Uma Igreja Fortalecida Pelo Espírito Santo - A Convicção da Importância da Presença do Espírito Santo
(Culto da Noite – 31 de Maio 2020 – IP Tatuapé)
Atos 2.1-4
Introdução
Inevitavelmente somos levados a pensar nos elementos que forjaram nestes homens simples da Galiléia essa força espiritual e moral que os levou a impactar o mundo e a enfrentar o mais poderoso Império que já existiu: Roma.
Deus, através de Lucas, parece querer nos mostrar exatamente isto! O que realmente estava por detrás destes homens e que os impulsionava, os motivava, fortalecia e dirigia na missão que tinham a cumprir.
Sem dúvida alguma, este é um dos pontos de partida para uma compreensão adequada deste “Logon” (tratado), que, por meio da História da Igreja nas suas primeiras décadas, revela o amor de Deus pelo mundo caído e o seu plano redentivo de alcançar homens e mulheres de toda língua, raças e nações.
Nesta noite com a Palavra de Deus, nós também precisamos buscar essa força vital e compreender que, assim como eles, também nós, em nossa geração, somos enviados para cumprir a tarefa de espalhar a mensagem do REINO DE CRISTO ao mundo, conclamando aos homens que aprendam a viver de um modo diferente, que redunde na mais perfeita experiência de vida, que é agradar a Deus e desfrutar dEle sempre.
Hoje, de forma especial, vamos buscar estes fatores de impulso de fé, em Atos, capítulo 2, versos 1 a 4. O Espírito Santo, sem nenhuma dúvida, é a personagem central dos acontecimentos descritos no Livro de Atos dos Apóstolos. Alguns autores, dentre eles, destaco Donald Carson e R.B. Kuiper, foram muito felizes em propor que o nome deste livro poderia ser: “Atos do Espírito Santo”. Sim, pois o Espírito Santo é o elemento central de todo este bem sucedido plano.
Contudo, temos de nos perguntar: por que, então, a história, que Deus dirige, escolheu olhar para a liderança dos apóstolos, na hora de consagrar o nome deste livro. Eu, particularmente, gosto de pensar que há algo maravilhoso na obra da redenção, que Deus opera entre os homens. Pois, apesar de ser a Santíssima Trindade, responsável, por idealizar e realizar a obra Redentiva em nós e por nós, Deus nos dá a graça de nos vermos partícipes da mesma (sinergia), a ponto de não ter nenhuma dificuldade em afirmar que, ajudados por Deus, foram os seus apóstolos e a Igreja dos primeiros anos da era cristã que foram ao mundo transtorná-lo com a mensagem do Evangelho.
Somos nós, irmãos, que, ajudados por Deus, temos o dever de enfrentar com coragem o mundo para o qual fomos enviados, amando os homens e desejando ver a transformação da sociedade humana ao nosso redor. Não podemos falhar e isso só acontecerá se perdermos o foco e a dimensão da grande tarefa que nos foi confiada. Por outro lado, devemos afirmar, só conseguiremos realizar tal tarefa se não negligenciarmos o que de fato age em nós e deve ser o elemento decisivo: o Espírito Santo que se move em nós. Portanto, ao final desta mensagem, precisamos estar preparados para avaliar sobre o que temos pensado e como temos agido em relação, de fato, à presença gloriosa do Espírito Santo na nossa vida e como isso tem impactado a nossa disposição e foco no trabalho glorioso de levar o shalom de Deus ao mundo.
A Igreja Espera o Espírito Santo
Lucas, como já disse, está escrevendo um livro de natureza histórica, mas o seu propósito é que a história seja compreendida dentro de um tema. Por isso, então, ele não precisa datas em seu livro, ele não tem essa pretensão técnica. Os judeus, guardavam as festas prescritas por Moisés com certo rigor e a Festa de Pentecostes, a festa do quinquagésimo dia depois da Páscoa, ou para eles também, chamada Festa das Colheitas. Lucas torna significativo que eles de fato “esperaram a promessa”, mantiveram-se na expectativa daquilo que Jesus havia falado: Mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias (Atos 1.5).
Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar (Atos 2.1).
Ao Cumprir-se o Dia de Pentecostes – o que Lucas parece querer destacar com essa expressão é a ideia clara de que eles sabiam que Deus lhes daria algo, em algum momento, que lhes permitiria tornarem-se as testemunhas de Cristo Jesus. Justamente, destaca Lucas, isso aconteceu no dia da Festa de Pentecostes, Festa das Semanas, das sete semanas, a qual, originalmente, os judeus comemoravam a concessão da Lei à Moisés, quando Deus vem ao mundo humano no Monte Sinai e fala com Moisés, dando-lhe a Lei, o ordenamento da vida humana, para que esta seja segundo a vontade de Deus.
Da mesma forma, o que temos aqui, é a descida do Espírito Santo, mais uma vez, Deus vem ao mundo, morar com o homem, para também conduzi-lo à Lei, fazendo, por meio do Espírito andar na sua Lei. Isso tem um significado muito especial e Lucas entende claramente essa ligação. Pois ele compreendia que OUVIR A VOZ DE DEUS ERA O TRABALHO DO ESPÍRITO SANTO EM FAVOR DOS HOMENS:
Certa mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o coração para atender as coisas que Paulo dizia (Atos 16.14). .
A relação entre a presença do Espírito Santo e o ouvir a Palavra de Deus é o ponto central da ação do Espírito Santo para Lucas, por isso, ele interliga tão claramente e com tanto destaque o fato disto ter acontecido no dia de Pentecostes, o que depois, tornou-se uma data importante do Cristianismo Primitivo.
Estavam reunidos no mesmo lugar – Esse é um ponto importante a ser considerado, que eles estavam “reunidos” (homôu - juntos), isto é, estava como os frutos recolhidos de um pomar e colocados em mesmo cesto. Lucas destaca que eles se mantiveram juntos para aguardar a promessa de Cristo, o que mostra de fato, que aquilo que acontecia já desde o capítulo 1, quando eles imediatamente voltaram para estar com os irmãos em Jerusalém, que a sua unidade, de fato, é um ponto a ser considerado como obra do Espírito Santo.
Lucas está mostrando como esse fato ilustrava a necessidade da Igreja de permanecer unida. O Espírito Santo é a promessa de unidade da Igreja, ele é quem nos torna o TEMPLO DO CORPO DE CRISTO. O Espírito Santo, segundo Paulo, age em todos, por meio de todos, está em todos e capacita e unifica a Igreja em Cristo Jesus.
O Espírito Santo UNIFICA A IGREJA, ele é aplica a LEI DE DEUS ao coração da Igreja, ordenando a VIDA DO CORPO DE CRISTO. A igreja que vai impactar o mundo precisa desta convicção e desta realidade operante. Resistir à unidade é resistir ao Espírito Santo.
A Igreja é Encontrada e Revestida Pelo Espírito Santo
Um segundo aspecto que Lucas destaca é que o ESPÍRITO SANTO não era um realidade que nascida da Igreja, mas de Deus. Ele não deixa espaço para a especulação à respeito de onde vem o poder presente na Igreja, não é a obra realizada na força do homem, mas na força que vem de Deus. Jesus havia prometido que DESCERIA sobre eles o Espírito Santo, ele viria da parte de Deus e este é exatamente o ponto que Lucas destaca neste verso 2.
De repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados (Atos 2.2)
De repente (aphnoh) – Lucas deixa claro que o evento não estava sob o controle da Igreja. Eles não estavam em uma sessão de oração, por meio da qual, desejavam manipular os poderes eternos e trazer a promessa, segundo a sua vontade, ao contrário disto, Lucas deixa clara a origem e a condução absolutamente divina para este preenchimento espiritual.
Veio do céu um som (eckos) – os que testemunharam o fato para Lucas foram capazes de identificar claramente a direção: do céu para a terra. O sinal visível que indicava fora sonoro: um som que veio do céu. Da mesma forma, como os discípulos haviam testemunhado a voz de Deus no batismo de Jesus:
E aconteceu que, ao ser todo o povo batizado, também o foi Jesus; e, estando ele a orar, o céu se abriu, e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea como pomba; e ouviu-se uma voz do céu: Tu és o meu Filho Amado, em ti me comprazo (Lucas 3.21-22).
Sem dúvida os dois eventos estão conceitualmente conectados e um lança luzes sobre o outro. A Igreja deveria considerar claramente este ponto: O CÉU COMANDA A TERRA. O Espírito Conduz a Igreja. A ideia de um som, novamente, a percepção sensorial atestando a realidade do fato. De fato, o céu estava presente entre os homens.
Encheu (ehplerosen) a casa onde estavam assentados – completou, preencheu, tomou todos os espaços. Essa é uma forma de se referir ao que aconteceu para estabelecer uma relação de domínio entre o SOM E O LUGAR. Como se o SOM houvesse preenchido todos os espaços e tomado o lugar para si, fazendo-se preponderante naquela relação com a realidade.
Acredito que é exatamente essa relação que Lucas tem em mente. Ele deseja inculcar essa noção de que o Espírito Santo é a plenitude do Céu tomando a Igreja e potencializando-a para cumprir o seu chamado, a sua missão. A plenitude do Espírito, foi um tema importante para Paulo como a forma que deveria marcar o relacionamento do homem crente com o Espírito Santo, na busca de que a presença do céu fosse determinante da vida e conduta dos servos de Cristo e do Corpo de Cristo.
Este também é um aspecto da nossa relação com o Espírito Santo que a Igreja que deseja realizar a vontade de Deus neste mundo e espalhar o Reino de Cristo, não pode negligenciar: A PLENITUDE DO ESPÍRITO SANTO não é um fator que mostra o quão espirituais nós somos, mas revela o nosso reconhecimento de que nada podemos fazer fora dele. A busca pela plenitude do Espírito Santo é um fato que só ocorre quando estamos prontos a reconhecer nosso próprio vazio. O contrário também é verdadeiro: quando nos consideramos prontos demais, acho que erramos em desprezar o Espírito Santo. Precisamos de muito cuidado para essa relação.
Esse ponto ainda será abordado no nosso último ponto.
A Igreja é Capacitada e Organizada Pelo Espírito Santo
E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem (Atos 2.3-4).
Novamente, o que vemos é a condução dos céus sobre a terra, Deus tomando a iniciativa e chegando à sua Igreja. Por outro lado, novamente os sentidos humanos dando o tom da realidade, eles viram o fenômeno e relataram: ELES OUVIRAM E VIRAM.
E apareceram (Ophthesan) línguas (glossai) como de fogo (phiros) – este relato de Lucas aponta para a realidade deste fato e a sua relação com Deus, com o Antigo Testamento, com João Batista, com Jesus etc. O que Lucas destaca nessa frase é a VISIBILIDADE DO FENÔMENO. “Ophthesan” – da raiz “oftalmos” – é o verbo utilizado pelo médico para indicar um fenômeno registrado pelos olhos dos que ali estavam. Sim, além do vento que fora OUVIDO, agora uma forma (línguas – glossa) que pareciam fogo (phiros) fora vista entre eles. Aqui temos alguns elementos redentivos importantes, que precisamos considerar. Primeiro, as línguas estavam ligadas ao fato real que iria acontecer logo a seguir que era eles FALAREM EM OUTROAS LÍNGUAS, isso aponta para a intenção do evento da descida do Espírito que era proclamar a VOZ DE DEUS, lembre-se do SINAI e do que significava o PENTECOSTES. O fogo aqui nos lembra o VELHO TESTAMENTO, pois sempre que o Senhor se manifestava purificando seu povo, o FOGO ERA UM ELEMENTO BASTANTE PRESENTE. O fogo que passou por entre as partes dos animais esquartejados por Abrão, o fogo que desce sobre o altar que Elias ergueu diante dos profetas de Baal, João Batista, o último dos profetas:
Eu, na verdade vos batizo com água, mas vem o que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias; ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo (Lc 3.16).
Distribuídas entre eles – o Espírito Santo veio sobre a Igreja e não seletivamente sobre os melhores, mais santos, os líderes etc. A ênfase das expressões finais repousa sobre a coletividade e a presença do Espírito Santo sobre todos.
Pousou uma sobre cada um deles – mais uma vez, reforçando exatamente essa perspectiva coletiva da presença do Espírito Santo. Sobre cada um deles é um destaque ainda maior. Distribuídas sobre eles aponta para a totalidade da coletividade e sobre cada um deles, aponta para a percepção da individualidade desta presença.
Todos ficaram cheios (ehplerosan) do Espírito Santo – a plenitude do Espírito Santo é um ato de preenchimento e empoderamento, capacitação do Espírito sobre a Igreja. Ele vem com seu poder e busca os filhos de Deus capacitando-os. Curiosamente, o verbo “plerou” é, nos casos usados aqui, é aplicado na voz passiva: primeiro a casa foi cheia do SOM e agora cada pessoa foi CHEIA DO ESPÍRITO SANTO. Paulo, mais tarde vai estimular o crente a uma vida que revele essa plenitude do Espírito Santo, como um alvo a ser desejado, a cada minuto da vida.
(...) Mas enchei-vos do Espírito, falando entre voz, com salmos, hinos e cânticos espirituais etc (Efésios 5.18-19).
Passaram a falar (laleo) em outras línguas – Aqui o fato em si, a REDENÇÃO DO HOMEM, DEUS novamente desce à montanha e fala aos homens sobre sua LEI. Lahlei (falar com voz audível) foi mais uma vez a forma visível que atesta a realidade do fato: eles falaram e as pessoas ouviram. O Espirito lhes concedeu que a APROXIMAÇÃO DOS POVOS À LEI DE DEUS, aquilo que Miquéias e Isaías proclamaram com os POVOS VINDO AO MONTE DO SENHOR PARA OUVIR A LEI.
Segundo o Espírito lhes concedia que falassem – O Espírito Santo é quem conduz a Igreja e a preenche, capacitando-a para essa tarefa. Lucas está pronto a nos mostrar que podemos e devemos confiar na obra que Deus irá realizar através de nós, não por nós, não por nossas capacitações próprias ou pelas nossas forças, mas PELO ESPÍRITO.
Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito.
Lucas nos chama à fé, à confiança, à ousadia, as mesmas qualidades que marcaram aquela geração de crentes, que confiaram que o Espírito Santo os capacitara e os organizara para enfrentar as portas do inferno e o mundo inteiro.
CONCLUSÃO
Irmãos, precisamos renovar em nossos corações essas claras percepções da realidade do Espírito Santo na Igreja. O Pentecostes é o rememorar do fato de que DEUS VEIO AO SEU MONTE e deu à sua Igreja o seu ESPÍRITO e agora, Ele, através de nós, FALA AO MUNDO.
O nosso problema é o negligenciar constante desse fato, deixando de olhar para o CÉU e querendo que a TERRA COMANDE O CÉU. Precisamos de uma renovação espíritual, que vai além das nossas decisões pragmáticas de fazer ver a igreja apenas como algo da esfera natural. O CORPO DE CRISTO não pode ser construído entre nós como uma CASA NATURAL, mas sim, COMO DISSE PEDRO: CASA ESPIRITUAL SOIS VÓS.
Meus irmãos, precisamos sonhar com uma Igreja cheia do Espírito Santo, em que cada um de nós, tem como alvo VIVER NA ESFERA DO ESPÍRITO. Precisamos amadurecer nossa própria visão da IGREJA e do ESPÍRITO.
A IGREJA PRECISA ESPERAR E BUSCAR MAIS A VIDA DO ESPÍRITO!
A IGREJA PRECISA SE PREPARAR MAIS PARA ESTE REVESTIMENTO
A IGREJA PRECISA SER SUBMISSA ÀS ORDENS E ORDENAMENTOS DO ESPÍRITO SANTO.
Hoje, no DIA DE PENTECOSTES eu e você não podemos nos manter tão distantes dessa profunda necessidade de nossas almas: a VIDA NO ESPÍRITO. Portanto, não espere por ninguém, hoje ainda, você mesmo, busque falar com este Deus, que envia o seu Espírito.
Lembre-se de Jesus:
Por isso, vos digo: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á. Qual dentre vós é o pai que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir um peixe, lhe dará uma cobra? Ou, se lhe pedir um ovo lhe dará um escorpião? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai Celestial dará o seu Espírito Santo àqueles que lho pedirem? (Lucas 11.9-13).