27 de outubro de 2013

Josué 24.14-25

“Coragem Para Uma Vida Consagrada”

Introdução
O que dizer ao final do livro de Josué? Qual seria realmente o intento do Senhor ao oferecer a seu povo esses tão preciosos relatos e ensinos? O que espera Deus de seu povo ao conduzi-los até a terra de Canaã por meio de tantas experiências com a obediência em lutas?
Deus esperava que, vivendo na terra prometida, tendo o testemunho deste grande homem, Josué, os filhos dos israelitas fossem capazes de continuar a viver para Deus, em santa consagração ao Senhor.
O último capítulo de Josué nos serve como uma ata solene sobre o juramento do povo a respeito de sua consagração ao Senhor. Diante do grande Deus, o povo deveria encher-se de coragem para assumir o compromisso de seguir na terra prometida, segundo tudo quanto o Senhor havia ordenado na Lei.
Suas palavras, ditas como resposta às incisivas exortações de Josué, nos mostram todos os importantes pontos que precisamos refletir para que possamos assumir o compromisso de viver para servir e adorar ao Senhor.

Para uma vida consagrada, precisamos encarar com coragem as enganosas tradições que corrompem a fé
Agora, pois, temei ao Senhor e servi-lo com integridade e com fidelidade; deitai fora os deuses aos quais serviram vossos pais dalém do Eufrates e no Egito e servi ao Senhor. Porém, se vos parece mal servir, ao Senhor, escolhei hoje, a quem sirvais; se aos deuses a quem serviram vossos pais que estavam dalém do Eufrates ou aos deuses dos amorreus em cuja terra habitais. Eu e a minha casa serviremos ao Senhor (Josué 24.14-15).
Às vezes, nos vemos precisando retornar aos acontecimentos do século XVI, quando Lutero afixou nas portas do Castelo de Wittemberg as suas 95 teses. Da mesma forma, podemos recuar no tempo e lembrar da tradução da Bíblia feita por Wycliff e as pregações ousadas de Huss. Estes homens desafiaram a si mesmos e os conceitos estabelecidos para unirem seus corações aos reclamos da Palavra de Deus. Imagine como seria mais fácil a vida de Tyndale, se simplesmente ouvisse os conselhos de seu bispo e ignorasse a necessidade do povo inglês de ler a Bíblia na sua língua.
Precisamos continuamente voltar o olhar para nós mesmos e investigar as razões e os modelos que adotamos para a nossa maneira de vivenciar nossa relação com o Altíssimo. Um dos aspectos que precisamos cuidar é de que a nossa fé esteja estabelecida na verdade de Deus e não em uma verdade irrefletida, simplesmente herdada ou construída por simplesmente pela nossa mente.
Josué exorta os filhos de Israel a encararem suas escolhas e a questionarem-se diante de Deus sobre o seu desejo de viver segundo o padrão de Deus ou aqueles recebido de seus antecessores.
Algumas vezes, elegemos como fator determinante para a nossa busca espiritual, valores que nada tem a ver com aqueles propostos na Palavra de Deus. Josué estava falando exatamente disto ao povo, que eles deveriam voltar-se ao Deus que lhes foi apresentado por Moisés, revelado em santidade na sua perfeita Lei.
A coragem de Josué em obedecer ao Senhor se revelou no verso 15 na sua decisão absoluta de conduzir a sua casa a servir ao Senhor, independentemente de qualquer outra tradição da qual tenham se originado. O Deus da Escritura, o Deus apresentado por Moisés, a este é que eles iriam adorar e servir o restante de suas vidas.
Josué define esse modelo de vida como vida integra e fiel. Isto é, que se qualifica pela coragem de se definir claramente segundo a Palavra de Deus.

Para uma vida consagrada, precisamos encarar com coragem o fato de que devemos muito a Deus
Porque o Senhor é o nosso Deus; ele é quem nos fez subir, a nós e a nossos pais da terra do Egito, de casa da servidão, quem fez estes grandes sinais aos nossos olhos e nos guardou por todo o caminho em que andamos e entre todos os povos pelo meio dos quais passamos. O Senhor expulsou de diante de nós todas estas gentes, até o amorreu, morador da terra; portanto, nós também serviremos ao Senhor, pois ele é o nosso Deus (Josué 24.17-18).
É comum que a espiritualidade de muitas pessoas esteja baseada nas coisas que desejam receber de Deus. Por isso, constroem um relacionamento com Deus baseado em uma possibilidade e não em uma certeza.  A palavra do povo de Israel, como resposta à exortação e exemplo pessoal de Josué, é baseada no fato de que tinham consciência clara de tudo o que Deus já havia realizado a seu favor.
Eles não haviam se esquecido de que eram um povo escravo e o Senhor os libertou do Egito, que não tinham recursos naturais para vencer os egípcios ou mesmo o deserto e que o Senhor fizera grandes sinais, conduzindo-os à terra de Canaã e, mais que o Senhor havia destituído povos antigos e lhes concedeu grandes vitórias em guerras, que sozinhos não teriam vencido.
Meus irmãos, a consciência do amor e providência de Deus manifestos em nosso favor ou de sua graça, apresentada sobretudo na Cruz, devem ser continuas lembranças que nos encorajam a seguir adiante em fidelidade e integridade diante dEle.
É um erro deixar cair no esquecimento tantos benefícios do Senhor para conosco. Esse foi o ponto que levou o salmista a clamar a si mesmo, conclamando o mais íntimo do seu ser a uma devoção baseada na fidelidade de Deus:
Bendize, ó minha alma ao Senhor e não te esqueças de nenhum só de seus benefícios (Salmo 103.2).
Precisamos encarar com coragem o fato de que devemos a Deus tudo o que temos e somos e, por isso, nossa lealdade a Ele não deve ser baseada em nosso interesse futuro, mas em uma gratidão pelo passado em especial.
A decisão do povo de Israel, baseada em sua experiência pessoal com Deus é a mesma que de Josué: ...portanto, também nós serviremos ao Senhor, pois ele é o nosso Deus.
Um dos mais belos exemplos históricos dessa integridade e fidelidade baseadas em Deus e no seu amor revelado através de seus puros benefícios pode ser encontrada na história do martírio de Policarpo de Esmirna. Este homem, um idoso, condenado à morte por causa da sua fé é conclamado a negar o seu Senhor ao que responde de maneira sóbria e impressionante:
"Sirvo-o há oitenta e seis anos e não me fez algum mal: como posso blasfemar o meu rei, aquele que me salvou?"

Para uma vida consagrada, precisamos enfrentar com coragem o fato de que Deus não se agrada de tolos e de uma fé inconstante
Então, Josué disse ao povo: não podeis servir ao Senhor, porquanto é Deus santo, Deus zeloso, que não perdoará a vossa transgressão nem os vossos pecados. Se deixardes o Senhor e servirdes a deuses estranhos, então, se voltará, e vos fará mal, e vos consumirá, depois de haver vos ter feito o bem. Então, disse o povo a Josué: Não, antes, serviremos ao Senhor (Josué 24.19-21). 
Josué está propondo uma reflexão sobre o fato de Moisés ter declarado nas bênçãos e maldições do pacto o fato de que Deus não se agrada de que seus filhos vivam de forma contrária à sua vontade. Deus fará recair, quantas vezes forem necessárias, sua disciplina para trazer os seus filhos de volta ao caminho.
Não seguirás outros deuses, nenhum dos deuses dos povos que houver à roda de ti, porque o Senhor, teu Deus, é Deus zeloso no meio de Ti, para que a ira do Senhor, teu Deus, se não se acenda contra ti e te destrua de sobre a face da terra (Deuteronômio 6.14-15). 
A base da palavra de Josué ao povo é justamente o fato de que Deus seja um Deus zeloso. Em algumas traduções temos a palavra “ciumento”. A ideia geral dessa maneira de se referir a Deus tem como interesse mostrar que Deus não deseja dividir sua glória com ninguém, tampouco ser uma segunda opção na vida de ninguém. Não é possível servir a dois senhores, como nos é dito no Novo Testamento, por Jesus (Mateus 6.24).
Josué diz ao povo que não é possível brincar com a santidade de Deus, o que implica em pensar no terceiro mandamento que nos exorta a não tomar o nome de Deus em vão, implicando nossa ligação filial a Ele como pai celestial. Por isso, por causa de sua santidade, Deus exige que nossa fé nele não seja inconstante ou vacilante, não podemos viver em dois caminhos.
Duas palavras são usadas para definir esse pecado de inconsistência: transgressão e pecado. Um fala dos desvios do caminho da verdade e a outra fala da rebeldia contra Deus. Esses são sempre perigosos no nosso relacionamento com Deus.
Para uma vida que se devota à consagração devemos considerar isso com seriedade. Deus não quer meninos inconstantes e volúveis, mas servos decididos a ir até a morte, se necessário.
Se fiel até à morte e dar-te-ei a coroa da vida (Apocalipse 2.10).
O povo declara de forma enfática e corajosa: não, antes serviremos ao Senhor. Esse é o compromisso que o Senhor quer ver em nossos lábios, corações e ações.

Para uma vida consagrada, precisamos enfrentar com coragem nossas promessas ao Senhor e realmente abandonar tudo que prejudica a nossa relação com Senhor.
Josué disse ao povo: Sois testemunhas contra vós mesmos de que escolhestes o Senhor para o servir: E disseram: nós o somos. Agora, pois, deitai fora os deuses estranhos que há no meio de vós e inais o coração ao Senhor, Deus de Israel. Disse o povo a Josué: Ao Senho, nosso Deus, serviremos e obedeceremos à sua voz (Josué 24.22-24). 
Na escócia, após a morte de John Knox, seu genro Andrew Melville foi o grande líder da fé reformada. A igreja presbiteriana escocesa viveu grandes lutas para ter reafirmada o seu direito de ter a Bíblia como autoridade máxima para as questões de fé e Jesus Cristo como o cabeça único da Igreja. Os escoceses também foram conhecidos como os pactuados (convenanters), pois estabeleceram pactos nacionais nas questões bíblicas e, mesmo sob a traição de seus monarcas, eles se firmaram nos pactos que fizeram com Deus.
Os homens de Israel estavam diante de Deus e de Josué entrando em aliança com o Senhor e firmando sua palavra perante ao Altíssimo, de que viveriam com integridade e fidelidade. Josué os exorta à seriedade daquele momento: “sois testemunhas contra vós mesmo de que escolhestes ao Senhor para o servir”.
Eles assumem uma grande responsabilidade e estão dispostos a firmar um pacto com Deus: “...nós o somos”. Esta é uma posição realmente corajosa.
Eles assumiram um compromisso formal com o Senhor. O que seria necessário para que esse compromisso se tornasse uma realidade? Duas ações, uma negativa e outra positiva, são as mais básicas e necessárias:
Deitai fora os deuses estranhos - Precisamos, assim como os homens de Israel daqueles dias afastar de nossa vida todas as coisas que minam nossa vida com o Senhor. Você precisa levar a sério isto!
Às vezes, acalentamos contradições em nossa jornada com Deus. Estamos com medo negar a nós mesmos? Acontece muitas vezes que elegemos aspectos da nossa vida que não entregamos a Deus e estes são os nossos deuses estranhos. OU seja, estamos falando de coisas que amamos, mais que a Deus e mantemos perto de nós. Estas coisas minarão a nossa capacidade de servir a Deus com integridade e fidelidade e impedirão nossa consagração. Precisamos de coragem para abandonar tudo isso.
Inclinai o coração ao Senhor - Por outro lado, de forma positiva, Josué nos conclama a voltar nosso coração para as coisas que favorecem nossa vida com Ele. Precisamos nos dispor mais para os grandes instrumentos que Deus dispôs a seu povo para que viva em sua companhia todos os dias.
Irmãos, temos precisado de mais homens de oração, mais vida de estudo sério e dedicado da Escritura, mais comunhão etc. Enquanto formos relapsos com essas coisas, somos testemunhas contra nós mesmos, por isso precisamos de muita coragem para uma vida de consagração e decisão viva pelo caminho de Deus.
  
Conclusão
Pouco há que dizer em termos de conclusão. Apenas reforço a ideia mais evidente neste texto: a coragem que precisamos para encarar a decisão séria de entregar a nossa vida somente a Deus.
Acredito que todos os que já resolveram seguir Jesus Cristo e serem seus discípulos sabem o que é preciso fazer. Esse texto nos exorta a fazê-lo com a ousadia de quem vive como cidadão dos céus. Deus não espera de nós nada menos que integridade e fidelidade. Portanto, é de urgente importância que nos posicionemos.
Mas, estamos realmente preocupados com a nossa fé? Não posso evitar revelar que sinto que sejamos um povo inconstante com o Senhor e que temos deixado a Deus para viver segundo os rudimentos de nossas tradições, quer pessoais e coletivas e que temos nos esquecido dos grandes benefícios do Senhor. Temos nos tornado uma geração culpada diante de nossa própria consciência.

Aplicação para a Igreja Presbiteriana de Vila Formosa
Caros irmãos, aceitem o meu apelo amoroso e cheio de temor. Consintam em refletir seriamente sobre o que temos proposto para a nossa vida e qual tem sido realmente a nossa disposição de servir àquele que nos ama.
Eu lhes peço que não se permitam fraquejar na fé e se pronunciem diante de Deus com seriedade. Façam votos ao Altíssimo e vivam para ele. Não permitam intromissões perigosas entre vocês e ele.
O desafio que nós temos tem a ver com a nossas famílias, com o Reino, a Igreja e o mundo que nos cerca. Sejamos corajosos para nos tornarmos homens e mulheres pactuados em amor com Senhor, vivendo segundo a Aliança perfeita da cruz de Cristo e de sua Palavra.
Deixemos nesse mundo uma marca digna do Evangelho que cremos. Eu vos peço que se dediquem a erguer uma igreja construída sobre esses preciosos valores cheios de convicção e amor.

Oração
Senhor, conceda-nos coragem para definirmos nosso amor a Ti como prioridade existencial. Amém.


2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Que eu tenha coragem para reconhecer minhas fraquezas, que a minha fé em Cristo Jesus seja maior, e que a minha vida seja verdadeiramente consagrada ao Senhor.

    ResponderExcluir

Toda mensagem escrita é apenas um registro. O sermão bíblico de fato é único, como um rio que passa e muda a cada instante. Um sermão só pode ser pregado uma única vez. Caso seja repetido em outro púlpito, ainda que use os mesmos registros, será outro, por várias razões: a) o pregador nunca é o mesmo, pois está sendo transformado a cada mensagem que prega; b) os ouvintes são outros; c) o Espírito é o mesmo, mas é dinâmico e aplica o que quer aos corações.
Obrigado por ler estes pequenos e falhos esboços!