A Natureza da Oposição a Cristo
Mateus 26. 1 a 5
FCD
O
capítulo 26 de Mateus abre uma nova sessão dedicada aos eventos que antecederam
a crucificação. Nesta sessão, algo que me chama a atenção, especialmente no
capítulo 26, é o total conhecimento de Jesus sobre o que está acontecendo ao
seu redor, inclusive, dos elementos sórdidos da oposição que se levantava
contra ele. Este capítulo aponta para a força de uma fé que não se intimida e
caminha em frente, mesmo diante da oposição e serve como estímulo para que não
deixemos de viver a fé, quando forças contrárias se levantam.
INTRODUÇÃO
Sem
dúvida alguma, precisamos nos lembrar de outras passagens bíblicas que apontam
para o fato de que aqueles que desejarem viver piedosamente serão perseguidos.
Muitas vezes, Jesus apontou para seus discípulos a respeito da oposição que
teriam por causa do seu amor a Ele. O Mestre enfatizou que o ódio que o mundo
pecaminoso tem em relação a ele, seria transferido para todo aquele que se
voltar em amor a Cristo e seu Reino.
O
capítulo 24 e depois o 25 de Mateus é dedicado a falar deste tempo de lutas e
tribulação, mas também da importância da perseverança na fé e no trabalho em
prol do Reino de Cristo. Ao final, o capítulo 25, fala deste trabalho abnegado
do cristianismo bíblico piedoso e a recompensa que todos receberemos no Dia de
Cristo.
Contudo,
até que tudo se complete, precisamos passar pelo vale da oposição, que se
levanta contra os filhos de Deus em todas as épocas, cuja intenção é nos calar
ou nos amordaçar com seus estratagemas.
Olhando
para o início do capítulo 26 e em seu transcorrer, algo que podemos observar é
que os eventos da traição e prisão de Jesus não aconteceram sem que o Mestre os
soubesse. Ao contrário, tudo o que observamos é que ele sabe que será traído,
preso e até abandonado por seus discípulos.
Nos
versos que vamos observar para esta mensagem, Jesus está ciente de que,
enquanto está ensinando aos seus discípulos sobre como se comportar em meio a
tempos de tribulação e perseguição, os principais sacerdotes estão tramando em
como prendê-lo. Nestes versos, veremos a respeito da natureza da oposição
contra Cristo e nos perguntaremos a respeito de nós mesmos, quando os traços
desta oposição são vistos em nós e contra nós.
Jesus Não se
Intimidou Mesmo Sabendo Que a Natureza da Oposição Contra ELE era de Ódio
Mortal
Um
famoso quadro de um rafaelita, chamado Holman Hunt, retrata um dia em que o
jovem Jesus estava na carpintaria de seu pai e, enquanto o sol entrava pela
janela da carpintaria, projeta sua sombra sobra a parede do fundo da
carpintaria. A imagem que se formava na soma da sombra projetada, com os
cavaletes de madeira colocados na parede era a da crucificação. O pintor
procurou mostrar que a vida de Jesus se passou sob a sombra da cruz que haveria
de carregar no dia de sua morte.
Em
um tempo em que as pessoas vivem cada vez mais para si mesmas, buscando fugir
de compromissos que lhes exijam alto preço a pagar, precisamos resgatar esta
teologia da entrega e da Cruz. Enquanto o Cristianismo Evangélico no Brasil do
século XXI pode estar preocupado em buscar a redenção financeira, o
Cristianismo que desceu do Monte das Oliveiras no dia do Sermão Profético
estava interessado em buscar a Cruz e a Redenção dos Pecados.
Tendo Jesus
acabado todos estes ensinamentos, disse a seus discípulos: Sabeis que, daqui a dois
dias, celebrar-se-á a Páscoa; e o Filho do Homem será entregue para ser
crucificado (Mateus 26.2).
Todas estas palavras aos discípulos
– estamos diante de uma
mensagem endereçada aos discípulos, como uma continuação ou uma aplicação
direta a tudo o que foi dito antes. Jesus está dizendo aos seus discípulos que
haveria grande tribulação e que eles deveriam permanecer fiéis e atuantes no
seu Reino quando tudo acontecesse. Bem, agora ele começa a dizer que a
tribulação começa nele. O ódio dos opositores começará a se manifestar.
Acredito
que Jesus deseja que seus discípulos considerem atentamente o fato de que seu
sofrimento é uma lição que deverá servir para quando eles próprios tiverem de
tomar a sua cruz.
O
ensino do Novo Testamento parece apontar nesta direção, quando Paulo diz que “(...) nos foi dada a graça de padecer por
Cristo e não somente crer nEle”. Da mesma forma, Pedro diz: “alegrai-vos na medida em que sois
co-participantes dos sofrimentos de Cristo”.
Bem,
esta é uma palavra para os discípulos: o ódio contra mim começará e a sua
NATUREZA É MORTAL.
O Filho do homem será entregue
para ser crucificado – Aqui,
portanto, Jesus aponta para a letalidade das ações do ódio contra ele. Os
principais fariseus tramaram encontrar algo para incriminar Jesus diversas
vezes, mas como não conseguiram encontrar nada contra ele, resolveram que
haveriam de pegá-lo à traição, isto é, à revelia da própria Lei e depois
acusa-lo falsamente. Seu ódio contra Jesus não seguia regras da ética humana,
da Lei ou de qualquer outra coisa razoável, ao contrário, era um ÓDIO PROFUNDO
E DE NATUREZA MORTAL – ÓDIO MORTAL. Queriam ver Jesus morto!
Não
é de se estranhar que o modo como ainda hoje algumas pessoas tentam calar os
Cristãos é com ameaças de morte, como acontece em países onde ser cristão é um
crime de morte. Também não é de se estranhar que pessoas queiram tanto
silenciar a voz da verdade em seu coração e fazer morrer o Ensino de Cristo em
sua própria mente. Não é de se admirar que tantos, inclusive alguns que dizem
amar Jesus, quando o assunto é CONTRARIAR SUA VONTADE PESSOAL, prefeririam não
ter conhecido a VERDADE.
Tudo
isto é a manifestação da LETALIDADE DA MALIGINADADE HUMANA em sua rebeldia
contra o Deus e o seu Ungido. Contra Cristo e a sua Mensagem e os portadores da
sua mensagem, os piedosos da terra.
MAS
JESUS NÃO SE INTIMIDOU DIANTE DO SEU ÓDIO MORTAL, PORQUE A FERRAMENTA DO SEU
ÓDIO, A CRUZ, FOI A FERRAMENTA DE JESUS PARA VENCER A MORTE.
Jesus Não se
Intimidou Mesmo Sabendo Que a Natureza da Oposição Contra ELE era pessoal e nascia
no coração de quem deveria recebe-lo
Às
vezes nos esquecemos de que os homens que planejaram trair, prender e matar
Jesus eram homens religiosos, que tinham por tarefa principal alentar o povo
para aguardar a chegada do Messias. Também nos esquecemos de que, os homens e
mulheres que gritaram “Crucifica-o” diante de Pilatos eram judeus, o povo que
havia sido escolhido para ser o portador dos oráculos que anunciavam a chegada
do Rei.
Então, os
principais sacerdotes e os anciãos do povo se reuniram no palácio do sumo
sacerdote, chamado Caifás (Mateus 26.3).
Mateus
descreve a história desta traição dizendo que, enquanto Jesus estava terminando
os seus ensinos no Monte das Oliveiras, estando no vilarejo de Betânia em
visita à casa dos irmãos, Marta, Maria e Lázaro, a quem ele tinha ressuscitado,
homens que deveriam busca-lo tramavam mata-lo, inclusive tendo provas
incontestes de sua procedência divina, como constatou Nicodemus. Chega a ser assustador pensar que pessoas
podem saber tanto sobre Deus e ainda assim se colocarem em oposição a Deus.
Principais Sacerdotes e Anciãos
do Povo – Mateus destaca que
o conluio não era apenas dos dirigentes da religião, mas tinha a representação
do povo. Trava-se de uma guerra de poder e uma oposição que se generalizava,
mesmo que houvesse, da parte deles mesmos, uma clara noção da excepcional
comunhão deste homem de Nazaré com Deus. No Evangelho de João, a sua maligna
deliberação tem ainda mais detalhes:
Então, os
principais sacerdotes e os fariseus convocaram o Sinédrio, e disseram: Que
estamos fazendo, uma vez que este homem opera muitos sinais? Se o deixarmos
assim, todos crerão nele; depois, virão os romanos e tomarão não só o nosso
lugar, mas a própria nação (João 11.47-48).
Estavam
cegos por causa do pecado e não conseguiam ver a Luz que emanava de Jesus.
Mesmo que considerassem a realidade dos seus sinais, ainda assim, mantinham o
seu coração endurecido. Volto a dizer: é
assustador que pessoas que conheçam tanto de Deus possam se colocar em oposição
ao seu Reino. Há só uma explicação: o pecado lhes dominou e cegou o
entendimento. Estão vivendo e sendo guiados pelas forças das trevas.
Mas
precisamos saber que Jesus não intimidou diante da natureza pessoal da oposição
a Ele. Antes, sua determinação foi a de simplesmente ir à festa da Páscoa,
mesmo sabendo que aqueles sórdidos planos estavam orquestrados e que nasceram
de corações que o odiavam mortalmente.
Precisamos
destacar, mais uma vez, que estes homens que alimentaram em seu coração a
oposição a Cristo eram exatamente aqueles que deveriam tê-lo recebido. Eles,
teoricamente, eram os que tinham mais condições de receber o Messias, afinal
eram estudiosos, líderes do povo e estudiosos das Escrituras.
Precisamos
atentar para o perigo de sermos os primeiros a deixar o coração se colocar
contra Cristo, especialmente, devemos cuidar para que nossa crença em Cristo
não seja meramente discursiva, mas transformadora do nosso próprio ser
interior.
Por
outro lado, vale a pena pensar que devemos viver de uma maneira corajosa, como
Cristo viveu. Afinal, muitas vezes, nós também temos de enfrentar oposição
nascida no coração, baseada não em raciocínios ou fruto de alguma realidade
tangível, mas fruto de inclinações naturais de oposição. Isso não deve nos
desesperar, mas nos permite olhar para Cristo e saber que, assim como o Mestre,
nós também sofreremos a mesma oposição e devemos resistir corajosamente.
Jesus Não se
Intimidou Mesmo Sabendo Que a Natureza da Oposição Contra ELE era Carregada de
Engenhosa Malignidade
Caros
irmãos, a oposição a Cristo não foi algo planejado somente nesta reunião do
Sinédrio. Em outras ocasiões tentaram pegar Jesus em alguma falta, procurando
um modo de leva-lo ao descrédito. Agora, entretanto, após a ressurreição de
Lázaro, o seu medo em relação a Jesus aumentou, afinal, todos falavam daquele Rabi
Nazareno que ressuscitara um homem. Este medo ficaria ainda maior, quando após
a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém.
Deliberaram
prender Jesus, à traição e mata-lo. Mas diziam: Não durante a festa, para que
não haja tumulto entre o povo (Mateus 26.4-5).
Deliberaram prender - Algumas palavras do verso 3 indicam a malignidade
deste acordo das lideranças contra Jesus. Primeiro, o termo “deliberar” é “sunebouléusanto” (concílio – juntos oficialmente) que
indicavam que se tratava de uma reunião oficial, para se tratar de uma
estratégia. O outro termo é o verbo “prender” (Kratos), que indicava o uso da
força, do poder da autoridade.
Precisamos
considerar que estes homens estão agindo oficialmente em nome da “lei” da sua
religião e tramando ou organizando um modo de fazer aquilo com Jesus.
Evidentemente, eles não tinham um motivo, e qualquer coisa que fizessem deixaria
claro sua malignidade, mas chegaram ao ponto de que o problema não é mais a
lei, mas um ato maligno do coração.
Traição para matar – (doloi – apoktenousin) Um planejamento maligno “doloi”
e o assassinato (apoktenousin) estes são os termos que definem a oposição que
estava se levantando contra Jesus. Facilmente podemos perceber a sordidez
destes planos e a sua malignidade.
Não durante a festa - No verso 5, eles definem quando deveriam fazer
isto e não poderia ser no momento da festa, afinal, o povo poderia se ficar do
lado de Jesus, afinal todos veriam que aquilo era uma farsa maligna, carregada
da inveja dos principais sacerdotes. Tratava-se de um plano bem organizado,
havia uma estratégia maligna sendo orquestrada e implementada. A compra de
Judas era só uma parte deste plano.
Jesus
sabia de tudo isto, conhecia estes planos, tinha em mente que as coisas seriam
assim. Afinal ele anuncia que os principais sacerdotes lhe tomariam dos
discípulos. Ele não se protegeu, ele sabendo de tudo isto, foi orar no
Getsemani, um lugar escondido, ideal para um assalto fora das vistas do povo.
Estamos vendo que Jesus não se intimida, ele sabe o que tem de fazer, o que irá
ocorrer e caminha na direção de cumprir a vontade de Deus.
Precisamos
considerar o quanto estamos expostos a todo tipo de oposição e não podemos nos
portar de forma despreparada, desavisada. Não podemos pensar que os homens que
projetam leis contra a nossa fé ou que propõe noções anticristãs nas
telenovelas, nos filmes, nos programas de talkshow, nas peças de teatro, nos
jornais etc, estão simplesmente agindo sem nenhuma ordenada intenção.
Cristãos
precisam ser sábios para conhecer as épocas e lutar pelo mundo como sal e como
luz, mas quando, mesmo que brilhemos intensamente a luz de Cristo por meio de
nossa vida impoluta (não poluída), devemos saber que Cristo se comportou com
perseverança, mesmo em meio à oposição malignamente planejada. Não podemos nos
assustar como se não soubéssemos deste ódio presente contra Cristo e seus
discípulos no mundo.
Conclusão
Meus
irmãos, estes versos devem ser lidos com a ideia clara de que Cristo nos enviou
como ovelhas para o meio de lobos.
Eis que eu vos
envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas
(Mateus 10.16).
Precisamos
ter em mente que esta é a nossa dupla missão: transformar e resistir. Devemos
lutar como transformadores, iluminando o mundo. Mas também devemos resistir
como Cristo resistiu.
Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes,
aquele que pode fazer perecer no inferno tanto alma como o corpo (Mateus
10.28).
Em nossos dias
precisamos dos dois tipos de igreja: a que luta pela transformação da
sociedade, mesmo sabendo que é grande a oposição e sua natureza maligna,
pessoal, planejada.
Precisamos também de
uma igreja que esteja preparada para resistir no dia mal e manter sua fé. Não
podemos ceder àqueles que querem uma igreja sem santidade, sem diferença em
relação ao mundo. Não podemos nos submeter aos desejos dos homens deste mundo,
que querem fazer calar a nossa voz, então precisamos resistir.
1) Precisamos
criar filhos que não vivem segundo o padrão do mundo, mas precisamos instilar
neles a coragem para serem diferentes;
2) Como
trabalhadores não podemos ceder ao modo corrompido da prática da vida profissional
deste mundo, mas precisamos ter a coragem para ser luz, em termos de
honestidade e qualidade de serviço;
3) Em
todas as áreas, precisamos da força da nossa fé fazendo a diferença e revelar
ao mundo um novo modo de vida ou simplesmente estar prontos para morrer por
Cristo e por sua mensagem.