9 de fevereiro de 2014

Marcos 5.1-17

“Segurança Espiritual”

 

Foco da Nossa Condição Decaída

Aprender a considerar que o verdadeiro problema a ser enfrentado nessa vida é de caráter e ordem espiritual. Que o nosso maior inimigo é verdadeiramente o nosso pecado e um coração incapaz de aceitar o caminho de Deus. Marcos nos conduz a manter a nossa segurança nas escolhas de Cristo para nós.

Introdução

Nos dias de Marcos, a igreja precisa de uma profunda reflexão sobre todas as dificuldades que estava enfrentando. Muitos crentes não conseguiam compreender muito bem o mundo que o cercava e atribuía a tudo uma causa meramente humana.
De fato, as coisas que nos acontecem podem ter uma causa direta material e humana, mas, com certeza, o nosso maior problema é de origem espiritual. Nem gosto muito dessa expressão, porque, em geral, as pessoas tendem a trabalhar com coisas estanques: o material e o espiritual.
As Escrituras nos ensinam que são realidades que esse entrelaçam e interdependem. Reconhecer essa realidade é também reconhecer os limites de nossa capacidade e, portanto, a necessidade de submissão a Cristo e ao seu agir na nossa vida.
Eu lhes convido a entender o que realmente significa segurança espiritual. O quanto a nossa humildade e submissão a Cristo pode nos dar paz ao coração.

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Segurança Espiritual em Cristo é Saber Que as Soluções Humanas Podem Falhar, Mas as de Cristo Não
A primeira parte do texto apresenta o problema. O argumento de Marcos está apontando para o fato de que algumas situações fogem ao controle humano e que a segurança espiritual em Cristo é superior a qualquer esforço de se sentir seguro na capacidade humana.

No capítulo 4, versos 35 a 41, vemos uma tempestade que fugiu ao controle humano completamente. As habilidades de navegação dos discípulos não significaram nada naquele momento, o conhecimento do mar, porque eram pescadores, não era suficiente para controlarem sua jornada rumo a margem oposta. Eles precisaram chegar ao limite de todas as suas possibilidades para que pudessem apreciar a autoridade de Jesus sobre o mar revolto e os ventos.
Quem é este que até o vento e mar lhe obedecem? (Marcos 4.41).
Agora, do outro lado da margem, o que está fora de controle não é um elemento da natureza, mas um ser humano.
Ao desembarcar, logo veio dos sepulcros, ao seu encontro, um homem possesso de espírito imundo, o qual vivia nos sepulcros, e nem mesmo com cadeias alguém podia prendê-lo; porque, tendo sido muitas vezes preso com grilhões e cadeias, as cadeias foram quebradas por ele, e os grilhões, despedaçados. E ninguém podia subjugá-lo. Andava sempre, de noite e de dia, clamando por entre os sepulcros e pelo montes, ferindo-se com pedras (Marcos 5.2-5).
Marcos está propondo que a Igreja continuasse a viver a sua fé em Cristo apoiando sua fé ao fato de terem a noção perfeita da autoridade de Cristo Jesus, quer sobre os poderes da natureza, como sobre toda a obra do maligno entre os homens.
Marcos faz o relato mais detalhado das circunstâncias que envolviam a vida deste homem (ou homens como diz Mateus). Os demônios influenciavam este homem para ser violento e anti social, fazendo com que a sua relação com as demais pessoas fosse rompida. Ele também se cortava e fazia a si mesmo o mal.
Mas como os gerasenos tentaram resolver essa situação? Como lidaram com este problema? Eles tentaram haviam desistido daquele homem e partiram para uma ação extrema, prender aquele homem com grilhões e correntes. Mas a solução que haviam dado era insuficiente. Com certeza, então, resolveram isolá-lo e evitavam aquele lugar.
É difícil encarar o fato de que nossos recursos para resolver a nossa vida são insuficientes e que muitas vezes e situações não há nada que possamos fazer que seja realmente efetivo.
Marcos está instruindo a igreja de seu tempo a encarar este mundo não apenas com olhos naquilo que é tangível ao poder e capacidade humana. Ele os alerta sobre situações em que as circunstâncias fogem ao controle. O mar revolto era um elemento do seu costume, atribuído às forças da natureza e muitas vezes suplantava as capacidades humanas de navegação. Este exemplo preparava os homens para algo ainda pior, o descontrole do homem sob a influencia do maligno.
Nós precisamos deste discernimento. Precisamos reconhecer que a presente existência não é composta apenas dos elementos materiais e visíveis, mas de elementos que fogem completamente aos nossos sentidos.
Paulo, escreveu aos crentes de Éfeso conscientizando-os sobre a necessidade de discernirem que vivemos uma luta que é travada em contextos que fogem aos elementos da materialidade.
Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes (Efésios 6.12).
 O objetivo não criar o medo do poder maligno, mas a consciência das limitações dos nossos recursos e da nossa necessidade de enfrentar tudo segundo os recursos e poder de Cristo.
Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo... (O poder de Deus) o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais, acima de todo principado e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro (Efésios 1.3,20-21).
Um homem possesso de espírito imundo - Marcos deixa claro que o homem estava sob a influência do maligno. Ele desperta a mente dos seus leitores para essa condição. O resultado dessa influência é o caos e todo o desajuste pessoal e social que segue a descrição de Marcos.
Ele faz essa descrição vívida para provocar a reflexão e chamar a atenção para uma possibilidade bastante realista a respeito de toda a desordem que circunda a igreja.
Meus caros irmãos, vivemos em um mundo que os escritores bíblicos entendiam estar sob a influência do maligno, mas os chamava a pensar que é necessário considerar que muitas vezes a solução humana somente é completamente insuficiente.
Prender aquele homem e tentar controlar aquele caos com correntes e grilhões nada resolveu. Foi o poder e o agir de Cristo a única resposta. A igreja precisava discernir que o Reino de Cristo era espiritual e a única segurança real tinha tudo a ver com uma entrega confiante a ele.

Segurança Espiritual em Cristo é Saber Que Jesus Trabalha Para Tratar o Real Problema
Marcos é o evangelista que mais explora a autoridade de Jesus sobre os poderes do maligno. Neste trecho, mais uma vez um demônio se aproxima de Jesus com um gesto de reconhecimento de sua majestade, mas Cristo não se deixa levar por esse gesto de falsa espiritualidade.
Quando, de longe, viu Jesus, correu e o adorou, exclamando com alta voz: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro-te que não me atormentes! Porque Jesus lhe dissera: Espírito imundo, sai desse homem! (Marcos 5.6-8).
A questão central do problema dos gerasenos não era o homem endemoninhado, mas a má influência maligna que o conduzia. Jesus não tentou prender o homem, mas enfocou em libertá-lo.
Precisamos sim de uma consciência clara do verdadeiro problema a ser considerado. Resolver apenas os sintomas sem tratar as causas de uma doença não é verdadeiramente uma cura.
Muitas vezes, nos concentramos em tratar os sintomas, porque eles nos incomodam. O problema do jovem endemoniado  estava sendo tratado apenas nos sintomas, eles o prendiam e tentaram acabar com o sintoma. Mas, Jesus trabalha para tratar as causas da nossa doença.
E perguntou-lhe: Qual é o teu nome? Respondeu ele: Legião é o meu nome, porque somos muitos (Marcos 5.9).
Aumentado ainda a sua descrição do problema, Marcos acrescenta o dramático diálogo em que o demônio revela o seu nome “Legião”.
Esse nome apontava para o fato de que havia realmente uma guerra espiritual sendo travada. O problema não era meramente um homem que causava transtornos à comunidade, tratava-se de uma ação maligna dirigida para a perturbação da vida daquele vilarejo.
Para uma audiência romana, a expressão legião, com certeza apontava para algo muito concreto. Uma divisão inteira de soldados romanos, se chamava “legião”. Este latinismo do Evangelho de Marcos era proposital.
Despertava os seus ouvintes para o tamanho do problema real. Não era o homem em si, mas algo muito maior por detrás daqueles sintomas.
Da mesma forma precisamos considerar que o que Cristo está fazendo na nossa vida não é se preocupar com os sintomas, mas tratar o problema em si. Ele está mortificando o reino das trevas que ainda se levantam e nos influenciam. O seu problema não é que alguém está de cara virada para você, mas o pecado que lhe impede perdoar e se aproximar. Entenda isso!
Não minimize a realidade do mal e não dê soluções meramente humanas para os sintomas. Sim! Tem muita gente que deseja resolver seus problemas sem atacar as causas. Então, se eu não ver o problema, se mantiver longe, acorrentado fora da minha vista, acho que está tudo certo. Engana-se quem pensa assim.
Dobremos nossos joelhos e ataquemos a fonte de nossos problemas, as inclinações pecaminosas da nossa natureza, que nos impede de corrigir o que é preciso corrigir.
Segurança espiritual é saber que Cristo ataca os problemas reais. Ele está de olho no cerne da questão e não no periférico. Os crentes devem desenvolver essa percepção e sentirem-se seguros.

Segurança Espiritual em Cristo é Saber Que a Solução de Cristo Nem Sempre Contempla a Nossa Expectativa
Esta passagem servirá como ponto de apoio para Marcos mostrar uma das suas ênfases do evangelho, a rejeição do Reino de Cristo.
Neste trecho, os espíritos imundos são lançados para uma manada de porcos e os mesmos se lançam em um precipício e morrem, encerrando assim a jornada daqueles espíritos neste mundo.
E rogou-lhe encarecidamente que os não mandasse para fora do país. Ora, pastava ali pelo monte uma grande manada de porcos. E os espíritos imundos rogaram a Jesus, dizendo: Manda-nos para os porcos, para que entremos neles. Jesus os permitiu. Então, saindo os espíritos imundos, entraram nos porcos; e a manda, que era cerca de dois mil, precipitou-se despenhadeiro abaixo, para dentro do mar, onde se afogaram. Os porqueiros fugiram e o anunciaram na cidade e pelos campos. Então, saiu o povo para ver o que sucedera. Indo ter com Jesus, viram o endemoniado, o que tivera a legião, assentado, vestido, em perfeito juízo, e temeram. Os que haviam presenciado os fatos contaram-lhes o que acontecera ao endemoniado e acerca dos porcos. E entraram a rogar-lhe que se retirasse da terra deles (Marcos 5.10-17).
Para algumas pessoas, segurança espiritual é Deus fazer tudo do jeito que esperamos. Ao contrário de nos sentirmos felizes com os resultados efetivos da obra de Deus, nos preocupamos com a frustração dos nossos planos e empreendimentos.
O que temos neste texto é que um contraste é apresentado. O homem que antes estava em completa desordem se acha agora em completa ordem e aqueles que achavam que estavam em ordem, agora revelam que o problema real daquela vila estava em sua perspectiva altamente egocêntrica de sua relação com o mundo.
Eles prendiam o moço, não porque o desejavam curado, mas porque ele lhes atrapalhava no dia a dia. Agora que ele estava bem, ótimo, mas nossos porcos morreram e o nosso lucro cessou.
Sentir paz na ação de Deus na nossa vida, mesmo quando as nossas expectativas não são atendidas é uma virtude que nos conduz a um coração cheio de paz espiritual. Ela só encontra lugar no coração que admite que Deus sabe melhor que nós o que é importante e necessário fazer.
Nesse episódio, Marcos nos conduz a pensar que Deus não está mais preocupado em manter as nossas riquezas que em nos manter bem. Ele tem como prioridade no nosso coração a paz e não a riqueza.
Devemos aprender a nos alegrar com a paz de Cristo. O problema é que nosso coração ainda é muito autocentrado e pouco disposto a ceder à escolhas de Deus quando ele nos diz não.
Será que Jesus não sabia que os porcos eram o ganha pão dos porqueiros? Será que não sabia que ficariam insatisfeitos com essa solução? Será que os demônios conseguiram enganar Jesus?
Nada disso... Jesus precisava nos mostrar o que realmente está no nosso coração. Ele precisava nos deixar essa palavra como um alerta para o fato de que ele não veio cuidar dos nossos planos materialistas, mas veio tratar nosso maior problema e nos libertar.
Segurança espiritual é manter o coração sereno, aconteça o que acontecer, sabendo que nem sempre a solução de Cristo atenderá a nossa expectativa, mas é o melhor.

Conclusão

Caros irmãos, como igreja devemos andar com as nossas esperanças e expectativas todas concentradas em Cristo. Ele é a nossa resposta e devemos nos submeter à sua vontade.
Não vivemos em uma sociedade violenta apenas porque os homens são violentos, mas porque o mundo jaz no maligno. Podemos e devemos nos esforçar pro fazer a nossa parte, mas ainda sim é em Deus que precisamos confiar.
Não precisamos esconder nossa fragilidade nessa área. É claro que a falta de homens e mulheres de oração apenas aponta para o fato de que vivemos concentrados em soluções humanas.
Sua família precisa de uma decisão com base nessa consciência da espiritualidade. Você precisa disto. Você precisa de segurança não em si mesmo ou suas chances de fazer as coisas darem certo. Você precisa descansar no Senhor.

Aplicação Para  a Igreja Presbiteriana de Vila Formosa

Meus caros irmãos!
Estamos aqui para caminharmos juntos essa jornada de fé. Eu desejo para a nossa igreja que um verdadeiro senso de dependência de Deus tome conta de cada um de nós.
Quero chamá-lo à oração e chamá-lo a luta. Jesus nos dará toda a segurança que precisamos e nós devemos confiar nele. Precisamos vigiar, pois as armadilhas de que falou Pedro não são uma brincadeira ou uma mera ilustração.
Todo o caos que nos circunda pode ser transformado em paz. Mas, para tanto precisamos de consciência e entrega espiritual a Cristo.
A igreja tem tudo o que precisa para ser vitoriosa neste mundo. Precisamos agir com inteligência, com fé e coragem. Mas precisamos fazer isso juntos!

Oração

Senhor nos ajude a ver, abra os nossos olhos, mas principalmente para ver que maior é o que está conosco.
Amém.



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