O Divino Crescimento do
Reino
Marcos 4.26-29
Introdução
O capítulo 4 de Marcos é
dedicado à ilustrar o que é o Reino dos Céus. Quatro parábolas são usadas para
estabelecer o ensino de Jesus sobre o Reino. Em particular três delas se
destaca e se se unem pela imagem temática, ligada à sementeira.
Na parábola do semeador, a
diligência do semeador é o ponto em destaque, assim como os tipos de solos,
sobre os quais as sementes caem. Nela há a ênfase na obra de semear, na mesma
medida, em que se enfatiza a resposta dos corações. Já na parábola que temos
diante de nós, a parábola da semente, a ênfase recai sobre a SOBERANIA DE DEUS
na frutificação. Diferentemente, da primeira parábola, aqui não é apontado o
esforço do semeador, tampouco a resposta do solo, mas a obra de Deus em fazer o
seu REINO CRESCER.
Certamente, qualquer ênfase e
apenas um dos aspectos é um erro. Precisamos da boa disposição para semear,
isto é, fazer a nossa parte, assim como na resposta humana ou como Deus prepara
o coração humano para responder, como também no fato de que tudo isto é
absolutamente um resultado do misterioso agir divino.
Tendo em mente este grande
mistério da soberania divina, precisamos considerar algumas verdades sobre o
Reino que servirão como medida para entender e orientar o nosso trabalho no
Reino de Cristo.
O grande ponto que precisamos cuidar
aqui e Marcos parece desejar muito nos advertir ao equilíbrio é que não
venhamos a pensar no REINO de CRISTO como algo sob os nossos domínios, um
resultado exclusivo da CAPACIDADE HUMANA. Precisamos de uma forte medida de fé
e confiança absoluta em Deus se desejamos ser bem sucedidos, isto implica em um
cuidado tanto com A SOBERBA, quanto com A FALTA DE OUSADIA.
O texto trabalha com TRÊS
ETAPAS do Reino:
1) A germinação da semente;
2) As etapas da frutificação da semente;
3) A ceifa.
Da mesma forma que o próprio
texto se estrutura, vamos considerar estas três fases em alguns detalhes.
O
REINO CRESCE POR MEIO DE UMA OBRA MISTERIOSA DE DEUS
Disse ainda: o reino de Deus é assim como se um homem lançasse a semente à terra; depois, dormisse e se levantasse, de noite e de dia, e a semente germinasse e crescesse, não sabendo ele como (Marcos 4.26-27).
Algumas vezes, sofremos de um
perigoso mal na vida cristã: soberba. Passamos
a nos considerar o fundamento do sucesso da obra de Deus no mundo e confundimos
o nosso papel e dons com o poder divino. Acho degradante qualquer cena de
evangelistas arrogantes, auto centrados, que tentam convencer a todos ao seu
redor de que o poder de Deus reside neles, em pessoa. Nada é tão diabólico, quanto um homem que se sente Deus.
O Reino de Deus - No texto, Jesus está
dentro do barco instruindo a multidão e o seu tema é O REINO DE DEUS. Sabemos,
especialmente por causa do ensino de Mateus, que ele falava em parábolas
publicamente, mas aos seus discípulos ele dava alguns detalhes explicativos. Na
primeira parábola, ele só conta a história e somente no esclarecimento diz que
aquela história é uma metáfora, uma parábola sobre O REINO DE DEUS. No entanto,
nesta parábola, Marcos explicita o conceito. Este conceito é importante,
especialmente nesta parábola, porque ela aponta para a natureza divina deste
reino, portanto é significativo que ele não SEJA CONSIDERADO REINO DOS HOMENS,
OU REINO DA FÉ, mas REINO DE DEUS.
Semelhante a um homem que semeia, mas dorme e acorda e a semente
cresce sem que ele saiba como – O ponto de Jesus
aqui é que existe por detrás de todo o desenvolvimento histórico do reino uma
ação misteriosa, oculta dos olhos dos homens, uma força que não pode ser medida
pelo que o homem faz ou é capaz de aferir, que realmente é quem produz os
resultados do Reino de Deus. Neste sentido, Paulo havia dito que o trabalho de
um e de outro é coroado por uma obra soberana de Deus.
Eu plantei, Apolo regou, mas o crescimento veio de Deus. De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento (1Coríntios 3.6-7).
Precisamos desenvolver este
tipo de percepção de quem somos nós e quem é o DEUS a quem servimos e como
qualitativamente, ele absolutamente superior a nós. Precisamos ser humildes e
lembrar duas coisas importantes:
1) EU NÃO CONSIGO FAZER O REINO SER MELHOR E MAIS PODEROSO DO QUE É
2) EU NÃO CONSIGO FAZER O REINO SER PIOR OU MENOS PODEROSO DO QUE É
Não que eu não tenha algum papel, mas eu
sempre tenho um papel coadjuvante nesta obra. Porque a personagem principal de
todo o enredo é o SENHOR.
Dorme, acorda – dia e noite – um processo
histórico sequencial, que envolve a vida diária do homem. O reino dos céus tem
um desenvolvimento histórico não controlado pelos homens. Ainda que sejamos nós
os instrumentos por meio do qual a história vem à luz, somos apenas ferramentas
de Deus. Devemos nos conscientizar disto, para não pensarmos além nem aquém do
que convém pensar sobre o Reino dos céus.
A semente germina e cresce – a um
processo de desenvolvimento espiritual no Reino de Deus. Desta forma, devemos
considerar que todo o processo de amadurecimento da obra de Deus é divinamente
controlado. Ainda que sejamos nós quem revelamos, por meio da nossa vida, o
desenvolvimento espiritual do reino, ele não é limitado a nós e à nossa
capacidade de fazer coisas para Deus. O que realmente é determinante é um mistério
que não podemos controlar e muitas vezes, nem discernir.
Não sabendo ele como – aqui, Jesus
propõe o conhecimento final sobre a ação do homem na obra do Reino de Deus,
isto é, em um ponto de absoluta consciência, precisamos considerar o fato de que
é UM MISTÉRIO PARA NÓS, como Deus realmente age. Irmãos, na verdade, se formos
realmente considerar estas coisas, logo reconheceremos um fato, que a julgar
pelo que somos e como somos, o Reino de Deus, se realmente dependesse de nós,
de nossa criatividade, nossa capacidade de ação, nosso interesse e nossa
disposição para a obra, há muito TERIA FALIDO.
Sim é uma vergonha que sejamos
tão incapazes de nos envolver com algo tão sublime, necessário, verdadeiro e
real. Mas, por outro lado, é importante que reconheçamos que o REINO DE DEUS é
fruto de uma obra muito maior do que eu e você seríamos capazes de conceber.
O CRESCIMENTO DO REINO DOS CÉUS
É CERTO PORQUE É UMA OBRA MISTERIOSA DO PODER DE DEUS.
O
REINO CRESCE GRAÇAS A UM PODER FRUTIFICADOR QUE DEUS PÕE NA SEMENTE
Devemos considerar que Jesus
está dando continuidade a um pensamento sobre o Reino de Deus, portanto, o que
a parábola do semeador propõe, deve ser considerado como base para esta
parábola também, especialmente neste caso de semelhança temática da ilustração.
Devemos, por isso, também considerar que a semente que cresce e frutifica é a
PALAVRA DE DEUS.
O semeador semeia a palavra (Marcos 4.14).
Considerando, portanto, esta
semente tão preciosa, no verso 28, o temos é como esta semente plantada é capaz
de produzir por si só.
A terra por si mesma frutifica: primeiro a erva, depois, a espiga, e, por fim, o grão cheio na espiga (Marcos 4.28).
A terra por si mesma frutifica - Nesta expressão, Jesus não está apontando
alguma qualidade da terra, mas ele está dizendo que a terra não precisa de uma
ajuda externa. Ela não precisou de adubo, recondicionamento químico do solo, ou
o próprio trabalho do agricultor. A semente caiu e frutificou, porque o poder
da frutificação é da semente. Note que o termo frutificar aponta para um
resultado que não tem a ver com a natureza da terra, mas da semente.
Erva – espiga – grão cheio – A frutificação
da terra, a que Jesus se referiu no início do versículo, na verdade é um
desenvolvimento do potencial da própria semente, que começa gerando uma pequena
planta, que amadurece gera uma espiga, a qual se desenvolve, gerando uma
multidão de novas sementes.
Precisamos considerar o real
poder da Palavra que pregamos. Marcos está construindo uma mentalidade na
Igreja. Afinal, nos dias em que foi escrito este evangelho era necessário
confiar na mensagem que deveria ser anunciada no mundo inteiro. O poder da
Igreja não estava nos homens, nos apóstolos, nem na força social da igreja, o
poder da Igreja está na semente que ela lança.
Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego (Romanos 1.16).
A consciência do PODER DA
PALAVRA é o centro da confiança da PRESENÇA DO REINO. A Palavra de Deus cumpre
todo o designío de Deus e vem para produzir o fruto que Deus quer que produza,
no seu tempo e na sua forma e intensidade.
Ano passado, estávamos no Vale
do Anhangabaú e e Ana Beatriz (minha filha). Ouvimos o sermão do REv. Hernandes
e ele falou sobre o poder do Espírito Santo. Sua mensagem parecia muito voltada
para o não crente e comentávamos sobre o fato de que, ali só havia crentes,
então, aquela palavra não seria tão produtiva. A uma certa altura ele disse: O
ESPÍRITO SOPRA ONDE QUER.
Ao final da mensagem o REv.
Hernandes fez um apelo. Eu pensei que aquele seria o máximo da falta de senso
sobre o público presente. De repente, atendendo ao apelo do pastor, uma
multidão foi à frente e se entregou a Cristo, ou refez os seus votos de vida
com o Pai. Ana Beatriz olhou para mim e disse assim: REALMENTE O ESPÍRITO SOPRA
ONDE QUER.
O poder da Palavra de Deus deve
nos encorajar a servir ao Reino. O poder do Reino é o poder da Palavra. Na
parábola, isto é o que Jesus está apontando. Que a semente carrega o poder de
Deus e se desenvolve a partir de si mesma. Não precisamos ter medo algum, pois
nossa parte está na fidelidade da entrega da semente e o restante a própria
palavra faz.
O Reino Cresce não por que
descobrimos uma metodologia de tornar a Palavra mais apropriada às pessoas. A
Palavra é apropriada porque ela é espiritual poderosa e capaz de cumprir todo o
propósito de Deus. O Reino Cresce quando nós deixamos a Palavra, a semente,
cumprir o seu papel.
O
REINO CRESCE E DEVEMOS NOS PREPARAR MELHOR PARA COLHER
O processo natural agrícola
indica que em algum momento é chegada a hora da colheita. Saber a hora de
colher frutos não é tão simples como pode parecer. Afinal, sempre há o risco de
perdermos o prazo e colhermos o produto tarde demais e, em lugar de frutos
bons, colhemos frutas já podres e passadas. Também há o risco de anteciparmos o
tempo e colhermos frutos antes da hora e, portanto, frutos ainda não prontos
para serem usados como alimento.
No último final de semana, comemoramos
nosso 59º aniversário. Em primeiro de Janeiro de 1959, nossa igreja foi
organizada pelo Conselho da IP Brás. Antes disto, em 1942, começamos uma
jornada com algumas famílias em uma vila distante do centro e ainda incipiente.
A semente foi lançada e pouco a pouco foi sendo transformada, uma erva, uma
espiga e depois muitos outros grãos – um ponto de pregação, uma congregação e
uma igreja pronta para plantar outras.
Irmãos, devemos tomar muito
cuidado com o problema de não sabermos exatamente o momento de colher. Por
isso, precisamos desenvolver uma clara noção de tempo entre plantio e colheita,
a fim de cumprirmos bem a nossa tarefa.
E, quando o fruto já está maduro, logo se lhe mete a foice, porque é chegada a ceifa (Marcos 4.29).
Este é o propósito de nossa
realidade espiritual e de nosso trabalho: frutificar. Quando é que sabemos que
realmente o Reino está entre nós, quando Deus nos mostra os sinais de que ele
amadureceu. Este tempo de ceifa dos frutos é parte integrante da nossa
responsabilidade de devemos saber fazer bem isto.
Quando o fruto está maduro – precisamos começar
a olhar para este ponto e deseja-lo, o amadurecimento. ÀS vezes, permitimos que
um certo comodismo tome conta da nossa vida no reino. Deixamos de pensar no
alvo e, consequentemente, deixamos de buscar o crescimento, o amadurecimento da
semente. Isto é, deixamos de trabalhar para que a Palavra alcance o mais importante
papel, para o que foi designada como ferramenta da Igreja: a colheita.
Devemos cuidar para não nos
tornarmos uma igreja precipitada na colheita e recolhermos frutos ainda não
prontos, ou uma igreja desleixada que perde a oportunidade de uma boa safra.
A foice – tão importante quanto a enxada
para que lança as sementes é a foice para quem precisa entrar e retirar frutos.
Aqui Jesus não está falando de nenhum tipo de violência, mas de uma habilidade
para agir com os instrumentos certos, na hora certa e aproveitar o melhor
momento para colher.
O desenvolvimento da seara, na
produção natural das sementes, deve nos levar ao momento da colheita e
precisamos aprender a fazer o que é necessário para este momento. Afinal,
podemos errar muito se não formos capazes de aprender a colher.
Porque é chegada a ceifa – O tempo da
ceifa não é uma escolha de quem lança a semente, mas segue o curso natural da
semente no seu desenvolvimento. Nesta parábola, Jesus está apontando aos seus discípulos
a necessidade de começar a obra de Deus e terminar. Desta forma, Marcos está
visualizando muitos irmãos e irmãs que começam o serviço a Deus e não completam
carreira, não são capazes de fechar ciclos e não se importam com isto.
Preste muita atenção para o
fato de que eu e você devemos almejar o trabalho do reino e não podemos nos
esquecer de que ele tem começo, meio e fim. Parar antes da hora ou tentar
superar etapas de forma precoce pode ser um grande erro. Frequentemente
encontramos crentes que sabem iniciar tarefas, mas não sabem concluí-las. Isto
requer perseverança, paciência e atenção.
O Reino cresce e precisamos nos
preparar para a colheita. Este é o alvo de toda boa obra.
Conclusão
Jesus aqui propõe uma ideia
muito clara de que estamos a serviço de Deus e não de nossas vontades. Ele é
quem controla a obra que nos deu para fazer e não podemos realiza-la se não
estivermos atentos ao processo de suas ações no Reino.
Caros irmãos, precisamos tanto
que nossa igreja seja mais efetiva na obra do Reino. Somos uma boa igreja do Senhor
e temos provas históricas de que Deus está em nosso meio e agindo nesta obra.
Contudo, precisamos ser mais cuidadosos e atentos nos acontecimentos.
Essa parábola é um ensino que
deve nos ajudar a evitar a soberba de querer fazer as coisas do nosso jeito,
crendo que exista algum poder em nós. O poder com que lidamos não está em nós,
em nossos métodos ou qualidades pessoais, o poder está no próprio Deus, na sua
própria Palavra poderosa, a semente do evangelho.
Também não podemos nos
amedrontar. Não devemos pensar que somos falhos demais para uma tarefa tão
elevada e, tímidos e receosos nos ausentarmos da tarefa de semear e levar adiante
o reino de Deus. O grande poder da semente do evangelho deve ser a nossa mola
propulsora e devemos crer tanto neste poder que aceitamos o desafio da seara.
Por fim, irmãos, algo que acredito
que precisamos muito muito em nosso rebanho: aprender a colher os frutos.
Parece, muitas vezes, que não cremos que exista um reino e que a obra dele
possui ciclos e um destes ciclos é a colheita. Não sei se é um excesso de
cuidado, mas muitas vezes, não partimos para ações de concretização porque
parecemos não crer realmente que Deus está aqui e que ele termina o que começa.
Assim, precisamos dar conta de
colher os frutos que plantamos quando nossos filhos eram pequenos e agora são
grandes e estão prontos para frutificar. Somos chamados a continuar obras que
iniciamos com a força do Senhor, crendo que a melhor maneira de glorificar o
Pai é colher os frutos que ele desenvolveu e deseja-los é um ato de amor a
Deus.
Irmãos amados, vamos orar e
pedir a Deus a maturidade que nos leva à humilde condição de cooperadores
obedientes do Evangelho poderoso. Para que o tempo todo façamos o que é bom e
no momento certo.
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