O Rei Nos Chamou Para Sermos Sua Família
Efésios 4.1-6
(ÚLTIMO SERMÃO COMO PASTOR DA IP VILA FORMOSA - 30 DE DEZEMBRO DE 2018)
Introdução
Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai, de quem toma o nome toda família, tanto no céu como sobre a terra (Ef 3.14-15).
No capítulo primeiro, Paulo trata do tema da “adoção de filhos” no qual, por meio da obra do seu amor em Cristo, Deus Pai, nos separa para sermos seus filhos, por meio do sacrifício de Cristo.
Bendito o Deus e pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo Jesus, assim como nos escolheu nele, antes da fundação do muno, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade (Ef 1.3-5).
Esse conceito fica ainda mais claro quando ele trata do modo como Deus une judeus e gentios, rompendo os muros de divisão entre estes povos, unificando-os em Cristo, por meio da obra santificadora do Espírito Santo:
E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe e paz também aos que estavam perto; porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito. Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus (Ef 2.17-19).
Pensando na Igreja como a família de Deus, precisamos considerar o que Deus espera de sua família. O que Pai requer de seus filhos e como espera que ela se comporte em sua caminhada na terra.
Por isso, olhando para este texto do capitulo 4, versos 1 a 6, vamos buscar entender o que Deus espera de seu povo e como deseja que seus filhos se ajuntem para ao louvor da sua glória. O Rei da glória, Jesus Cristo, conduz filhos ao Pai e nos chama para compreender este CHAMADO PARA SER SUA FAMÍLIA.
QUANDO O REI NOS CHAMA PARA SERMOS SUA FAMÍLIA ELE ESPERA QUE TENHAMOS COMPROMISSO COM ESTE CHAMADO
Não tem como não perceber claramente que Jesus nos faz filhos de Deus por meio de uma obra espiritual, mas exige de nós um comprometimentos moral com esse chamado. Em outras palavras, nosso NOVO NASCIMENTO é uma obra divina monergista, ou seja, Deus opera com o poder transformador e regenerador do Espírito Santo, mas nossa SANTIFICAÇÃO é um concursos sinergético, Deus opera em e através de nossas forças e coração.
Rogo-vos, pois eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados (Efésios 4.1).
Rogo-vos, pois, que andeis de modo digno da vocação- Diante de toda a exposição anterior, na qual Paulo trata do modo maravilhoso por que se manifestou a nossa união com Cristo, em seu sacrifício e pelo poder do Pai, que nos elege, adota, santifica, faz habitar o Espírito; o mesmo que ressuscitou Cristo e o colocou no centro de tudo, unindo-o à Igreja para exercer seu poder redentivo; o mesmo Pai que nos dá vida em Cristo, perdoando nossos pecados gratuitamente nEle, nos designa para boas obras e nos une uns aos outros em um só corpo etc. Diante de toda essa profunda exposição da nossa unidade em Cristo, Paulo conclama a Igreja a compreender a importância de toda essa obra, por meio de uma vida de consagrado empenho no seu andar diário como filhos do Pai.
QUANDO O REI NOS CHAMA PARA SERMOS SUA FAMÍLIA ELE ESPERA QUE TENHAMOS COMPROMETIMENTO UNS COM OS OUTROS
Paulo é um dos maiores exemplos de compromisso com os irmãos. Sua dedicação pastoral às igrejas e aos irmãos são exemplos de como devemos cuidar uns dos outros, se necessário, em prejuízo de nossos sonhos e anseios pessoais. Ele, deixou tudo para servir ao Corpo de Cristo. Ele compreendeu a importância e a necessidade dessa decisão de vida.
Com toda humildade e mansidão com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor (Ef 4.2).
Humildade, Mansidão, longanimidade – Suportando uns aos outros em amor– Claramente Paulo está tratando de um chamado dirigido pelo Espírito Santo, usado os frutos do amor e os afetos que ele nos dá como base da manifestação da nossa nova vida, evidência clara do nosso chamado. Uma igreja sem o fruto do Espírito é uma igreja que precisa se perguntar se de fato é igreja de Cristo?!
O resultado mais óbvio da presença do Espírito na Igreja é a sua capacidade de manifestar amor entre as partes do Corpo. Esse é o que ele mesmo vai chamar de movimento de auxílio entre as juntas e medulas que produzem crescimento, proveniente do amor.
O comprometimento como o nosso chamado é COMPROMETIMENTO UNS COM OS OUTROS. Fomos chamados para manifestar a unidade do corpo de Cristo, como testemunho da presença de Deus, Cristo e do Espírito em nós.
QUANDO O REI NOS CHAMA PARA SERMOS SUA FAMÍLIA ELE ESPERA QUE TENHAMOS COMPROMETIMENTO COM A UNIDADE E A PAZ
Na verdade, não estamos falando de dois temas distintos, mas de um único tema: A PAZ QUE SE MANIFESTA NA UNIDADE. Fomos criados para manifestar a PAZ e cuidar da PAZ no mundo criado por Deus. O Ser Humano era o grande VICE-REGENTE, por meio do qual, a perfeição de Deus se manifestaria neste mundo, pelo funcionamento pacífico e bem sucedido de toda obra criada, inclusive os relacionamentos humanos.
Quando o pecado entra no mundo, uma guerra é declarada, uma inimizade é iniciada. Primeiramente, contra Deus, pois o homem se coloca em oposição ao seu Criador; em segundo lugar uma guerra entre o homem e o seu semelhante, basta perceber como Adão acusou Eva, Caim matou Abel, Lameque matou tantos outros etc; por fim, foi declarada uma guerra contra a própria Criação natural, pois o homem passou a lidar com as dificuldades para sujeitar a terra e retirar dela a produtividade shalomica, dificuldade simbolizada nos espinhos e abrolhos.
A separação da torre de Babel é um ponto importante deste grande lição, pois ali, Deus separa os povos. Na descida do Espírito Santo em Pentecostes, ele faz o contrário, ele os une na Palavra.
Paulo está falando dessa unidade dos povos, na união dos gentios em uma mesma família com os judeus. Unidade que é mais que um mero ajuntamento social, um acordo geopolítico entre nações diferentes. Essa unidade é espiritual em Cristo.
Esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz (Ef 4.3).
Esforço diligente– Esse é um único tema: a nossa paz com Deus exige paz com os irmãos e isso redunda em uma unidade do corpo. O dever de todo crente é PRESERVAR E SE ESFORÇAR DILIGENTEMENTE para manter essa unidade. Toda vez que um irmão, inadivertidamente se levanta contra essa unidade, está lutando em terreno minado, muito perigoso e, com muita chance de estar errado. Qualquer um que luta contra a unidade do povo de Deus precisa cuidar muito para não estar agindo contra Deus. Digo “cuidar muito” porque pode ser que em algumas vezes, precisemos lutar contra uma falsa paz, que se faz em torno de falsas concepções de unidade. Mas todo trabalho desta natureza precisa ser muito, muito equilibrado e controlado pela palavra e a oração.
Preservar a unidade do espírito no vinculo da paz– Paulo está informando a Igreja que aquela unidade entre gentios e judeus era a prova cabal de que o Espírito Santo era presente naquele grupo em Éfeso. Eles deveriam compreender como a vontade do Espírito Santo que estivessem unidos.
Quando ele nos chama para sermos sua família deseja que estejamos compromissados com a unidade e com a paz da igreja.
QUANDO O REI NOS CHAMA PARA SERMOS SUA FAMÍLIA ELE ESPERA QUE TENHAMOS COMPROMETIMENTO COM A TEOCENTRIZAÇÃO DA NOSSA VIDA
Um dos grandes temas dessa carta é a CENTRALIDADE DE DEUS POR MEIO DA CENTRALIDADE EM CRISTO. Logo no capítulo 1, Paulo nos diz que o PAI revelou no ápice dos tempos o FILHO, a quem fez herdeiro de todas as coisas e NELE fez COVERGIR toda a realidade material e não material.
Desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra (Ef 1.9-10).
E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à Igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas (Ef 1.22-23).
A teocentrização da realidade é um dos temas centrais da carta. Esse tema é principalmente caracterizado no modo como os FILHOS DE DEUS SE CONDUZEM NA VIDA, levando toda a sua realidade a ser uma resposta a este chamado TEORREFERENTE.
Isto, portanto, digo, e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheias à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração (Ef 4.17-18).
Fora estes textos, podemos ver essa TEORREFERENCIA DA VIDA nos ensinos sobre os que são da luz e os que são das trevas no capítulo 5, ou ainda a luta do cristão no capítulo 6.
Aqui, no nosso texto, o ponto alto do argumento é nos mostrar que a CENTRALIDADE EM DEUS É UMA REALIDADE IRREFUTÁVEL QUE DEVE SER VIVIDA.
Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos (Ef 4.4-6).
Há somente um– a expressão que domina as afirmações seguintes é esta: “há somente um...”. Aqui dois temas são primordiais: o TEMA DA REAL EXISTENCIA DE UM – trata-se de uma declaração solene: HÁ UM... O outro tema primordial é o TEMA DA SINGULARIDADE EXISTENCIAL deste que há: HÁ UM, MAS HÁ SOMENENTE UM.
Como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação- Essa realidade singular de Deus é real, como real é o nosso chamado para viver essa verdade. Nossa vocação inclui o pensar de forma clara sobre a existência dessa singularidade de Deus, a ponto de nos conduzir à fidelidade total a Ele.
Um só SENHOR – FÉ – BATISMO – DEUS E PAI DE TODOS– Estas afirmações controladas pela EXISTENCIA SINGULAR AFIRMADA NO INÍCIO são expansões do pensamento que Paulo deseja que os crentes considerem. Senhor, como a realidade de uma só fonte de governo na nossa vida; Fé, como a ideia de um só caminho de crença; Batismo, como um compromisso único de devoção e entrega; DEUS PAI DE TODOS – por fim o tema direto da teocentrização.
O QUAL AGE POR MEIO DE TODOS E ESTÁ EM TODOS– partindo do pressuposto da realidade singular inequívoca de Deus, é necessário que saibamos que a nossa unidade é uma manifestação da sua presença. Ele está em todos e age em nossa vida usando as pessoas e nos usando para as abençoar.
Irmão uma IGREJA TEORREFERENTE VIVE PARA SER INSTRUMENTO DE DEUS. Precisamos de comprometimento com este chamado.
Conclusão
Meus irmãos, quando eu preguei o meu primeiro sermão em Vila Formosa, preguei na Carta aos Efésios. Lembro-me bem que usei como tema, o mesmo que o grande John Stott deu à carta, em um dos seus livros, que foi meu auxílio naquela ocasião: A NOVA HUMANIDADE EM CRISTO. Certamente, este Sermão Escrito eu tenho os rascunhos dele, guardado em minha mudança, devo localizá-lo qualquer hora.
Naquela oportunidade, preguei um sermão que era um resumo de toda a carta. Bem ousado por sinal! Soube, depois, que um irmão comentou com o Rev. Abel: “se continuar pregando assim, em um ano não terá mais o que pregar”. Claro que tinha um tom de crítica, mas todo pastor iniciante precisa de algumas críticas para ficar mais atento... Eu dou graças a Deus pela vida deste irmãos, que hoje já está com o Senhor e depois se tornou nosso intercessor, junto ao Pai. Não se tratava de um mal crente ou algum crente que trouxe problema, graças a Deus.
Hoje, meu último sermão de domingo como pastor da Igreja volto a Efésios. Claro que já preguei em outras ocasiões nessa mesma carta. Mas hoje volto à Carta da NOVA HUMANIDADE EM CRISTO.
Quero dizer que ESSA NOVA HUMANIDADE EM CRISTO É A IGREJA DO SENHOR. A nossa responsabilidade de vivermos o nosso chamado é enorme e não podemos, não temos o direito de abrir mão disto.
Quero pedir à IGREJA PRESBITERIANA DE VILA FORMOSA QUE SE COMPROMETA COM ESSE CHAMADO E QUE SIRVA AO NOSSO ÚNICO SENHOR COM AMOR, REVELANDO SUA PRESENÇA GLORIOSA NA UNIDADE E NA PAZ DO REBANHO.
Estou seguindo para uma outra igreja e confesso que fiquei tentado em pregar no texto de Atos 20, quando Paulo, chega a Mileto, caminhando para sua última viagem, no caso última mesmo e chama seus grandes amigos, os presbíteros de Éfeso para uma emocionante despedida. Mas, achei que não aguentaria abordar todos os temas como Lucas o fez ali e não conseguiria terminar o sermão.
Mas da mesma forma quero hoje contar com suas orações e lhes prometer orar pelos irmãos, rogando que sejam diligentes em tratar as coisas de Deus e suplico a vocês irmãos que se emprenhem na fé e no crescimento do Corpo para a glória de Cristo, para serem modelos para outros e mostrarem ao mundo UMA NOVA HUMANIDADE CHEIA DE AMOR, CENTRADA NA VONTADE DE DEUS.
“Tendo dito estas coisas, ajoelhando-se, orou com todos eles. Então, houve grande pranto entre todos, e, abraçando afetuosamente à Paulo, o beijavam, entristecidos especialmente pela palavra que ele dissera: que não mais veriam o seu rosto. E acompanharam-no até o navio (At 20.36-38).
Claro que nem tudo o que aconteceu com Paulo está acontecendo aqui entre nós. Mas gostaria de poder repetir aquilo que é possível. Quero convidar todos os presbíteros a virem à frente comigo, para ajoelharmos e orarmos. Estes, representando toda Igreja, porque vocês todos sabem que eu os amo no Senhor.
Felizmente, não estou indo para Roma para ser preso ou decaptado. Estou apenas seguindo para outra igreja, por um tempo, quem sabe, Deus o sabe. Nos encontraremos outras vezes depois disto, mas o sentimento de afeição é tão grande quanto aquele entre Paulo e os seus irmãos de Éfeso.