14 de agosto de 2016

Atos 15.36-41

O Lugar do Ego na Missão da Igreja
Atos 15.36-41

FCD
A partir do exemplo apresentado por Lucas, entenderemos como o conflito entre Paulo e Barnabé nos ensina sobre o lugar do ego no desenvolvimento da nossa missão de servir e viver para Deus.
INTRODUÇÃO
Autoafirmação, egocentrismo, busca por protagonismo e relevância pessoal, a mentalidade do homem em nossos dias é a de se posicionar em condições de ser visto, notado e aplaudido pelos demais. O facebook, o instagram, twitter e outras redes sociais estão entre as ferramentas que mais alimentam este sentimento narcisista dos nossos dias.
Por um lado, podemos pensar que este desejo de ser notado, pode ter algum aspecto positivo. Afinal, sair do anonimato e aceitar o desafio de se expor e participar é um investimento no desenvolvimento de nossa personalidade. Por outro lado, é verdade que precisamos de cuidado redobrado com aquilo que chamamos de “ego”.
O conceito de “ego” tornou-se um dos conceitos centrais do modo  de pensar Ocidental, especialmente depois de Freud, quando ele explorou a ideia de que existe, guardados dentro de nosso inconsciente, um diverso  conteúdo que muitas vezes determina nossas ações.
Não obstante, ser Freud o responsável por uma profunda revolução na consciência do “ego”, as Escrituras já nos ensinava a respeito desta profunda interioridade e recomendava muito cuidado, porque nossa interioridade pode esconder pecaminosidade e potencial perigo para o desfrutar de um profundo e significativo relacionamento com Deus.
Quer quiser vir após mim, negue-se a si mesmo e siga-me.
O que vemos no texto que separamos para a exposição bíblica desta noite é a sucinta descrição que Lucas fez de uma grande desavença entre os missionário e companheiros Paulo e Barnabé. A discussão girou em torno da pessoa de João Marcos, primo de Barnabé, que havia se afastado da comitiva missionária de Barnabé e Paulo, quando estes adentraram a região da Panfília, voltando para a Jerusalém.
Vale a pena destacar que Lucas poderia iniciar o relato da segunda viagem missionária sem sequer mencionar este episódio, mas entendeu que seria importante para a igreja saber desta desavença. Não é fácil determinar quais as razões pelas quais Lucas imaginou ser importante este relato, mas podemos imaginar algumas possibilidades.
Acredito que possamos aprender muito sobre o modo como Barnabé e Paulo, os protagonistas deste episódio, lidaram com o “ego” na tarefa de servirem a Deus e cumprirem a sua missão.
Nós que muitas vezes, lidamos com muita dificuldade quando o assunto mistura “missão e ego”, talvez precisemos mesmo refletir sobre o  que aconteceu  com estes irmãos.

No Cumprimento de Nossa Missão Não Podemos Deixar o Nosso Ego Nos Fazer Esquecer de Ajudar o Outro Mesmo Quando o Outro Não se Portou Como Devia
Evidentemente a personagem que nos ensina sobre esta lição é Barnabé. O  texto é  construído para nos fazer ver que o que está no horizonte de Barnabé e Paulo é o empreendimento missionário. Eles foram muito bem-sucedidos na sua primeira viagem e voltaram à Antioquia com muitos frutos colhidos. Estavam dispostos a voltar para fortalecer aquelas igrejas na Palavra do Senhor.
Alguns dias depois, disse Paulo a Barnabé: voltemos, agora, para visitar os irmãos por todas as cidades nas quais anunciamos a palavra do Senhor, para ver como passam (Atos 15.36).
NO capítulo 13, vemos o relato de que João Marcos decidiu não seguir viagem para a Panfília, com Barnabé e Paulo, preferindo voltar à Jerusalém, à casa de sua família. Não temos informações sobre esta decisão de João e não precisamos pensar que tenha sido covardia, ou qualquer outra razão negativa em si. Seja como for, Paulo, acreditava que não era “justo” ou ainda mais literalmente “digno” que aquele que não fizera parte da primeira viagem com todos os seus percalços, voltasse com eles, colhendo frutos de seu trabalho.
E Barnabé, queria levar também a João, chamado Marcos. Mas Paulo não achava justo levarem aquele que se afastara desde a Panfília, não os acompanhando no trabalho (Atos 15.37-38).
Este é o ponto! Talvez João Marcos não tenha se tornado “digno” de colher estes frutos ou de receber algum privilégio de um trabalho alheio. As razões de Paulo são sucintamente descritas, mas não me parecem ser razões vergonhosas, apenas, uma forma de dar a justa medida às ações. NO entanto, Barnabé é capaz de não se sentir em nada lesado pela pessoa de João Marcos, mesmo ele tendo se tornado “indigno” de assumir aquele trabalho. Barnabé consegue vencer os brios do próprio ego e dividir uma glória com João Marcos que ele não deveria receber.
Irmãos, Barnabé é capaz de retomar a caminhada com alguém que errou, com alguém que não parecia digno e empreender nova caminhada com tal pessoa. Barnabé não colocou os interesses pessoais de qualquer natureza à frente da possibilidade de dar a João Marcos uma segunda chance.
Sem dúvida alguma, Barnabé precisou vencer elementos do ego que normalmente nos conduzem a um senso de justiça que procura manter sob as amarras dos rigores do que é justo, aqueles que não se entregaram a fazer o que deviam fazer.
Jesus Cristo deixa um exemplo parecido no trato com Pedro e, na verdade, com todos os seus apóstolos, até mesmo Paulo, o perseguidor da Igreja. Parece-me que neste ponto, a atitude de Barnabé coloca o EGO no lugar certo e não permite ao senso de JUSTIÇA PRÓPRIA comandar a relação com as outras pessoas.
Não podemos ser conduzidos pelo EGO, quando tratamos do tema de dar outras oportunidades a quem já errou conosco. Este é o ponto! A nossa missão de salvar vidas, inclui a vida daqueles que salvam vidas junto conosco!

No Cumprimento de Nossa Missão Não Podemos Deixar o Desejo do Ego por Glória Impedir que Façamos a Obra do Senhor
Ainda olhando para o exemplo de Barnabé, podemos aprender um segundo aspecto da sua decisão.
Houve entre eles tal desavença, que vieram a separar-se. Então, Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou para Chipre (Atos 15.39).
Não sabemos nada sobre o que Barnabé e João Marcos fizeram em Chipre. Apenas sabemos que a decisão de Barnabé o tirou do roteiro que Lucas descreveu no restante do seu livro sobre o modo como a Igreja cumpriu o IDE.
Quando Paulo se converteu, Barnabé foi o homem que assumiu o papel de ser o seu tutor:
Tendo chegado a Jerusalém, procurou juntar-se com os discípulos, todos, porém, o temiam, não acreditando que ele fosse discípulo. Mas Barnabé, tomando-o consigo, levou-o aos apóstolos, e contou-lhes como ele vira o Senhor no caminho, e que este lhe falara, e como em Damasco pregara ousadamente em nome de Jesus (Atos 9.26-27).
Sem dúvida Barnabé era um homem de uma característica de amor bastante singular. Não é à toa que é chamado de “homem de consolação”, capaz de se condoer e ajudar o próximo. Assim como um dia ele havia feito com Paulo, se dispôs a fazer com João Marcos.
Durante a primeira viagem missionária, Barnabé era um líder e, em muitos momentos, considerado o verdadeiro líder inicial daquele empreendimento missionário. Um recurso de linguagem, usado para afirmar isto, é a posição dos nomes na descrição de Lucas.
Desde o capítulo 11, quando Lucas descreve o trabalho destes dois obreiros, você verá a referência de ambos assim “Barnabé e Saulo”. Até mesmo no começo da primeira viagem missionária você lerá: “Barnabé e Saulo” (At 13.2; 7). Somente a partir de 13.46 é que estas posições se inverterão, logo após o grande discurso de Paulo em Antioquia da Psídia.
Barnabé poderia tomar para si a prerrogativa de liderar a nova expedição missionária para colher os frutos plantados. Ele foi o tutor de Paulo, ele foi o primeiro líder da missão. Porque deveria deixar para Paulo este protagonismo.
Bem, pelo que o texto nos mostra, ele deixou este protagonismo, por não considerar a busca do EGO por glória como mais importante. O desejo de glória não o impediria de servir a Deus e preferiu o anonimato de uma missão menor, para ajudar João Marcos.
No lugar de Barnabé, algumas pessoas escolheriam nada fazer. Alguns chegam a dizer que não querem ser cauda, já que podem ser cabeça. Tenho uma grande dificuldade com esta ideia de que só podemos ser úteis se estivermos em situação de protagonismo. Precisamos aprender a continuar fazendo a vontade de Deus, mesmo quando isto aponta para o anonimato.
Na verdade, não existe anonimato quando se trata de servir na missão de Deus. Porque, Deus sabe qual é o nosso NOME e por isso é que nos chama  e envia para cumprir o nosso papel.
No Cumprimento de Nossa Missão Não Podemos Deixar o Nosso Ego Transformar o Nosso Coração em Um Poço de Soberba Insensata
Vamos tomar o exemplo a partir da história do Apóstolo Paulo. Os versos 40 e 41 são apenas o início da descrição de mais uma grande jornada de fé vitoriosa do apóstolo Paulo, agora na companhia de Silas, depois com Timóteo, com Lucas e tantos outros companheiros que se achegariam ao longo de sua bem sucedida jornada como anunciador do NOME DE CRISTO.
Mas Paulo, tendo escolhido a Silas, partiu encomendado pelos irmãos à graça do Senhor. E passou pela Síria e Cilícia, confirmando as igrejas (Atos 15.40-41).
Paulo protagonizará diversas situações como pregador do Evangelho e Silas com ele. Enfim, todos sabemos da sua importância para o desenvolvimento e o espalhar da fé cristã.
Na verdade, Paulo poderia ter se esquecido de João Marcos e tê-lo deixado para lá. Afinal, não é assim que muitas vezes os famosos fazem, esquecendo-se daqueles que não cresceram com eles. Pois, quando nos tornamos pessoas importantes corremos o risco de ter o coração tomado por uma soberba insensata e perder o valor do amor pelas pessoas, deixando com que o amor por nós mesmos nos leve a esquecer dos outros.
Em Colossenses 4.10, nas suas saudações finais, Paulo recomenda que os irmãos cuidem de receber bem a João Marcos, o primo de Barnabé.
Saúda-vos Aristarco, prisioneiro comigo, e Marcos, primo de Barnabé (sobre quem recebestes instruções, se ele for ter convosco, acolhei-o) (Cl 4.10).
No final de seu ministério, diante de um momento de certo sentimento de solidão, Paulo chama Timóteo e pede que este venha ter com ele na prisão. Ele descreve este momento de solidão, aparentemente com certa tristeza por ter sido abandonado por Demas e de outros irmãos terem partido para outros trabalhos.
Procura vir ter comigo depressa. Porque Demas, tendo amado o presente século, me abandonou e se foi para Tessalônica; Crescente foi para a Galácia, Tito, para a Dalmácia. Somente Lucas está comigo (2Tm 4.9-11a).
A surpresa deste ponto da história de Paulo é o que ele pede que Timóteo faça no momento em que estiver vindo para estar com ele:
Toma contigo Marcos e traze-o, pois me é útil para o ministério (2Tm 4.11b).  
Talvez, numa situação de abandono ele pudesse pensar em muitas pessoas, menos naquele jovem que o havia deixado na missão. Mas, Paulo não deixou seu coração se afundar em uma soberba que o afastasse de ser abençoado pela vida de João Marcos, ao contrário, para Paulo, ele é agora um companheiro no momento de solidão.
O lugar do nosso EGO na MISSÃO DE DEUS não é o de se tornar soberbo e julgador eterno dos irmãos, mas o de humildemente aceitar a benção de Deus não importa por intermédio de quem ela venha.

Conclusão
Sem dúvida, um dos maiores perigos na nossa jornada em cumprimento ao chamado de Deus é aquele que jaz em nosso próprio coração, o nosso EGO. O lugar que o EGO deve ocupar não pode ser o de ser o Senhor da nossa vida, mas precisamos estar prontos para fazer morrer o nosso EU e promover a obra do Senhor.
Algumas vezes, precisamos vencer o EGO para oferecer oportunidades àqueles que andam ao nosso lado; Outras vezes, precisamos vencer o EGO para poder achar contentamento em uma obra que aparentemente não nos trará glória e nos levará ao anonimato, lembrando que não existe anonimato para quem faz a obra do senhor. Por fim, precisamos fazer com nosso EGO, não se torne soberbo e insensato, para podermos aproveitar, ao máximo, da graça de Deus e de sua maneira peculiar de cuidar de nós.
Não existe tarefa mais difícil que dominar o próprio coração e não existe tarefa mais grandiosa e abençoadora para nosso próprio EGO, quando conseguimos dar a ele o que ele mais precisa: VIDA HUMILDE E ENTREGUE NAS MÃOS DO SENHOR PARA PODER FAZER A SUA OBRA.

Oração
Que a minha vida possa ser um reflexo da tua vida em mim e como Jesus eu aprenda a viver humildemente na tua presença.

Amém

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Toda mensagem escrita é apenas um registro. O sermão bíblico de fato é único, como um rio que passa e muda a cada instante. Um sermão só pode ser pregado uma única vez. Caso seja repetido em outro púlpito, ainda que use os mesmos registros, será outro, por várias razões: a) o pregador nunca é o mesmo, pois está sendo transformado a cada mensagem que prega; b) os ouvintes são outros; c) o Espírito é o mesmo, mas é dinâmico e aplica o que quer aos corações.
Obrigado por ler estes pequenos e falhos esboços!