O Lugar do Ego na Missão da Igreja
Atos 15.36-41
FCD
A
partir do exemplo apresentado por Lucas, entenderemos como o conflito entre
Paulo e Barnabé nos ensina sobre o lugar do ego no desenvolvimento da nossa
missão de servir e viver para Deus.
INTRODUÇÃO
Autoafirmação,
egocentrismo, busca por protagonismo e relevância pessoal, a mentalidade do
homem em nossos dias é a de se posicionar em condições de ser visto, notado e
aplaudido pelos demais. O facebook, o instagram, twitter e outras redes sociais
estão entre as ferramentas que mais alimentam este sentimento narcisista dos
nossos dias.
Por
um lado, podemos pensar que este desejo de ser notado, pode ter algum aspecto
positivo. Afinal, sair do anonimato e aceitar o desafio de se expor e
participar é um investimento no desenvolvimento de nossa personalidade. Por
outro lado, é verdade que precisamos de cuidado redobrado com aquilo que
chamamos de “ego”.
O
conceito de “ego” tornou-se um dos conceitos centrais do modo de pensar Ocidental, especialmente depois de
Freud, quando ele explorou a ideia de que existe, guardados dentro de nosso
inconsciente, um diverso conteúdo que
muitas vezes determina nossas ações.
Não
obstante, ser Freud o responsável por uma profunda revolução na consciência do “ego”,
as Escrituras já nos ensinava a respeito desta profunda interioridade e
recomendava muito cuidado, porque nossa interioridade pode esconder
pecaminosidade e potencial perigo para o desfrutar de um profundo e
significativo relacionamento com Deus.
Quer quiser vir após
mim, negue-se a si mesmo e siga-me.
O
que vemos no texto que separamos para a exposição bíblica desta noite é a sucinta
descrição que Lucas fez de uma grande desavença entre os missionário e companheiros
Paulo e Barnabé. A discussão girou em torno da pessoa de João Marcos, primo de
Barnabé, que havia se afastado da comitiva missionária de Barnabé e Paulo,
quando estes adentraram a região da Panfília, voltando para a Jerusalém.
Vale
a pena destacar que Lucas poderia iniciar o relato da segunda viagem
missionária sem sequer mencionar este episódio, mas entendeu que seria importante
para a igreja saber desta desavença. Não é fácil determinar quais as razões
pelas quais Lucas imaginou ser importante este relato, mas podemos imaginar
algumas possibilidades.
Acredito
que possamos aprender muito sobre o modo como Barnabé e Paulo, os protagonistas
deste episódio, lidaram com o “ego” na tarefa de servirem a Deus e cumprirem a
sua missão.
Nós
que muitas vezes, lidamos com muita dificuldade quando o assunto mistura “missão
e ego”, talvez precisemos mesmo refletir sobre o que aconteceu
com estes irmãos.
No Cumprimento de Nossa Missão Não Podemos
Deixar o Nosso Ego Nos Fazer Esquecer de Ajudar o Outro Mesmo Quando o Outro
Não se Portou Como Devia
Evidentemente
a personagem que nos ensina sobre esta lição é Barnabé. O texto é
construído para nos fazer ver que o que está no horizonte de Barnabé e
Paulo é o empreendimento missionário. Eles foram muito bem-sucedidos na sua
primeira viagem e voltaram à Antioquia com muitos frutos colhidos. Estavam
dispostos a voltar para fortalecer aquelas igrejas na Palavra do Senhor.
Alguns dias depois,
disse Paulo a Barnabé: voltemos, agora, para visitar os irmãos por todas as
cidades nas quais anunciamos a palavra do Senhor, para ver como passam (Atos
15.36).
NO
capítulo 13, vemos o relato de que João Marcos decidiu não seguir viagem para a
Panfília, com Barnabé e Paulo, preferindo voltar à Jerusalém, à casa de sua
família. Não temos informações sobre esta decisão de João e não precisamos
pensar que tenha sido covardia, ou qualquer outra razão negativa em si. Seja
como for, Paulo, acreditava que não era “justo” ou ainda mais literalmente “digno”
que aquele que não fizera parte da primeira viagem com todos os seus percalços,
voltasse com eles, colhendo frutos de seu trabalho.
E Barnabé, queria levar
também a João, chamado Marcos. Mas Paulo não achava justo levarem aquele que se
afastara desde a Panfília, não os acompanhando no trabalho (Atos 15.37-38).
Este
é o ponto! Talvez João Marcos não tenha se tornado “digno” de colher estes
frutos ou de receber algum privilégio de um trabalho alheio. As razões de Paulo
são sucintamente descritas, mas não me parecem ser razões vergonhosas, apenas,
uma forma de dar a justa medida às ações. NO entanto, Barnabé é capaz de não se
sentir em nada lesado pela pessoa de João Marcos, mesmo ele tendo se tornado “indigno”
de assumir aquele trabalho. Barnabé consegue vencer os brios do próprio ego e
dividir uma glória com João Marcos que ele não deveria receber.
Irmãos,
Barnabé é capaz de retomar a caminhada com alguém que errou, com alguém que não
parecia digno e empreender nova caminhada com tal pessoa. Barnabé não colocou
os interesses pessoais de qualquer natureza à frente da possibilidade de dar a
João Marcos uma segunda chance.
Sem
dúvida alguma, Barnabé precisou vencer elementos do ego que normalmente nos conduzem
a um senso de justiça que procura manter sob as amarras dos rigores do que é
justo, aqueles que não se entregaram a fazer o que deviam fazer.
Jesus
Cristo deixa um exemplo parecido no trato com Pedro e, na verdade, com todos os
seus apóstolos, até mesmo Paulo, o perseguidor da Igreja. Parece-me que neste
ponto, a atitude de Barnabé coloca o EGO no lugar certo e não permite ao senso
de JUSTIÇA PRÓPRIA comandar a relação com as outras pessoas.
Não
podemos ser conduzidos pelo EGO, quando tratamos do tema de dar outras
oportunidades a quem já errou conosco. Este é o ponto! A nossa missão de salvar
vidas, inclui a vida daqueles que salvam vidas junto conosco!
No Cumprimento de Nossa Missão Não Podemos
Deixar o Desejo do Ego por Glória Impedir que Façamos a Obra do Senhor
Ainda
olhando para o exemplo de Barnabé, podemos aprender um segundo aspecto da sua
decisão.
Houve entre eles tal
desavença, que vieram a separar-se. Então, Barnabé, levando consigo a Marcos,
navegou para Chipre (Atos 15.39).
Não
sabemos nada sobre o que Barnabé e João Marcos fizeram em Chipre. Apenas
sabemos que a decisão de Barnabé o tirou do roteiro que Lucas descreveu no
restante do seu livro sobre o modo como a Igreja cumpriu o IDE.
Quando
Paulo se converteu, Barnabé foi o homem que assumiu o papel de ser o seu tutor:
Tendo chegado a
Jerusalém, procurou juntar-se com os discípulos, todos, porém, o temiam, não
acreditando que ele fosse discípulo. Mas Barnabé, tomando-o consigo, levou-o
aos apóstolos, e contou-lhes como ele vira o Senhor no caminho, e que este lhe falara,
e como em Damasco pregara ousadamente em nome de Jesus (Atos 9.26-27).
Sem
dúvida Barnabé era um homem de uma característica de amor bastante singular.
Não é à toa que é chamado de “homem de consolação”, capaz de se condoer e
ajudar o próximo. Assim como um dia ele havia feito com Paulo, se dispôs a
fazer com João Marcos.
Durante
a primeira viagem missionária, Barnabé era um líder e, em muitos momentos,
considerado o verdadeiro líder inicial daquele empreendimento missionário. Um
recurso de linguagem, usado para afirmar isto, é a posição dos nomes na
descrição de Lucas.
Desde
o capítulo 11, quando Lucas descreve o trabalho destes dois obreiros, você verá
a referência de ambos assim “Barnabé e Saulo”. Até mesmo no começo da primeira
viagem missionária você lerá: “Barnabé e Saulo” (At 13.2; 7). Somente a partir
de 13.46 é que estas posições se inverterão, logo após o grande discurso de
Paulo em Antioquia da Psídia.
Barnabé
poderia tomar para si a prerrogativa de liderar a nova expedição missionária
para colher os frutos plantados. Ele foi o tutor de Paulo, ele foi o primeiro
líder da missão. Porque deveria deixar para Paulo este protagonismo.
Bem,
pelo que o texto nos mostra, ele deixou este protagonismo, por não considerar a
busca do EGO por glória como mais importante. O desejo de glória não o
impediria de servir a Deus e preferiu o anonimato de uma missão menor, para
ajudar João Marcos.
No
lugar de Barnabé, algumas pessoas escolheriam nada fazer. Alguns chegam a dizer
que não querem ser cauda, já que podem ser cabeça. Tenho uma grande dificuldade
com esta ideia de que só podemos ser úteis se estivermos em situação de
protagonismo. Precisamos aprender a continuar fazendo a vontade de Deus, mesmo
quando isto aponta para o anonimato.
Na verdade,
não existe anonimato quando se trata de servir na missão de Deus. Porque, Deus
sabe qual é o nosso NOME e por isso é que nos chama e envia para cumprir o nosso papel.
No Cumprimento de Nossa Missão Não Podemos
Deixar o Nosso Ego Transformar o Nosso Coração em Um Poço de Soberba Insensata
Vamos
tomar o exemplo a partir da história do Apóstolo Paulo. Os versos 40 e 41 são
apenas o início da descrição de mais uma grande jornada de fé vitoriosa do
apóstolo Paulo, agora na companhia de Silas, depois com Timóteo, com Lucas e
tantos outros companheiros que se achegariam ao longo de sua bem sucedida
jornada como anunciador do NOME DE CRISTO.
Mas Paulo, tendo
escolhido a Silas, partiu encomendado pelos irmãos à graça do Senhor. E passou
pela Síria e Cilícia, confirmando as igrejas (Atos 15.40-41).
Paulo
protagonizará diversas situações como pregador do Evangelho e Silas com ele.
Enfim, todos sabemos da sua importância para o desenvolvimento e o espalhar da
fé cristã.
Na
verdade, Paulo poderia ter se esquecido de João Marcos e tê-lo deixado para lá.
Afinal, não é assim que muitas vezes os famosos fazem, esquecendo-se daqueles
que não cresceram com eles. Pois, quando nos tornamos pessoas importantes
corremos o risco de ter o coração tomado por uma soberba insensata e perder o
valor do amor pelas pessoas, deixando com que o amor por nós mesmos nos leve a
esquecer dos outros.
Em
Colossenses 4.10, nas suas saudações finais, Paulo recomenda que os irmãos
cuidem de receber bem a João Marcos, o primo de Barnabé.
Saúda-vos Aristarco,
prisioneiro comigo, e Marcos, primo de Barnabé (sobre quem recebestes
instruções, se ele for ter convosco, acolhei-o) (Cl 4.10).
No
final de seu ministério, diante de um momento de certo sentimento de solidão,
Paulo chama Timóteo e pede que este venha ter com ele na prisão. Ele descreve
este momento de solidão, aparentemente com certa tristeza por ter sido
abandonado por Demas e de outros irmãos terem partido para outros trabalhos.
Procura vir ter comigo
depressa. Porque Demas, tendo amado o presente século, me abandonou e se foi
para Tessalônica; Crescente foi para a Galácia, Tito, para a Dalmácia. Somente
Lucas está comigo (2Tm 4.9-11a).
A
surpresa deste ponto da história de Paulo é o que ele pede que Timóteo faça no
momento em que estiver vindo para estar com ele:
Toma contigo Marcos e
traze-o, pois me é útil para o ministério (2Tm 4.11b).
Talvez,
numa situação de abandono ele pudesse pensar em muitas pessoas, menos naquele
jovem que o havia deixado na missão. Mas, Paulo não deixou seu coração se
afundar em uma soberba que o afastasse de ser abençoado pela vida de João
Marcos, ao contrário, para Paulo, ele é agora um companheiro no momento de
solidão.
O
lugar do nosso EGO na MISSÃO DE DEUS não é o de se tornar soberbo e julgador
eterno dos irmãos, mas o de humildemente aceitar a benção de Deus não importa
por intermédio de quem ela venha.
Conclusão
Sem
dúvida, um dos maiores perigos na nossa jornada em cumprimento ao chamado de
Deus é aquele que jaz em nosso próprio coração, o nosso EGO. O lugar que o EGO
deve ocupar não pode ser o de ser o Senhor da nossa vida, mas precisamos estar
prontos para fazer morrer o nosso EU e promover a obra do Senhor.
Algumas
vezes, precisamos vencer o EGO para oferecer oportunidades àqueles que andam ao
nosso lado; Outras vezes, precisamos vencer o EGO para poder achar
contentamento em uma obra que aparentemente não nos trará glória e nos levará
ao anonimato, lembrando que não existe anonimato para quem faz a obra do
senhor. Por fim, precisamos fazer com nosso EGO, não se torne soberbo e
insensato, para podermos aproveitar, ao máximo, da graça de Deus e de sua
maneira peculiar de cuidar de nós.
Não
existe tarefa mais difícil que dominar o próprio coração e não existe tarefa
mais grandiosa e abençoadora para nosso próprio EGO, quando conseguimos dar a
ele o que ele mais precisa: VIDA HUMILDE E ENTREGUE NAS MÃOS DO SENHOR PARA
PODER FAZER A SUA OBRA.
Oração
Que a
minha vida possa ser um reflexo da tua vida em mim e como Jesus eu aprenda a
viver humildemente na tua presença.
Amém
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