Filhos Pela Graça de Deus
Gálatas 4.1-7
Introdução
Sem dúvida, Paulo estava diante
de um pedaço de pergaminho, escrevendo uma carta de grande importância,
primeiramente, porque amava aqueles irmãos e esperava que sua vida com Cristo não
fosse transformada em uma mistura estranha de religião baseada na força do
homem, ao contrário, Paulo deseja ver aquela igreja desenvolvendo verdadeira
maturidade que implicava em um relacionamento vivo, sério, intenso e completamente
preenchido pela verdade de que eles amavam a Deus e viviam para Ele.
O grande problema identificado
na Carta aos Gálatas era a transformação do cristianismo numa religião baseada
no esforço humano. O fato de estarem tentando colocar no centro da fé as
cerimônias judaicas, não era somente um retrocesso ao antigo judaísmo, mas uma
mudança na plataforma da fé. Eles estavam procurando encontrar motivos para a
glória em si mesmos, algo que pudessem confiar e que estivesse ancorado na sua
própria força e lhes servisse como um modo de se auto-afirmarem.
Paulo identifica o perigo dessa
autojustiça, desse elevado apreço por si mesmo e não poupa argumentos para
fazer os crentes considerarem a loucura daquela postura. Ele, mais à frente,
vai dizer que essa confiança em si mesmo é um movimento do coração controlado
pelas “paixões da carne” e os crentes deveriam lutar contra isso tendo um
coração controlado pelo Espírito Santo.
Como principal argumento contra
esta postura, Paulo usa a força da mensagem da graça. E aqui no capítulo 4,
esse argumento está centrado no modo como nos tornamos filhos de Deus. Ele irá
nos dizer que a melhor maneira de nos mostrar como filhos de Deus e nos tornar
filhos que sabem que são filhos não que existe algo maravilhoso em nós, mas
porque Deus nos fez seus filhos, mesmo sem merecermos.
Neste trecho, vamos destacar
três argumentos sobre o processo de nossa adoção como filhos de Deus que devem
nos lembrar que essa condição não nasce em nós ou não nasce de nossos esforços,
mas da obra graciosa de Deus. Por isso é que vamos chamar a adoção de um
resultado da graciosidade e benevolência de Deus.
Somos
Filhos Que Experimentam a Verdadeira Experiência da Vida Como Filhos NÃO NO
NOSSO MOMENTO, MAS NO MOMENTO EM QUE O PAI DETERMINA – A GRACIOSIDADE DO PAI
Digo, pois, que, durante o tempo em que o herdeiro é menor, em nada difere de escravo, posto que é ele senhor de tudo. Mas está sob tutores e curadores até o tempo predeterminado pelo pai (Gálatas 4.1-2).
Ser um filho de Deus está entre
as mais belas dádivas e privilégios que seguem a fé em Cristo Jesus. O apóstolo
João nos diz isto de forma maravilhosa em seu Evangelho quando disse:
Mas a todos quantos o receberam
deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber os que crêem em seu
nome (João 1.12).
Este privilégio vai muito além
de um estado de garantias quanto ao futuro e à vida no Novo Céu ou na Nova Terra.
Este privilégio vai ao ponto mais profundo quando pensamos que a nossa relação
com Deus passa a ser filial, pessoal, de vida e desfrute da companhia perfeita
de Deus. Esse é o ponto! Deus nos vê como filhos, não como servos. Essa nova
condição não tem a ver só com o livramento da ira vindoura, mas com o favor que
ele nos concede de dar o melhor e o mais desejável de todos os privilégios, a
saber, a vida com ele, a comunhão com ele, a ELE PRÓPRIO.
Paulo já vinha tratando dessa
herança que temos como filhos. Mas aqui, no capítulo 4, ele vem nos mostrar que
precisamos considerar que isto só ocorre no tempo em que PAI DETERMINA. Deus,
não somente nos salva pela graça. Pela graça também ELE DETERMINA o momento, a
extensão, a profundidade em que experimentamos sua presença.
Um cozinheiro faz uma comida
deliciosa e te oferece a comida. Mas neste caso, o cozinheiro é tão soberano
sobre o assunto da comida que oferece, que controla até o quanto da delicia da
comida você sente no paladar. Em geral os cozinheiros podem caprichar no
tempero e nos oferecer a comida, mas Deus controla o paladar.
O que Paulo está nos dizendo
nestes dois primeiros versículos é que o momento e a extensão da nossa filiação
só consegue ser usufruída no momento e na medida em que Deus nos permite.
O que os falsos mestres estavam
incluindo ferramentas de controle humano sobre a fé. Este é um problema para o
qual todos precisamos ficar muito atentos. Algumas vezes, tentamos dizer o que
é e o que não é fé, segundo nossos próprios preceitos. Em outras palavras,
tornamos a nossa relação com Deus numa ciência humanamente construída, tentamos
controlar Deus. Procuramos medir a relação de amor com Deus por medidas
conveniadas por nossos interesses ou de uma maneira que sejamos os controladores
da verdadeira vida.
A vida com Deus não é medida
pelo número de orações que se faz por dia, ou pelo número de horas de jejuns
que você consegue fazer, ou ensaios e hinos que você fez neste último mês, ou
quanto você deu de dízimo... Você é um filho e saboreia este prazer na medida
em que Deus te faz conhecer e perceber este privilégio.
Em geral, pessoas que são
legalistas, tentam controlar Deus e tentam criar métodos para dizerem a si
mesmas: MUITO BEM, SERVO BOM E FIEL, VOCÊ CUMPRIU A SUA PARTE NO ACORDO. Paulo,
vai numa direção contrária, ele começa a dizer que o verdadeiro filho desfruta
do prazer de ser filho por meio de um sentimento que Deus lhe dá: CLAMAMOS ABA
PAI PORQUE O ESPÍRIO FALA COM O NOSSO ESPÍRITO: VOCÊ É FILHO.
Este é o ponto deste dois
versos. Paulo está dizendo assim: o
filho é filho, mas só pode desfrutar disto quando pai determinar. AGORA SIM,
VOCÊ PODE GOZAR DESTE PRIVILÉGIO, do contrário, mesmo sendo filho ele parece um
escravo.
Irmãos, precisamos orar e pedir
a Deus que sempre nos conceda este privilégio: o de vivenciar sua perfeita e
graciosa paternidade. Quando é que sabemos que ele realmente ouviu a nossa
oração, ou quando é que realmente desfrutamos de saber que ele se agrada de
nós? Quando, por sua graça, ele se dá a conhecer e se faz perceber por nós. Ser
filho e desfrutar disto é obra da graça. PRECISAMOS COMEÇAR A ORAR MAIS PARA
VIVER NOSSA ADOÇÃO, APRECIA-LA E SENTI-LA. PRECISAMOS PEDIR AO COZINHEIRO QUE
NOS DEU O MAIS MARAVILHOSO BANQUETE, QUE NOS FAÇA SENTIR O PRECIOSO SABOR DE
CADA TEMPERO DA VIDA CRISTÃ.
Somos
Filhos Que Experimentam a Verdadeira Experiência da Vida Como Filhos NÃO COMO RESULTADO
DA NOSSA OBRA, MAS COMO RESULTADO DA OBRA DA GRAÇA DE CRISTO – A GRACIOSIDADE
DO FILHO
Assim também nós, quando éramos menores, estávamos servilmente sujeitos aos rudimentos do mundo; vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos (Gálatas 4.3-5).
Às vezes, fica um pouco
estranho o modo como Paulo argumento, porque nos confunde um pouco. Espero poder
explicar um pouco essa figura que Paulo está usando.
Ele está usando a figura de
filhos menores, servos e senhores. Nos versos anteriores, ele disse que um
FILHO, quando ainda é menor, vive como um escravo, mesmo sendo, na verdade um
senhor. Isto porque os privilégios de ser filho é uma dávida que só é
desfrutada no tempo determinado pela graciosidade do Pai. Agora, nestes versos
3 a 5, ele diz que isto se assemelha à nossa condição quando ainda estávamos
distantes e não éramos filhos adotivos. Éramos somente pecadores condenados,
como todos os outros homens.
Assim também nós, quando éramos menores, estávamos servilmente
sujeitos aos rudimentos do mundo – Ele está dizendo
que embora Deus já nos tivesse escolhido, vivíamos sem nenhum desfrute da vida
com Deus porque vivíamos sujeitos aos rudimentos do mundo, isto é, à postura ímpia
e distante de Deus. O que realmente mudou a nossa condição foi uma obra
centrada na vontade do Pai e na liberalidade e voluntariedade do FILHO DE DEUS.
Vindo, porém a plenitude do tempo, Deus enviou seu filho, nascido de
mulher, nascido sob a lei – Ele, o apóstolo,
enfatiza o fato de que Jesus é filho unigênito, legítimo e perfeito de Deus.
Jesus não devia nada a ninguém, a nenhum de nós. Ele não precisava morrer.
Paulo, portanto, enfatiza que ele o fez de uma forma graciosa e generosa,
porque ele se submete à Lei para salvar os que estavam condenados pela mesma
lei. Ele se fez homem!
João também enfatizou essa
mesma realidade, no seu evangelho, especialmente quando disse:
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai (João 1.14).
Alguns textos bíblicos nos
comovem profundamente! Eles apontam para a graciosidade do Filho de Deus que se
fez homem para nos salvar, por nos amar. Ele nos deu o privilégio, às custas de
abrir mão dos seus privilégios. Ele deixou a sua glória para me resgatar e para
te resgatar.
Este é o ponto que Paulo
trabalha nos versos 3 5, de Gálatas 4. Somos
filhos porque o FILHO UNIGÊNITO se fez SOB A LEI PARA NOS LIBERTAR DA
CONDENAÇÃOD A LEI. Por isso é que Paulo usa a palavra RESGATAR, no verso 5.
Ek-Agorazo – trocar a propriedade, ou a
titularidade da propriedade. Você vai na feira, separa uma dúzia de laranjas,
põe numa bacia e dá o dinheiro para o dono da banca e pede para ele embalar.
Quando ele toma o dinheiro ele transfere para você a titularidade da
propriedade e as frutas agora foram compradas, pertencem a você não são dele
mais, então ele te embala e lhe entrega as frutas que você resgatou.
Paulo está dizendo que só desfrutamos do fato de que pertencemos a
Deus porque Cristo, no tempo certo, pagou o preço e nos salvou. Este é o
coração da mensagem do Evangelho. Os falsos mestres
estavam tentando tirar isto do coração dos cristãos, quando estavam propondo um
evangelho baseado no que o homem faz, porque isto rouba de você a alegria que
vem da graça. A alegria que vem da graça faz você sentir uma profunda esperança
e uma profunda gratidão nascidas na cruz, no sangue que CRISTO VOLUNTARIAMENTE
DERRAMOU POR VOCÊ. ESSE É UM DOS MOTIVOS QUE O SACRAMENTO QUE PRECISAMOS
LEMBRAR ATÉ QUE ELE VOLTE NOS FAZ OLHAR PARA O PASSADO, PARA A CRUZ E PARA O
SANGUE.
A graciosidade do Filho e da
obra do Filho são os fundamentos da nossa verdadeira adoção. Filhos adotivos de
Deus, quando orar, lembram do UNIGÊNITO, e quando adoram, o adoram por causa da
cruz. Nada fazem para sua glória, mas para glorificar aquele que deu a vida por
eles. Faz todo sentido o que Paulo tem a nos dizer:
Longe de mim esteja, gloriar-me senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo (Gálatas 6.14).
Somos
Filhos Que Experimentam a Verdadeira Experiência da Vida Como Filhos NÃO COMO RESULTADO
DA SUA CAPACIDADE DE DISCERNIR ESPIRITUALMENTE, MAS COMO RESULTADO DA OBRA DE
CAPACITAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO – A GRACIOSIDADE DO ESPÍRITO
E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai! De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também herdeiro de Deus (Gálatas 4.6-7).
Louvado seja Deus!
Gostaria de ilustrar essa
figura com algo que te fizesse pensar sobre a beleza da figura que Paulo está
nos usando aqui. Penso em muitas ilustrações, mas a que me mais me aproxima a
mente disto é o sentimento que Jesus Cristo tentou infundir na imagem que criou
na parábola do Filho Pródigo. Um Filho, que sabia do amor e do privilégio que é
viver na casa do Pai, decide voltar depois de descobrir como é ruim viver neste
mundo sem Deus e sem poder contar com o mínimo do amor do Pai, do Criador, de
Deus. Ele planeja voltar e seu coração sabe muito bem do que fez, por isso,
sabe da sua indignidade, Jesus nos diz que ele planejou pedir perdão pelo que
fez e se planeja se sujeitar. Viver e receber as migalhas da mesa do Pai é
melhor que viver no mundo sem Deus, sem qualquer proximidade. É melhor ser um
escravo do Pai, que viver longe definitivamente. Então ele quer voltar e
planeja suplicar sua misericórdia. Mas o sentimento que quero pensar agora é o
que vem depois. Aquele sentimento que Jesus queria que todos sentissem, quando
diz que, enquanto ele simplesmente planeja só se livrar da dor de viver
absolutamente afundado na distancia, ele é recebido pelo PAI COMO UM FILHO.
Este é MEU FILHO, que estava morto, mas reviveu. ESTE É O SENTIMENTO QUE EU
SINTO QUANDO LEIO ESTES VERSÍCULOS.
A verdadeira alegria que temos por ser filhos
de Deus é uma dávida que só realmente sentimos porque Deus nos faz sentir por
meio da obra que o Espírito Santo faz dentro de nós. Os homens sem Cristo não
sabem o que é ser um filho de Deus, porque este tipo de sabedoria só se pode
desfrutar por meio do Espírito.
Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. (...) o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura, e não pode entende-las, porque elas se discernem espiritualmente (1Coríntios 2.12-14).
Deus enviou ao nosso coração o Espírito que clama Aba Pai! – Só podemos vivenciar a nossa filiação e desfrutar de todos os
belos privilégios que ela nos concede, especialmente, só podemos desfrutar e
degustar da beleza de sermos filhos de Deus, porque em nosso coração é dado
perceber, experimentar, saborear a beleza do que é ser FILHO DE DEUS.
Os falsos mestres deturpavam o
evangelho, fazendo os crentes perderem essa beleza. Quando tentavam colocar
regras humanas, tentavam dominar Deus e fazer com que eles vivessem uma relação
com Deus baseada na troca, no toma lá dá cá. Desculpe dizer isto de uma forma
tão grosseira!
O Evangelho é vivido de dentro
para fora. A beleza da nossa vida com Deus é que ele nos é dada e não é tomada
por nós. Deus não nos deve nada e assim mesmo nos concede sua graça. A obra do
Espírito é nos convencer de nossa pecaminosidade e apesar disto, nos dá também
a certeza de que fomos perdoados. Isso é
grandioso!
Nossa confiança na nossa
filiação é gerada em nós e não promovida por algo que nos faça mais confiantes.
De sorte que já não és escravo porem filho e herdeiro – o sentimento de alegria que nos invade, nos faz sentir filhos.
Pense no filho pródigo quando é recebido com um abraço: MEU FILHO ESTAVA MORTO
E REVIVEU. Esse é o ponto que nossa vida com Deus precisa ter: DEUS NOS AMA E
GRACIOSAMENTE OS DÁ O ESPÍRITO DA GRAÇA QUE NOS FAZ SENTIR FILHOS.
Conclusão
Sem dúvida, uma das maiores
perdas do legalismo e do cristianismo errático daqueles que se baseiam em si
mesmos é que sempre estão se medindo e medindo os outros e tentando provar quem
é melhor ou pior. O fato é que quando tentamos fazer Deus pequeno como nós, não
desfrutamos da beleza de sua grandeza.
Quando entendemos a
graciosidade da obra trinitária da salvação não estamos medindo ninguém, mas
nos alegramos na conquista de todos, porque todos são que são pela graça e pela
graça somos filhos de Deus.
UM EVANGELHO QUE NOS FAZ SENTIR
FILHOS pela graça, nos une mais. Por isso, quero destacar algumas coisas que precisamos
buscar mais:
1) Precisamos buscar mais simplicidade na nossa maneira de servir;
2) Precisamos recuperar a beleza da graça e sentir a graça em nosso
meio, vendo a graça também operando nos irmãos, por isso, devemos nos perdoar
mais e esperar que o melhor venha porque Deus é melhor que todos nós;
3) Precisamos de uma unidade baseada em Deus e não em nós mesmos e a
melhor maneira de viver essa unidade é trabalhar para que todos cresçam na
graça e no conhecimento de Jesus;
4) Precisamos reconhecer que Deus é quem controla a nossa vida e que
crescer em desfrutar da nossa verdadeira filiação é um processo de
amadurecimento que precisamos buscar juntos.
Que Deus nos conceda a
sabedoria para estas percepções de sua graça e presença em nosso meio!!
Oração
Deus, na tua graça e na graciosidade do Filho e do Espírito, nos conceda
que sejamos filhos que sabem ser filhos, para que sejamos humildes e vivamos
para tua glória. Amém!
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