“Os Sinais de Deus no Evangelho”
(Marcos 16.16-18)
Sermão Pregado na Igreja Presbiteriana de Cidade Líder
4ºDomingo de Maio de 2014
Introdução
Nos dias de Marcos, a Igreja de Cristo vivia um tempo de grande conflito. Para muitos cristãos, o Evangelho estava perdendo o seu real sentido e outras preocupações substituíam o entusiasmo inicial.
Os tempos, como os apóstolos costumavam dizer, eram maus e bastante difíceis. As perseguições de todos os lados trouxeram muitas questões para as famílias daquela geração.
A morte dos apóstolos, aumentava a dificuldade, pois os grandes pilares que mantinham acesa a chama da esperança e foram os principais pregadores do evangelho que tinha consquistado a Palestina, Ásia menor, Acaia, a própria Itália, Roma a capital do Império e outras paragens. Mas, muitos destes heróis da pregação tinham morrido e nos dias em que o Evangelho isso estava trazendo desânimo à Igreja cristã.
Então, a mensagem deste evangelho é proposta como uma renovação da sua fé e um reacender de seu desejo de continuar a obra de Cristo. Este texto final do evangelho é uma conclusão saturada do desejo de ver a nossa fé renovada e nosso desejo de seguir pregando o evangelho assumindo a ponteira de nossa primordial motivação.
Eu já disse anteriormente que reconheço as dificuldades textuais para muitos autores, afinal pensam que este final mais longo do Evangelho, a partir do versículo 9, não estava no texto canônico original de Marcos. Entretanto, devido ao seu uso atestado em autores antigos ainda no primeiro século e por ter perdurado até nós, recebo-o e entendo-o à luz do contexto do restante da Escritura.
Nos versos que destaco esta noite, 16 a 18, quero chamar a atenção para o fato de que os apóstolos do Senhor foram escolhidos para serem os propagadores de uma mensagem salvadora e Deus estaria com eles. Eles foram chamados e conduzidos à fé e por Deus foram suportados para que a mensagem da fé chegasse aonde chegou. Eles não eram os mais competentes, sequer deram crédito inicial à mensagem que ouviram, mas foram conduzidos pelo Senhor a anunciar a mensagem divisoras de águas da humanidade.
Os Sinais de Deus São Dados Para Que a Igreja Continue Andando Por Fé
A leitura do capítulo 16 de Marcos nos deixam uma clara mensagem sobre a dificuldade dos apóstolos para crer. Eles não deram crédito à mensagem da ressurreição e por isso foram duramente repreendidos por Cristo Jesus:
Finalmente, apareceu aos onze, quando estavam à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, porque não deram crédito aos que o tinham visto já ressuscitado (Marcos 16.14).
Entretanto, eles, apesar de sua incredulidade foram comissionados para a pregação do Evangelho, como atesta o verso 15:
E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura (Marcos 16.15).
O que vemos é que uma mudança de atitude ocorreu em suas mentes. Eles passaram a confiar na mensagem do evangelho o que implicou em uma mudança geral no modo como começaram a viver esse Evangelho.
A fé é o elemento central destas passagens. Enquanto alguns se concentram nos sinais descritos, o que Marcos deseja privilegiar é que a fé na Palavra de Cristo e na mensagem de um novo reino é o ponto central desta passagem.
Os sinais não eram um fim em si mesmos, mas uma demonstração do desejo de Deus de continuar a manter a sua igreja andando por fé.
Note como a passagem põe em destaque a fé nas expressões sobre “crer”:
Quem crer e for batizado será salvo, porém o que não crer será condenado. Estes sinais hão de acompanhar os que creem...
O escritor da Carta aos Hebreus, falando à igreja daqueles dias, pontuando sobre a necessidade de se dar crédito à mensagem pregada pelos apóstolos, chama a atenção para o fato de que os sinais de Deus foram atestados do Altíssimo quanto à verdade do Evangelho pregado pelos apóstolos.
Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos. Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos, e toda transgressão ou desobediência recebeu justo castigo, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram; dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários milagres e por distribuições do Espírito Santo, segundo a sua vontade (Hebreus 2.1-4).
Infelizmente, mesmo nos dias dos apóstolos muitos se preocuparam mais com os sinais que com a fé. Paulo, escrevendo aos Coríntios, falando sobre o fato de que eles estavam duvidando da mensagem da Cruz, afirmou que este era o erro de muitos dos judeus, pois procuravam “sinais” (1 Coríntios 1.22).
Um episódio do livro de Atos nos fala de um homem, chamado Simão, que antes de sua conversão praticava mágica. Ele abraçou a fé, mas se equivocou, pois ao ver os sinais que os apóstolos faziam se interessou em ter os sinais como um poder pessoal, mas isso foi considerado uma demonstração da maldade do seu coração (Atos 8.9-24).
Os sinais da presença de Deus nos são dados para o fortalecimento de nossa fé e um atestado da verdade do Evangelho.
Os Sinais São Dados Para a Continuidade da Missão da Igreja
Um dos aspectos um pouco obscuro da passagem tem a ver com os sinais em si. Jesus apresenta cinco sinais que acompanhariam os que creem:
1) expelir demônios;
2) Falar novas línguas;
3) Pegar em serpentes sem sofrer dano;
4) Beber veneno sem sofrer dano;
5) Curar enfermos.
A exceção do beber veneno, todos os outros sinais tem seu paralelo acontecido no novo testamento. Os apóstolos expeliram demônios, falaram em outras línguas, curaram muitos enfermos e o apóstolo Paulo foi mordido por uma víbora e o sobreviveu sem dano algum.
O erro muito comum ocorrido ao longo da história do cristianismo foi que alguns deram a estas palavras um tipo de entendimento que fazia com que o sinal da presença de Cristo se tornasse mais importante que o próprio Evangelho que estava sendo pregado.
As palavras de Jesus não se destinavam a apresentar uma lista de sinais que provam que uma pessoa é cristã de fato. A ideia do texto é nos mostrar que Jesus estava propondo aos seus apóstolos como haveria de capacitar e cuidar da sua igreja para que o Evangelho prosperasse e nada o impedisse. A natureza destes sinais apontam para essa ideia.
Sinais que ajudavam na propagação do evangelho - em meu nome expelirão demônios, falarão outras línguas - Estes sinais faziam com que os apóstolos conseguissem vencer barreiras à chegada do Evangelho a muitos lugares e corações. Primeiramente, sobre o expelir demônios, devemos lembrar que naqueles dias o que estava acontecendo é que as barreiras antigas estavam sendo postas por terras e o Diabo não mais teria as nações sob suas obras de cegueira, agora o Evangelho poderia ser pregado a todos. Então, seria natural que nos primeiros anos a experiência de expelir demônios tivesse um lugar no modo como o Senhor abriria o caminho do Evangelho. Sobre o falar em línguas, devemos lembrar que os apóstolos e outros irmãos foram capacitados a falar de Cristo para pessoas de outros povos, mesmo de língua a eles desconhecida.
Sinais que ajudaram na proteção da igreja -
Pegar em serpentes, beber veneno e cura de enfermos - Estes sinais serviram grandemente para apontar para o fato de que Deus seguia ao lado do seu povo protegendo-o e fazendo com que a Pregação do Evangelho continuasse apesar de todas as vicissitudes.
O Senhor Jesus Cristo disse que os cristãos deveriam ter bom ânimo, mesmo que no mundo encontrassem aflições. Assim, muitas vezes, o Senhor poupou o seu povo em meio a enfermidades e, como já nos referimos anteriormente o exemplo de Paulo, até mesmo em situações de absoluto perigo, o Senhor protegeu o seu povo.
Evidentemente, o princípio destes sinais era a continuidade da pregação do Evangelho e de muitas formas sinais com esta natureza continuaram a ser mostrado ao longo da história.
Deus continua a dar recursos e proteção à sua igreja para vencer as barreiras para a pregação do Evangelho. A igreja precisa seguir crendo nesta mensagem e confiando que sua missão está guardada e guiada por Cristo Jesus.
Os Sinais São Dados Para Que o Evangelho Cumpra o Seu Papel de Salvação e Juízo
A Igreja, muitas vezes, perde a percepção do valor e propósito de sua missão no mundo. Por isso, tantas vezes o Evangelho é distorcido e se torna uma mensagem meramente religiosa e humana.
O Evangelho é uma mensagem que possui muitas qualidades. Ela pode ser um fator de transformação social preponderante. Nos países onde o Evangelho prosperou em sua simplicidade e fidelidade, muitas mudanças sociais promoveram bem estar e justiça social. NO entanto, esse tipo de mudança boa para o mundo não é o propósito central do Evangelho.
O Evangelho é uma mensagem de Salvação e apregoa a justiça de Deus.
Porque a justiça de Deus e revela no Evangelho de fé em fé, porque o justo viverá por fé. (Romanos 1.17).
O que o Evangelho propõe é que o ser humano perceba o seu pecado e se arrependa, que se volte para para a Cruz de Cristo e receba o perdão dos seus pecados, para viver uma vida de entrega a Cristo.
O contrário disto é que o homem será condenado. Pois a mensagem do Evangelho é aroma de vida e aroma de morte. De vida para os que creem e de morte para os que permanecem em rebeldia. O Evangelho é uma mensagem que está ligada à eternidade.
Os sinais acompanhariam os que cressem na mensagem de salvação, a mensagem que estabelecia o divisor de águas do verso 16:
Quem crer e for batizado será salvo, quem, porém, não crer será condenado (Marcos 16.16).
Estamos falando de recuperar uma visão da nossa missão como uma obra de eternidade. A igreja dos dias de Marcos precisava ter isso em mente. O Senhor apoiaria e daria condições para que a Igreja cumprisse o seu papel evangélico.
Conclusão
O que devemos parar pensar diante desta passagem é que o ponto central é a nossa fé e percepção do valor e propósito da mensagem do Evangelho.
O que estamos fazendo irmãos é ser realmente esta igreja que Jesus nos mandou ser? Estamos mesmo vivendo pela mensagem que dizemos crer ou estamos mais preocupados com outro tipo de reino. O que nos move neste mundo tem a ver com a eternidade ou somos movidos pelo que o próprio mundo nos oferece?
Caros irmãos o poder do Evangelho para a salvação dos homens não está em nós, meros instrumentos do Senhor. Contudo, é através de seus sinais na nossa vida que ele nos conduz e propõe que a nossa fé esteja ativa.
Meus irmãos queridos, devemos viver pela nossa fé e isto implica em uma visão mais elevada do propósito de nossa missão. Os apóstolos tiveram uma percepção completa da capacitação e proteção de Cristo e por isso, a cada dia, viviam com mais intensa entrega de sua vida. Eles entenderam que pessoas que vivam para Deus não devem temer nada.
Quando pensamos em igrejas completamente acovardadas na pregação do Evangelho eu só consigo pensar que o que falta é essa percepção da presença de Cristo. Também penso que crentes que nunca se envolvem diretamente com a pregação do Evangelho perderam a noção do Reino de Cristo.
Portanto, penso que somos responsabilizados a reagir diante de nossa geração. Precisamos de uma Igreja que leve o Evangelho a sério e se dedique a pregá-lo com fidelidade, amor e coragem.
Deus nos abençoe nessa tarefa. Amém.