11 de fevereiro de 2018

Marcos 4.26-29

O Divino Crescimento do Reino
Marcos 4.26-29

Introdução
O capítulo 4 de Marcos é dedicado à ilustrar o que é o Reino dos Céus. Quatro parábolas são usadas para estabelecer o ensino de Jesus sobre o Reino. Em particular três delas se destaca e se se unem pela imagem temática, ligada à sementeira.
Na parábola do semeador, a diligência do semeador é o ponto em destaque, assim como os tipos de solos, sobre os quais as sementes caem. Nela há a ênfase na obra de semear, na mesma medida, em que se enfatiza a resposta dos corações. Já na parábola que temos diante de nós, a parábola da semente, a ênfase recai sobre a SOBERANIA DE DEUS na frutificação. Diferentemente, da primeira parábola, aqui não é apontado o esforço do semeador, tampouco a resposta do solo, mas a obra de Deus em fazer o seu REINO CRESCER.
Certamente, qualquer ênfase e apenas um dos aspectos é um erro. Precisamos da boa disposição para semear, isto é, fazer a nossa parte, assim como na resposta humana ou como Deus prepara o coração humano para responder, como também no fato de que tudo isto é absolutamente um resultado do misterioso agir divino.
Tendo em mente este grande mistério da soberania divina, precisamos considerar algumas verdades sobre o Reino que servirão como medida para entender e orientar o nosso trabalho no Reino de Cristo.
O grande ponto que precisamos cuidar aqui e Marcos parece desejar muito nos advertir ao equilíbrio é que não venhamos a pensar no REINO de CRISTO como algo sob os nossos domínios, um resultado exclusivo da CAPACIDADE HUMANA. Precisamos de uma forte medida de fé e confiança absoluta em Deus se desejamos ser bem sucedidos, isto implica em um cuidado tanto com A SOBERBA, quanto com A FALTA DE OUSADIA.
O texto trabalha com TRÊS ETAPAS do Reino:
1)    A germinação da semente;
2)    As etapas da frutificação da semente;
3)    A ceifa.
Da mesma forma que o próprio texto se estrutura, vamos considerar estas três fases em alguns detalhes.

O REINO CRESCE POR MEIO DE UMA OBRA MISTERIOSA DE DEUS
Disse ainda: o reino de Deus é assim como se um homem lançasse a semente à terra; depois, dormisse e se levantasse, de noite e de dia, e a semente germinasse e crescesse, não sabendo ele como (Marcos 4.26-27).
Algumas vezes, sofremos de um perigoso mal na vida cristã: soberba. Passamos a nos considerar o fundamento do sucesso da obra de Deus no mundo e confundimos o nosso papel e dons com o poder divino. Acho degradante qualquer cena de evangelistas arrogantes, auto centrados, que tentam convencer a todos ao seu redor de que o poder de Deus reside neles, em pessoa. Nada é tão diabólico, quanto um homem que se sente Deus.
O Reino de Deus - No texto, Jesus está dentro do barco instruindo a multidão e o seu tema é O REINO DE DEUS. Sabemos, especialmente por causa do ensino de Mateus, que ele falava em parábolas publicamente, mas aos seus discípulos ele dava alguns detalhes explicativos. Na primeira parábola, ele só conta a história e somente no esclarecimento diz que aquela história é uma metáfora, uma parábola sobre O REINO DE DEUS. No entanto, nesta parábola, Marcos explicita o conceito. Este conceito é importante, especialmente nesta parábola, porque ela aponta para a natureza divina deste reino, portanto é significativo que ele não SEJA CONSIDERADO REINO DOS HOMENS, OU REINO DA FÉ, mas REINO DE DEUS.
Semelhante a um homem que semeia, mas dorme e acorda e a semente cresce sem que ele saiba como – O ponto de Jesus aqui é que existe por detrás de todo o desenvolvimento histórico do reino uma ação misteriosa, oculta dos olhos dos homens, uma força que não pode ser medida pelo que o homem faz ou é capaz de aferir, que realmente é quem produz os resultados do Reino de Deus. Neste sentido, Paulo havia dito que o trabalho de um e de outro é coroado por uma obra soberana de Deus.
Eu plantei, Apolo regou, mas o crescimento veio de Deus. De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento (1Coríntios 3.6-7).
Precisamos desenvolver este tipo de percepção de quem somos nós e quem é o DEUS a quem servimos e como qualitativamente, ele absolutamente superior a nós. Precisamos ser humildes e lembrar duas coisas importantes:
1)    EU NÃO CONSIGO FAZER O REINO SER MELHOR E MAIS PODEROSO DO QUE É
2)    EU NÃO CONSIGO FAZER O REINO SER PIOR OU MENOS PODEROSO DO QUE É
 Não que eu não tenha algum papel, mas eu sempre tenho um papel coadjuvante nesta obra. Porque a personagem principal de todo o enredo é o SENHOR.
Dorme, acorda – dia e noite – um processo histórico sequencial, que envolve a vida diária do homem. O reino dos céus tem um desenvolvimento histórico não controlado pelos homens. Ainda que sejamos nós os instrumentos por meio do qual a história vem à luz, somos apenas ferramentas de Deus. Devemos nos conscientizar disto, para não pensarmos além nem aquém do que convém pensar sobre o Reino dos céus.
A semente germina e cresce – a um processo de desenvolvimento espiritual no Reino de Deus. Desta forma, devemos considerar que todo o processo de amadurecimento da obra de Deus é divinamente controlado. Ainda que sejamos nós quem revelamos, por meio da nossa vida, o desenvolvimento espiritual do reino, ele não é limitado a nós e à nossa capacidade de fazer coisas para Deus. O que realmente é determinante é um mistério que não podemos controlar e muitas vezes, nem discernir.
Não sabendo ele como – aqui, Jesus propõe o conhecimento final sobre a ação do homem na obra do Reino de Deus, isto é, em um ponto de absoluta consciência, precisamos considerar o fato de que é UM MISTÉRIO PARA NÓS, como Deus realmente age. Irmãos, na verdade, se formos realmente considerar estas coisas, logo reconheceremos um fato, que a julgar pelo que somos e como somos, o Reino de Deus, se realmente dependesse de nós, de nossa criatividade, nossa capacidade de ação, nosso interesse e nossa disposição para a obra, há muito TERIA FALIDO.
Sim é uma vergonha que sejamos tão incapazes de nos envolver com algo tão sublime, necessário, verdadeiro e real. Mas, por outro lado, é importante que reconheçamos que o REINO DE DEUS é fruto de uma obra muito maior do que eu e você seríamos capazes de conceber.
O CRESCIMENTO DO REINO DOS CÉUS É CERTO PORQUE É UMA OBRA MISTERIOSA DO PODER DE DEUS.   

O REINO CRESCE GRAÇAS A UM PODER FRUTIFICADOR QUE DEUS PÕE NA SEMENTE
Devemos considerar que Jesus está dando continuidade a um pensamento sobre o Reino de Deus, portanto, o que a parábola do semeador propõe, deve ser considerado como base para esta parábola também, especialmente neste caso de semelhança temática da ilustração. Devemos, por isso, também considerar que a semente que cresce e frutifica é a PALAVRA DE DEUS.
O semeador semeia a palavra (Marcos 4.14).
Considerando, portanto, esta semente tão preciosa, no verso 28, o temos é como esta semente plantada é capaz de produzir por si só.
A terra por si mesma frutifica: primeiro a erva, depois, a espiga, e, por fim, o grão cheio na espiga (Marcos 4.28).
A terra por si mesma frutifica -  Nesta expressão, Jesus não está apontando alguma qualidade da terra, mas ele está dizendo que a terra não precisa de uma ajuda externa. Ela não precisou de adubo, recondicionamento químico do solo, ou o próprio trabalho do agricultor. A semente caiu e frutificou, porque o poder da frutificação é da semente. Note que o termo frutificar aponta para um resultado que não tem a ver com a natureza da terra, mas da semente.
Erva – espiga – grão cheio – A frutificação da terra, a que Jesus se referiu no início do versículo, na verdade é um desenvolvimento do potencial da própria semente, que começa gerando uma pequena planta, que amadurece gera uma espiga, a qual se desenvolve, gerando uma multidão de novas sementes.
Precisamos considerar o real poder da Palavra que pregamos. Marcos está construindo uma mentalidade na Igreja. Afinal, nos dias em que foi escrito este evangelho era necessário confiar na mensagem que deveria ser anunciada no mundo inteiro. O poder da Igreja não estava nos homens, nos apóstolos, nem na força social da igreja, o poder da Igreja está na semente que ela lança.
Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego (Romanos 1.16).
A consciência do PODER DA PALAVRA é o centro da confiança da PRESENÇA DO REINO. A Palavra de Deus cumpre todo o designío de Deus e vem para produzir o fruto que Deus quer que produza, no seu tempo e na sua forma e intensidade.
Ano passado, estávamos no Vale do Anhangabaú e e Ana Beatriz (minha filha). Ouvimos o sermão do REv. Hernandes e ele falou sobre o poder do Espírito Santo. Sua mensagem parecia muito voltada para o não crente e comentávamos sobre o fato de que, ali só havia crentes, então, aquela palavra não seria tão produtiva. A uma certa altura ele disse: O ESPÍRITO SOPRA ONDE QUER.
Ao final da mensagem o REv. Hernandes fez um apelo. Eu pensei que aquele seria o máximo da falta de senso sobre o público presente. De repente, atendendo ao apelo do pastor, uma multidão foi à frente e se entregou a Cristo, ou refez os seus votos de vida com o Pai. Ana Beatriz olhou para mim e disse assim: REALMENTE O ESPÍRITO SOPRA ONDE QUER.
O poder da Palavra de Deus deve nos encorajar a servir ao Reino. O poder do Reino é o poder da Palavra. Na parábola, isto é o que Jesus está apontando. Que a semente carrega o poder de Deus e se desenvolve a partir de si mesma. Não precisamos ter medo algum, pois nossa parte está na fidelidade da entrega da semente e o restante a própria palavra faz.
O Reino Cresce não por que descobrimos uma metodologia de tornar a Palavra mais apropriada às pessoas. A Palavra é apropriada porque ela é espiritual poderosa e capaz de cumprir todo o propósito de Deus. O Reino Cresce quando nós deixamos a Palavra, a semente, cumprir o seu papel.

O REINO CRESCE E DEVEMOS NOS PREPARAR MELHOR PARA COLHER
O processo natural agrícola indica que em algum momento é chegada a hora da colheita. Saber a hora de colher frutos não é tão simples como pode parecer. Afinal, sempre há o risco de perdermos o prazo e colhermos o produto tarde demais e, em lugar de frutos bons, colhemos frutas já podres e passadas. Também há o risco de anteciparmos o tempo e colhermos frutos antes da hora e, portanto, frutos ainda não prontos para serem usados como alimento.
No último final de semana, comemoramos nosso 59º aniversário. Em primeiro de Janeiro de 1959, nossa igreja foi organizada pelo Conselho da IP Brás. Antes disto, em 1942, começamos uma jornada com algumas famílias em uma vila distante do centro e ainda incipiente. A semente foi lançada e pouco a pouco foi sendo transformada, uma erva, uma espiga e depois muitos outros grãos – um ponto de pregação, uma congregação e uma igreja pronta para plantar outras.
Irmãos, devemos tomar muito cuidado com o problema de não sabermos exatamente o momento de colher. Por isso, precisamos desenvolver uma clara noção de tempo entre plantio e colheita, a fim de cumprirmos bem a nossa tarefa.
E, quando o fruto já está maduro, logo se lhe mete a foice, porque é chegada a ceifa (Marcos 4.29).
Este é o propósito de nossa realidade espiritual e de nosso trabalho: frutificar. Quando é que sabemos que realmente o Reino está entre nós, quando Deus nos mostra os sinais de que ele amadureceu. Este tempo de ceifa dos frutos é parte integrante da nossa responsabilidade de devemos saber fazer bem isto.
Quando o fruto está maduro – precisamos começar a olhar para este ponto e deseja-lo, o amadurecimento. ÀS vezes, permitimos que um certo comodismo tome conta da nossa vida no reino. Deixamos de pensar no alvo e, consequentemente, deixamos de buscar o crescimento, o amadurecimento da semente. Isto é, deixamos de trabalhar para que a Palavra alcance o mais importante papel, para o que foi designada como ferramenta da Igreja: a colheita.
Devemos cuidar para não nos tornarmos uma igreja precipitada na colheita e recolhermos frutos ainda não prontos, ou uma igreja desleixada que perde a oportunidade de uma boa safra.
A foice – tão importante quanto a enxada para que lança as sementes é a foice para quem precisa entrar e retirar frutos. Aqui Jesus não está falando de nenhum tipo de violência, mas de uma habilidade para agir com os instrumentos certos, na hora certa e aproveitar o melhor momento para colher.
O desenvolvimento da seara, na produção natural das sementes, deve nos levar ao momento da colheita e precisamos aprender a fazer o que é necessário para este momento. Afinal, podemos errar muito se não formos capazes de aprender a colher.
Porque é chegada a ceifa – O tempo da ceifa não é uma escolha de quem lança a semente, mas segue o curso natural da semente no seu desenvolvimento. Nesta parábola, Jesus está apontando aos seus discípulos a necessidade de começar a obra de Deus e terminar. Desta forma, Marcos está visualizando muitos irmãos e irmãs que começam o serviço a Deus e não completam carreira, não são capazes de fechar ciclos e não se importam com isto.
Preste muita atenção para o fato de que eu e você devemos almejar o trabalho do reino e não podemos nos esquecer de que ele tem começo, meio e fim. Parar antes da hora ou tentar superar etapas de forma precoce pode ser um grande erro. Frequentemente encontramos crentes que sabem iniciar tarefas, mas não sabem concluí-las. Isto requer perseverança, paciência e atenção.
O Reino cresce e precisamos nos preparar para a colheita. Este é o alvo de toda boa obra.

Conclusão
Jesus aqui propõe uma ideia muito clara de que estamos a serviço de Deus e não de nossas vontades. Ele é quem controla a obra que nos deu para fazer e não podemos realiza-la se não estivermos atentos ao processo de suas ações no Reino.
Caros irmãos, precisamos tanto que nossa igreja seja mais efetiva na obra do Reino. Somos uma boa igreja do Senhor e temos provas históricas de que Deus está em nosso meio e agindo nesta obra. Contudo, precisamos ser mais cuidadosos e atentos nos acontecimentos.
Essa parábola é um ensino que deve nos ajudar a evitar a soberba de querer fazer as coisas do nosso jeito, crendo que exista algum poder em nós. O poder com que lidamos não está em nós, em nossos métodos ou qualidades pessoais, o poder está no próprio Deus, na sua própria Palavra poderosa, a semente do evangelho.
Também não podemos nos amedrontar. Não devemos pensar que somos falhos demais para uma tarefa tão elevada e, tímidos e receosos nos ausentarmos da tarefa de semear e levar adiante o reino de Deus. O grande poder da semente do evangelho deve ser a nossa mola propulsora e devemos crer tanto neste poder que aceitamos o desafio da seara.
Por fim, irmãos, algo que acredito que precisamos muito muito em nosso rebanho: aprender a colher os frutos. Parece, muitas vezes, que não cremos que exista um reino e que a obra dele possui ciclos e um destes ciclos é a colheita. Não sei se é um excesso de cuidado, mas muitas vezes, não partimos para ações de concretização porque parecemos não crer realmente que Deus está aqui e que ele termina o que começa.
Assim, precisamos dar conta de colher os frutos que plantamos quando nossos filhos eram pequenos e agora são grandes e estão prontos para frutificar. Somos chamados a continuar obras que iniciamos com a força do Senhor, crendo que a melhor maneira de glorificar o Pai é colher os frutos que ele desenvolveu e deseja-los é um ato de amor a Deus.
Irmãos amados, vamos orar e pedir a Deus a maturidade que nos leva à humilde condição de cooperadores obedientes do Evangelho poderoso. Para que o tempo todo façamos o que é bom e no momento certo.


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