A União do Temporal e do Eterno na
Vida Cristã
1Coríntios 15.35-49
Foco da Nossa Condição Decaída
Contra o erro de imaginar que a
presente vida é destituída de algum valor verdadeiro em face da chegada da Vida
Eterna em Cristo, Paulo vem trabalhar o conceito de unidade vital entre o
Eterno e Temporal na vida cristã. A atitude de unidade entre estes dois pólos
conduz o crente a viver na vida temporal os valores superiores da eternidade e
desta forma o mundo é marcado por um modo de vida que faz a vida temporal
também valer a pena.
Introdução
Muito cedo no cristianismo alguns
pensamentos errôneos tomaram conta do comportamento da vida cristã. Um destes
erros, um pouco depois da morte dos apóstolos, veio a ser conhecido como “gnosticismo”.
O gnosticismo, entre tantas
características, aprofundou um sentimento de “desvalor” pela vida cristã
natural e levou crentes a viverem numa perspectiva de falta de compromisso com
os valores do dia a dia do Evangelho. Para os gnósticos, o cristianismo
verdadeiro seria aquele vivido após a morte ou quando Jesus Cristo voltasse, o
cristianismo da vida eterna.
O efeito deste modo de pensar
foi duplo: em primeiro lugar, algumas pessoas passaram a não ver valor na vida
e de certa maneira viver de forma muito pobre e desanimada a sua relação com
Deus, e outros, começaram a assumir compromissos com o pecado, uma vez que, para
eles as coisas que aconteciam nesta vida, nada importava com o futuro, pois o
que realmente contava eram os valores da “alma eterna”.
Claro que, de certa maneira,
este pensamento ainda perdura hoje, quando percebemos que existem pessoas que
não conseguem entender a necessidade de viver a vida cristã natural de forma
elevada, pensando que ela é um prenúncio da vida eterna, uma espécie de ante
sala da eternidade. Em geral, muitas pessoas vivem uma certa desconexão entre
os valores espirituais e naturais, entre as coisas temporais e as eternas e
vivem em mundo dicotomizado, isto é, dividido em dois, comumente chamando-os de
“profano” e “sagrado”, “material” e “espiritual”.
Para quem divide a vida desta
forma, parece que as regras e necessidades de um mundo nada tem a ver com o
outro e vivem uma espécie de licença mental para viver um modelo de modo
diferente do que vivem o outro. Então, alguém com muita espiritualidade no
culto, acha que pode usar as regras mundanas para vender um carro ou adquirir
uma casa; outros, acreditam que quando estamos na igreja precisamos de
reverência, mas que não há nenhum problema em ser um piadista baixo nas redes
sociais, desde que o pastor não acompanhe as minhas postagens.
O maior problemas destas
pessoas é que elas não conseguem desfrutrar adequadamente da oportunidade que
todos nós temos neste mundo caído: o de
usar este mundo como um desafio e uma escola para fortalecer nossos laços e
predisposições para coisas gloriosas e eternas.
Convido você, meu irmão, a
adentrar este texto com uma mentalidade de unidade entre temporal e eterno,
sacro e profano, natural e espiritual, dando à sua vida contornos de unidade e
fazendo nesta vida, tudo aquilo que te prepara e faz desfrutrar aquele que
ainda há de vir, quando Cristo voltar.
A União
entre o Temporal e o Eterno Revela a Unidade das Duas Esferas Permitindo Que a
Glória da Segunda Confira Direção à Primeira
Mas alguém dirá: Como ressuscitam os mortos? E em que corpo vêem? Insensato! O que semeias não nasce, se primeiro não morrer; e quando semeias, não semeais o corpo que há de ser, mas o simples grão, como de trigo ou de qualquer outra semente (1Coríntios 15.35-37).
A pergunta que Paulo usa para
introduzir a questão revela como os crentes de Corinto tinham dificuldade para
pensar na unidade entre temporal e eterno. Claro que como bons gregos, os
coríntios tinham uma concepção muito elevada da vida futura, especialmente,
porque, de alguma maneira, eles pensavam que o corpo é uma espécie de prisão da
alma e, portanto, quando a morte vem para um homem ela o liberta do cativeiro
do corpo.
Por outro lado, eles conheciam
a doutrina da ressurreição do cristianismo e, não sem muita luta, os que criam
desta forma, também tinham que responder como o corpo, sendo uma prisão,
poderia ser ressuscitado? NO final das contas, era mais cômodo para muitos que
tinham de responder a estas questões trabalhar com uma ideia de DESCONTINUIDADE
entre a vida temporal e a eterna.
Como ressuscitam os mortos? E em que corpo vêm? – As perguntas que eles faziam apontava para sua dificuldade e Paulo,
neste trecho, está trabalhando o conceito de unidade entre a vida temporal e a
eterna. Mas, ele precisa que eles saibam que, embora elas sejam interligadas e
estejam completamente unidas de forma vital, ou seja, trata-se da mesma vida em
fases diferentes, eles deveriam saber que a vida eterna é de caráter superior,
porque é uma espécie de progressão e não interrupção da vida natural.
Insensato – Paulo está recriminando a
forma dividida que eles pensavam a vida. A postura do apóstolo mostra que eles
não tinham uma dúvida, mas sua pergunta revelava uma posição longe do princípio
da Escritura.
Em outras palavras, Paulo está
lhes apontando a ideia de que precisam ter senso de direção para a vida natural
e a direção é a construção de valores que combine com a vida eterna. Para
explicar este ponto ele usa a ideia de uma semeadura.
O que semeias não nasce se primeiro não morrer – Paulo começa falando sobre o modo como as sementes se transformam
em árvores. Elas são simples sementes plantadas, mas antes de brotar elas precisam
ser rompidas pela próprio morte da semente, o rompimento da sua casca. Paulo
está dizendo que uma fase, necessariamente precede a outra. No caso da vida
humana, não chegaremos à eternidade sem primeiro a luta da vida presente.
Quando semeias, não semeias o corpo que há de ser, mas o simples
grão – Veja não conseguimos desfrutar da eternidade
e dos valores, glórias e alegrias, sem que primeiro viva as dificuldades e os
problemas do tempo presente.
O que Paulo está expondo aqui é
que precisamos aprender a lidar com a vida temporal neste primeiro estágio,
sabendo que ela deve colaborar para que a vida eterna surja naturalmente sobre
nossa vida. A semente não brota se não morrer, você não nasce para a vida
eterna se não cumprir adequadamente as etapas da vida presente.
Em lugar de ficar reclamando e
vivenciando todas as coisas sem propósitos e de forma perdida, como se a vida
não tivesse nenhuma direção ou propósito, ou como as coisas da sua vida fossem
aleatórias, Paulo está nos conclamando a perceber que Deus, nesta vida, nos
proporciona uma preparação adequada para a vida vindoura. Paulo pensa que esta
mentalidade de continuidade pode dar à vida humana sentido, isto é, uma direção
a seguir.
O crente que sabe que pode
viver por todas as coisas com esperança, melhor do que só viver esperando que a
eternidade chegue, ele faz de cada momento uma oportunidade para se preparar e
adequar melhor para a vida vindoura.
A União entre o Temporal e o Eterno
Revela a Unidade das Duas Esferas Regida e Determinada Pela Soberania de Deus
Mas Deus lhe dá corpo como lhe aprouve dar e a cada uma das sementes, o seu corpo apropriado (1Coríntios 15.38).
Claro que o nosso maior
problema tem a ver como o modo como vivemos a vida presente e, de certa forma,
este é ponto que realmente importa neste momento, afinal, como é que vou
vivenciar a realidade atual, preparando-me para a eternidade?
Paulo, então, precisa trabalhar
o conceito de que Deus é quem nos dá a realidade presente e futura, conforme o
seu querer. Este era um aspecto que nem todos os crentes de Corinto estavam
compreendendo. Por exemplo, muitos deles não compreendiam realmente o papel dos
dons que Deus nos dá na presente vida e tinham dificuldades com as
diversificações, então, Paulo precisou escrever-lhes sobre o fato de que todos
precisavam entender que nem todos tem os mesmos dons.
Deus dá o corpo da semente - Aqui, ele
prefere apontar para as lutas da semente com as suas cascas. Uma é a casca do
caroço de Abacate e outra é a casca do feijão. Eu não sou especialista em
botânica, nem agricultor, então eu não saberia dizer qual é a casca que se
rompe com maior facilidade, eu imagino que a do feijão. Então, a luta que a
semente do feijão tem para fazer despertar o que será no futuro, um pé de
feijão, é bem menor que a luta que tem a semente do abacate.
Como lhe apraz – este é o ponto! Você
deve se lembrar que Deus é quem conduz o que você é. Portanto, não olhe para o
tamanho das dificuldades ou as lutas que você tem de enfrentar para desenvolver
em si mesmo os valores da eternidade. Deus é quem controla o que você precisa
passar e o que deverá vencer.
O seu corpo apropriado – eu gostaria de
ser um botânico ou compreender um pouco melhor desta área do conhecimento para
poder ilustrar melhor. Mas eu tenho uma ideia geral de que a casca do feijão e
as características do que é o pé de feijão não poderia ser bem desenvolvido se
estivesse dentro de um caroço como o de abacate e vice-versa. Assim como
Maurício não poderia estar dentro do corpo de José e José no de Maurício. Nossa
vida cristã e o que ela ainda há de ser está sendo desenvolvida dentro da
semente mais apropriada possível.
Precisamos começar a pensar em
nossa vida não como como uma coisa acidental, mas como um plano perfeito de
Deus e nossa história não está separada do que somos. Ele escolheu o corpo, no
sentido mais amplo possível do que isto pode significar, para lhe oferecer o
melhor instrumento de transformação possível. O que você precisa aprender é
viver e desfrutar desta perfeita ferramenta que é a sua vida e a sua história.
Nem toda a carne é a mesma, porém uma é a carne dos homens, outra, a do animal, outra, a das aves, e outra, a dos peixes. Também há corpos celestiais e corpos terrestres; e, sem dúvida, uma é glória dos celestiais e outra a dos terrestres. Uma é a glória do sol, outra, a glória da lua, e outra, a das estrelas, porque até entre estrela e estrela há diferenças de esplendo. (1Coríntios 15.39-41).
Precisamos aprender que a
soberania de Deus conduz também as diferenças entre nós e precisamos aprender a
não julgar uns aos outros por comparação. Nossa atitude é que devemos viver o
que Deus nos dá e nossa comparação é a vontade dele para cada um de nós.
Não quero me deter muito neste
ponto, porque preciso ir adiante. Mas usa como o exemplo a ideia de coisas que
estão sobre a terra e coisas colocadas no firmamento, os corpos celestes e os
terrestres, a comparação entre a carne do homem, do animal, das aves e dos
peixes seguem na mesma direção.
A ideia de Paulo é que a glória
de um não deve ser comparada com a glória do outro, não é assim que devemos
considerar a vida, mas devemos considerar que Deus tem um propósito para o sol
e outro para a lua, então um não tem mais luminosidade que o outro para
competir com o outro. Imagine se a luz resolvesse competir com o sol e, hoje à
noite, resolvesse brilhar do mesmo modo? Seria um caos e o mundo seria destruído
em pouco tempo. Da mesma forma, somos diferentes para sermos harmônicos e nos
completarmos. Assim devemos viver em família, na igreja e na sociedade. O
importante é saber que existe propósitos eterno para o que somos e como somos.
A União
entre o Temporal e o Eterno Revela a Unidade das Duas Esferas e Aponta Para a
Necessidade de Nossa Vida Ser Uma Amostra Disto
Claro que o nosso maior
problema tem a ver como o modo como vivemos a vida presente e, de certa forma,
este é ponto que realmente importa neste momento, afinal, como é que vou
vivenciar a realidade atual, preparando-me para a eternidade?
Os versos 42 a 47 formam uma
unidade baseada em uma série de paralelismos. Você poderá notar isto
facilmente. Estes paralelismos cedem espaço para os versos 48 e 49, onde uma
declaração emite uma opinião sobre como lidar com estas verdades paralelas:
Como foi o primeiro homem, o terreno, tais também os demais terrenos; e, como é o homem celestial, tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do que é terreno, devemos trazer também a imagem do celestial (1Coríntios 15.48-49).
Adão e Cristo – O “Nós Hoje” e o “Nós Eterno” – Pense que o pé de feijão, assim como o abacateiro são a
continuidade da semente do feijão e da semente do abacate, assim também o que
somos hoje está diretamente relacionado com o que seremos amanhã. Paulo,
escrevendo aos Romanos, diz que a glória futura é decorrência do sofrimento do
tempo presente, mas será muito melhor, o aperfeiçoamento do que somos hoje.
Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós (Romanos 8.18).
Na verdade, quando a planta
nasce, floresce e dá fruto, o tempo em que ela era somente uma semente que
precisava morrer para nascer pouco importa. Plantamos sementes, mas esperamos
colher frutos, desejamos ter árvores no pomar é assim que pensamos e é assim
que devemos encarar nossa própria vida.
Assim é a ressurreição - os paralelismos
– Nos versos 42 a 47, os paralelismos nos dão conta de que são uma explicação
sobre o processo da nossa ressurreição, que é o tema central de Paulo.
Pois, assim também é a ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo na corrupção, ressuscita na incorrupção. Semeia-se na desonra, ressuscita na glória. Semeia-se na fraqueza, ressuscita em poder. Semeia-se o corpo natural, ressuscita corpo espiritual (1Coríntios 15.42-44a).
Um movimento é apresentado e é
o de progressão. Primeiro o inferior e depois o superior, isto é importante ser
notado. Precisamos lembrar que a nossa atual existência é um passo inferior da
futura e ambas estão interligadas. A semente não é mais importante que a
árvore, mas a árvore nasce da semente. Com certeza, o alvo é a árvore e o
fruto, mas ambos precisam de uma semente bem cuidada.
Paulo está dizendo à igreja que
é necessário que a igreja trabalhe a semente pensando na árvore e cuide da
semente na intenção da árvore. Você precisa ver a sua vida da mesma forma.
Alguns daqueles crentes desejavam viver as alegrias e glórias da vida futura,
sem trabalhar que a vida presente aponte para isto.
Este é um princípio simples da
vida. Quem deseja ver o sol nascer, precisa acordar cedo o que implica em
descansar cedo, ou pagar o preço de dormir menos. Assim devemos ser mais
cuidadosos com a nossa vida cristã atual e plantar as coisas de acordo com nossas
expectativas de colheita.
Ainda nos paralelismos, veja
como Paulo liga Adão e Cristo. Na verdade, ele usa a ideia de primeiro Adão e
último Adão.
Se há corpo natural, há também, corpo espiritual. O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante. Mas não é o primeiro espiritual, e sim o natural, depois o espiritual. O primeiro homem, formado da terra, é terreno; o segundo homem é do céu (1Conríntios 15.44b-47).
Claro que ele está falando da
nossa velha natureza e da nova, está falando de quem somos em Adão e no pecado
e quem somos em Cristo, na sua ressurreição e santidade. Precisamos nos
comprometer, ainda em nossa casca de semente atual, com aquilo que devemos ser
no futuro.
Ele concluirá esta etapa
dizendo que do mesmo modo como carregamos a imagem de Adão e a sua malignidade
do pecado, devemos carregar a santidade de Cristo, a sua imagem do que é
celestial.
Ele diz que estes dois homens
tem sua origem, um é terreno e o outro celestial, um natural e o outro espiritual.
Aqui ele nos responsabiliza, dizendo que temos o dever de trazer em nosso viver
natural, a imagem do viver espiritual de Cristo Jesus.
Vestir – Ephoréssamen – Paulo usa um
jogo de palavras importante no verso 49. Em nossa tradução temos: assim como trouxemos a imagem do que é
terreno, devemos trazer também o que é celestial. Ele usa o verbo “phoreu” (carregar,
vestir, usar). Ele é usado em duas formas interessantes: assim como fomos vestidos, agora vistamos. O seu compromisso
superior de progresso, que é o sentido deste ponto do texto é para como ÚLTIMO
ADÃO e assim como você é capaz de revelar em você o Primeiro, porque foi
vestido dele no pecado, agora, pois SE REVISTA DO ULTIMO.
Conclusão
Algumas vezes, vivemos de uma
forma muito estranha e parece que estamos um pouco perdidos. O resultado é que
parece que não encontramos muito espaço para a nossa vida com Deus neste mundo
ou quando estamos aqui, parece que não vemos muito sentido para a nossa vida no
mundo, dentro do nosso contexto espiritual. O que vemos é pessoas vivendo de
forma dividida.
Enquanto você viver assim
dividido sua vida não terá um real sentido, lhe faltará algo. Você não verá o
mesmo Deus que parece ser um valor tão elevado e cheio de glória, presente no
seu dia a dia, como se de alguma maneira estivesse privado de desfrutar de Deus
no seu viver diário. Isso é terrível!! Você precisa mudar.
Paulo está nos propondo um modo
de vida natural que seja um reflexo de nossa consciência espiritual. Um modo de
vida que está baseado em algumas premissas:
1) A vida natural deve ser dirigida pela percepção de que a segunda e
eterna é uma direção para a qual devemos apontar tudo o que fazemos.
2) A vida natural deve ser submetida à soberania de Deus e suas lutas
naturais são resultados da melhor casca para que sua vida produza o melhor
fruto. Deus sabe tirar o melhor de você e planejou fazê-lo.
3) A vida natural não é um fim em si mesmo, devemos trazer a finalidade
eterna como um projeto e começar a fazer os valores da eternidade presentes em
cada gesto, declaração, escolha... precisamos desfrutar de prazeres da
eternidade ainda vivendo aqui. ]
Desta forma que momento terá
significado e cada momento será pleno de importância e, desta forma também,
você descobrirá valor na sua presente existência e poderá revesti-la da mais
gloriosa perspectiva de redenção e ressurreição. Você é alguém que ressuscitou
com Cristo, embora ainda na casca, já pode se livrar da casca, por meio de uma
mente que pense nos frutos e na árvore final.
Traga o eterno para a sua
experiência natural.