deus, dá um testemunho sobre Cristo e o qualifica como FILHO AMADO. Este ponto é fundamental, o FILHO A QUEM O PAI PERFEITO AMA. Irmãos, acho que a ficha nem sempre cai para nós sobre o que isto significa. Não é uma declaração da bondade de Jesus, não se trata do fato de Cristo Jesus ser bom, mas do fato de que ele BOM PARA QUE O PAI O AME SEMPRE.
Em quem me comprazo – o verbo no aoristo indica um tipo de prazer contínuo no passado e no presente. O verbo “eudokeo” é difícil de traduzir, porque não é somente alguém que causa prazer, mas alguém que me dá motivos para pensar bem. Cristo Jesus era perfeito, era Deus, o FILHO DE DEUS, O FILHO AMADO DO PAI, sobre quem a mente do Pai Perfeito, só conseguia pensar bem, sentir bem, ter prazer.
Irmãos, essa era a visão do PAI e não somente de João Batista. Cristo Jesus era Deus, o Filho de Deus se fez homem e não perdeu a sua sublimidade e o PAI DA TESTEMUNHO DE SUA PUREZA E SUBLIMIDADE.

Conclusão
O ponto inicial de uma fé forte é a profunda percepção da GLÓRIA E SUBLIMIDADE DE CRISTO, isto começa em uma simples comparação da nossa própria natureza pecaminosa com a perfeição de Cristo e a ideia de que somos completamente indignos de sermos chamados “irmãos de Cristo”. Essa concessão é um profundo amor imerecido e incompatível, sobre o qual só podemos dizer que é gracioso e inexplicável.
Nossa fé precisa ser movida do lugar comum que normalmente ocupa e nos levar aos pontos mais elevados, onde somos transformados e transtornados pela percepção da glória e sublimidade de Cristo Jesus. Neste ponto, precisamos de uma revelação divina do poder espiritual de Cristo. Cristo é o Rei dos Reis e o Senhor dos Senhores, absolutamente glorioso e poderoso, mas um amigo próximo, chegado, amoroso. Isto é glorioso!!

JOnatham Edwards:
A visão intelectual que os santos terão de Deus os tornará  tão sensíveis à sua presença, e lhes dará tão grandes vantagens no trato com ele, quanto a visão dos olhos físicos o fazem em relação a um amigo terreno (...) Mas suas almas terão a mais clara visão da própria natureza espiritual de Deus. Elas deverão contemplar seus atributos e disposição concer­nentes a eles de um modo mais que imediato, e portanto com uma certeza maior do que é possível de encontrar na alma de um amigo terreno através de seu discurso e de sua conduta.
Edwards escreveu sobre a possibilidade de uma visão beatífica, isto é gloriosa de Cristo. Ele sempre a propõe como sendo a gloriosa visão que todos os homens terão do Cristo Glorificado. Esta percepção da SUBLIMIDADE DE CRISTO pode ser desenvolvida pela fé, quando Deus, por meio do poder de sua palavra, nos revelar Cristo aos corações.

Nós o amaremos tão grandemente e o serviremos tão intensamente, que como João Batista, ele será o alvo da nossa vida e nada mais terá valor, tudo fenecerá e serviremos e obedeceremos a Cristo com um amor tão intenso que jamais saberemos como é possível amar tanto a Deus.

Dá-nos Deus esta visão de Cristo!



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