22 de setembro de 2014

Jó 40.1 a 41.34

“Deus é a Resposta”
Jó 40.1 a 41.34

Foco da Nossa Condição Decaída
O reconhecimento da grandeza de Deus é uma condição necessária para a retomada da estrutura de um mundo teocêntrico, condizente coma realidade criacional. O texto nos exorta a considerar a realidade da nossa existência a partir de Deus e suas proposituras para a nossa vida. Desta forma, assim como Jó, somos instados a considerar nossa vida a partir da premissa de um Deus soberano e Todo-poderoso, governando com sabedoria e propósito todos os detalhes da nossa existência.

Introdução
O livro de Jó tem sido muito negligenciado na leitura da maior parte dos cristãos. Quase sempre temos uma visão muito parcial de seu conteúdo, limitando a saber que Jó foi um homem que sofreu muito e se manteve paciente. Outro aspecto limitante de nosso conhecimento deste grande livro é que muitos se detém na ação do Diabo, no primeiro capítulo. Bem, como pudermos ver em uma sequência de sermões, este é um livro mais complexo, que nos mostra um homem temente a Deus, um legítimo servo do Senhor passando pelo vale da dor e sendo tendo a sua fé provocada.
Assim como Jó, muitas vezes, nos perguntamos as razões para que o sofrimento nos marque tão fortemente. Basta um pouco mais de convivência com a dor e a angústia da alma e entramos em um estado de alerta espiritual. Quase sempre, mesmo os cristãos mais devotos, tendem à questionamentos existenciais na sua relação com Deus.
O livro como um todo é uma grande obra de ensino sobre o que devemos pensar e como devemos agir em relação a cada uma das circunstancias da nossa vida. Nos capítulos que temos diante de nós, estamos lendo a segunda parte das respostas de Deus a Jó. O ponto que precisamos enxergar aqui é: como Deus espera que reajamos em momentos de grande dificuldade? Qual a resposta que precisamos encontrar para que possamos discernir sobre os propósitos de cada uma das coisas que nos acontecem? Pense em você e no modo como reage às coisas que te acontecem? Eu o convido a meditar sobre a resposta que Deus deseja que você encontra para a sua jornada de fé.


Deus deseja que nossas respostas sejam resultado de suas proposições para a nossa vida

Nessa primeira parte, vamos considerar sobre o método de Deus, utilizado com Jó. Muitas vezes, desejamos respostas prontas, mas as melhores respostas que obtemos na nossa vida, aquelas que realmente mudaram o nosso modo de ver as coisas não nos foram dadas de forma pronta, mas são construídas em nossa mente a partir de conceitos que experimentamos na prática.
O texto de Jó é construído sob a premissa de que Jó conhecia a Deus, mas precisava conhecer mais. O texto que temos diante de nós é parte da resposta de Deus a Jó, pois já nos capítulo 38 e 39, o Senhor começa a responder a Jó de forma contundente.
Existe uma moldura para estas duas partes da resposta. Veja o capítulo 38m versos 1 a 3:
Depois disto, o Senhor, do meio de um redemoinho, respondeu a Jó: Quem é este que escurece os meus desígnios com palavras sem conhecimento? Cinge-te, pois, os lombos como homem, pois eu te perguntarei e tu me farás saber.
Perceba que esta mesma moldura se repetirá nas poesias do capítulo 40 e 41, veja os versos 6 e 7:
Então, o Senhor, do meio de um redemoinho, respondeu a Jó: Cinge agora os lombos como homem; eu te perguntarei, e tu me responderás:
Então, o que desde já podemos perceber nestes versos é que Deus não está dando uma resposta pronta, mas conduzindo Jó à ela. O Todo-poderoso está levando Jó a refletir mais claramente sobre quem é o Senhor. Pense que Deus tem um método aqui e isto é importante para nós que aprendamos o caminho que ele aponta.
Mas, perceba que para você aplicar esse método precisa perceber que há uma preparação. Note que há pelo menos duas atitudes necessárias para que essa dinâmica realmente nos conduza a resposta certa. O texto as indica na frase que exige a preparação de Jó:

Cinge agora os lombos como homem - a humildade é necessária para que sejamos conduzidos à presença de Deus e aprendamos sobre Ele. Essa expressão aponta para a necessidade de Jó de se colocar em seu lugar se deseja ouvir e aprender de Deus. Um dos grandes problemas da nossa fé e da nossa vida em geral é que frequentemente somos arrogantes diante de Deus.
O método de Deus de nos conduzir a respostas exige que estejamos prontos a observar todas as coisas a partir de uma condição de reconhecimento de que Ele é Deus e nós somos apenas homens´.

Eu te perguntarei e tu me responderás - Nessa expressão, descobrimos que o método de Deus tem ponto de partida e de chegada. A nossa resposta não começa em nós e nossas certezas, mas em Deus e a chegada é resultado da partida. Ou seja, nossa resposta não pode ser resultado dos nossos pensamentos, mas resultado da ação e da proposição de Deus. Na verdade, esse é outro grande defeito da nossa fé. Pois, muitas vezes, o que buscamos em nossas perguntas sobre Deus são respostas parecidas com as nossas proposições sobre o que achamos da vida. Mas, o método de Deus começa nele e nas proposições dele. Ou seja, se você deseja realmente conhecer a Deus e obter respostas certas sobre a sua própria vida, deixe Deus te conduzir e não busque conduzir a Deus.

Na verdade, a maior parte das pessoas pensa que o método de Deus é nos dar respostas prontas. Quem sabe se eu perguntar ao pastor, ao seminarista, aos teólogos, aos presbíteros, Deus irá me ensinar tudo o que preciso saber! Sim, é bom que você tenha fontes de conhecimentos e pessoas preparadas para lhe explicar coisas da vida e principalmente das Escrituras. É bom ler livros e bons livros sobre questões cruciais da existência, tais como, vida conjugal, relacionamentos, amor ao próximo, santidade, salvação e outros. Mas, as mais importantes respostas que iremos encontrar para os conflitos da nossa alma estarão contidas em um método muito prático que Deus usa, que são as circunstâncias reais da vida de cada um. Fique mais atento, Deus está falando e você não está ouvindo. Ele está te ensinando e você não está aprendendo. Talvez, você não tenha se valido as atitudes corretas para isso: humildade e primazia a Ele, porque as nossas respostas devem ser resultado das ações e proposições dEle.
Quanto mais conhecemos a Deus, mais aprendemos sobre o fato de que “Deus” é um conceito muito elevado, ou seja, quando afirmamos redundantemente que “Nosso Deus é Deus”, estamos apontando para o fato de que Ele é maior do o conhecemos hoje e suas obras são apenas umapequena representação do que Ele, de fato é.

Deus deseja que nossas respostas sejam resultado de uma percepção clara da sua grandeza
Irmãos, o livro de Jó usa repetidamente uma maneira de se referir a Deus: “O Todo-poderoso. São, pelo menos 31 versos que se utilizam dessa expressão. Esse modo de se referir a Deus não é tão usual nas Escrituras, apenas outros 16 versículos, todos do Velho Testamento se utilizam do termo “Shaday” para apontar para Deus.

O capitulo 40 é aberto da seguinte forma:
Acaso, quem usa de censuras contenderá com o Todo-poderoso? Quem assim argúi a Deus que responda (Jó 40.2).
O que o Senhor espera da nossa estrada diária com Ele é que aprendamos a honrá-lo como o Senhor de todas as coisas. Não se trata de um desejo egoísta e narcisista de Deus, mas de uma reestruturação da realidade em nossa mente.
Quando o homem pecou no jardim do Éden, sua mente perdeu uma percepção clara de Deus. Ele passou a não ter o discernimento correto de quem é o Senhor. Então o homem passou a construir a realidade a partir de si mesmo e crer nessa realidade. Em pouco tempo, o homem passou a negar a soberania, a majestade, a glória, a grandeza, o poder e até mesmo a existência de Deus.
O que ocorre, então, é que o homem assim, passou a viver como realidade uma mentira. Isto é, passou a considerar a sua existência a partir de si mesmo e não do seu Criador.
Quando Deus propõe seu método de aprendizado a Jó, ele espera conduzi-lo a uma reflexão ainda mais profunda sobre sua grandeza e glória. Então, ele conduzirá a Jó a realmente considerar o Todo-poderoso.
Os capítulos 38 a 41 apontam nessa direção nas perguntas que Deus faz a Jó e vamos tomar alguns exemplos do capítulo 40 e 41.
Nos versos 15 a 24, Deus leva Jó a contemplá-lo a partir de sua Criação. Ele o leva a refletir sobre o Hipopótamo e sua força.
Contempla agora o hipopótamo, que eu criei contigo, que come a erva como o boi. Sua força está nos seus lombos, e o seu poder, nos músculos do seu ventre....
Acaso, pode alguém apanhá-lo quando ele está olhando? Ou lhe meter um laço pelo nariz?
Deus pede a Jó que reflita sobre esse animal que é fruto da sua obra criacional, assim como o homem. Reflita sobre sua força, sua glória, como obra prima de suas mãos, ou seja, como um admirado e temido pelos homens (verso 19).
Em seguida, Deus passa a falar do crocodilo. Pela sua descrição, não estamos falando dos pequenos jacarés, mas das maiores espécies deste gênero réptil.
Podes tu, com anzol apanhar o crocodilo ou lhe travar a língua com uma corda? (...) brincarás com ele c om ele, como se fora um passarinho? (...) Ninguém há tão ousado, que se atreva a despertá-lo. Quem é, pois, aquele que pode erguer-se diante de mim? Quem primeiro me deu a mim, para que eu haja de retribui-lhe? Pois o que está debaixo de todos os céus é meu (Jó 41.1 a 11).  
Nestes dois exemplos, o que Deus está propondo é que Jó considere o fato de que Deus é o Criador e Senhor de todas as coisas, mesmo os animais terríveis lhe são subordinados e, aqueles que o homem teme, são para Deus apenas como seres que ele cria, cuida e determina os dias e o alimento.
Para Deus é muito importante que o nosso dia a dia nos conduza refletir sobre o fato de que Ele é grande e isso deveria mudar a nossa atitude para com Ele. Considerá-lo como o Todo-poderoso, o El-SHADAY implica em descobrir que Ele é a origem e o sustentador de todas as coisas, isso nos leva a uma condição de receber dEle tudo o que nos dá com humildade e submissão. Isso é um aprendizado para a vida toda.

Deus deseja que nossas respostas sejam resultado de uma percepção clara de que seu agir na nossa vida é sempre reto e tem um propósito
No livro de Jó, o autor nos propõe a história de um homem que era temente a Deus e que, por causa das coisas que sofreu, passou a questionar a retidão dos desígnios de Deus. O ponto em discussão não é apresentar uma censura a Jó, como fizeram os seus amigos. A questão proposta neste livro é a busca de uma compreensão mais clara da razão maior para que um homem de Deus sofra em um mundo que pertence a Deus.
Deus escolhe o que irá fazer e não cabe julgamento do homem a esse respeito. Esse ponto pode parecer duro demais, ao dizer que o homem está à mercê do seu Deus, mas é preciso que entendamos que isso é assim. O que talvez precisemos incluir nesse pensamento é que Deus tem um propósito elevado a fazer o que faz na nossa vida.
Acaso anularás tu. De fato, o meu juízo? Ou me condenarás, para te justificares? Ou tens braço como Deus ou podes trovejar com a voz como ele faz? Orna-te, pois, de excelência e grandeza, veste-te de majestade e glória. Derrama as torrentes da tua ira e atenta para todo o soberbo e abate-o. Olhar para todo soberbo e humilha-o, calca aos pés os perversos no seu lugar. Cobre-os juntamente no pó, encerra-lhes o rosto no sepulcro. Então, também confessarei a teu respeito que a tua mão direita de dá a vitória (Jó 40.8-14).
Estes versos são escritos em um certo tom de ironia. Deus está dizendo a Jó que quando ele conseguir fazer coisas de Deus, que o próprio Deus o reconheceria. Posso ver aqui alguns ecos do Gênesis 3, o texto da queda e da proposta do Diabo: “como Deus sereis”.
Algumas vezes somos tão arrogantes que pensamos em julgar Deus, como se pudéssemos fazer melhor que Ele. Essa é a maior de todas as loucuras e pode acontecer com até mesmo aqueles que são tementes ao Senhor, como Jó o era.
Nestes versos desejo destacar três pontos. O juízos, isto é, as escolhas que Deus faz para a nossa vida não podem ser julgadas por nós e, em geral, quando julgamos Deus estamos, na verdade, tentando nos justificar:
Acaso anularás tu. De fato, o meu juízo? Ou me condenarás, para te justificares?
Um segundo aspecto é a nossa impressionante arrogância como fruto de uma total falta de sabedoria. O texto, em forma irônica, deixa claro que Jó estava se portando como um louco ao ousar pressionar uma resposta a partir de uma censura a Deus.
Ou tens braço como Deus ou podes trovejar com a voz como ele faz? Orna-te, pois, de excelência e grandeza, veste-te de majestade e glória.
E o terceiro aspecto diz respeito aos propósitos de todas as ações de Deus. Na verdade, dentro de um texto irônico, em que Deus propõe a Jó que seja Deus, ele, então, pede a Jó que faça a sua obra, qual seja: a de tornar os homens soberbos em pessoas símplices e humildes e também agir com justiça contra todos os ímpios.
Derrama as torrentes da tua ira e atenta para todo o soberbo e abate-o. Olhar para todo soberbo e humilha-o, calca aos pés os perversos no seu lugar. Cobre-os juntamente no pó, encerra-lhes o rosto no sepulcro.
Neste último ponto, Deus apresenta a sua principal obra, a de nos conduzir a Ele por meio de um quebrantamento. Só Deus pode realmente quebrantar o homem soberbo e essa é a grande obra que Ele opera. A redenção que temos em Cristo é uma transformação do nosso coração para se tornar o coração bem aventurado dos humildes de espírito, dos mansos, dos misericordiosos etc.
Jó precisava deste quebrantamento, ainda que fosse um homem temente a Deus e ainda que sua vida pudesse servir de exemplo para muitos. Assim também, devemos perceber isso em nós mesmos.
A grande resposta é que o nosso Deus é Deus porque pode e usa todas as coisas para mudar quem somos e nos transportar para o reino do seu filho. Somente quando esse Deus estiver ante os nossos olhos e nossa percepção honrá-lo com nosso submissão e obediência é que poderemos dizer que temos realmente vivido e aprendido de Deus.

Conclusão
Algumas vezes na vida você esteve diante de um grande impasse espiritual e talvez tenha lutado contra Deus. Neste texto, somos exortados a manter o nosso olhar fito naquele que nos  criou, o Todo-poderoso. Aqui somos exortados a abrir o nosso horizonte de pensamento sobre a vida e admitir que se desejamos realmente prevalecer em cada circunstância da nossa vida, precisamos ser determinados pelos objetivos de Deus e seus desejos, não pela nossas aspirações mundanas, pequenas e pecaminosas.
O texto, nos aponta o fato de que o método de Deus e nos conduzir a respostas construídas pela vida e experiência com Ele. Como se a vida fosse uma escola que nos prepara para admitir que Deus é Deus sempre e que somos apenas servos inúteis, pequenos e carentes de sua ajuda e cuidado. Também nos indica o fato de que o grande propósito de Deus é mostrar o seu amor ao cuidar de nosso coração, conduzindo-o ao grande quebrantamento que nos faz mais próximos, ligados e abençoados por Deus.
Caro irmão, diante desta exposição eu convido você a fazer uma profunda reflexão sobre a sua postura diante de Deus. Ele deseja que você pense e repense os valores que estão norteando sua caminhada na terra, mas também te conduz a considera-lo em todos os seus caminhos. Permita-se ao quebrantar de todo o seu coração e à uma mudança tão profunda quanto a que aconteceu no coração de Jó que só pode exclamar:
Eu sei que tudo podes e nenhum dos teus planos pode ser frustrado (...) na verdade falei do que não entendia, coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia (...) Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem, por isso, eu me abomino e me arrependo no pó e na cinza (Jó 42.2-6).  
Esse é o homem a ser construído a partir de uma viva e clara experiência com Deus, um homem que vive teocentricamente, que se dispõe a considerar Deus em tudo e se permitir provar e ainda assim reconhecer a grandeza e supremacia do Todo-poderoso.

Conclusão Para a Igreja Presbiteriana de Vila Formosa
Meus queridos irmãos. Deus deseja de sua igreja que viva a dinâmica da humildade e da busca por um relacionamento mais vivo com Deus. Quando você se distancia deste Deus vivo que conduz todas as coisas e se permite viver como se Ele não existisse, ou como se a vontade humana devesse prevalecer sobre a divina, toda a igreja sofre, porque a sua distância provoca buracos na nossa irmandade.
Busquemos sim, intensamente a cooperação mútua para que todos alcancemos a graça de servir a Deus de maneira plena e espiritualmente equilibrada pela palavra. Não apenas visualize os erros do seu irmão, mas ajude-o a encontrar-se no caminho. Deseje que todos alcancem a mesma estatura na fé e que todos, assim como também você possam desfrutar de uma comunhão com Deus que se assemelhe a essa de Jó, que tem os seus olhos abertos para ver e entender mais claramente a vida e o seu Deus.
Uma igreja de Cristo é uma agência de vida que precisa, antes de ensiná-la, vivê-la em sua plenitude.

Oração
Conceda-nos, Senhor, uma visão mais clara de quem és e de sua grandeza. Dá-nos um coração humilde, quebrantado e ensina-nos a viver. Amém.


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Toda mensagem escrita é apenas um registro. O sermão bíblico de fato é único, como um rio que passa e muda a cada instante. Um sermão só pode ser pregado uma única vez. Caso seja repetido em outro púlpito, ainda que use os mesmos registros, será outro, por várias razões: a) o pregador nunca é o mesmo, pois está sendo transformado a cada mensagem que prega; b) os ouvintes são outros; c) o Espírito é o mesmo, mas é dinâmico e aplica o que quer aos corações.
Obrigado por ler estes pequenos e falhos esboços!