13 de março de 2016

João 6.60-65


Condições Para Ouvir as Palavras de Vida Eterna

João 6.60-65

(Sermão pregado na IP Vila Formosa em 13 de março de 2016 - parte inicial do ciclo da Cruz)


Introdução
O texto que separamos para nossa meditação esta noite está na parte final de uma grande sessão, que se iniciou na multiplicação dos pães e peixes.
Resumindo, o que Jesus pôs em discussão neste momento de seu ministério é o seu real objetivo em ter vindo ao mundo. Jesus estava propondo um reino, que não se baseava nos valores pecaminosos que orientavam o estabelecimento da sociedade humana como eles conheciam, mas se levantava a partir de valores eternos.
Obviamente eles não compreenderam o que Jesus estava expondo, a partir dos sinais que estava fazendo e muito menos, como nossa passagem deixa claro, o que Jesus expunha na mensagem que lhes pregava.
Vamos para o texto com duas verdades importantes a respeito da dificuldade de ouvir a palavra de Cristo que o texto aponta. Primeiro, eles não haviam compreendido o significado eterno da vinda de Jesus, que é o pão do céu. Eles valorizavam tanto o seu modo de ter compreendido o papel de Moisés e do maná que comeram no deserto, que não podiam confiar em Cristo como o pão do céu, tampouco entender que ele era o verdadeiro significado do maná.
Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu  vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá (João 6.54-57).
Estas palavras assustaram grandemente até mesmo alguns dos discípulos de Jesus. Eles o seguiam, mas não tinham em seu coração as mesmas percepções da vida e nem os mesmos anseios do Reino de Deus.
Eles desejam um líder que apenas lhes conduzisse segundo o seu próprio projeto, não estavam dispostos a abrir mão de sua perspectiva para a abraçar uma visão superior, por amar mais as trevas que a luz.
Um ponto que me chama a atenção é que João classifica três tipos de pessoas que estão seguindo Jesus na Galiléia. Aqueles que o rejeitam abertamente, que são chamados no texto de “judeus” (verso 41). Estes judeus possivelmente era líderes da religião judaica que seguiam Jesus e não o quiseram receber como o Messias, pois não puderam, de forma alguma, abrir mão de sua visão deturpada de Moisés e seu papel.
O segundo grupo é chamado de “discípulos”. Quando ele usa esta palavra, o faz para se referir de forma abrangente a todos os que o seguem e que têm algum desejo de tê-lo como um líder, um Messias. Este grupo é citado na nossa passagem, mas devemos fazer uma distinção com um grupo que o texto separa e que está dentro deste grupo, os doze (verso 67).
Os doze, são os seus discípulos, aqueles que foram chamados pessoalmente por ele, dentre os quais ele identificou eu havia um traídor.
Bem, voltando ao grupo que está apresentado na nossa passagem. Os discípulos, como a passagem claramente nos diz e o verso 66 reforça, não eram tão fiéis, eles tinham algumas restrições a Cristo. Este grupo havia buscado Jesus por algum motivo, mas não tomaram uma decisão radical de romper com os valores que conduziam a sua vida, a ponto de ouvir a mensagem do Senhor e desistirem de o seguir.
Vamos nos preocupar conosco. Vamos pensar sobre que tipo de discípulo nós somos. Você, pense em que tipo de discípulo você é. Qual a medida do seu amor e do seu desejo de seguir a Jesus? Pedro, respondendo a Jesus, disse que somente Jesus tinha palavras da vida eterna. Pedro está dizendo que aquilo que Jesus falava apontava para outro patamar de entendimento da vida e que se era necessário viver num outro patamar, não havia escolha, era necessário continuar ouvindo.
O ponto importante para nós é que o desafio de Jesus aos discípulos era a medida em que realmente estavam interessados nesta vida de outro patamar, a vida eterna. A palavra que os conduz a um novo nível de vida, um novo modelo, uma nova percepção que punha em cheque seus pensamentos, caminhos, sua opção pessoal e eles foram desafiados a ouvi-las e viver por elas.
E a sua fé, sua jornada como discípulo de Jesus vai até onde? Qual o nível de seu desejo de ver a vida a partir de um novo prisma? Esta noite, vamos procurar perceber no texto o que é necessário para que você tenha a mesma vontade de ouvir palavras de vida eterna. O que dentro do nosso coração pode ocorrer para nos impedir e o que fazer para que isto não aconteça? 



Para Ouvir as Palavras de Vida Eterna é Preciso Estar Dispostos a Ouvir Coisas Que Confrontem Nosso Padrão Pessoal

Muita coisa que Jesus diz era completamente aceitável. O cristianismo é uma mensagem que tem muita coisa que a maior parte das pessoas acatam como muito boas. Mas a proposta do Evangelho vai  muito além daquilo que em geral os homens comuns podem concordar. O Evangelho exige, por exemplo, o negar-se a si mesmo, isto é, uma mudança de matriz de entendimento sobre o próprio papel e anseios pessoas, o lugar da pessoa no projeto de Deus. Enfim, muitos não quiseram acatar as palavras de Cristo que apontavam para um tipo de vida que era segundo o seu ensino e se alimentar deste ensino que é uma proposta de vida num novo patamar.
Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: Duro é este discurso, quem o pode ouvir? Mas Jesus, sabendo por si mesmo que eles murmuravam a respeito de suas palavras, interpelou-os: isto vos escandaliza? (João 6.60-61).

Muitos dos seus Discípulos tendo ouvido tais palavras - Precisamos encarar esta realidade do que é ser discípulo de Jesus. Aqueles homens também seguiam Jesus, era seus discípulos, mas sua caminhada com Cristo ia somente até um ponto. Nestes versos, Jesus constata que eles estavam caminhando fisicamente com ele, mas o seu coração já se afastava de Jesus.
João destaca duas coisas nesta expressão: muitos discípulos e tais palavras - o verbo ouvir aponta para o fato de que agora eles não estavam ouvindo a mensagem, recebendo o ensino na sinagoga. Eles estavam recendo a instrução do mestre. Havia algo que os aproximava deste ensino. NO final do sermão da Montanha está registrado que eles se impressionavam com a autoridade com que Jesus ensinava. Agora, no entanto, é preciso encarar o fato de que existem coisas na mensagem de Jesus que eles não desejavam ouvir - “tais palavras”. O uso do pronome demonstrativo define que havia algumas palavras que foram centrais para o seu desconforto.
Murmuravam a respeito de suas palavras - veja que o centro de toda a discórdia deles era o ensino de Jesus. A palavra de Jesus tinha se tornado em uma pedra de escândalo para eles, pedra de tropeço.
Isto vos escandaliza? - Em outras palavras, isto lhes confronta e lhes afasta? Vocês não conseguem sentir conforto no confronto que as minhas palavras fazem a vocês?
Precisamos estar dispostos a ouvir o que Jesus tem a dizer que confronta o modo como nós escolhemos viver. AS palavras do patamar do qual Jesus nos fala, apontam para uma vida mais elevada, mais envolvida com o Reino Celestial, com um modelo superior, que está acima daquelas coisas que corriqueiramente determinam nosso modo de vida.
Isto implica em mudanças sobre o ponto focal do ego como centro de todas as coisas. É preciso fazer das palavras de Jesus, alimento. Comida e bebida. É preciso fazer da vontade de Deus nossa comida, nossa bebida. Saber que ele tem caminhos mais elevados que os nossos e pensamentos que são mais elevados que os nossos.
Para ouvir esta mensagem, precisamos estar dispostos a ouvir coisas que confrontem o nosso padrão pessoal.  Tem muito discípulo que se coloca na posição de julgar as palavras de Jesus e de assumir o controle de como deve ser o Reino de Cristo para ele. Constrói as coisas com Deus segundo o seu próprio coração e estes tais não seguem Jesus em todos os seus caminhos.
Você precisa, em nome de Jesus, perceber se este tal não é você.

Para Ouvir as Palavras de Vida Eterna é Preciso Considerar o Patamar Superior Que é Viver Para Cristo

Sei que já venho falando um pouco nesta própria terminologia. Mas Jesus Cristo insistiu em que eles percebessem isto e eu quero repetir para falar diretamente sobre este ponto.
Ao longo do seu discurso, Jesus lhes disse que ele era o pão que desceu do céu.
Porque o pão de Deus é o que desce do céu e da vida ao mundo (João 6.33).
Quando Jesus se definiu como “o pão que desce do céu”, João está reafimando justamente seu entendimento de que era Jesus: ele era Deus que se fez carne, sua origem não é meramente humana, mas divina e celestial.
João usa a origem celestial do ensino de Jesus para mostrar que a proposta da vida que Jesus nos dá, a chamada vida em abundância, tem a ver com um modo de ver as coisas de um ponto de vista superior.
Quem vê as ruas do nível da calçada e da multidão é diferente da visão de quem sobrevoa a cidade numa asa delta, ou de helicóptero. O panorama da vista lá de cima, sem dúvida alguma é mais completa, sem dizer que também é mais bonita.
A visão de Jesus para a vida não é contrastada entre o completo e o incompleto, mas da verdade e da mentira. Veja que ele diz: verdadeira comida, verdadeira bebida.  
Que será se virdes o Filho do homem subir para o lugar onde primeiro estava? O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e vida (João 6.61-62).
Este é o ponto que Jesus trabalha aqui. Ele os desafia a pensar sobre o fato a verdade a respeito de quem ele é e como reagiriam se descobrissem que ele tem uma origem celestial.
Contraste entre espírito e carne - o contraste que Jesus propõe tem a ver com o tipo de percepção espiritual da vida que eles não conseguiam desenvolver. Jesus está justamente convocando-os a pensar num patamar elevado e discernir que a proposta de vida que ele trazia tem a ver com o verdadeiro valor da vida.
Este se tornaria no grande pecado deles. Ou seja, eles puderam perceber que havia algo novo em Jesus, viram a vida que estava em Jesus, pois vida era a luz dos homens, mas eles amaram mais as trevas que a luz.
Você e eu precisamos ter o discernimento do que realmente significa a nossa fé cristã, baseada na Palavra de Jesus. Ela é uma proposta que visa um padrão superior e por isso deveria ser parte integrante da nossa contínua preocupação.
O fato de buscarmos tão pouco a Palavra de Cristo para sabermos o que realmente é o projeto de Deus para nossa vida só aumenta a nossa certeza de que muitos de nós também abandonaríamos Jesus e seu duro discurso.

Para Ouvir as Palavras de Vida Eterna é Preciso Ter Um Coração Transformado
Quando tivemos a oportunidade de meditar na passagem de João 6.37 a 40, pontuamos sobre a obra da graça e identificamos dois grandes trabalhos: a graça nos trazendo a Cristo e a graça nos mantendo em Cristo. Bem, novamente Jesus se volta à obra da graça e as implicações da vida sem esta obra.
Contudo, há descrentes entre vós. Pois Jesus sabia, desde o princípio, quais eram os que não criam e quem o havia de trair. E  prosseguiu: por causa disto é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido (João 6.64-65).
O centro de toda a obra do Senhor em nos dar uma visão superior da vida não acontece como resultado apenas da nossa capacidade de entender o projeto de Deus, mas tem de nascer de um nascer de novo, obra que somente a graça de Deus pode efetuar.
Há descrentes entre vós - A descrença não se apresenta neste texto apenas como uma rejeição a tudo o que Jesus ensinava, mas a descrença é característica de todo aquele que segue a Jesus parcialmente. Aquele que não estiver disposto a deixar tudo para seguir Jesus não pode segui-lo. Isto implica em uma disposição de ser confrontado e mudar e de entender e receber o desafio de viverem um patamar elevado.
A mudança que precisa ocorrer tem acontecer primeiramente no nosso coração. Deus precisa agir em nosso coração. Então, o que este texto nos oferece é uma saída que tem a ver com a obra da graça.
Ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não  lhe for concedido (João 6.65).  
Lembremos um pouco do que ensinou Jesus no sermão do Monte: pedi e dar-se-vos-á, buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á. Todo o que pede, recebe, que procura, acha, bate abrir-se-lhes-á (Mateus 7.7-8).
O avivamento da nossa fé começa na busca de um novo modelo de vida, mas em um novo modo de ouvir a Palavra de Deus.




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