30 de junho de 2013

2 Pedro 3. 14 a 18

Características da Perseverança Cristã


INTRODUÇÃO

Nesta preciosa epístola de Pedro o ponto que estamos observando é a insistência de Pedro em manter os crentes perseverantes no caminho da fé, para a qual foram chamados.
Ele os lembra de que todas as coisas das quais precisam para serem aperfeiçoados na fé e para um relacionamento vivo com Deus, já lhes foram dadas. Portanto, era a sua parte persistir diligentemente nos deveres de buscarem a cada dia, mediante as experiências da vida, segundo a Palavra de Deus, crescimento em graça cada vez maior.
Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum (2 Pedro 1.10).
Pedro tem em mente a volta de Jesus como o fator de maior motivação para uma vida santa e dedicada ao Senhor. Ele considera que o crente que tiver uma conexão com a vinda de Cristo terá também maior disposição para viver para Cristo neste mundo. Como aqueles que sentem que o verdadeiro tesouro está por vir.
Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último dia (1 Pedro 1. 3 e 4).
Pedro insiste nestes temas e se detém em chamá-los à perseverança neste caminho porque muitos crentes estavam abandonando a firmeza da fé. Aliás, este é um dos principais problemas tratados nas páginas do Novo Testamento.
A questão é que dois fatores estavam influindo para a falta de perseverança dos crentes. O primeiro deles é que o tempo estava passando e os crentes estavam começando a desconfiar de que a Palavra de Deus, ou a interpretação dada pelos apóstolos estavam equivocadas.
O outro aspecto é que, na esteira dessa certa incredulidade, falsos mestres, movidos por outros interesses, estavam deturpando a Palavra de Deus e mesmo o ensino dos apóstolos para os seus fins pessoais, materialistas e com isso desviando a Igreja de Cristo dos verdadeiros alvos da vida com Deus.
Acredito que a leitura destas cartas nos mostrará a importância da perseverança para o viver cristão. E, neste trecho final, acho que poderemos aprender um pouco sobre as características da perseverança cristã.  
A vida cristã será sempre cheia de barreiras, obstáculos e outros empecilhos. Deus escolheu usar o tempo para nos preparar para a eternidade. Ter em vista a eternidade e a paciência de aguardá-la em firme convicção, mantendo um procedimento santo enquanto aguardamos as concretizações das promessas de Deus é algo que precisamos aprender a desenvolver.
Eu os convido nessa meditação a considerar atentamente o que nosso coração precisa acalentar para que seja perseverante até a volta de Jesus Cristo.

A Perseverança Cristã é Um Esforço de Viver de Forma Santa Como Uma Consequência da Nossa Ligação Com a Volta de Jesus

Veja o verso de número 14 e perceba que a primeira coisa que ele indica é a importâncias das coisas que foram antes escritas. Ele diz: Por esta razão... Pedro usava o recurso de dizer muitas coisas e depois fazer conclusões baseadas nas afirmações precedentes. Veja como ele faz isso no capítulo, 1.12.
Bem, o que havia falado anteriormente? Pedro havia confrontado a mentira dos falsos mestres e o modo como procuravam perverter a mente dos crentes com mensagens falsas sobre a volta de Jesus. Basicamente, estes falsos mestres, usavam a ideia da demora do retorno de Jesus para incentivar os crentes à libertinagem e à vida materialista. O capítulo 2 é uma extensa exortação contra estes mestres e, pela comparação que Pedro lhes dedica, podemos ver as marcas do seu erro.
Estes tais são como fonte sem água, como névoas impelidas por temporal. Para eles está reservada a negridão das trevas; porquanto, proferindo palavras jactanciosas de vaidade, engodam com paixões carnais, por suas libertinagens, aqueles que estavam prestes a fugir dos que andam no erro, prometendo-lhes liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção, pois aquele que é vencido fica escravo do vencedor (2 Pedro 2.17 a 19).
 Pedro, no capítulo 3, corrige aqueles que estão dando ouvidos a estes falsos mestres e cedendo à ideia de que Cristo estava demorando a voltar e reinterpretando essa demora em termos de vida mundana e materialista, dizendo a eles que a promessa de Cristo não é demorada, que ela se confirmará, tão logo, Deus o queira. Assim, ele coloca a espera Cristã pelos acontecimentos finais entre as principais fontes de motivação para a perseverança cristã:
Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça (2 Pedro 3.13).
Essa é a razão para nos empenharmos em um viver santo. A conexão com a volta de Jesus é um comprometimento com a sua Palavra e com a santidade do seu Reino.
Por esta razão, pois, amados, esperando estas coisas, empenhai-vos por serdes achados por ele em paz, sem mácula e irrepreensíveis (2 Pedro 3.14).
Este é um ponto importante a ser considerado sobre a nossa perseverança. Ela deve decorrer de nossa consciência do nosso dever de esperar o Senhor e nos preparar para este encontro.
Crentes que vivem sem se importar com estas coisas poderão desenvolver um cristianismo de momentos bons. E perseverar na vida cristã não é viver momentos bons, é viver bem todos os momentos, é viver para Cristo sempre, como quem entesoura a vida para a volta de Jesus.
Alguns detalhes do texto grego que nos foge em nossa tradução. O primeiro deles é o verbo “spuldazo” (empenhai-vos). Este verbo é a mesma raiz da palavra usada por Pedro no capítulo 1 (diligentemente). Mas, aqui, na forma verbal, ele usa o tempo aoristo que indicava uma ideia de continuidade da ação. Mas outro detalhe, estamos diante de um imperativo.
Empenhai-vos sempre é uma obrigação de vocês. A perseverança que nasce de uma conexão com a volta de Jesus não pode ser apenas uma perseverança de alguns momentos, mas de todos os momentos da vida. É uma consequência de uma espera consciente e confiante na volta de Cristo.

A Perseverança Cristã é Um Esforço de Viver de Forma Coerente Com o Ensino Bíblico, Resistindo ao Erro dos Falsos Mestres

Acredito que os crentes estão um pouco contaminados com a ideia de uma tolerância sem critérios. É evidente no ensino bíblico do amor ao próximo, no amor ao inimigo e na busca de servirmos uns aos outros, em particular aos fracos na fé, que a tolerância é uma virtude cristã.
A tolerância religiosa é um ganho promovido pela Fé Cristã em nosso mundo. Os crentes devem ser tolerantes com as pessoas e até mesmo com aqueles que creem de maneira diferente.
Contudo, irmãos, precisamos diferenciar tolerância de concordância tácita e irrefletida. Não significa que uma atitude de tolerância deva ser também de aceitação e assimilação. Devemos tolerar o erro, mas não significa concordar e colaborar com ele.
Quero entender o que está acontecendo em nosso tempo no meio evangélico e que muitas vezes atrapalham nossa perseverança cristã. Há um bom número de crentes perdidos entre muitas doutrinas. Eles não sabem exatamente em quem devem confiar. Uns dizem “A”, outros “B”, outros “C” e os crentes estão perdidos, porque algumas vezes, estas doutrinas são distantes e excludentes.
A perseverança cristã deve se basear em uma única fonte segura: a Palavra de Deus. Lembre-se do que disse Jesus: Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor; entrará no reino dos céus. O problema é que algumas vezes, não querendo nos indispor com ninguém, aceitamos suas afirmações equivocadas como plenas de sabedoria.
Pedro teve coragem de denunciar este erro mais de uma vez e aqui neste trecho novamente o faz:
(...) os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles. Vós, pois, amados, prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que, arrastados pelo erro desses insubordinados, descaiais da vossa própria firmeza (2 Pedro 3.17b).
Leia os primeiros versos do capítulo 2 e você verá Pedro denunciando o erro destes insubordinados. O que ele quer dizer com insubordinados? Ele está se referindo ao fato de que não acatam a autoridade dos apóstolos, nem do próprio Cristo. Eles fazem uma interpretação personalista, baseada em suas ideias e desejos. Neste sentido é que eles ignoram a autoridade dos apóstolos e daqueles que lhes estão ensinando as coisas de acordo com o Evangelho.
Primeiro, quero destacar que a verdadeira perseverança cristã não é perseverar na “palavra do pastor fulano” é perseverar na palavra de Deus, a Bíblia. Pedro já havia feito uma referência sobre a importância das Escrituras para essa perseverante espera:
Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade (...). Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração, sabendo primeiramente isto: nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo (2 Pedro 1.16 a 21).
Pedro está pondo a Palavra de Deus como a medida da nossa espera e da nossa perseverança. Devemos ter todo o cuidado, pois a nossa continuada jornada cristã deve ser conduzida pela Palavra de Deus. Ninguém poderá dar a desculpa: o pastor não me explicou.
Desculpem-me, mas se eu não explicar e não lhes alertar já pagarei pelo meu erro de infidelidade, mas você não poderá subir nas minhas costas, por causa disso. É sua a responsabilidade de perseverar segundo a Palavra de Deus, vivendo de forma coerente com o ensino bíblico. Orem para que eu e os pastores que lhes pregam a Palavra sejam fiéis, cobrem-nos essa fidelidade, mas não se eximam de serem vocês mesmos os responsáveis pela saúde da sua vida com Deus.
Não de a desculpa esfarrapada de que a Bíblia é difícil. Esse tipo de desculpa é resultado de uma incoerência bíblica. A Bíblia deve ser lida sempre na expectativa de que o Espírito Santo é o seu maior mestre no entendimento da Escritura. O texto nos diz que mesmo que Paulo escreva de forma difícil de entender, devemos continuar recorrendo a ele e não ao ensino deturpado.
Se alguém ensinar um evangelho que não cabe na Bíblia, não creia, não aceita, não acate! Pelo contrário, veja a exortação do verso 18a:
Antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (2 Pedro 3.18a).
Há duas áreas que qualquer um pode e deve crescer quando vai à  Bíblia aprender. Cresce na graça, o que pode significar no modo de viver, no modo de agir. Estamos falando aqui de santificação. Isso, por si só, já desmente os falsos mestres, cujo ensino, sempre acaba em libertinagem e falsa santificação. E também cresce no conhecimento do Salvador, o que tem a ver com a segurança e a confiança de que a nossa vida só está segura mesmo em Cristo.
Nós não perseveramos em qualquer verdade, mas na verdade de Cristo. Nas suas promessas é que aguardamos e na sua Palavra confiamos para mudar o nosso viver e aguardá-lo.

A Perseverança Cristã é Um Esforço de Viver Para a Glória de Cristo

Pedro deixa suas últimas palavras desta carta reservadas para mostrar a verdadeira razão da nossa perserverança: a glória de Cristo.
Não perseveramos para ganhar o céu e a nova terra. Na verdade esperamos que eles venham com Cristo sobre nós, mas não perseveramos interesseiramente por causa disto. Não perseveramos para mostrar que somos melhores que os outros, ou para receber qualquer elogio de Deus ou de quem quer que seja.
Nós perseveramos, porque a nossa perseverança glorifica a Cristo. A nossa maior motivação está na promessa de que perceberemos o quanto a nossa perseverança terá glorificado a Cristo.
Pedro sabe bem o que isso significava. Pois foi Pedro que ouviu do Senhor Jesus estas palavras:
Em verdade, em verdade te digo que, quando eras mais moço, tu te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias; quando, porém, fores velho, estenderás as mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres. Disse isto para significar com que gênero de morte Pedro havia de glorificar a Deus. Depois de assim falar, acrescentou-lhe: segue-me (João 21.18-19).
Pedro, como diz a História, foi crucificado por causa de seu amor a Cristo e sua perseverança. Foi crucificado de cabeça para baixo, segundo a tradição histórica. Contudo não temos um registro histórico sobre isso, mas o que sabemos é que Pedro glorificou a Deus com o gênero de morte, o que pode indicar o seu martírio.
Perseverar, manter-se fiel até se preciso à morte, deve ser fortalecido com o desejo de que a nossa vida glorifique a Deus. Ser um crente fiel em tudo, apegado à Palavra, buscando uma vida digna, mesmo em meio a injustiça do nosso mundo, viver de forma irrepreensível, buscar corrigir erros, viver segundo o padrão bíblico... tudo isto deve ser motivado pelo desejo de que Deus seja glorificado em nossa vida, em cada ato, gesto, palavra e até pensamento nosso.
Há algo que quero destacar na parte final do verso 18. Note que Pedro aponta para a eternidade: O Dia Eterno. Mas também aponta a glorificação de Cristo também “AGORA”.
Ele faz a conexão da eternidade com o agora. Ele não faz distinção, ao contrário, diz que o mesmo pressuposto da glorificação de Cristo que nos ocupará na eternidade, deve nos ocupar agora.
A verdadeira perseverança Cristã é um ato deliberado de viver para glória de Cristo. É a busca diligente desta glória através da própria vida.  

Conclusão

Acredito que muito pouco precisa ser acrescentado em termos de conclusão. Mas acredito que podemos fazer algumas ponderações sobre nosso tempo.
A perda da conexão com a promessa da volta de Cristo parece assolar a Igreja de hoje, como atrapalhou a Igreja nos dias de Pedro. Precisamos recuperar essa conexão e dela fazer uma ponte para ligar o hoje ao eterno.
Ter uma visão da eternidade que se aproxima e estabelecer uma vida que se adeque a esta eternidade é um modelo bíblico de vida cristã. Perseverar é forçar esse compromisso.
Perseverar é necessário se desejamos contemplar coisas belas de Deus nessa vida. A perseverança, quero completar com uma ilustração, deve se assemelhar à subida de uma montanha por um alpinista.
Nenhuma bela imagem é coletada do chão, mas do alto da encosta de uma montanha. Mas, aqueles que apenas veem as imagens que outros coletaram, não sentiram o vento e o movimento da paisagem.
Você não pode dizer eu conheço aquela paisagem, porque viu uma foto. O alpinista conhece, porque sobe a montanha. É preciso dar um passo de cada vez, uma pegada de mão de cada vez.
Assim a sua vida com Deus só contemplará a beleza de Deus quando você subir a montanha e escalar a vida cristã na direção de Deus. Cada vez, para mais perto de Deus e você verá coisas novas de Deus, belezas que você não conhecia e que, por muito que outros que já veem tentem te dizer, somente os que sobem podem sentir o que veem.

Aplicação para a Igreja Presbiteriana de Vila Formosa

Somos uma igreja pequena em vista de muitas outras. Mas isso não importa. O nosso problema não é tamanho, mas sim fidelidade.
Temos alguns grandes desafios adiante de nós e todos eles exigem muita perseverança. Porém, alguns irmãos, desistem nas primeiras dificuldades.
Precisamos que todos vocês perseverem no ministério que Deus lhes incumbiu. Não o façam para o pastor, não o façam para o conselho, não o façam por uma questão social. Façam isto por sua conexão com Cristo e sua volta, lembrem-se da parábola dos talentos.
Perseverem em tudo o que o Senhor lhes conceder em obediência e submissão à Palavra, lembrem-se de que é dever de vocês e foi dado por Deus. E também façam tudo para a glória de Cristo.
A nossa igreja local precisa de sua perseverança. Eu como pastor não posso e não fui chamado para fazer a obra sozinho. Fui chamado para ser o instrutor e mais um crente. Eu também tenho de perseverar na minha jornada e preciso de vocês.
Cristo voltará e o que devemos entregar a ele não são as nossas desculpas, mas a nossa fidelidade e perseverança. Estes são os valores que movem o reino.
Vamos perseverar no intuito de transformar a nossa igreja em uma igreja evangelizadora e educadora. Vamos estruturar a nossa igreja para que sempre ela promova a glória de Cristo.
Que cada membro da nossa igreja assuma um compromisso pessoal com isso. Acredito que isso é que podemos fazer para que nossa escalada alcance patamares mais elevados de vida com Deus.

Oração


Faça essa obra Senhor e obrigado por já estar fazendo!  

4 comentários:

  1. Quando ouvi esse sermão, parecia que eu estava sozinha na igreja.

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    1. Deus te abençoe muito Sílvia. Em momentos assim, este é um bom modo de ouvir a voz de Deus.

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  2. A palavra de Deus me consola e acalma meu coração. Entendi perfeitamente o sermão e ficou plantado em meu coração

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    1. Que Deus abençoe sua vida, irmão ou irmã... se possível, identifique-se para que possamos também orar por sua vida.

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Toda mensagem escrita é apenas um registro. O sermão bíblico de fato é único, como um rio que passa e muda a cada instante. Um sermão só pode ser pregado uma única vez. Caso seja repetido em outro púlpito, ainda que use os mesmos registros, será outro, por várias razões: a) o pregador nunca é o mesmo, pois está sendo transformado a cada mensagem que prega; b) os ouvintes são outros; c) o Espírito é o mesmo, mas é dinâmico e aplica o que quer aos corações.
Obrigado por ler estes pequenos e falhos esboços!