8 de fevereiro de 2015

Lucas 4. 1 a 13

Vencendo o Tentador
Lucas 4.1 a 13


O Tentador Não Nos Vence
Quando Andamos na Força do Espírito Santo
Antes de qualquer caminho no texto em si é sempre bom lembrar que Lucas está trabalhando com uma obra dupla, ou seja, o  Evangelho e o Livro de Atos dos Apóstolos. O tema da continuidade do ministério de Jesus, no ministério dos apóstolos e da igreja é de grande importância para o médico macedônio, que conheceu o Evangelho a partir das pregações do Apóstolo Paulo.
Pensando sobre estas coisas é que o texto deve ser abordado por nós e uma coisa me chama a atenção: a presença do Espírito Santo como elemento condutor da passagem. No batismo, quando Jesus se apresentou a João, desceu sobre ele, em forma de pomba, o Espírito Santo. Lucas toma o gancho deste acontecimento e propõe um novo começo no seu Evangelho ao introduzir a figura de Jesus Cristo agora a partir de uma genealogia, mais ou menos como Mateus o faz em seu Evangelho.
Possivelmente, Lucas toma como exemplo o Evangelho de Mateus, que poderia ser mais conhecido da igreja cristã daqueles dias como um padrão e retoma o ministério de Jesus, já que o objetivo central é a descrição da vida, obra e ensinos do Senhor. Isto, então, o leva a registrar este momento, o início do ministério formal de Jesus com uma genealogia.
Entretanto, logo em seguida, Lucas se dirige ao deserto para descrever o ponto alto deste início de ministério de Jesus, sua vitória sobre a tentação. Ele faz uma ponte entre o batismo e este momento dizendo o seguinte:
Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi guiado pelo mesmo Espírito ao deserto, durante quarenta dias, sendo tentado pelo diabo. Nada comeu naqueles dias, ao fim dos quais teve fome (Lucas 4.1-2).
Para Lucas, a presença do Espírito Santo e o fortalecimento da pessoa de Jesus para o ministério eram assuntos totalmente interconectados. Era como se Jesus não pudesse ir adiante no seu ministério senão fosse a presença do Espírito Santo. Por isso, o batismo de Jesus se torna importante, porque é o momento da formalização da unidade com o Espírito Santo capacitador na pessoa do Messias. Não é, portanto, de se admirar que o texto seguinte, na sinagoga da Galiléia, Jesus abre o livro da Lei e lê o que o profeta Isaías falou a seu respeito e se revela como Messias:
O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restaurar da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor (Lucas 4.18-19).
O ministério de Jesus é totalmente guiado e potencializado pela presença do Espírito Santo em sua vida. Lucas usa este aspecto de forma maravilhosa e, mais tarde, irá enfatizar a presença do Espírito no ministério da Igreja, quando escreve o Livro de Atos que mostra como o Espírito Santo capacitou e guiou a Igreja de Cristo para cumprir a sua missão.
Olhando para o texto sob esta ótica de valor do Espírito Santo, vamos aprender nesta passagem que retrata a tentação de Cristo no deserto, como uma espécie de bula orientadora para nosso comportamento diante de algumas das nossas mais duras tentações.
Diante do exposto da presença do Espírito Santo em Cristo e do relato de que esteve em jejum no deserto por quarenta dias, no final dos quais esteve fraco pela fome. Como eu e você podemos ter certeza de que é possível vencer a tentação, quando somos guiados pelo Espírito Santo, afinal: O Espírito nos assiste em nossas fraquezas.

O Tentador Não Nos Vence
Quando Agimos Como Filhos de Deus
Um outro elemento que perpassa estes textos do início do ministério de Jesus em Lucas é o fato de que é enfatizado que ele é o Filho de Deus. Ainda no capítulo 3, no momento do batismo de Jesus, a voz que veio do céu atestou  claramente:
Tu és o meu filho amado, em ti me comprazo (Lucas 3.22b).
Ao propor uma genealogia de Jesus, Lucas parece ter o tema da tentação em sua mente e o tema da filiação divina também. Ele a propõe de forma regressiva. Diferentemente de Mateus, ele não conclui com o nascimento de Jesus, afinal Mateus queria fazer uma ligação estreita entre o anúncio do anjo e a ascendência genealógica de Jesus. Lucas, por sua vez, quer fazer outro tipo de ligação. Afinal, a história do anúncio do nascimento de Jesus, para Lucas, foi posto em outro ponto anterior.
Lucas tem o objetivo de ligar Jesus Cristo a Adão e retrocede em sua genealogia até o nosso primeiro Pai, o primeiro homem a ser tentado, aquele que na teologia paulina, era o primeiro Adão, sendo Cristo o segundo Adão. Aquele que pecou e trouxe a morte sobre todos os homens é o alvo de Lucas, que termina a sua genealogia falando sobre o primeiro Adão dizendo o seguinte:
Cainã, filho de Enos, Enos, filho de Sete, e este, filho de Adão, filho de Deus (Lucas 3.38).
O primeiro homem a ser tentado também era filho de Deus e se você notar a estrutura do texto da tentação notará nos versos 3 e 9 que o diabo tenta Jesus usando a expressão: se és Filho de Deus.
Se és o Filho de Deus, manda que esta pedra se transforme em pão... Se és o Filho de Deus, atira-te daqui abaixo (Lucas 4.3 e 9).
Mais tarde, Lucas irá nos mostrar este tema, quando na expulsão de demônios, os mesmos gritavam para todos quem era Jesus.
Também de muitos saíam demônios, gritando e dizendo: Tu és o Filho de Deus!  Ele, porém, os repreendia para que não falassem, pois sabiam ser ele o Cristo (Lucas 4.41).
Irmãos, quando percebemos que a tentação de Jesus era justamente uma tentativa de fazê-lo negar o que havia sido dito a seu respeito sobre ser o Filho que agradava o Pai,  notaremos que o fato de Jesus ter vivido de uma maneira que agradasse o seu Pai foi fundamental para sua vitória.
Em nosso último ponto desta mensagem veremos exatamente esta dinâmica da vitória de Jesus sobre a tentação.

O Tentador Não Nos Vence
Quando Priorizamos os Interesses de Deus na Nossa Vida
Não há como não lembrar de Adão aqui neste ponto. Quando voltamos ao jardim do Éden e lembramos que a tentação de Satanás era justamente uma proposta que opunha o interesse humano ao interesse de Deus, percebemos que o processo da tentação está diretamente ligado à cobiça humana e o desejo de ser guiado por si mesmo e não por Deus.
Naquela oportunidade, o diabo disse a Adão:
Sereis como Deus, conhecedores do bem e do mal (Gênesis 3.5).
Este texto não é o nosso foca, mas se lembrarmos bem, veremos Eva interessada no fruto pelo que oferecia e como lhe agradava aos olhos e lhe era desejável pela capacidade que lhe conferiria:
Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu (Gênesis 3.6).
Lucas estrutura a tentação de Jesus no deserto em três momentos:
1) Tentando-o pela necessidade física propondo que transforme pedras em pão (Versos 3 a 4).
2) Tentou-o buscando conduzi-lo a adorar outro Deus que não o Deus vivo e verdadeiro (versos 5 a 8).
3) Por fim, tentou-o propondo que Jesus cuidasse mais de si mesmo e de sua segurança que seguir o caminho dos que confiam totalmente em Deus (versos 9 a 12).
Não vamos explicar detalhes destas propostas tentadoras, apenas mostrar como no seu cerne está a tentativa de Satanás, de fazer Jesus escolher seus interesses pessoais, desprezando os planos de Deus para a sua vida.
Na primeira tentação, Jesus rejeitou a proposta de priorizar as suas necessidades básicas, no caso a fome, destacando que o que realmente dá vida ao homem é a palavra que vem da boca de Deus. Ele, para isto, cita Deuteronômio 8:
Ele te humilhou, e te deixou ter fome e te sustentou com o maná, que tu não conhecias, nem teus pais o conheciam, para te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do Senhor viverá o homem (Deuteronômio 8.3).
Em geral, caímos em tentação quando estamos inseguros, fracos na fé, quanto ao nosso futuro, quanto às soluções da nossa vida. Daí, as propostas do pecado e do Maligno nos cercam com saídas que não agradam a Deus, que nada tem a ver com um padrão de Filho de Deus e não são adequadas para quem é habitação do Espírito Santo.
Jesus estava com fome, sim, mas os interesses de Deus naquele momento nada tinha a ver com matar a sua fome de uma forma autocentrada, ele não precisava planejar ou realizar um plano pessoal, uma saída pessoal para seu problema.
Infelizmente, um grande número de irmãos ainda não compreende este modelo. Os interesses de Deus devem prevalecer e devemos crer que ele sabe o melhor caminho.
Da mesma forma a resposta de Jesus para a segunda tentação do diabo caminhava no mesmo foco. Não existe outro Deus, tudo o que eu faço, tuto o que eu tenho pertence a Deus e para a sua glória sou o que sou e tenho o que tenho. Ninguém pode levar a glória que pertence a Deus.
Dar-te-tei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue e a dou a quem eu quiser. Portanto, se prostrado me adorares, será tua (Lucas 4.6-7).
Adão buscou ele próprio definir o que era o bem e o mal sem a mediação de Deus, buscou glória para si mesmo quando tomou o fruto. Este sempre foi o pecado do diabo. A questão que Lucas propõe não é a mentira do diabo sobre possuir os reinos, mas o fato de que ele não conseguia enxergar seu pecado de vanglória. Jesus, entretanto, se recusa a dar a glória de Deus a qualquer outro. Nem para si mesmo ele buscou esta glória.
Quem fala por si mesmo está procurando a sua própria glória, mas o que procura a glória de quem o enviou, esse é o verdadeiro, e nele não há injustiça (João 7.18).
Esta busca de autoglorificação ou da glorificação de outros que não seja Deus é o pecado mais combatido nas Escrituras. Elas o chamam de “idolatria”, transformar a glória de Deus em glória de homens. Infelizmente, muitas vezes, ainda vemos os homens com tanto orgulho por sua conquistas e jamais deixando se moldar pelo espírito adorador de conferir a Deus a glória de qualquer coisa que lhe aconteça e qualquer poder que lhe é dado, por menor que seja.
Por fim, infelizmente nosso espaço não é grande, vamos ao ponto final, a tentação pela auto preservação. O diabo levou Jesus a uma condição de insegurança, o Pináculo do templo.
Atira-te daqui abaixo, porque está escrito que: aos seus anjos darás ordens ao teu respeito que te guardem; e eles te susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra (Lucas 4.9-11).
Não é nosso ponto discutir a altura, ou o lugar do templo em que Jesus esteve, ou se foi apenas uma tentação pela geração de uma miragem. O ponto é que a proposta envolve o risco de uma queda vertiginosa e a busca de proteção por meio de um autovalor. Já que és o filho de Deus, as promessas vão se concretizar.
Quando nos colocamos em riscos e tentamos nos garantir pelas capacidades pessoais ou pela autovalorização, colocamos Deus a prova. Isso aconteceu com o povo no deserto, quando tentaram o Senhor, como se dissessem: Deus está ou não entre nós, que ele nos dê água (Êxodo 17.2).
Irmãos, muitas vezes, achamos que porque somos filhos de Deus ele tem algumas obrigações de fazer as nossas vontades e nos socorrer, como se disséssemos: afina ele é o não é o nosso Deus, não nos salvará agora?
Procurar a Deus sugerindo que o fato de sermos os seus filhos o obriga a fazer qualquer coisa não é uma demonstração de fé, mas de arrogância e imaturidade. Jesus respondeu de uma maneira muito sábia, citando a Lei:
Não tentarás o Senhor, teu Deus (Lucas 4.12).
Em um outro momento, Jesus iria novamente ser tentado a se proteger ou procurar um caminho parecido, mas ele resiste à tentação quando foi capaz de dizer o seguinte:
Se possível, passa de mim este cálice, contudo seja feita a tua vontade.
Uma visão madura dos interesses de Deus na nossa vida irá nos conduzir à uma vitória contínua sobre o tentador. Isso ocorrerá na medida em que aumentar o nosso progresso na vida do Espírito e também nosso compromisso como Filhos de Deus.

Conclusão
Todos precisamos nos perguntar esta noite sobre o modo como estamos lidando com as situações reais e comuns do dia a dia. Quando somos conduzidos pelas situações da vida a um processo de tentação.
Quando estamos diante de situações em que somos guiados mais pela carne que pelo Espírito, outras em que deixamos nosso compromisso como filhos de Deus de lado e vivemos como aqueles que nada tem a ver com Deus e ainda quando buscamos nossos próprios interesses.
Meus irmãos, o ponto é comum para todos nós. Somos tentados nas relações pessoais na família, no trabalho, na igreja... Somos tentados pela nosso própria cobiça ou sentimento de autovalor, quando nosso coração nos engana e faz a gente seguir o caminho pessoal.
Para vencer meu irmão, siga estas orientações da Palavra. A igreja não conseguirá cumprir bem o seu ministério se não lutar com todas as forças contra as tentações e não estiver vigiando. A nossa fraqueza, isto é, mostrarmos que precisamos de Deus para esta vitória será fundamental.



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