28 de março de 2011

Lucas 11. 1 a 13 - Princípios Para Uma Vida Devocional

Foco da Nossa Condição Decaída
Uma das maiores necessidades da alma humana é a do alívio do contato com Deus. Os crentes, em particular, devem sentir no contato com Deus o mesmo que alguém se afogando, sente quando um salva vidas, consegue tirá-lo das profundezas das águas para a superfície. Mas, nem todos sabem como satisfazer esse anseio da alma em Deus e o motivo é porque nem todos conhecem os princípios básicos da vida devocional. Nosso texto, é uma resposta de Jesus a um pedido dos discípulos. Para Lucas, uma continuação natural do episódio ocorrido na casa de Marta e Maria, uma espécie de resposta de Deus ao anseio de seus discípulos sobre o melhor modo de se colocar na presença de Deus. Aprendamos esses princípios e respiremos a atmosfera preciosa da presença de Deus em nós. 

Contextualização
Como já disse, creio que a passagem do capítulo 11. 1 a 13, para Lucas serve como complemento interessante do episódio ocorrido na casa de Marta e Maria. Ali, podemos observar o contraste entre uma pessoa que vive ao lado de Jesus e não desfruta da sua preciosa presença, naquilo em que mais é necessário e aquela pessoa que consegue abstrair-se de tudo ao seu redor para envolver-se mais pessoal e intimamente com o Senhor.
Um princípio maravilhoso se estabelece nos versos 41 e 42:
“Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada” (Lucas 10. 41 e 42).
Nem todos alcançaram esse conhecimento, o de saber dar valor à vida devocional, que é a entrega pessoal e a dedicação da atenção a Deus e ao seu Reino. Infelizmente, as pessoas pensam em vida devocional como apenas uma regra de leitura bíblica, de oração ou jejum. Mas, na verdade, a vida devocional é a capacidade de colocar a vida sob a ótica do Reino de Deus e a disposição de viver esse padrão. Requer amadurecimento e disposição para insistir em uma mudança real na mente, que ainda procura pensar dentro das quatro linhas da existência humana natural, sem discernir a realidade espiritual do Reino de Deus e do relacionamento necessário que temos de ter com Ele.
No nosso texto desta noite, veremos que Jesus propõe aos seus discípulos princípios fundamentais para esse tipo de vida devocional. O princípio da realidade presente e determinante do Reino; O Princípio da Dependência e Abundância Total do Reino; e o Princípio da Bondade e Objetivos de Deus.

O Princípio da Realidade Presente e Determinante do Reino
Na primeira parte do nosso texto, versos 1 a 4, temos a conhecidíssima “Oração do Senhor” (Oração Dominical). Neste ponto, Lucas está que Jesus ensinou os seus discípulos a orar.
A oração ensinada por Jesus é apenas um modelo. Insistimos em dominicalmente orar o “Pai Nosso” por alguns motivos: o primeiro é a fortalecimento da nossa consciência coletiva em relação ao Reino de Deus e nossa ligação com Cristo como Mestre; a segunda é que nossas crianças aprendam a orar, pois infelizmente, muitos lares deixaram de lado o ensino das coisas básicas da fé.
Evitaremos fazer a comparação deste texto com o de Mateus e as suas diferenças. Tristemente, o nosso tempo não permite que abordemos isso aqui. Espero que vocês se disponham a estudar essas diferenças em outras ocasiões.
Neste modelo de oração, quando analisamos o contexto da passagem é importante que a gente se lembre que o Lucas está propondo é uma maneira de ver a própria vida. Quando você vê o princípio estabelecido no texto anterior de Marta e Maria, você irá perceber que Jesus está nos mostrando como nos aproximar de Deus.
A primeira coisa que destacamos nessa aproximação é a consciência da realidade de Deus e do seu Reino. Na passagem, não existe nenhuma busca pelo discernimento do Reino ele simplesmente é apresentado de forma total: “SANTIFICADO SEJA O TEU NOME” e “VENHA O TEU REINO”.
Essas duas expressões falam da realidade do Reino de Deus. A santificação do Nome de Deus é a exaltação de seu nome sobre todos os nomes. Quando a Bíblia fala desta forma, aponta para os poderosos. Esse nome aponta para a excelência do Rei, que trará consigo o seu Reino.
A realidade do Reino de Deus, também determina a minha própria realidade. Por isso, nas petições que se segue, os discípulos são estimulados a pedir para que sua provisão diária e até mesmo os seus relacionamentos com o próximo e o próprio modo de vida na terra, sejam determinados pela presença do Reino.
Como a expressão “O PÃO NOSSO COTIDIANO DÁ-NOS DE DIA EM DIA”, esse é o intuito do evangelista, que o discípulo faça a ligação necessária entre a presença do Reino e a suficiência e abundância do mesmo para cuidar. Ou seja, a minha realidade do dia-a-dia passa a ser controlada pelo Reino de Deus.
Em seguida o evangelista propões que nossos relacionamentos sejam também determinados pelo modo de relacionamento do Reino. Como fraseologia bíblica aparece na seguinte ordem: “PERDOA-NOS OS NOSSOS PECADOS, POIS TAMBÉM NÓS PERDOAMOS A TODO O QUE NOS DEVE”, muitos tendem a pensar que o perdão de Deus é derivado do nosso agir. Certamente você sabe que as coisas não são assim.
O que podemos aprender dessa expressão é a íntima relação que tem o meu relacionamento com Deus e o meu relacionamento como o meu próximo. Para Lucas, os crentes deveriam deixar sua vida de relacionamento com os irmãos, que sempre envolverá a presença do pecado e das feridas causadas por ele, serem determinados pela presença do Reino em nosso viver.
Para mim, a idéia de Lucas é a de dizer assim: QUE O SENHOR VEJA NOSSO ARREPENDIMENTO E NOS PERDOE E SE SINTA BEM CONOSCO, COMO NÓS NOS SENTIMOS BEM EM PERDOAR OS NOSSOS IRMÃOS. Quero deixar bem claro que não estou propondo uma tradução, mas uma maneira de expressar o sentimento do texto.
Por fim, “NÃO NOS DEIXES CAIR EM TENTAÇÃO”. Uma tradução literal é “NÃO NOS INDUZA À TENTAÇÃO”. Lucas admite, como os demais escritores do Novo Testamento, que todas as coisas que acontecem na vida do crente são fruto da ação bondosa e generosa de Deus, até mesmo os momentos difíceis em que somos provados pelas muitas tentações.
Para Lucas, o espírito que Jesus disse que devemos ter é o de nunca nos arriscar a viver sem a mentalidade do Reino, sem a consciência de sua presença. Por isso, é de extrema importância que fujamos de tudo aquilo que nos leve para longe de Deus e que nos faça amar qualquer outra coisa em lugar de Deus e que nos distraia no interesse de viver para o Reino de Deus. Do mesmo modo como Marta estava agindo.

O Princípio da Dependência e Abundância Total do Reino
Neste ponto é importante compreendermos bem a estrutura do texto que se trata da proposição de uma pergunta retórica e uma breve resposta. Note que o verso 5, Jesus propõe uma situação hipotética, mas que poderia ser bastante factível para qualquer um dos seus ouvintes.
Note que a situação é introduzida com uma pergunta, que não tem um fechamento:
“Qual dentro vós, tendo um amigo, e este for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, pois um meu amigo, chegando de viagem, procurou-me, e eu nada tenho que lhe oferecer. E o outro lhe reponde lá de dentro dizendo: Não me importunes; à porta já está fechada, e os meus filhos comigo também já estão deitados. Não posso levantar-me para tos dar (’?’). (Lucas 11.5 a 7).
Você pode perceber que de fato uma pergunta está sendo feita, em uma proposta de situação hipotética. Eles entenderiam que a situação só teria uma resposta, ou seja, bem é possível que um qualquer não desse pão, mas um amigo se levantaria para ajudar o amigo que precisa, isso com certeza.
Então, Jesus tendo em mente sua resposta óbvia faz a aplicação de um princípio importantissimo do relacionamento com Deus. Ele o faz aplicando os dois lados dessa história: a necessidade do pedinte e a abundância do amigo que assiste ao outro.
Quando Jesus utiliza essa situação hipotética e essa pergunta retórica, ele tem em mente um tipo de resposta óbvia, entretanto, antes desta resposta é necessário destacar que o pedinte, não tem aonde ir, ou a quem recorrer, senão na casa de seu amigo. 
O horário é importante para dramatizar essa questão da necessidade e a impossibilidade de outros recursos. Neste momento, sua única saída é essa. O que Jesus destaca, como quando no princípio estabelecido no final do capítulo 10 é que, somente Deus pode me oferecer o que minha alma realmente necessita. Lembro-me da maneira como Agostinho de HIpona exemplificou essa verdade: "Minha alma só encontra descanso em Ti". Da mesma forma o mavioso cantor de Israel entoou no Salmo: "Outro bem não possuo, senão a Ti somente". 
Este é um aspecto extremamente importante: nós precisamos de Deus, e somente ele é capaz de satisfazer o anseio da alma, nada mais. Dinheiro, fama, poder, sucesso, reconhecimento social etc, podem ser coisas boas e agradáveis, mas são incapazes de satisfazer e completar a nossa vida, dando-lhe significado eterno. 
O outro aspecto importante desta parte da parábola é a suficiência e abundância de Deus em nos conceder muito mais do que pensamos ser possível. 
Isso é observado no conteúdo da aplicação que Jesus faz desta pequena história. Ali, diz o texto que o amigo não dará apenas o que ele havia pedido, mas tudo o que ele tiver de necessidade. A idéia é semelhante àquela aplicada na porção posterior, ou seja, Deus é esse amigo, por isso, vale a pena insistir. 
A resposta obvia que Jesus trabalha é que um amigo verdadeiro, não deixará o outro sem assistência. Assim, Deus não se recusará a assistir os seus filhos e nos dará muito mais, na verdade, Ele suprirá toda a nossa necessidade.
Esse princípio da vida devocional é aquele que me faz refletir que Deus é meu único verdadeiro recurso e que em nenhum outro eu encontrarei o descanso que NEle eu desfruto.  



Princípio da Bondade e Objetivos de Deus.
Infelizmente, a oração tem se transformado num problema de relacionamento com Deus. Pois, os crentes têm se disposto a orar apenas por causa de suas necessidades prementes, com os objetivos errados e uma dificuldade muito grande para entender o propósito da oração.
Tiago acabou escrevendo que um dos motivos para não termos respondidas as nossas orações é que elas estavam exageradamente centradas em nós mesmos.
“Nada tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres. Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tiago 4.2 a 4).
Infelizmente essa é a realidade de muitos crentes e até mesmo de muitos bons crentes. Pessoas que levam Deus à sério, não sabem como viver a atmosfera de sua presença e não sabem de que modo devem se relacionar com Ele de um modo que lhes traga crescimento em graça. Mais ou menos como Marta, vocês podem notar que o princípio é o mesmo.
Quando estamos por demais inquietos com as coisas deste mundo, perdemos de vista o valor de eternidade presente em cada uma das coisas que fazemos. Nossos planos, nossas opiniões, nossas ações, sentimentos, palavras, tudo em nós passa a ser determinado pelo crivo da nossa mente carnal e da nossa expectativa carnal da vida.
Não estou falando de coisas ruins em si, mas de uma limitada forma de enxergar a vida e os seus propósitos. Por isso, quando as coisas não acontecem exatamente como esperamos, há uma reação tão dolorida em nossa alma e uma penumbra toma conta dos nossos olhos e não andamos por fé, mas por vista.
Essa é uma lição significativa para todos os crentes que conviveram com Lucas, pois todos eles, no tempo da Escrita deste Evangelho, conheciam alguém, ou estavam eles próprios passando ou à ponto de passar por momentos de muitas lutas materiais. Era importante para eles que a fé em Cristo os guardasse de tropeçar e sua decisão de viver para Deus continuasse firme.
A oração se constituiria num dos mais importantes instrumentos para a alimentação da fé. Lucas, então, lhes propõe a pensar no que Jesus propõe: Uma visão da bondade de Deus e dos objetivos da sua obra:
Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á. Qual dentre vós é o pai que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir um peixe, lhe dará em lugar de peixe uma cobra? Ou, se lhe pedir um ovo lhe dará um escorpião? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai Celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem? (Lucas 11.9 a 13).
É muito infeliz a teologia que ensina que este texto é uma garantia do poder do crente para pedir qualquer coisa e viver com Deus agarrado a este mundo e às coisas que pode obter aqui. O texto deixa claro que o propósito da oração é o Espírito Santo em nós. Esse é o objetivo central da obra de Deus, isso é viver no e para o Reino de Deus, ou seja, viver a mais completa comunhão e ligação com o Eterno, por meio da Comunhão que podemos desfrutar com Ele no Espírito Santo.
Você deve lembrar que no tempo de Lucas, a idéia da habitação do Espírito Santo era algo de grande importância. Infelizmente não temos tempo para discorrer sobre isso, também, em outros sermões, já tivemos a oportunidade de avaliar bem essa questão.
Não existe cristão verdadeiramente e amadurecido sem que o Espírito Santo esteja abundantemente dominando a sua vida e isto é o que o Senhor deseja para nós. Isso é o Reino dentro de nós.
O outro aspecto dessa resposta é a bondade de Deus. Podemos notar na comparação que Jesus faz entre os Pais maus e o Pai Celestial. Na oração do Senhor, o modelo de oração para todos nós, o foco é o relacionamento paterno de Deus, e o nosso desejo de ver o Reino presente em nós e o Reino permeando a nossa vida e determinando até mesmo o modo como serão satisfeitas as nossas necessidades.
Agora o foco é demonstrar que o mesmo Pai que nós desejamos buscar é tão amoroso que podemos confiar e esperar nEle. Ele satisfará os desejos do nosso coração.

Conclusão
Meus irmãos, não tenho dúvidas de que precisamos rever muitas coisas do nosso relacionamento com Deus. Vida devocional não pode ser compreendida como uma mera rotina de levantar cedo, ou de madrugada, ler a Bíblia e orar. Vida devocional é algo muito maior, é uma mentalidade renovada, uma conscientização de que o Reino de Deus é uma Realidade da qual não podemos e não devemos fugir.
A melhor definição de vida devocional que posso lhe oferecer e, com certeza há outras bem melhores, é: “UMA CONSCIÊNCIA PROFUNDA DA REALIDADE DE DEUS E O SEUS DEVERES E DEPENDÊNCIA PARA COM ELE”. Uma pessoa que se acredita inscrito nesse modo de vida, não abandonará a oração, não deixará de ler a Escritura e terá hábitos de busca do Altíssimo de profunda intensidade, porque, uma pessoa assim transformada, precisa de Deus para sentir alívio em sua alma, alívio que dinheiro nenhum, ou amizade, realização ou poder humano lhe pode dar, somente a presença de Deus lhe satisfaz.

Aplicação
Reveja o modo como você está enxergando a realidade de Deus em sua vida e como você a está vivenciando. Arrependimento é uma mudança de mente na direção de Deus, por isso, se você percebe que sua vida com Deus não está baseada nesses princípios que destacamos ou em outros que a Escritura apresenta, hoje é o tempo de você fazer exatamente aquilo que o texto diz:
PEDI E DAR-SE-VOS-Á, BUSCAI E ACHAREIS,
BATEI E ABRIR-SE-LHE-Á
Porque Deus dará o seu Espírito aos que lhe pedirem. Ele se levantará à noite e da abundância dos seus celeiros celestiais nos dará grandes bênçãos de comunhão com Ele. Isso é mais importante que qualquer coisa!


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