20 de março de 2016

João 7.37-44


O Que é Preciso Para Beber
da Verdadeira Fonte

João 7.37-44

(Sermão pregado na IP Vila Formosa em 13 de março de 2016 - Domingo de Ramos)


Introdução
Quando lemos o Evangelho de João fica muito clara a sua proposta: “...para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.31). Todas as histórias nele relatadas apontam para Jesus Cristo e procuram despertar e impregnar os elementos da fé verdadeira.
O Evangelho de João deixa claro que um dos problemas a ser enfrentado pela igreja cristã é o desenvolvimento de um tipo de fé distorcida. A fé distorcida, em lugar de nos conduzir à segurança e à vida abundante, nos faz correr atrás de elementos efêmeros, completamente passageiros e destituídos dos elevados significados e valores da eternidade: “Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna” (João 6.27).
A palavra “verdade” encerra um dos conceitos mais importantes do Evangelho: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8.32); “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14.6); “Eu para isto nasci..., a fim de dar testemunho da verdade” Jo 18.37.  A verdade sobre quem é Jesus é o centro da fé cristã, por isso, é importante não somente crer, mas também saber quem é Jesus.
À mulher samaritana, Jesus disse: “Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em Verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores” (Jo 4.13). Desta forma é possível notar que João busca estabelecer o Evangelho como sendo a Verdade como o padrão de Deus para o relacionamento com o homem.  Cristo é o elo entre Deus e o homem e por isso é fundamental que nossa fé seja estabelecida nele de forma verdadeira. 
Quando construímos um Cristo pessoal, segundo nossos interesses, ou um Cristo fracionado, não completo, somente um profeta, restrito aos valores morais que ensinou, ou um Cristo espiritualizado, ritualizado, sem contato com a realidade etc., enfim, quando nosso Cristo não é o do Evangelho completo e verdadeiro, este Cristo que seguimos é comida que passa e não aquele pão que dá vida eterna.
João entendeu a importância de se saber quem é o Cristo que cremos e por isto, seu Evangelho veio nos apresentar o grande desafio de amadurecimento da nossa fé. Por isso, é que é importante notar o detalhe destas palavras: “Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva” (Jo 7.38). Note: Como diz a Escritura.
 



Para Beber da Verdadeira Fonte o Cristão Precisa se Libertar da Sede de Mera Moralidade Profética

Irmãos precisamos reconhecer que esta passagem pode dizer muito sobre o cristianismo de nossos dias. A estrutura da passagem que lemos esta noite pode ser dividida em duas partes: a primeira, falando sobre a fonte verdadeira e os seus efeitos sobre a vida do crente (vs 37-39); a segunda, aponta para dois grupos que estavam próximos da fonte não conseguiram usufruir da sua verdadeira essência, encerrando com as consequências desta aproximação caótica deles em  relação à fonte, que é Cristo (vs (40-44). Vamos começar nossa exposição falando sobre esta aproximação caótica e suas características e consequências.
Assim houve dissensão entre o povo por causa dele - Com certeza, quando a nossa busca pela vida cristã está baseada em premissas inadequadas e diferentes das verdadeiras estradas do Evangelho ela termina em caos e não em harmonia. Esta era uma consequência direta desta busca engedrada de caos, que eles fizeram quando estiveram com Cristo.
Voltando, vejamos o exemplo do primeiro grupo caótico de busca da fonte. Eles viram o evangelho pela força da moralidade e fizeram desta mera moralidade o evangelho. PARA BEBER DA VERDADEIRA FONTE PRECISAMOS NOS LIBERTAR DA SEDE POR MERA MORALIDADE, OU MORALISMO.
Não tenho dúvidas de que aqueles que se achegam a Cristo e à sua mensagem, ao Reino e ao Evangelho, encontrarão uma mensagem permeada de uma santa moral e uma vida plena de respeito e ética santificada. Com certeza, o Evangelho poderá oferecer aos cristãos conceitos de elevada moral, baseada na instrução de Deus para a conduta humana.
Contudo, não podemos buscar o Evangelho apenas com o desejo de saciar a nossa sede por moralidade. Alguns pais querem criar seus filhos na igreja porque eles acreditam que eles precisam de valores para construir o seu caráter. Sim, estão certos de que isto é necessário e de que a Igreja pode lhes oferecer isto, mas o problema com esta atitude de limitar a busca do Evangelho é que o moralismo não pode produzir vida abundante, apenas conduta melhor, mas não vida eterna. Os fariseus talvez fossem um exemplo de grande moral exterior, muitos deles, homens de grande reputação, mas sem vida interior.
Então, os que dentre o povo tinham ouvido estas palavras diziam: Este é verdadeiramente o profeta (Jo 7.40).
Eles ouviram os discursos de Jesus no templo e se encantaram pelo modo como ele ensinava e a sua sabedoria peculiar. Encontraram em Cristo o estilo profético, que tanto amavam, por ler continuamente as Escrituras.
Corria já em meio à festa, e Jesus subiu ao templo e ensinava. Então, os judeus se maravilhavam e diziam: como sabe este letras, sem ter estudado? (João 7.14-15).
Irmãos, quando alguém se aproxima do Evangelho encantado com o ensino do Evangelho, mas se permite apenas a considerar o ensino no âmbito intelectual da sua moralidade, fazendo do Evangelho apenas mais uma escola de conduta humana, mesmo que o aprecie muito e o valorizes, não está bebendo da verdadeira fonte, porque a verdadeira fonte, nos transforma moralmente, transformando-nos a partir do interior, do coração, dando-nos vida.
O erro daqueles homens e que repercurtiu depois em fazê-los discutir entre si e mais tarde leva-lo à cruz para o matar, trocando-o por Barrabás é que eles ficaram apenas com sua moral e não com a vida eterna que ele tinha a dar.
João está propondo que vejamos em Cristo muito mais que moralidade profética.


Para Beber da Verdadeira Fonte o Cristão Precisa se Libertar da Sede de Viver de Aparências

O outro grupo que se distanciou da verdadeira fonte é o grupo que buscava nas aparências a sua vida. Bem, eles admitiam que poderia ser o Cristo, mas sediam ao argumento de que era muito estranho que o Cristo viesse da Galileia e que era descendente real.
Outros diziam: Ele é o Cristo, outros porém, perguntavam: Porventura, o  Cristo virá da Galileia? Não diz a Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi e da aldeia de Belém, donde era Davi? (João 7.41-42).
Aqui temos um grupo que se afastava de Cristo por causa do seu forte apego às formalidades da aparência. Jesus atendia a todos os requisitos que a Escritura propunha. Ele era descendente de Davi, nascido em Belém, contudo, também atendendo à Escritura foi morar na Galiléia donde  disse o profeta Isaías que a luz viria para alumiar os jaziam nas trevas.
Por que esta parte da profecia não lhes veio à mente em suas indagações? Porque eram extremamente seletivos em sua fé e buscavam crer apenas em coisas que lhes causasse alguma impacto e aparência positivos, e um Rei Galileu não interessava ao orgulho judeu e à sua busca por aparências.
Infelizmente não são poucos os que tratam a sua fé do ponto de vista das aparências, tomando decisões meramente pelo efeito estético que possam desfrutar. A escolha de ministérios para servir, a escolha da igreja, do lugar e até mesmo o padrão de cristianismo que viverão, precisa combinar com o seu estilo de vida social.
Não diz a Escritura - Um dos grandes perigos que João aponta neste texto é que eles manipulavam a Escritura para manter o seu padrão distorcida de fé. Este cuidado precisamos tomar. Porque não podemos usar a Escritura com critérios que meramente favorecem a nossa escolha estética, a busca de uma fé de aparências.
O diálogo dos fariseus mostra sua prepotência e arrogância em relação à Jesus e como se baseavam na aparência e o fato de Jesus ser Galileu fez a diferença para os afastar:
Voltaram, pois, os guardas à presença dos principais sacerdotes e fariseus, e estes lhes perguntaram: Por que não o trouxestes? Responderam eles: jamais alguém falou como este homem. Replicaram-lhes, pois, os fariseus: Será que também fostes enganados? Porventura, creu nele alguém dentre as autoridades ou algum dos fariseus? Quanto a esta plebe que nada sabe da lei, é maldita. Nicodemus, um deles, que antes fora ter com Jesus, perguntou-lhes: Acaso a nossa lei julga um homem sem primeiro ouvi-lo e saber o que ele fez? Responderam eles: Dar-se-á o caso de que também tu és da Galiléia? Examina e verás que da Galiléia não se levanta profeta (João 7.45-52).
Irmãos, quando buscamos só a aparência não bebemos da verdadeira fonte e quando selecionamos segundo os nossos interesses a verdade que desejamos crer, podemos nos alegrar com nossas descobertas, mas não adquirimos a vida que só pode ser adquirida na verdadeira fonte que é o verdadeiro Cristo.

Para Beber da Verdadeira Fonte o Cristão Precisa Descobrir a Vida Espiritual
Voltemos agora à primeira parte do texto, ao ponto em que Jesus se define com a verdadeira fonte e vejamos o que é preciso para beber da verdadeira fonte.
Se alguém tem sede, venha a mim e beba - A primeira coisa importante é que a sede só pode ser realmente saciada em Cristo. Você precisa ter sede de Cristo e buscar nele saciá-la.
Quem crer em mim, como diz a Escritura - Compreendo que podemos entender que a expressão “como diz a Escritura” pode ser uma referência ao tema seguinte: fluir águas, porque há muitos textos bíblicos sobre as águas vivas. No entanto, João, que era um mestre em usar a linguagem para nos conduzir a sentidos complementares, usa palavras que podem ser unidas de outra forma: quem crer em mim como diz a Escritura do seu interior fluirão rios de água viva.
As Escrituras são o critério mais seguro para o desenvolvimento de nossa fé em Cristo. Beber da verdadeira fonte é beber do ensino da Escritura. O Cristo a quem servimos é o Cristo da Bíblia toda, do Gênesis ao Apocalipse. É o Cristo Juiz, a rocha de tropeço, é o amor do Pai e a glória eterna etc...
Com respeito ao Espírito que haviam de receber - A junção destes dois versos apontam para a verdadeira vida que será produzida em nós. Ela não é baseada nos nossos jogos moralistas, nem nas aparências que podemos controlar, mas numa profunda experiência espiritual.
Por isto é que estou afirmando que QUEM DESEJA BEBER DA VERDADEIRA FONTE PRECISA DESCOBRIR A VIDA ESPIRITUAL.
À mulher, junto ao poço, Jesus disse: Que adorem em Espírito e em Verdade. Este é o ponto que hoje precisamos recomendar a todos os irmãos: NOSSO EVANGELHO DEVE NOS CONDUZIR AO PADRÃO DA VIDA NO ESPÍRITO.

Conclusão
Sendo esta uma semana tão importante para o calendário cristão, por ser a semana da Páscoa. Seria de grande valor se começássemos uma profunda avaliação sobre a verdadeira espiritualidade da nossa fé.
O que é que te move em direção a Cristo? O que lhe atrai? O que lhe  torna mais apegado e mais persistente? São valores realmente ligados ao crescimento e ao enchimento do Espírito que estão fluindo dentro da sua experiência de fé ou você é movido por coisas externas e particulares, ligadas a outros fatores e que tornam você volúvel, fraco na fé e altamente imprevisível?
Tome uma decisão ainda hoje e busque a Deus com a consciência de que servi-lo é desenvolver uma relação espiritual, ou como dissemos na semana passada, viver num outro patamar, um padrão que vê o mundo com os olhos de Cristo e não busca a Cristo com os olhos do mundo.



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