12 de março de 2017

Mateus 5.38-42

DESENVOLVER UMA FÉ CORAJOSA QUE VENCE O MUNDO

Mateus 5.38-42

(Sermão Pregado em 12 de março de 2017)

FCD

O caráter daquele que ilumina o mundo ao seu redor deve conter uma atitude corajosa diante do mal e desenvolver uma capacidade de resiliência diante do desafio de oferecer ao outro a chance de não errar ou de piorar seu erro. A palavra de Jesus neste texto é um grande desafio para a vida cristã e concentra a força que precisamos ter se desejamos ser seus embaixadores neste mundo.

Introdução

“Resiliência” é uma palavra da moda. Utilizada em muitos ambientes, quase sempre indicando a necessidade de alguém de suportar adversidades e manter-se firme, adaptar-se à lutas do dia a dia sem perder a essência. Acredito que o texto que tomamos para esta meditação tem uma ligação forte com a ideia desta palavra.
Ao citar o famoso “dente por dente, olho por olho”, Jesus não está falando dos códigos antigos da chamada “Lei de Talião”, encontrada no antigo código de Hamurabi, anterior aos escritos de Moisés. Jesus, por outro lado, está se referindo ao princípio de Êxodo 21.23-25, bem como de Levítico 24.17-21.
Quando Deus entregou as leis civis para o seu povo, como é o caso destas leis de “retribuição”, havia um pensamento em tela: a justiça não era praticada como um ato de vingança pessoal, mas era estabelecida por meio da justiça da comunidade.
No entanto, nos dias de Jesus, muitos utilizavam falsamente a lei para dar vazão às suas obras malignas. Esta era uma lei para coibir o desequilíbrio causado pelo “egoísmo” e “egocentrismo”, mas os homens se valiam da “letra da lei” para praticarem suas vinganças pessoais e, desta forma, caminhavam na direção totalmente contrária da lei de Deus.
Aqui em Mateus, tanto quanto em Lucas, o contexto desta afirmação é a afirmação seguinte: “amar aos inimigos”. Por que Jesus está propondo esta reflexão? Porque a luz que deseja que brilhe neste mundo não é a negação do objetivo da lei de Deus, mas o seu cumprimento e o seu cumprimento é um ATO DE AMOR.
Para chegar a este patamar de desenvolvimento espiritual, caros irmãos, precisamos encarar esta vida com coragem e precisamos nos dominar para seguir a Lei, segundo o seu santo propósito, nos tornar em pessoas mais parecidas com o nosso Pai Celestial.
Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai Celeste (Mateus 5.48).
Esta é a conclusão deste capítulo de exemplos do Sermão da Montanha sobre como iluminar o mundo a partir do cumprimento da Lei.
Como chegar a este patamar de desenvolvimento espiritual? Como ver o mundo e viver no mundo segundo a lei de Deus? Precisamos de uma Fé Corajosa, capaz de enfrentar o nosso maior inimigo: NÓS MESMOS.

Para Ter Uma Fé Corajosa Que Vence o Mundo é Necessário Aprender a Não Ser Dominado e Determinado Pelas Feridas Mas Desenvolver o Potencial da Cura Pela Força do Amor

Vivendo em um mundo de “crianças na fé”, certamente estamos mais acostumados com pessoas que não sabem nunca dizer “não para si mesmas” e que não sabem “suportar dificuldades”. Crentes mimados, manhosos, cheio de vontades insatisfeitas compõe uma massa de pessoas incrédulas que pensam que Deus existe para lhes satisfazer e que o mundo existe para eles próprios.
Irmãos, o amadurecimento da nossa fé deve produzir em nós a capacidade de viver em meio as intempéries, sempre valorizando o fato de que cada experiência boa ou ruim constitui a “boa, agradável e perfeita vontade de Deus para nossa vida”.
Ouvistes o que foi dito: olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra (Mateus 5.38-39).
Mais uma vez Jesus usa o que foi dito aos antigos, ele se volta para a Lei Mosaica e nos revela uma maneira ainda mais profunda de compreendê-la e praticá-la, principalmente, praticá-la. Ele corrige um comportamento equivocado sobre a lei da retribuição do mal. Enquanto muitos pensavam que o mal se pagava com mal, ele propõe o pagamento do mal com o bem (Paulo fala sobre isto em Romanos 12.20-21).
Não resistais ao perverso - A questão levantada aqui causa um certo constrangimento em nós. Afinal, será que os discípulos de Cristo tem de ser como “bobões” dos quais todos podem se aproveitar? Será que Jesus está ensinando a passividade completa e a ideia de que ser um cristão é ser um saco de pancadas?
Nieztche, o filósofo alemão, lia textos como estes e repudiava o Cristianismo por considera-lo uma religião da fraqueza e que não seria possível ter um povo forte, enquanto a maioria fosse cristã. Muitos dos líderes mulçumanos de movimentos mais radicais em nossos dias, pensam exatamente isto do Cristianismo. Mas Jesus está propondo  um cristianismo fraco?
Lembrando o contexto do “amar os inimigos”, o que Jesus está nos propondo é que nossa visão sobre aqueles que nos fazem mal devem ir além do que eles fazem contra nós. Agir, retribuindo o que o perverso nos faz, é uma maneira de nos construirmos pela medida das nossas feridas. Jesus propõe que sejamos capazes de vencer os nossos inimigos primeiramente em nosso próprio coração.
Este padrão de Evangelho e de vida cristã não é para ser vivida por fracos, mas por pessoas capazes de resistir às lutas, especialmente aquelas que são travadas dentro do próprio coração. Irmãos, o forte não é o que açoita os inimigos, mas aquele que os vence dentro do seu próprio coração. Porque a vingança pela retribuição do mal com o mal é a prática do mal, mas a vitória do mal com o bem é a Vitória de Cristo em nosso coração. Aqui temos o potencial da cura pelo amor, mas não é a cura do outro que está na tela principal, mas a cura do nosso próprio coração.

Para Ter Uma Fé Corajosa Que Vence o Mundo é Necessário Aprender a Oferecer ao Outro a Chance de Acertar

Crentes amadurecidos são capazes de vencer a maldade que está em seu próprio coração, mas Jesus diz que este tipo de vitória só pode ser aferida mediante uma prova prática.
Qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra -  Aprendi com John Stot em seu comentário sobre o Sermão da Montanha algo muito valioso aqui. O grande pregador inglês abordou esta frase de Jesus dizendo que aqui, o propósito da palavra de Jesus é enfatizar que a melhor maneira  de responder a maldade que alguém nos faz é lhe  oferecer a oportunidade para fazer o que é certo.
Ou seja, o que temos diante de nós é que o sofrimento que alguém nos faz é assimilado, mas o impulso nosso para a cura e correção do outro não é lhe ferir na mesma medida, mas o de oferecer-lhe a oportunidade de acertar. Quando você oferece a outra face, você anda com ele uma segunda milha, permitindo que em outra ocasião ele lhe prove que aprendeu com seu próprio erro.
Jesus fez isto algumas vezes, com Pedro foi ainda mais claro. Quando foi abandonado e negado por seu discípulo, Jesus o chamou, após a sua ressurreição e lhe ofereceu uma chance de mostrar que o amava. O que Jesus lhe ofereceu: sua noiva para Pedro cuidar: pastoreia o meu rebanho.
Em geral, caminhamos sempre para a correção por meio da retribuição, como se as pessoas tivessem somente uma natureza imutável. Quase sempre nos defendemos dos malvados, afastando-os de nós. Às vezes nos esquecemos que muitas vezes nós somos estes malvados. Se vamos iluminar o mundo em trevas precisamos aprender a lidar com as pessoas com a crença de que a luz que nos atingiu também podem atingi-los, entretanto, os holofotes que espalham essa luz somos nós.
Crentes corajosos não são aqueles que reagem simplesmente com passividade diante do mal. São aqueles que vencem o mal com o amor, com o bem.

Para Ter Uma Fé Corajosa Que Vence o Mundo é Necessário Ver Mais Valia no Reino de Cristo Que no Reino Pessoal

Um dos temas bastante discutidos no Sermão da Montanha é o Reino dos Céus e o valor que ele tem para nós. Bem, no capítulo 6, este tema é discutido em termos do seu valor, ali ele é chamado de tesouro: onde está o teu tesouro estará ali o teu coração... não podeis servir a Deus e às riquezas.
A túnica e a capa – Jesus se vale do exemplo de uma demanda contrária e alguém tentar causar prejuízo pessoal. Ele não diz se é uma causa justa ou injusta, mas parece indicar haver uma intenção negativa contra o discípulo. Primeiro, ele demanda contra sua posse pessoal, aquilo que indica sua condição social: a túnica. Entretanto, Jesus propõe uma ação do discípulo mais difícil, oferecer também a sua própria sobrevivência, a capa (uma espécie de proteção contra o calor e o frio, considerada vestimenta vital para a saúde).
A segunda milha – a segunda milha é fruto de uma disposição redobrada de caminhar, mesmo sem ser necessário. O que Jesus está dizendo é que alguém nos convoca para uma caminhada, mas nossa disposição é de ir além. Isso para eles falava muito claramente sobre lucro e prejuízo, porque andar a segunda milha, significava gastar um tempo de trabalho produtivo em algo que não visava o interesse pessoal mas o do outro.
O empréstimo amoroso – aqui, mais uma vez a ideia de valor está impressa. Assim, estes três exemplos de como não resistir ao adversário, ao perverso, tem como ponto de equilíbrio o que consideramos ser valioso para nós.
Portanto, os três exemplos apontam para coisas valiosas e exige uma atitude de desapego em favor de outro. No caso, o outro, pior ainda, não é o bom ou o que nos é favorável (Mateus 5.46), mas pessoas que exigem de nós algum tipo de perda:
a)   perder para quem se opõe,
b)   perder para quem exige esforço nosso;
c)   perder para quem precisa de nós.
Em todos estes casos, o reino pessoal e o desejo pessoal sedem espaço para algo de maior valia, a vontade de Deus, o plano de Deus, a Lei de Deus. Para ter desenvolver uma fé que vence este mundo, precisamos aprender a perder, a valorizar o Reino de Deus e priorizá-lo. Para isto, só UMA FÉ CORAJOSA É CAPAZ DE LHE OFERECER SUPORTE.

CONCLUSÃO

Irmãos, todo este texto e os outros exemplos usados por Jesus a partir da lei, estão encapsulados em um parênteses de sentido: ser sal e luz, brilhar e dar gosto a este mundo e se assim se parecer com o Pai Celestial, sendo perfeitos, isto é, completos.
Pense muito sobre isto: você pode até ser um bom crente, mas pode estar com sua luz comprometida e a sua lâmpada, como insisti bastante no domingo passado, pode estar embaçada. Assim sua luz não é confiável. Enquanto você não amadurecer na fé não será capaz de iluminar claramente ao seu redor.
Jesus está nos dando exemplos e neste trecho, mais uma vez, ele nos desafiou a um modelo que se contrapõe ao do mundo caído. Um modelo baseado no AMOR QUE VEM DA LEI DE DEUS. Enquanto muitos julgam que a proposta de Jesus de virar a segunda face é uma medida de covardia ou fraqueza, do ponto de vista de Deus, isto revela UMA FÉ CORAJOSA E VITORIOSA.

Tudo depende muito do que realmente controlar o seu coração e qual o VALOR QUE DOMINA O SEU AMOR. Procure tornar o Reino de Deus um valor supremo, um alvo da sua vida... BUSCAI EM PRIMEIRO LUGAR O SEU REINO E A SUA JUSTIÇA. 

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