8 de junho de 2014

Hebreus 1. 1 a 4

“Quem é o Cristo que nos fala hoje?”

(Hebreus 1. 1 a 4)

Dia de Pentecostes - Maio de 2014

 

Introdução

Quero adiantar a todos os irmãos que estamos adiante de uma das mais gloriosas cartas do Novo Testamento e de um dos escritos mais complexos de toda a Escritura. O autor desta epístola não está escrevendo coisas básicas da fé cristã, mas desenvolvendo uma profunda teologia cristológica.
Ele propõe aos seus leitores uma preciosa reflexão sobre Jesus Cristo e o seu objetivo é que o conhecimento de Cristo impregne nas mentes dos seus ouvintes, concedendo-lhes o mais elevado interesse em ouvir o Senhor da Glória.
Então, para resumir o modo peculiar como iremos ler e expor os textos selecionados desta epístola, gostaria de lhes dizer que partimos da premissa de que o autor deseja que seus leitores tenham o mais elevado conhecimento de Cristo a fim de que suas mentes estejam mais aptas para ouvi-lo e viverem neste mundo como que conectados a Cristo por meio de uma fé viva, que é alimentada e direcionada pela Palavra de Deus ou Palavra de Cristo.
O ponto que discirno sobre os leitores deste autor é que eles estavam vivendo sob intensa provação nesta vida e precisavam do fortalecimento de sua fé. Assim como os evangelhos vieram suprir na Igreja a consciência básica de Cristo, a carta  Hebreus funcionava como um complemento profundo que tornava uma fé rudimentar em Cristo em uma elevada consciência que moveria homens e mulheres a vencer todos os obstáculos, simplesmente olhando firmemente para o autor e consumador de sua fé.
Em geral, os crentes que se afastam da firmeza da fé são crianças que não aprenderam a andar na fé. Ainda engatinham por causa de sua falta de conhecimento mais avançado de Cristo. Com isso, não estou dizendo que um conhecimento meramente intelectual de Cristo seja o suprimento que alguém precise para viver segundo a vontade de Deus. Na verdade, o que devemos buscar e é isso proposto pelo autor da Carta aos Hebreus é que nosso conhecimento se torne parte da nossa maneira de pensar ou parte de nós, para que vá além de um mero conhecimento intelectual teológico de Cristo para fazer com que a vida de Cristo permeie a nossa vida.
Portanto, apesar de tantos conceitos tão complexos de Cristo, o autor não está buscando apenas atingir mentes intectualizadas, mas corações verdadeiramente conquistados pela graça, aos quais é dado conhecer, como já pensavam os apóstolos e o próprio Jesus quando disse que aos pequeninos foi revelado o conhecimento de Deus para humilhar a sabedoria do mundo.
A razão prática do autor é que os crentes que ouvirem a voz de Cristo e seguirem as orientações de sua palavra serão alimentados na fé e os que estão com sua fé enfraquecida, portanto, devem considerar bem que é o Cristo que está lhes falando para que voltem a revigorar a sua fé.
Nas estruturas do nosso mundo, quando uma pessoa é revestida de autoridade e lhe faz uma promessa, se você duvida, a pessoa diz assim: “Eu estou garantindo!” ou ainda “você sabe com quem você está falando?” O autor aos Hebreus está dizendo aos crentes que eles deveriam considerar que a Palavra que ouviam pregada e que os direcionava era a Palavra de Cristo Jesus, o Senhor da Glória.


Considere Que o Cristo Que Te Fala é o Filho de Deus Herdeiro de Todas as Coisas
A altura em que esta carta fora escrita, os cristãos tinham perdido as suas maiores referências, os apóstolos, ou eles estavam vivendo sob intensa ameaça de morte e a ponto de serem levados desta vida (Hb 13.7).
Já não havia mais os sinais e milagres como nos primeiros anos apostólicos que autenticavam a Palavra pregada pelos apóstolos (Hb 2.4). Eles agora estavam vivendo sob a orientação de homens piedosos, seus pastores e pregadores do Evangelho (Hb 13.17).
Meus irmãos, sob a intensa pressão de suas vidas, eles, como qualquer um de nós, tiveram suas dificuldades para continuar  e precisavam de um estímulo que fosse bem além de um mero tapinha nas costas ou uma frase de incentivo. Eles precisavam entender qual o verdadeiro significado da vida em Cristo.
Então o autor começa a sua epístola pelo seu assunto central: Quem é o Cristo que está falando por meio da Palavra hoje? E começa dizendo: É o Filho de Deus.
Havendo Deus, outrora falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo (Hebreus 1.1-2).
 O primeiro ponto é que ele faz alguns contrastes para o modo como Deus falou, destacando que em todas as maneiras e até mesmo pelo Filho é Deus quem fala. Então, não ouvir o Filho é o mesmo que não ouvir a Deus.
Antigamente falou aos pais pelos profetas - hoje fala para nós pelo Filho. O ponto central é que embora tenha ocorrido uma sensível mudança no modo como Deus torna conhecida a sua vontade, o que está acontecendo é que o mesmo Deus continua a revelar-se por meio da Palavra Pregada pelo Filho, que mais tarde, o autor irá dizer que é a Palavra que a Igreja ouviu dos apóstolos e depois dos seus pastores.
O autor aos Hebreus entendeu que se os cristãos não tiverem em sua mente muito claro quem é Cristo eles não suportarão as perseguições e as pressões contrárias à sua fé neste mundo. Assim, também nós precisamos arraigar em nossa mente que o Cristo que ouvimos a Palavra da Fé que aprendemos é a Palavra de Cristo e a Palavra de Cristo é a Palavra daqueles que está sobre todas as coisas.
A quem constituiu herdeiro de todas as coisas - Com esta expressão o autor propõe que tenhamos em nossa mente o conceito central do Senhorio Absoluto de Cristo sobre tudo. Ou seja, qualquer coisa neste universo pertence ao Cristo glorificado. Sua casa, seu carro, suas roupas, a comida da sua dispensa, sua vida, todos os montes e todos os animais da floresta, a floresta e todos os seus rios, quer as águas subterrâneas, aquelas que correm os leitos da crosta terrestre ou até mesmo aquelas que se movem invisíveis na forma de vapor atmosférico, TUDO PERTENCE A CRISTO.
Quando rejeitamos, duvidamos ou simplesmente não damos atenção ao Evangelho, às Escrituras, à pregação da Palavra, estamos deixando de ouvir o SENHOR DE TUDO, o próprio Deus.
Pelo qual também fez o universo - O tema da preexistência de Cristo é um dos temas teológicos mais importantes do Novo Testamento. Não vamos descer detalhes sobre isso. Mas queremos destacar que o autor está nos dizendo que o fato de que Cristo ter sido recebido nos céus, depois de sua ascensão não o fez melhor do que sempre. Ele recebeu todo o poder, como ele mesmo disse em Mateus 28.18, mas, na verdade, Ele era e sempre foi o Filho Eterno de Deus e até mesmo na criação, nada do que foi feito, se fez sem ele. Ele é o Senhor de tudo porque também é Deus.
Meus irmãos, este conceito é central na nossa fé. Quando você estiver se perguntando no que deve crer, pense no fato de que Cristo é Senhor de Tudo, o Filho de Deus. Sua fé deve se apoiar neste Senhorio de Jesus sobre todas as coisas. Pois, se é o Filho de Deus, o Senhor de tudo que está falando devo simplesmente confiar. Você sabe quem está falando? É o Senhor de Tudo aqui.

Considere Que o Cristo Que Te Fala é o Único Caminho Para o Conhecimento de Deus
Quando estava com seus apóstolos no cenáculo, antes de sua morte, Jesus, depois da inquietante pergunta de Filipe disse que para ver o Pai era preciso olhar para Ele:
Eu sou o caminho a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim. Se vós me tivésseis conhecido, conheceríeis também a meu Pai. Desde agora o conheceis e o tendes visto. Replicou-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta. Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai? (João 14.6-9).
O escritor aos Hebreus volta a este tema e assim o qualifica como de suma importância. Filipe tinha razão quando disse: Mostra-nos o Pai e isto nos basta. De fato, a percepção de Deus é fundamental para o viver em fé. Essa percepção nos dá confiança para seguir adiante, para enfrentar as lutas, as vicissitudes e todos os opositores da fé.
O Escritor aos Hebreus está propondo o mesmo que Jesus disse, isto é, que discirnamos em Cristo a imagem do Pai e a sua substância.
Ele é o resplendor da glória e a exata expressão do seu Ser - A expressão grega “apaigasma thes dóxês” (resplendor da glória) aponta para glória como um substantivo, fazendo a substituição do termo “Deus” pelo termo “glória”, e a ideia se completa quando ele fala que isso era a expressão exata do seu Ser.
“Apaigasma” dá a ideia de uma lâmpada que para a qual olhamos e vemos a luz. A lâmpada não é a luz, mas é por meio dela que vemos a luz. Sei que é difícil de lhes explicar. Mas, o que o autor deseja que pensemos e nutramos em nossa mente é que, se aprendermos de Cristo estaremos realmente aprendendo de Deus e esse conhecimento não meramente técnico ou teológico como elaboração intelectual, mas um conhecimento verdadeiro da pessoa de Deus.
Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou (João 1.18).
Quando a Palavra viva de Deus produz um conhecimento genuíno em seu coração, os olhos do seu coração são iluminados e preenchidos com o conhecimento místico do próprio Deus. Você verá a Deus, pelos olhos da fé e este é o próprio ponto central da verdadeira vida cristã, discernir Deus na pessoa de Cristo, por meio do ouvir a sua Palavra.
Expressão exata do seu ser - Uma frase com implicações teológicas profundas. Muitas discussões foram levantadas sobre a palavra “hipóstasis” (ser). O fato é que o autor está de forma muito simples apontando para a união entre Cristo e Deus, reafirmando o ponto da primeira expressão e dando um conteúdo mais, que assim como a lâmpada reflete verdadeiramente a luz, assim Cristo apresenta Deus, entretanto ele é realmente o próprio “Deus”, mesmo sendo distinto dele.
O termo traduzido por “exato” é caractere. Que é a ideia de algo que reproduz o outro perfeitamente sem ser o outro. Era usado para se referir às moedas que traziam o caractere dos que as mandaram cunhar. Como as moedas de Roma que tinham a impressão do rosto do imperador. 
Desculpem, eu avisei que o tema gerou muitas implicações teológicas e, quem sabe, deva ser estuda com mais vagar em outras oportunidades como o estudo bíblico ou a Escola Dominical.
O ponto do autor é oferecer aos seus leitores a possibilidade de verem em suas mentes impregnada a segurança da fé por meio de uma, cada vez mais, percepção de Deus, na pessoa de Cristo. Um conhecimento que se acumula verdadeiramente em nós, quanto mais conhecemos a Cristo.
Como um antídoto para um veneno, assim a percepção de Deus em Cristo é para a apostasia e todas as maquinações das filosofias deste mundo e suas mentiras contra a verdade de Deus.
  
Considere Que o Cristo Que Te Fala é o Único Que Realmente Pode Guardar a Sua Vida
Neste ponto, o autor apresenta uma razão prática para ouvir a Cristo, ele é quem conduz e preserva a nossa vida.
Em outras partes da epístola ele desenvolverá esse cuidado do Senhor com a nossa vida. Ele é nosso intercessor, nosso mediador, nosso sacerdote, quem nos adverte e nos conduz. Neste ponto ele destaca de outra maneira e apenas introduz dois elementos básicos sobre o cuidado de Cristo.
Sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder - Mantendo todas as coisas é a ideia de que tudo que existe é controlado e mantidos por Jesus por meio do seu poder de comando. A expressão “Palavra do seu poder” tem esse objetivo, ou seja, dizer que Jesus comanda tudo por meio de suas ordens.
Muito se fala do termo “rhema”, dando ao termo em si algum caráter mítico. O que o autor aos Hebreus está oferecendo aos seus leitores é que eles confiem sua vida a Cristo que tudo faz por meio de suas ordens, as quais tem como objetivo cuidar e amparar a nossa vida, como uma sequência da obra que ele havia feito na cruz. Por isso, a expressão seguinte une os eventos redencionais: morte, ressurreição, ascensão e glorificação.
Depois de ter feio a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas - Ele une morte com glorificação e, subentende-se, os outros eventos “ressurreição e ascensão” como parte de processo. Tudo isto está ligado ao fato de que ele sustenta a nossa vida como um complemento da sua obra de salvação.
O governo majestoso de Cristo na glória é um complemento da sua obra de redenção. Ele está assentado no céus no interesse de nos guardar para si mesmo e preparar o tempo final da nossa redenção. Ele está simplesmente completando a obra de salvação.
Alguns dos leitores do Escritor aos Hebreus estavam se perdendo em sua fé, justamente por não entender o propósito central da pregação e da direção da Palavra de Cristo. Na verdade, não estavam desejando ouvir a voz de Cristo, mas projetavam para a pregação o seu interesse neste mundo. O que o autor deseja é que eles percebam que devem dar crédito à palavra que ouvem do modo correto, percebendo a finalidade correta do nosso tempo de prova neste mundo, que é a preparação definitiva para a vida com Deus. O fim da nossa fé é Cristo.
Quando falamos em ser guardados por Cristo, estamos mais que pensando em ele nos guardar de problemas. Estamos falando de um descanso final que todos devemos almejar, um lar eterno e seguro com ele na glória (Hebreus 4.1-13).
Herdou mais excelente nome do que os anjos - O autor está colocando a surpreendente primazia de Cristo sobre tudo como o fator de segurança mais exato de como podemos descansar no fato de que ele nos conduzirá e nos guardará ao nosso descanso final. Veja como termina este capítulo primeiro.
Não podemos nos deter em muitos detalhes nesta expressão. Mas vale pensar que, se os anjos trabalham em nosso favor (Hb 1.14), muito maior segurança devemos ter nós que ouvimos Cristo, afinal ele está acima dos anjos.
Conclusão
Somos todos chamados para um nível superior de segurança em Cristo Jesus. Ela está primordialmente em duas coisas: ouvir a Palavra de Cristo, que nos fala da parte de Deus e considerar quem é verdadeiramente o Cristo que nos fala.
Esta epístola discorrerá sobre este Cristo e sua Palavra maravilhosa. É necessário, portanto, que deixemos as coisas próprias de meninos na fé e nos tornemos mais adultos.
Um dos problemas da igreja dos nossos dias é que ela sobrevive de um evangelho muito pobre e de uma percepção muito pequena de Cristo e sua glória. Não poderemos fazer muito pelos irmãos se nossas pregações precisarem se manter nos rudimentos mais elementares da fé. Precisamos conduzi-los a conhecimentos maiores, mas muitos tem se tornado tardios para ouvir a Deus.
Precisamos de uma igreja que conheça o seu Senhor de forma mais profunda. A sua falha e o que tem levado sua fá a naufragar é que você criou expectativas com a Igreja que a desvia muitas vezes de sua principal função. ÀS vezes, você exige que sua igreja seja tolerante, eficiente socialmente, tenha programações que lhe atraia o interesse e que seja um espaço de grande convívio social. Tudo bem, acredito que estas coisas são importantes e lícitas para a igreja. Tudo isto é bom. Mas, precisamos ser uma comunidade que cresce no conhecimento verdadeiro de Cristo e você precisa orar para que tudo o que venhamos a fazer seja resultado disto, como eu oro para que mais e mais crentes se interessem em crescer na graça e conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo.
Oração
Dá-nos um coração desejoso de te conhecer e ouvir a sua Palavra. Amém.


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