Perdendo as Insondáveis Riquezas de Cristo
Lucas 16.19 a 31
(Pregado no aniversário de 64 anos da Igreja Presbiteriana de Santo André)
Foco da Nossa Condição Decaída
O texto nos conduz a refletir sobre o modo como lidamos com a valiosa herança dos santos no Senhor, trocando-as por valores menores e passageiros da vida mundana. Jesus está acusando os fariseus de terem trocado os valores eternos por mundanos, a partir de coisas mais básicas, como o modo como conduziam os seus lares. Trata-se de uma exortação valiosa para quem deseja ser rico para com Deus, amealhando nesta vida as insondáveis riquezas de Cristo.
Contextualização
Com certeza, o encorajamento à fé é uma das marcas do Evangelho de Lucas. Neste caso, entretanto, falando por meio de uma parábola bastante singular, Lucas propõe este fortalecimento da igreja para a sua jornada na terra, levando-a a uma séria reflexão sobre valores básicos da vida.
Tais valores são discutidos na parábola do rico e Lázaro, como uma sequência dos textos sobre a reprovação da avareza dos fariseus e precisarei gastar um tempo tratando deste contexto para que todos possam melhor entender o modo como abordaremos a parábola e depois, tentarei reduzir um pouco o tempo de exposição dos próprios versos da parábola, mantendo-nos assim dentro de um tempo razoável para este sermão. Mas, por favor, não fiquem olhando os relógios.
O comportamento dos fariseus é um dos principais alvos de Jesus em seu ministério e Lucas expôs isto de maneira muito clara. Uma das principais críticas de Jesus aos fariseus está ligada ao senso deturpado do significado da vida temporal e da eternidade. O material escolhido por Lucas é bem claro nessa sua intenção. Mas, apenas para nos situarmos no texto desta noite, recolheremos algumas informações deste contexto literário.
Retornando ao capítulo 9, quando Jesus multiplica os pães e peixes, ele se voltou aos seus discípulos e perguntou sobre o que as multidões pensavam sobre quem ele era. Mais assertivamente Pedro respondeu, em nome dos discípulos, que ele era o “Cristo de Deus” (Lc 9.20). Jesus segue sua palavra aos discípulos falando sobre sua morte e ressurreição, tema recorrente do Evangelho. Mas, nós sabemos que até mesmo os discípulos não conseguiam compreender a importância desta proposta de Jesus.
Lucas inclui na sequência desta declaração de Pedro uma das mais conhecidas afirmações da fé cristã:
“Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; quem perder a sua vida por minha causa, esse a salvará” (Lucas 9.23-24).
Embora o valor da eternidade seja proposto por Lucas como um patamar acima, seguindo a teologia paulina: tudo desprezar para ter a Cristo, viver para Cristo e desejar estar com ele. Seguindo a mesma visão paulina, Lucas identifica que a vida na terra não é separada destes valores, antes é como uma antessala da eternidade, na qual experimentamos e revelamos ao mundo os valores eternos.
Uma boa demonstração desta visão lucana é a inclusão do texto da transfiguração (Lucas 9.28-36), que é seguido de uma decisão direta de descerem do monte ao encontro dos pecadores, em lugar de fazerem tendas para permanecerem na atmosfera elevada do vislumbre da eternidade (Lucas 9.37ss).
Bem, são muitos textos que nos mostram esta visão lucana de temporalidade e eternidade como uma sequência de atos da vida no Reino de Cristo. Os valores da vida terrena não são definidos pelos padrões próprios da sociedade pecadora, mas devem apontar para a superioridade da eternidade santa que está sendo trazida sobre nós. Jesus, discorre disto de muitas formas e uma das mais diretas é quando ensina os seus discípulos sobre quem é o maior no reino dos céus (Lucas 9.46-48), ou quando falou sobre o comportamento de Marta e Maria (Lucas 10.38 a 42).
Os fariseus, entretanto, que seguiam e perseguiam Jesus por todos os lados, não compreendiam estas coisas. Por isso, Jesus lhes ataca diretamente sobre este ponto, afirmando sua avareza, ou seja, um apego excessivo às coisas terrenas, bem como o seu desconhecimento e desprezo pelos valores eternos propostos na Lei de Deus. Jesus, duramente falava contra este pecado dos fariseus e seus desdobramentos, pecado este que Jesus descrevia como hipocrisia, ou seja, eles diziam confiar e viver para eternidade, mas o seu coração estava preso nos valores deste mundo, pois não haviam se libertado da escravidão do pecado:
Digo-vos, pois, amigos meus: não temais os que matam o corpo e, depois disto, nada mais podem fazer. Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: temei aquele que, depois de matar, tem poder de lançar no inferno. Sim, digo-vos, a este deveis temer (Lucas 12.4-5).
Não posso me delongar demais nestes exemplos, os textos de Lucas poderão ser lidos pelos irmãos e estas ênfases averiguadas.
Mas, chegando mais perto do texto que propusemos para nossa exposição nesta noite. Encontraremos novamente, os fariseus sendo confrontados por Jesus em três parábolas, cujo objetivo era apontar para os erros e avareza dos fariseus: a parábola da dracma perdida, da ovelha perdida e do filho pródigo, a três destacando o contraste entre o “júbilo de Deus e dos céus” com a “murmuração e avareza dos fariseus” (Lucas 15.1-32).
Os fariseus, que eram avarentos, ouviam tudo isto e o ridicularizavam. Mas Jesus lhes disse: Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece o vosso coração, pois aquilo que é elevado entre os homens é abominação diante de Deus. A lei e os profetas vigoraram até João; desde esse tempo, vem sendo anunciado o evangelho do reino de Deus, e todo homem se esforça por entrar nele. E é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da lei (Lucas 16.14-17).
Estes versos antecedem o nosso texto sobre o “Rico e Lázaro”. Mas um problema é apresentado na sequência, a introdução de um verso, que às vezes nos confunde, o verso 18.
Quem repudiar sua mulher e casar com outra comete adultério; e aquele que casa com a mulher repudiada pelo marido, também comete adultério (Lucas 16.18).
Será que “alhos” tem algo a ver com “bugalhos”? Muitas vezes este verso nos parece estar destoando do texto como um todo. Ou será, que estamos já indo a outro assunto. Mas, o que ele tem a ver com o que segue, com a parábola do mendigo e do rico?
Este ponto para mim é importante para definir o que pretendemos ver no texto da parábola do “rico e Lázaro”. Eu compreendo que o arranjo de Lucas aponta para uma das formas mais aberrantes como a visão deturpada dos fariseus se manifestava, era o seu lar.
Podemos lembrar a reprovação de Jesus ao modo como eles tratavam a herança de família e a sua justificativa diante da sociedade, o famoso “corbã” (Marcos 7.11). Mas, um ponto bastante claro era o modo mundano como tentavam justificar o divórcio. O verso 18, portanto, é uma sequência do argumento de que a lei de Deus não passa, ela deve continuar valendo para os homens, no entanto, não do modo como os fariseus a manipulavam, mas sob os princípios e valores eternos do reino de Deus. A parábola, se encerrará com a afirmação da lei e o desprezo que na verdade, eles tinham para com essa lei.
O ponto que pretendemos discutir é que esta parábola não trata principalmente de Lázaro e de como é bom suportar os infortúnios desta vida. Esta parábola é sobre o homem rico e como ele não percebeu que estava vivendo sob uma falsa percepção da verdadeira riqueza e foi rico para este mundo, mas pobre para com Deus.
Assim é o que é entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus (Lucas 12.21).
Oração: Deus nos abençoe no meditar de sua Palavra, que ela nos fira, mas que também nos cure. Que nos humilhe, mas nos levante para vivermos com os olhos fixos na eternidade.
Descubro Que Estou Perdendo as Riquezas de Cristo - Quando Meus Olhos Estão Fechados Para a Realidade do Meu Próximo
A parábola entrelaça a vida de dois homens: o rico e Lázaro. Não vou me deter em discutir o texto sobre ser ou não ser uma parábola, como é comum alguém levantar este problema. Considero-o uma parábola, levando em consideração, principalmente, o fato de que apresenta alguns temas em termos muito ilustrativos, como a presença de Abraão recebendo pessoas no céu, ou a possibilidade de comunicação entre o céu e o inferno.
A relação destas personagens da parábola percorre a parte inicial da parábola e é definida em duas etapas:
1. A primeira, nos versos 19 a 21, a relação deles aqui na terra;
2. A segunda, dos versos 22 a 26, a relação deles depois da morte de ambos.
A primeira é a que nos importa agora:
Ora, havia certo homem rico que se vestia de púrpuras e de linho finíssimo e que todos os dias, se regalava esplendidamente. Havia também certo mendigo, chamado Lázaro, coberto de chagas, que jazia à porta daquele; e desejava alimentar-se das migalhas que caíam da mesa do rico; e até os cães vinham lamber-lhe as úlceras (Lucas 16.19-21).
É fácil notar que existem contrastes nestes versos: rico e mendigo; vestir de púrpura e linho com coberto de chagas; regalar esplendidamente com desejar comer migalhas.
O ponto de contato de ambos era a porta da casa do rico e sua mesa. Havia um relacionamento entre eles. A própria parábola reforça isto, pois o rico, sabia o nome daquele mendigo que jazia à sua porta, possivelmente, por um longo tempo de sua pobreza, que não vem ao caso este tempo. Apenas, o suficiente para que compreendamos que Jesus deseja que entendemos que eles se conheciam, se relacionavam.
Assim como na parábola do bom samaritano, que versa sobre a prática da lei e a relação com o próximo, aqui também, a desgraça do outro foi observada, mas não considerada. Assim como o levita e o sacerdote do capítulo10, passam ao largo da desgraça do viajante e seguem para sua jornada de hipocrisia religiosa, aqui também o rico, que também conhecia Abraão e a lei, passava ao largo de Lázaro, o mendigo à porta de sua casa.
Desejava alimentar-se das migalhas que caiam da mesa do rico - com estas palavras, Jesus insinua que o rico sequer se quebrantava com a fome daquele mendigo. Ele estava ali continuamente, como sugere o tempo verbal de “desejar” (desejava e continuava desejando), assim como o verbo cair (caia e continuava caindo). Mas, o rico não lhe oferecia pão, não conseguia sequer notar esta necessidade de Lázaro, à porta de sua casa.
Lázaro continuamente buscou satisfazer sua necessidade mais básica à porta do rico, que jamais percebeu isto. Na verdade, ele não queria um banquete, mas apenas o restolho de sua comida. Esta palavra migalha, é usada no novo testamento apenas naquela história da mulher siro fenícia que diz a Jesus que até os cachorrinhos (Mateus 15.27 ou Marcos 7,28) e quando Jesus multiplicou os pães e peixes, quando se referiu aos pedaços que sobraram (Jo 6.12).
Até os cães vinham lamber-lhe as úlceras - O rico jamais atentou para isto. Para a própria condição da vida de Lázaro. Jesus diz que os cães davam tratamento melhor a Lázaro que o rico, que poderia lhe oferecer unguentos, óleos, como o bom samaritano.
Quando a realidade do próximo está diante dos olhos, mas nos focamos mais em nossa vida que no princípio fundamental da Lei de Deus que nos conduz a amar o próximo. Então podemos considerar que estamos perdendo a visão de realidade do Reino de Cristo, buscando ajuntar para nós mesmos, sendo pobres para com Deus.
Rico e mendigo - o rico, saudável, afortunado nesta vida é a personagem principal da parábola. Pois esta parábola trata do seu comportamento e de sua família. Ele tem tudo, em contraste com o paupérrimo mendigo à sua porta. Mas o mendigo tem um nome “Lázaro” e o rico não. Lázaro, significa “Deus ajuda” (de Eleazar da dupla raiz: El + Ezer no hebraico). Voltaremos a este nome mais à frente.
O nome do mendigo indica que ele possuía uma relação com Deus e o rico era apenas rico para si. Ele havia perdido a dimensão importante das realidades eternas da sua vida e isto se manifestava no modo avaro como lidava com a sua relação com o próximo.
Meus caros irmãos, infelizmente, eu e você sabemos que temos muitos casos de “ricos” assim em nossos dias e dentro de nossas igrejas. O ponto a que Lucas quer nos conduzir é ao da reflexão. Não podemos se hipócritas com a nossa fé, como eram os fariseus, precisamos nos concentrar na Lei de Deus e não negá-la com nossos atos. Precisamos rever nossas posições no tocante ao relacionamento com o nosso próximo, especialmente, olhando para as suas necessidades.
Não acredito que a intenção de Lucas seja a de apenas apontar para as necessidades financeiras. Muitos menos penso que Jesus apresentou o evangelho apenas como de libertação da pobreza. Afinal, foi ele quem disse que os pobres sempre os teremos conosco.
O problema não é a pobreza em si, mas a dignifidade, a saúde e as quedas da alma humana, coisas que precisamos atentar mais no caminhar da nossa vida com Deus. Muitas vezes, preferimos não compartilhar as dores do nosso próximo e seguimos em frente.
Quando estamos caminhando desta forma. Algo está errado e não estamos atingindo o objetivo da Lei de Deus e do próprio reino. Comece a se auto investigar e descobrir se as riquezas de Cristo não estão se ausentando da sua vida. Lucas quer que vejamos isto e nos conduzamos por valores superiores.
Descubro Que Estou Perdendo as Insondáveis Riquezas de Cristo - Quando Perco a Sensibilidade Para Coisas Espirituais
Infelizmente, tenho que lhes contar sobre um homem que conheci. Ele era um cristão que havia se convertido na Igreja Presbiteriana em um momento muito difícil. Ele era um excelente profissional, capaz de inventar máquinas. Contudo, estava quebrado. Um presbítero, que era seu cliente mantinha cultos no páteo de sua empresa toda segunda feira e ele, ali, ouviu falar de Jesus e passou a ser um cristão.
Como tudo na vida passa, também a sua fase ruim passou. Jà na igreja há alguns anos, foi eleito diácono, porque era do tipo muito pró-ativo, daqueles bem práticos. Sua pequena empresa começou a se reestruturar e crescer. Bem, ele passou a vir menos na igreja porque passou a ter muitas responsabilidades comerciais.
Fui visita-lo e conheci sua fábrica, ele me mostrou todo o seu trabalho. Indaguei-o sobre as constantes ausências dele nos trabalhos da Igreja, no envolvimento com os outros irmãos, a leitura da Palavra no lar. Bem ele sequer tinha tempo de ficar em casa, por conta de todas as suas obrigações. Às minhas indagações ele disse: se eu não trabalhar, ninguém fará por mim. Deus ajuda quem cedo madruga.
Este irmão, precisou mudar-se de Estado, foi preso por crime de estelionato, separou-se de sua esposa, um dos filhos não fala com ele e uma filha casou-se, há alguns anos e não o convidou para a cerimônia.
Existem muitos cristãos assim, que fazem uma confissão de viver para Cristo, mas não conseguem morrer para si mesmos. Há muitos que perdem a sensibilidade para a clara relação entre as coisas da presente vida material e aquela que há de vir. Há muitos que pensarão mil vezes em negar um pedido de um chefe, mas com muita facilidade abrem mão da experiência espiritual do culto.
Nos versos 22 a 26 você perceberá como o texto bíblico trabalha com separação e antíteses.
Morre o mendigo e morre o rico
Jesus deixa claro que sua parábola está saindo do drama introdutório e caminha para um novo passo.
Aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de Abraão, morreu também o rico e foi sepultado (hades) (Lucas 16.22)
Neste ponto Jesus faz uma clara interligação entre a vida e a eternidade. Não apenas morreram dois homens, morreram dois homens e um havia sido nesta vida mendigo e o outro rico. Sei que você pode pensar que este é um exagero, mas não é, basta ver que o verso 25 retoma este passo.
Jesus está trabalhando com esta interligação como uma premissa fundamental do seu ensino. Evidentemente, ele não está dizendo que é melhor ser pobre ou que seja pecado ser rico, mas que estes dois homens receberam histórias distintas e o modo como lidaram com esta história agora estava contando.
Seio de Abraão e Hades
Outro elemento de contraste é que estes dois homens comparecem diante de Deus em situação distinta. O Seio de Abraão é o que nós comumente chamamos de céu. Mas porque ele não disse céu?
Devemos lembrar que os fariseus tinham o costume de se autovalorizar, chamando a si mesmos de filhos de Abrão. Em outro lugar Jesus lhes disse: até destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão (Lucas 3.8).
Jesus estava falando para que os fariseus se sentissem realmente atacados. O fato de apontar o Hades como o destino eterno do rico vai na mesma direção, com a forte intenção de ser contundente.
As condições de vida do rico e de Lázaro não definiam se eram ou não filhos de Abrão, mas sim o modo como sua vida aqui era uma preparação para a eternidade. Nisto entra um elemento muito significativo da parábola: O NOME LÁZARO: AJUDADO POR DEUS.
Em seguida, Jesus volta toda a história ao personagem principal: O RICO.
Essa não é uma parábola sobre Lázaro e como foi abençoado no céu, trata-se de uma parábola sobre o modo como o rico não desenvolveu uma relação de sensibilidade para sua relação com Deus ou para com as coisas espirituais. Ele não buscou a ajuda de Deus no modo como as coisas deveriam ser, não importa se era rico ou se tivesse sido pobre.
NO inferno, estando em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio. Então, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim! E manda Lázaro que molhe na água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama (Lucas 16.24).
Jesus não está nos dando detalhes sobre a eternidade, este não é o foco da parábola. Jesus está nos dando mais um contraste, uma inversão dos valores anteriores. Posso te dizer agora que Lázaro está no banquete eterno e o rico deseja comer as migalhas de sua mesa.
Jesus segue explicando esta condição que pode, agora estar surpreendendo o rico.
Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro, igualmente, os males; agora, porém, aqui, ele está consolado; tu em tormentos. E além de tudo, está posto um abismo entre nós e vós, de sorte que os que querem passar daqui para vós outros não podem, nem os de lá passar para nós (Lucas 16.25-26).
O centro destes versos é: recebeste tanto quanto Lázaro recebeu.
Jesus faz o rico refletir que tanto ele quanto Lázaro haviam recebido condições para fazer o que certo. O problema não é o que recebemos, mas o que fazemos com isso.
Caros irmãos, não posso me delongar neste ponto. Apenas prefiro reforçar essa visão de Jesus: É muito importante que você compreenda e não perca a sensibilidade para o fato de que sua vida aqui tem tudo a ver com a eternidade. Quando você perde isto de vista, você está perdendo as insondáveis riquezas de Cristo. Principalmente, porque não consegue perceber que tudo o que temos e somos pode ser considerado uma riqueza vinda de Cristo. Quando sua mente começar a perceber isto e a se sensibilizar por isto, você irá, sem dúvida alguma VIVER PARA CRISTO.
Descubro Que Estou Perdendo as Insondáveis Riquezas de Cristo - Quando Vivo Bem Sem a Palavra de Deus no Meu Dia a Dia
A construção do Evangelho de Lucas é toda baseada na intenção de fortalecer a fé. Mas o fortalecimento da fé, para Lucas não aconteceria a partir de uma simples adesão à uma ideia nova. Lucas está propondo que a igreja se torne, cada dia mais, apegada à verdade.
Para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instruído (Lucas 1.4)
Os versos finais da parábola irá nos mostrar a clara intenção de Jesus de dar sequência ao seu propósito de mostrar que a relação hipócrita dos fariseus com a Lei de Moisés não era um ato de adoração a Deus, mas a si mesmos. A hipocrisia na relação com a Palavra acontece de muitas formas, a mais comum é a de realmente considera-la a PALAVRA DE DEUS mas trata-la com desprezo no dia a dia.
Salmistas repetem constantemente a importância do meditar diário na Lei, outros textos nos apontam a necessidade de ensiná-la aos nossos filhos, principalmente em nossas casas etc.. No entanto, há muitos que se relacionam de forma hipócrita com a Palavra, ela não os afasta do pecado.
A evidência de que esta é a grande crítica de Jesus aos fariseus é o exemplo que foi usado por ele nos versos 14 a 18, culminando com a vida prática, no caso, o adultério.
Voltando à parábola veja como Jesus estruturou este ponto: .
Então, replicou: Pai, eu te imploro que o mandes à minha casa paterna, porque tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de não virem também para este lugar de tormento. Respondeu Abraão: Eles têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. Mas ele insistiu: Não, pai Abraão; se alguém dentre os mortes for ter com eles, arrepender-se-ão. Abraão, porém, lhe respondeu: se não ouvem Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que alguém ressuscite dentre os mortos (Lucas 16.27-31).
O ponto central desta parte final e do ensino maior desta parábola é que devemos ter uma relação de amor sério com o ensino da Palavra de Deus.
Note que o pedido do rico é que Lázaro fosse enviado para sua casa para avisar os seus irmãos. E a resposta de Abraão é: que eles leiam a Lei. O rico retruca, porque sabe que sua casa não aprendeu a se relacionar com seriedade com a Lei de Deus, então a estratégia teria de ser mudada: um dos mortos será mais convincente para eles. Entretanto, a resposta se não ouvem a Moisés e os profetas, nada poderá mudar o coração deles.
Vamos trabalhar rapidamente com três aspectos:
A casa do rico
Possivelmente, este homem fosse o filho mais velho de uma família e tinha a responsabilidade de conduzir sua casa na Lei, após a morte de seu pai. Parece que esta é a situação. Entretanto, este “pai espiritual” havia falhado, ele não ensinara sua família a se relacionar com os tesouros da Palavra de Deus.
ELE VIVIA BEM SEM A PALAVRA DE DEUS OU EM UMA RELAÇÃO HIPÓCRITA COM ELA.
Este foi o grande erro do homem rico e é, em geral, o nosso maior erro na vida com Deus. O problema do rico não era ser rico, mas não conseguir entender e aplicar a sua riqueza a partir dos princípios da Palavra de Deus. O problema do rico começou quando não se interessou em aprender a viver do jeito de Deus, segundo a Lei de Deus. E assim ele levou toda a sua família ao erro.
A estratégia do rico - alguém vindo dos mortos
A estratégia do rico, segundo Jesus, era uma aparição de um dos mortos seria suficiente para suscitar fé. Mas, não existe fé sem a verdade, não existe fé sem a palavra.
A fé vem pelo ouvir, ouvir a Palavra de Deus - desde o início, no jardim do Éden, foi o relacionamento equivocado com a palavra ou a voz de Deus que levou o homem para viver tão longe de Deus.
NO texto em Gênesis 3.1-7, Eva, no início resistiu e se livrou o mal quando reafirmou a palavra de Deus: Deus disse... Mas, quando a Palavra de Deus deixou de mediar sua relação com a realidade, ela passou a ver a realidade a partir de si mesma: vendo a mulher que o fruto era... Desejável, agradável...
Chama-me atenção naquele antigo relato o verso 8. Nele, o homem já em pecado foge de Deus, assim que ouviram a voz do Senhor no jardim.
Devemos reconhecer que existe dentro de nós uma inclinação a fugir da Palavra de Deus. A estratégia do rico era fruto da condição da queda, achar uma alternativa à palavra de Deus. Isto é muito sério.
Se o seu filho não ouve a Palavra de Deus ele está no caminho errado, por mais comportadinho que seja. Não se trata de adequar o texto bíblico à realidade do nosso mundo, trata-se de enxergar nossa realidade à luz da Escritura. Se lançarmos fora a Escritura, a Palavra de Deus, lançaremos fora a única fonte segura sobre a vida eterna.
A relação da Palavra e Cristo
Quero encerrar enfatizando este ponto. Cristo está propondo uma íntima relação entre a Lei e o próprio Cristo, que é a nossa vida eterna. O apóstolo João nos disse o seguinte: a vida eterna é esta: que conheçam a ti e a teu filho, a quem tu enviaste.
Este conhecimento de Cristo vem pela Palavra. A nossa fé em Jesus Cristo é alimentada pela Palavra e precisamos dela no nosso dia a dia. Precisamos que ela nos ensine como lidar com a vida, com a educação dos nossos filhos. Precisamos que ela ensine os nossos jovens a lidar com a vida pura etc. Mas, principalmente, precisamos começar a compreender como é que Cristo se insere em tudo isto.
Na parábola, Jesus de forma muito sutil falará sobre si no verso 31.
Abraão, porém, lhe respondeu: se não ouvem Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que alguém ressuscite dentre os mortos
Aqui ele não está se referindo a Lázaro, mas a si mesmo. Ninguém dá ouvidos a Cristo se não ouve sua voz, sua palavra. Não existe igreja sem a Palavra. Nós não somos um movimento social, embora componhamos parte do tecido social, nós somos resultado da obra de Cristo e da sua Palavra que habita em nós.
O centro de nossa luta neste mundo é Cristo e o seguimos por sua Palavra. A nossa firmeza na Palavra é que nos credencia a fazer a nossa parte. A Palavra de Cristo é a nossa riqueza.
A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo e manifestar qual seja a dispensação deste mistério, desde os séculos, oculto em Deus, que criou todas as coisas para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida (Efésios 3.8-10a).
Conclusão
Você precisa fazer uma importante auto avaliação. Precisa olhar-se no espelho da Palavra de Deus, hoje nesta parábola, e perguntar-se: qual riqueza está conduzindo a minha vida, o que está por trás das minhas decisões, escolhas?
Não se esconda por detrás de certezas vazias como as dos fariseus: sou filho de Abraão, conheço a Palavra... Seja rude consigo mesmo, não se omita é a sua vida e da sua família. Olhe para o seu lar e diga: vivemos pela Palavra?
Quando é que você terá de prestar contas a Deus. Não espere o momento em que nada pode ser feito mais.
Um conselho para os pais: não deixem seus filhos crescerem sem a Palavra de Deus.
Um conselho para os mais jovens: não se enganem, vocês não se purificarão e não vencerão o maligno porque são muitos capazes, vocês precisam da Palavra. Formem seus grupos de estudo, não a tratem de forma “institucionalizada”, peçam orientação aos mais maduros na fé.
Um conselho para a Igreja Presbiteriana de Santo André: que vocês busquem ser reconhecidos em todo lugar por serem uma igreja dirigida e conduzida pela Palavra. Sejam uma agência de pregação.
Um conselho para o colega, pastor Cesar: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda longanimidade e doutrina. Dedique-se a tudo que lhe for possível, mas principalmente À PALAVRA DE DEUS.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Toda mensagem escrita é apenas um registro. O sermão bíblico de fato é único, como um rio que passa e muda a cada instante. Um sermão só pode ser pregado uma única vez. Caso seja repetido em outro púlpito, ainda que use os mesmos registros, será outro, por várias razões: a) o pregador nunca é o mesmo, pois está sendo transformado a cada mensagem que prega; b) os ouvintes são outros; c) o Espírito é o mesmo, mas é dinâmico e aplica o que quer aos corações.
Obrigado por ler estes pequenos e falhos esboços!