Desenvolvendo Um Coração Paciente
(Tiago 5. 7 a 11)
Foco da Nossa Condição Decaída
Paciência é uma virtude que nos conduzirá à firmeza necessária para suportar todas as fases da obra de Deus na nossa vida. Desenvolver a paciência é desenvolver a própria fé, é o mesmo que manter a firmeza da nossa decisão de servir a Deus não importa qual seja a circunstância. Nosso texto nos conclama ao desenvolvimento de um coração paciente como resposta à todos os inimigos que minam a nossa fé.
Introdução
Acredito que a melhor maneira de começarmos nossa meditação neste texto é definirmos melhor o significado bíblico de paciência. Duas palavra gregas se destacam para nos dar os contornos do entendimento neotestamentário do termo “paciência”: makrophenia e hupómoneh.
Makrophenia - muitas vezes é traduzida por “longanimidade” que é a ideia mais literal que aponta para a manutenção dos mesmos intentos, não importando o que está acontecendo ao redor. Manter o foco e o propósito do coração. Esta é a palavra mais usada no nosso texto de Tiago.
Hupómoneh - A junção de duas palavras gregas que literalmente significariam: morando elevadamente. A ideia que o termo traduz é a de uma certeza que se fortalece por algo superior e que nos mantém firmes onde estamos. Algumas vezes, esta palavra é traduzida por perseverança.
Tiago constrói seu texto à igreja de seus dias apontando para a necessidade de vencer todos os embates da vida com uma disposição positiva:
Meus irmãos, tendo por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez vonfirmada, produz perseverança (hupómoneh). Ora, a perseverança (hupomoneh) dever ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros em nada deficientes (Tiago 1.2-4).
Com estas palavra de abertura, o irmão de Jesus propõe uma importante reflexão sobre os elementos que nossa fé deve desenvolver de forma prática para que possamos realmente viver e agradar a Deus.
Note que, neste contexto a paciência é uma ferramenta do amadurecimento da fé. Da mesma forma, Paulo parece apresentar este conceito em Romanos 15. Para ele, a paciência não é apenas uma virtude passiva, que habilita a pessoa a receber os choques da vida de forma resignada ou mesmo a sofrer de maneira serena, ela também opera mudanças em nós que são muito importantes. O apóstolo diz que a Escritura deve nos conduzir à paciência e esta, juntamente com a consolação, nos conduzirá à esperança:
Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança (Romanos 15.4).
Para o apóstolo Paulo, à semelhança de Tiago, a paciência é um estágio necessário para que nossa fé amadureça.
Esse é um ponto importante para todos nós, afinal, existem pessoas que vêm a paciência até como uma fraqueza. Dizem que pessoas com pouca atitude se tornam pacientes. Outros, preferem dizer e se conformar com o seguinte: eu não sou paciente e pronto. Como se a falta de paciência fosse tão somente o fruto do nosso temperamento.
Caros irmãos, paciência é uma virtude que se pode cultivar e aprender. Como o apóstolo Paulo aponta, as Escrituras nos foram dadas para que a paciência nela ensinada nos ajude a crescer. Deus nos fala de modo que desenvolva em nós a paciência.
Como disse, não aquela caricatura de passividade diante dos problemas, mas uma virtude bíblica, fruto de uma percepção nova da realidade que nos cerca, advinda de uma conhecimento mais profundo de Deus e do propósito de sua obra, com vistas ao nosso amadurecimento e ao ponto de nos tornarmos verdadeiramente servos do Altíssimo.
O que hoje queremos observar neste texto é os elementos deste desenvolvimento. Vamos olhar para texto e perguntar-lhe sobre os elementos que precisamos discernir para que desenvolvamos um coração mais paciente.
Um Coração Paciente Compreende Que Cristo e o Seu Reino é o Ponto Central de Todas as Coisas
Há alguns domingos temos nos detido nesta epístola e destacamos alguns dos seus principais aspectos. Quero lembrar que enfatizamos a ideia de uma epístola que trabalha nossa fé conceitualmente a partir de coisas muito práticas.
Tiago propõe uma visão prática da vida de fé, mostrando que ser um cristão que agrada a Deus é, em última análise, traduzir a crença em ações de uma verdadeira religião. Isto, Tiago enfatiza, ocorre quando vemos que de fato a Lei Perfeita de Deus opera e nos transforma a ponto do resultado ser aquele esperado: amor a Deus e ao próximo.
O ponto que Tiago discutia com seus irmãos é que o problema que eles deveriam atacar e buscar vencer não eram as perseguições que estavam sofrendo, mas o fato de que em seu coração eles estavam aprisionados ao pecado. Eles precisavam amadurecer a sua fé e isto implicava em desenvolvê-la por meio da “paciência” (Capítulo 1.3-4).
No capítulo 5, verso 7, ele exorta seus irmãos a serem pacientes e destaca o ponto para o qual deveriam olhar para que isso acontecesse: a volta de Cristo.
Sede, pois, pacientes, até a vinda do Senhor (Tiago 5.7).
Tiago não está apenas trabalhando com um prazo, mas com um motivo para a paciência. NO capítulo 4, verso 15, este “senhor” é apontado com aquele que controla os acontecimentos da vida humana. No capitulo 1. verso 12, é o galardoador dos pacientes (perseverantes). Este SENHOR é o ponto focal para o qual nosso olhar deve estar voltado.
Nossa vida gira em torno de Cristo. Ser paciente é passar a compreender todas as coisas a partir de Cristo. Ele é o ponto de significado de todas as coisas, Ele é o ponto semântico de tudo e da nossa vida.
Tiago está dizendo àqueles irmãos que mantenham firme o coração, não sejam demovidos da sua posição e abrigo de fé em Deus, confiando especificamente em Cristo e no fato de que o seu Reino está sendo estabelecido.
Ele usa uma analogia por meio da figura do lavrador, dizendo que todo o árduo trabalho do lavrador tem como foco o preciso fruto da terra. Ele aponta para a recompensa do árduo trabalho do lavrador e a sua “inspiração” preciosa. É a este espírito e ânimo que ele compara a nossa espera pelo Reino de Cristo.
Eis que o lavrador aguarda com paciência o precioso fruto da terra, até receber as primeiras e últimas chuvas. Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração, pois a vinda do Senhor está próxima (Tiago 4.7b-8).
Quero destacar a ideia que Tiago tinha de que nosso labor nesta vida, não importa as circunstâncias é como a semeadura no futuro que não controlamos. As chuvas não são comandadas pelo lavrador, mas ele trabalha na certeza de que elas virão.
Sede Pacientes e Fortalecei o vosso coração - Destaco também o fato de que Tiago entende que esta atitude deve ser moldada no coração, ou seja no profundo de nosso mente, no modo como de fato concebemos que a vida é. A construção que Tiago propõe, literalmente, seria assim traduzida: sede pacientes e vosso coração ficará firme.
Meus irmãos, um coração Paciente é uma dádiva que fortalece a sua fé e para ter um coração paciente, primeiro é necessário que você compreenda o verdadeiro significado de toda a vida: CRISTO E O SEU REINO.
Um Coração Paciente Compreende o Real Valor das Relações no Corpo de Cristo
Nem sempre é fácil viver entre as pessoas. Um dos meus professores dizia: gente dói. De fato, os relacionamentos humanos são um dos maiores desafios da vida cristã. Há muitas pessoas que ao menor sinal de tristeza ou luta nas relações pessoais procura fugir, se esconder.
A vida familiar, o convívio no trabalho, as relações com os vizinhos, a vida na igreja... Todos estes ambientes onde nos chocamos uns com os outros (quero dizer, entramos em choque) são enigmaticamente o melhor lugar para o desenvolvimento de nossa fé.
Fugir disto é o mesmo que pensar em um atleta fugir do treinamento físico que o prepara verdadeiramente para a competição. Tiago está nos chamando a enfrentar estas coisas com a percepção correta do seu significado para nós.
Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para não serdes julgados. Eis que o juiz está às portas (Tiago 4.9).
Irmãos - Um pouco antes, Tiago havia proposto o ponto de reflexão sobre a origem das lutas e contendas que havia na igreja (Tiago 4.1). Para tratar disto, ele pede que eles olhem para si mesmos e propositadamente os chama de irmãos e pede para que não sejam conduzidos pelo pecado, antes lutem contra ele, inicialmente falando para eles acerca dos males da maledicência (Tiago 4.11).
Agora, mais uma vez, ele os chama de irmãos. Acredito que tinha a intenção de lhes mostrar que em Cristo havia um sentido mais elevado para a vida e também para os relacionamentos. Ele começa a pericope destacando “Irmãos, sede pacientes...”. Agora, mais uma vez, enfatiza: irmãos, não vos queixeis uns dos outros...
Não vos queixeis uns dos outros - o termo “estenassete”, traduzido por “queixar” aponta para aquela queixa murmurada. Como se Tiago estivesse falando que os cristãos estavam remoendo queixas dos seus irmãos no coração. O ponto, portanto, é que Tiago está trabalho um dos elementos que precisa ser afastado se queremos ter um coração paciente, ou seja, entender que nossa ligação uns com os outros tem um valor superior às meras relações sociais que estabelecemos.
Para não serdes julgados - Por isso, ele inclui este termos, apontado para o fato de que os cristãos deveriam entender que estes queixumes que o coração abrigava eram extremamente perigosos a ponto de interferir na nossa relação com Deus. De fato, irmãos, um coração paciente precisa discernir que as relações que temos uns com os outros tem um valor superior.
O Juiz está à porta - novamente ele chama para o ponto focal de Cristo como o regulador de todas as coisas. Sim, somos membros de Cristo e rejeitar o outro é rejeitar a Cristo, precisamos desesperadamente de revisões nesta área da vida Cristã.
O amadurecimento de nossa fé passará pelo corredor das nossas relações. Pois, como disse Paulo, é no atrito ou ajuste de todas as juntas e medulas que o Corpo efetua o seu crescimento é na sujeição de uns para com os outros que crescemos.
Uma vida cristã contenciosa, de múrmuros no coração contra os irmãos é sinal de fraqueza espiritual e por isso é que Tiago clama: SEDE PACIENTES.
Meus irmãos, um coração Paciente é uma dádiva que fortalece a sua fé e para ter um coração paciente, primeiro é necessário que você compreenda o verdadeiro significado de NOSSOS RELACIONAMENTOS: CRISTO E O SEU REINO.
Um Coração Paciente Compreende o Preço e o Resultado do Seu Chamado em Cristo
Muitas vezes, levantamos a discussão sobre nossa vocação. Queremos saber o que realmente Deus espera de nós e onde deseja nos usar, quer você tenha um chamado para atuar em meio à sociedade como um todo ou no que diz respeito ao relacionamento mas específico com os irmãos da fé, o trabalho que fazemos no ambiente da igreja.
Bem, uma pergunta que deveria antes de o que Deus espera que eu faça é: Como Deus espera que eu desempenhe o meu chamado?
Confesso que tenho uma enorme dificuldade de entender porque muitas vezes é preciso suplicar tanto para que você faça apenas aquilo que Deus lhe capacitou para fazer. Confesso, que nem sempre é fácil, porque o papel de pastor de igreja é em boa parte das vezes confundido com o papel de “motivador do rebanho”.
No fundo, eu penso que a resposta para as dificuldades que temos para por em prática os dons e talentos que Deus nos deu, sem murmurações tem a ver com o ponto focal de nossa vida e o entendimento de nossas relações. Mas também penso que tem a ver com o fato de que não temos uma real compreensão do fato de que todo chamado tem um preço e um resultado estabelecidos por Deus.
Irmãos, tomai por modelo no sofrimento e na paciência os profetas, os quais falaram em nome do Senhor - Tiago levanta o tema do sofrimento e o papel da paciência neste contexto, como no capítulo 1. Ele diz aos seus irmãos que eles deveriam vestir o modelo de sofrimento e paciência dos profetas. E finaliza o seu exemplo dizendo o seguinte: foi assim que eles falaram em nome do Senhor.
Quando as pessoas nos vêem superando as dificuldades da vida com paciência elas percebem que realmente servimos a alguém e que falamos em nome do Senhor. Mas, quando as pessoas nos vêem perplexos, angustiados, cheios de murmurações no coração, eles não podem ver Deus por meio de nós.
Eis que temos por felizes os que perseveraram firmes - Agora, ele junta o conceito da felicidade e da paciência e nos dá o outro lado da moeda, os que têm um coração paciente revelam ao mundo um contentamento que não está suportado apenas por circunstâncias meramente humanas, mas se estabelece na confiança e fé que são adquiridas na nossa perseverança, ou continua paciência em seguir o caminho e manter o coração firme.
Tiago irá usar um novo exemplo: Jó. Bem, assim como alguns dos irmãos, eu já li o livro de Jó e tenho dificuldade com a ideia de que Jó seja mesmo um exemplo de paciência. Afinal, Jó reclamou de Deus e até desejou a morte por causa do seu estado.
Precisamos aprender duas coisas com este exemplo. Temos, primeiro, de admitir que Jó era realmente paciente, afinal, depois de perder toda a riqueza, os filhos ele é capaz de dizer: o Senhor Deus deu, o Senhor Deus tomou, bendito seja o nome do Senhor.
Admitamos que ele não blasfemou como era o propósito do Diabo. Mas, o que dizer dos textos que se seguem ao capítulo 2 e vão até o capítulo 41, nos quais vemos as discussões de Jó com seus amigos e até com Deus?
Bem, devemos aprender que mesmo alguém paciente pode aprender a ser mais paciente ainda e é nas circunstâncias e nos relacionamentos da vida que desenvolvemos isso. Afinal, o capítulo final de Jó nos fala de um homem diferente e mais próximo de Deus. Aquele homem temente, que tinham algumas fraquezas é, agora, um homem temente, liberto de suas primeiras fraquezas e com certeza teve outras lutas e vitórias até o final de sua vida.
E vistes o fim que o Senhor lhe deu - temos aqui o tema da paciência e o do aperfeiçoamento que ela proporciona (Tiago 1.4). Precisamos entender que no contexto do nosso chamado a paciência é elemento fundamental para que realizemos nossa obra e também essencial para que o Senhor nos transforme.
Um coração paciente compreende que existe um preço e um prêmio para o nosso chamado neste mundo. Lembre-se de que a paciência é uma ferramenta do amadurecimento da sua e uma dádiva que pode ser aprendida.
CONCLUSÃO
Caros irmãos, ser paciente é uma necessidade da nossa fé. Jamais agradaremos a Deus e cumpriremos nossa missão neste mundo sem uma compreensão do valor e da necessidade de desenvolver essa virtude.
Saber manter-se no caminho e saber esperar os resultados da nossa vida é fruto de:
A) Uma compreensão de Cristo como ponto focal da existência
B) Uma compreensão do papel das nossas relações no crescimento e amadurecimento da nossa fé
C) Uma compreensão correta do preço e recompensa do nosso chamado.
Você tem dificuldade para desenvolver um coração paciente, comece trabalhando as razões pelas quais você deveria ser uma pessoa mais paciente e medite no fato de que NÃO SER PACIENTE é estar caminhando para fora da vontade de Deus.
A paciência é um dos resultado da obra do Espírito Santo, parte do Fruto do Espírito. Descubra em Deus e nas Escrituras os elementos que nos conduzem à paciência. Procure ser mais intencional na busca da paciência e se repreenda quando a IMPACIÊNCIA for a sua marca central, LEMBRE-SE QUE PACIENCIA É UMA VIRTUDE QUE PODE SER APRENDIDA E CULTIVADA.
Oração
Ajuda-me, Senhor, porque nem sempre consigo ser paciente e fazer de ti o ponto central da minha vida, nem sempre consigo ver as minhas relações como preciosas e nem sempre entendo os objetivos do Senhor no meu chamado, quando estou em meio às lutas. Dá-me um coração paciente e uma fé mais firme.
Amém