Características da Perseverança
Cristã
INTRODUÇÃO
Nesta
preciosa epístola de Pedro o ponto que estamos observando é a insistência de
Pedro em manter os crentes perseverantes no caminho da fé, para a qual foram
chamados.
Ele
os lembra de que todas as coisas das quais precisam para serem aperfeiçoados na
fé e para um relacionamento vivo com Deus, já lhes foram dadas. Portanto, era a
sua parte persistir diligentemente nos deveres de buscarem a cada dia, mediante
as experiências da vida, segundo a Palavra de Deus, crescimento em graça cada
vez maior.
Por isso, irmãos, procurai, com
diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto
procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum (2 Pedro 1.10).
Pedro
tem em mente a volta de Jesus como o fator de maior motivação para uma vida
santa e dedicada ao Senhor. Ele considera que o crente que tiver uma conexão
com a vinda de Cristo terá também maior disposição para viver para Cristo neste
mundo. Como aqueles que sentem que o verdadeiro tesouro está por vir.
Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor
Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma
viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para
uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para
vós outros que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a
salvação preparada para revelar-se no último dia (1 Pedro 1. 3 e 4).
Pedro
insiste nestes temas e se detém em chamá-los à perseverança neste caminho
porque muitos crentes estavam abandonando a firmeza da fé. Aliás, este é um dos
principais problemas tratados nas páginas do Novo Testamento.
A
questão é que dois fatores estavam influindo para a falta de perseverança dos
crentes. O primeiro deles é que o tempo estava passando e os crentes estavam
começando a desconfiar de que a Palavra de Deus, ou a interpretação dada pelos
apóstolos estavam equivocadas.
O
outro aspecto é que, na esteira dessa certa incredulidade, falsos mestres, movidos
por outros interesses, estavam deturpando a Palavra de Deus e mesmo o ensino
dos apóstolos para os seus fins pessoais, materialistas e com isso desviando a
Igreja de Cristo dos verdadeiros alvos da vida com Deus.
Acredito
que a leitura destas cartas nos mostrará a importância da perseverança para o
viver cristão. E, neste trecho final, acho que poderemos aprender um pouco
sobre as características da perseverança cristã.
A
vida cristã será sempre cheia de barreiras, obstáculos e outros empecilhos.
Deus escolheu usar o tempo para nos preparar para a eternidade. Ter em vista a
eternidade e a paciência de aguardá-la em firme convicção, mantendo um procedimento
santo enquanto aguardamos as concretizações das promessas de Deus é algo que
precisamos aprender a desenvolver.
Eu
os convido nessa meditação a considerar atentamente o que nosso coração precisa
acalentar para que seja perseverante até a volta de Jesus Cristo.
A Perseverança Cristã é Um
Esforço de Viver de Forma Santa Como Uma Consequência da Nossa Ligação Com a
Volta de Jesus
Veja
o verso de número 14 e perceba que a primeira coisa que ele indica é a
importâncias das coisas que foram antes escritas. Ele diz: Por esta razão... Pedro usava o recurso de dizer muitas coisas e
depois fazer conclusões baseadas nas afirmações precedentes. Veja como ele faz isso
no capítulo, 1.12.
Bem,
o que havia falado anteriormente? Pedro havia confrontado a mentira dos falsos
mestres e o modo como procuravam perverter a mente dos crentes com mensagens
falsas sobre a volta de Jesus. Basicamente, estes falsos mestres, usavam a
ideia da demora do retorno de Jesus para incentivar os crentes à libertinagem e
à vida materialista. O capítulo 2 é uma extensa exortação contra estes mestres
e, pela comparação que Pedro lhes dedica, podemos ver as marcas do seu erro.
Estes tais são
como fonte sem água, como névoas impelidas por temporal. Para eles está
reservada a negridão das trevas; porquanto, proferindo palavras jactanciosas de
vaidade, engodam com paixões carnais, por suas libertinagens, aqueles que
estavam prestes a fugir dos que andam no erro, prometendo-lhes liberdade,
quando eles mesmos são escravos da corrupção, pois aquele que é vencido fica
escravo do vencedor (2 Pedro 2.17 a 19).
Pedro, no capítulo 3, corrige aqueles que
estão dando ouvidos a estes falsos mestres e cedendo à ideia de que Cristo
estava demorando a voltar e reinterpretando essa demora em termos de vida
mundana e materialista, dizendo a eles que a promessa de Cristo não é demorada,
que ela se confirmará, tão logo, Deus o queira. Assim, ele coloca a espera
Cristã pelos acontecimentos finais entre as principais fontes de motivação para
a perseverança cristã:
Nós, porém,
segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita
justiça (2 Pedro 3.13).
Essa
é a razão para nos empenharmos em um viver santo. A conexão com a volta de
Jesus é um comprometimento com a sua Palavra e com a santidade do seu Reino.
Por esta
razão, pois, amados, esperando estas coisas, empenhai-vos por serdes achados
por ele em paz, sem mácula e irrepreensíveis (2 Pedro 3.14).
Este
é um ponto importante a ser considerado sobre a nossa perseverança. Ela deve
decorrer de nossa consciência do nosso dever de esperar o Senhor e nos preparar
para este encontro.
Crentes
que vivem sem se importar com estas coisas poderão desenvolver um cristianismo
de momentos bons. E perseverar na vida cristã não é viver momentos bons, é
viver bem todos os momentos, é viver para Cristo sempre, como quem entesoura a
vida para a volta de Jesus.
Alguns
detalhes do texto grego que nos foge em nossa tradução. O primeiro deles é o
verbo “spuldazo” (empenhai-vos). Este
verbo é a mesma raiz da palavra usada por Pedro no capítulo 1 (diligentemente).
Mas, aqui, na forma verbal, ele usa o tempo aoristo que indicava uma ideia de
continuidade da ação. Mas outro detalhe, estamos diante de um imperativo.
Empenhai-vos sempre é uma
obrigação de vocês. A
perseverança que nasce de uma conexão com a volta de Jesus não pode ser apenas
uma perseverança de alguns momentos, mas de todos os momentos da vida. É uma
consequência de uma espera consciente e confiante na volta de Cristo.
A Perseverança Cristã é Um
Esforço de Viver de Forma Coerente Com o Ensino Bíblico, Resistindo ao Erro dos
Falsos Mestres
Acredito
que os crentes estão um pouco contaminados com a ideia de uma tolerância sem critérios.
É evidente no ensino bíblico do amor ao próximo, no amor ao inimigo e na busca
de servirmos uns aos outros, em particular aos fracos na fé, que a tolerância é
uma virtude cristã.
A
tolerância religiosa é um ganho promovido pela Fé Cristã em nosso mundo. Os
crentes devem ser tolerantes com as pessoas e até mesmo com aqueles que creem de
maneira diferente.
Contudo,
irmãos, precisamos diferenciar tolerância de concordância tácita e irrefletida.
Não significa que uma atitude de tolerância deva ser também de aceitação e
assimilação. Devemos tolerar o erro, mas não significa concordar e colaborar
com ele.
Quero
entender o que está acontecendo em nosso tempo no meio evangélico e que muitas
vezes atrapalham nossa perseverança cristã. Há um bom número de crentes
perdidos entre muitas doutrinas. Eles não sabem exatamente em quem devem
confiar. Uns dizem “A”, outros “B”, outros “C” e os crentes estão perdidos,
porque algumas vezes, estas doutrinas são distantes e excludentes.
A
perseverança cristã deve se basear em uma única fonte segura: a Palavra de Deus. Lembre-se do que
disse Jesus: Nem todo o que me diz:
Senhor, Senhor; entrará no reino dos céus. O problema é que algumas vezes,
não querendo nos indispor com ninguém, aceitamos suas afirmações equivocadas
como plenas de sabedoria.
Pedro
teve coragem de denunciar este erro mais de uma vez e aqui neste trecho
novamente o faz:
(...) os
ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras,
para a própria destruição deles. Vós, pois, amados, prevenidos como estais de
antemão, acautelai-vos; não suceda que, arrastados pelo erro desses
insubordinados, descaiais da vossa própria firmeza (2 Pedro 3.17b).
Leia
os primeiros versos do capítulo 2 e você verá Pedro denunciando o erro destes
insubordinados. O que ele quer dizer com insubordinados? Ele está se referindo
ao fato de que não acatam a autoridade dos apóstolos, nem do próprio Cristo.
Eles fazem uma interpretação personalista, baseada em suas ideias e desejos. Neste
sentido é que eles ignoram a autoridade dos apóstolos e daqueles que lhes estão
ensinando as coisas de acordo com o Evangelho.
Primeiro,
quero destacar que a verdadeira perseverança cristã não é perseverar na “palavra
do pastor fulano” é perseverar na palavra de Deus, a Bíblia. Pedro já havia
feito uma referência sobre a importância das Escrituras para essa perseverante
espera:
Porque não
vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo
fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da
sua majestade (...). Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e
fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até
que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração, sabendo
primeiramente isto: nenhuma profecia da Escritura provém de particular
elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana;
entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo
(2 Pedro 1.16 a 21).
Pedro
está pondo a Palavra de Deus como a medida da nossa espera e da nossa
perseverança. Devemos ter todo o cuidado, pois a nossa continuada jornada cristã
deve ser conduzida pela Palavra de Deus. Ninguém poderá dar a desculpa: o
pastor não me explicou.
Desculpem-me,
mas se eu não explicar e não lhes alertar já pagarei pelo meu erro de
infidelidade, mas você não poderá subir nas minhas costas, por causa disso. É sua
a responsabilidade de perseverar segundo a Palavra de Deus, vivendo de forma
coerente com o ensino bíblico. Orem para que eu e os pastores que lhes pregam a
Palavra sejam fiéis, cobrem-nos essa fidelidade, mas não se eximam de serem
vocês mesmos os responsáveis pela saúde da sua vida com Deus.
Não
de a desculpa esfarrapada de que a Bíblia é difícil. Esse tipo de desculpa é
resultado de uma incoerência bíblica. A Bíblia deve ser lida sempre na
expectativa de que o Espírito Santo é o seu maior mestre no entendimento da
Escritura. O texto nos diz que mesmo que Paulo escreva de forma difícil de
entender, devemos continuar recorrendo a ele e não ao ensino deturpado.
Se
alguém ensinar um evangelho que não cabe na Bíblia, não creia, não aceita, não
acate! Pelo contrário, veja a exortação do verso 18a:
Antes,
crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (2 Pedro
3.18a).
Há
duas áreas que qualquer um pode e deve crescer quando vai à Bíblia aprender. Cresce na graça, o que pode
significar no modo de viver, no modo de agir. Estamos falando aqui de
santificação. Isso, por si só, já desmente os falsos mestres, cujo ensino,
sempre acaba em libertinagem e falsa santificação. E também cresce no
conhecimento do Salvador, o que tem a ver com a segurança e a confiança de que
a nossa vida só está segura mesmo em Cristo.
Nós
não perseveramos em qualquer verdade, mas na verdade de Cristo. Nas suas promessas
é que aguardamos e na sua Palavra confiamos para mudar o nosso viver e
aguardá-lo.
A Perseverança Cristã é Um
Esforço de Viver Para a Glória de Cristo
Pedro
deixa suas últimas palavras desta carta reservadas para mostrar a verdadeira
razão da nossa perserverança: a glória
de Cristo.
Não
perseveramos para ganhar o céu e a nova terra. Na verdade esperamos que eles
venham com Cristo sobre nós, mas não perseveramos interesseiramente por causa
disto. Não perseveramos para mostrar que somos melhores que os outros, ou para
receber qualquer elogio de Deus ou de quem quer que seja.
Nós
perseveramos, porque a nossa perseverança glorifica a Cristo. A nossa maior
motivação está na promessa de que perceberemos o quanto a nossa perseverança
terá glorificado a Cristo.
Pedro
sabe bem o que isso significava. Pois foi Pedro que ouviu do Senhor Jesus estas
palavras:
Em verdade,
em verdade te digo que, quando eras mais moço, tu te cingias a ti mesmo e
andavas por onde querias; quando, porém, fores velho, estenderás as mãos, e
outro te cingirá e te levará para onde não queres. Disse isto para significar
com que gênero de morte Pedro havia de glorificar a Deus. Depois de assim
falar, acrescentou-lhe: segue-me (João 21.18-19).
Pedro,
como diz a História, foi crucificado por causa de seu amor a Cristo e sua
perseverança. Foi crucificado de cabeça para baixo, segundo a tradição
histórica. Contudo não temos um registro histórico sobre isso, mas o que
sabemos é que Pedro glorificou a Deus com o gênero de morte, o que pode indicar
o seu martírio.
Perseverar,
manter-se fiel até se preciso à morte, deve ser fortalecido com o desejo de que
a nossa vida glorifique a Deus. Ser um crente fiel em tudo, apegado à Palavra,
buscando uma vida digna, mesmo em meio a injustiça do nosso mundo, viver de
forma irrepreensível, buscar corrigir erros, viver segundo o padrão bíblico...
tudo isto deve ser motivado pelo desejo de que Deus seja glorificado em nossa
vida, em cada ato, gesto, palavra e até pensamento nosso.
Há
algo que quero destacar na parte final do verso 18. Note que Pedro aponta para
a eternidade: O Dia Eterno. Mas também aponta a glorificação de Cristo também “AGORA”.
Ele
faz a conexão da eternidade com o agora. Ele não faz distinção, ao contrário,
diz que o mesmo pressuposto da glorificação de Cristo que nos ocupará na
eternidade, deve nos ocupar agora.
A
verdadeira perseverança Cristã é um ato deliberado de viver para glória de
Cristo. É a busca diligente desta glória através da própria vida.
Conclusão
Acredito
que muito pouco precisa ser acrescentado em termos de conclusão. Mas acredito
que podemos fazer algumas ponderações sobre nosso tempo.
A
perda da conexão com a promessa da volta de Cristo parece assolar a Igreja de
hoje, como atrapalhou a Igreja nos dias de Pedro. Precisamos recuperar essa
conexão e dela fazer uma ponte para ligar o hoje ao eterno.
Ter
uma visão da eternidade que se aproxima e estabelecer uma vida que se adeque a
esta eternidade é um modelo bíblico de vida cristã. Perseverar é forçar esse
compromisso.
Perseverar
é necessário se desejamos contemplar coisas belas de Deus nessa vida. A
perseverança, quero completar com uma ilustração, deve se assemelhar à subida
de uma montanha por um alpinista.
Nenhuma
bela imagem é coletada do chão, mas do alto da encosta de uma montanha. Mas,
aqueles que apenas veem as imagens que outros coletaram, não sentiram o vento e
o movimento da paisagem.
Você
não pode dizer eu conheço aquela paisagem, porque viu uma foto. O alpinista
conhece, porque sobe a montanha. É preciso dar um passo de cada vez, uma pegada
de mão de cada vez.
Assim
a sua vida com Deus só contemplará a beleza de Deus quando você subir a
montanha e escalar a vida cristã na direção de Deus. Cada vez, para mais perto
de Deus e você verá coisas novas de Deus, belezas que você não conhecia e que,
por muito que outros que já veem tentem te dizer, somente os que sobem podem
sentir o que veem.
Aplicação para a Igreja
Presbiteriana de Vila Formosa
Somos
uma igreja pequena em vista de muitas outras. Mas isso não importa. O nosso
problema não é tamanho, mas sim fidelidade.
Temos
alguns grandes desafios adiante de nós e todos eles exigem muita perseverança.
Porém, alguns irmãos, desistem nas primeiras dificuldades.
Precisamos
que todos vocês perseverem no ministério que Deus lhes incumbiu. Não o façam
para o pastor, não o façam para o conselho, não o façam por uma questão social.
Façam isto por sua conexão com Cristo e sua volta, lembrem-se da parábola dos
talentos.
Perseverem
em tudo o que o Senhor lhes conceder em obediência e submissão à Palavra,
lembrem-se de que é dever de vocês e foi dado por Deus. E também façam tudo
para a glória de Cristo.
A
nossa igreja local precisa de sua perseverança. Eu como pastor não posso e não
fui chamado para fazer a obra sozinho. Fui chamado para ser o instrutor e mais
um crente. Eu também tenho de perseverar na minha jornada e preciso de vocês.
Cristo
voltará e o que devemos entregar a ele não são as nossas desculpas, mas a nossa
fidelidade e perseverança. Estes são os valores que movem o reino.
Vamos
perseverar no intuito de transformar a nossa igreja em uma igreja
evangelizadora e educadora. Vamos estruturar a nossa igreja para que sempre ela
promova a glória de Cristo.
Que
cada membro da nossa igreja assuma um compromisso pessoal com isso. Acredito
que isso é que podemos fazer para que nossa escalada alcance patamares mais
elevados de vida com Deus.
Oração
Faça
essa obra Senhor e obrigado por já estar fazendo!