10 de abril de 2011

Lucas 17. 11 a 19

Sua Gratidão é a Melhor Resposta às Bênçãos de Deus
Lucas 17. 11 a 19


Foco da Nossa Condição Decaída

O conhecido episódio dos dez leprosos curados no qual somente um voltou para agradecer a Jesus é um daqueles textos que nos permanecem em nossa mente ressoando. Aqui, Lucas propõe a gratidão como um modo de vida e a mais pura e verdadeira religião. Assim, Deus nos exorta a centralizar nossa vida na gratidão a Ele.

Contextualização

Penso que uma das coisas interessantes neste texto é perceber como ele se encaixa bem no seu contexto imediato. Afinal, ele vem logo depois de uma afirmação de extrema importância dentro do ensino de Jesus: “Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer” (Lc. 17.10).
Com essas palavras Jesus encerra uma conversa com os seus discípulos sobre o perdão, onde ele ordena que se o irmão pecar contra nós, sete vezes em um dia, devemos perdoar-lhe. Os discípulos, diante do desafio, pedem: “aumenta-nos a fé”. Talvez a idéia deles seria: bem isso é tão difícil que somente com uma fé maior que a nossa para cumprir.
Jesus, em resposta a este posicionamento e pergunta, conta uma pequena parábola sobre o servo que trabalhando no campo, o senhor o ordena a voltar para a refeição, mas pede que antes dele comer, ponha a mesa para o seu Senhor. Isso seria considerado algo normal, pois o servo não deve pensar em si mesmo e em suas necessidades, mas na vontade do seu Senhor. Assim, somos nós. Devemos pensar na vontade de Deus, antes mesmo que em nossas necessidades.
Para mim, Lucas vê essa história dos leprosos como uma maneira adequada de ilustrar esse ensino. Por isso, vamos observar essa passagem dentro deste prisma, ou seja, procuraremos compreender porque Jesus faz a observação pertinente sobre aquele que voltou, fazendo menção dos outros nove que não vieram.
  

A Gratidão é a Resposta Religiosa Que Nos Diferencia Daqueles Que Se Aproximam de Deus Com Uma Fé Distorcida

Quando lemos o texto, percebemos uma estrutura que identifica esses leprosos como seres humanos que venceram algumas diferenças para lidarem com sua doença.
A lepra era uma doença considerada repugnante por quase todos os povos da antiguidade. Tinha características de contágio e degeneração dos tecidos moles do corpo, que desfigurava as pessoas, tornando-as seres não bem-vindos no convívio social.
Aqueles dez leprosos, compreenderam que deveriam viver unidos por sua doença e se localizaram aos arredores de uma determinada aldeia e se mantinham à distância da passagem natural das pessoas.
Pela observação do verso 26 que disse que o que voltou era samaritano, podemos inferir, com certa segurança, que tínhamos entre os outros nove, pessoas de outras regiões, possivelmente, uma miscelânea de judeus e samaritanos, unidos pela dor e que haviam vencido os problemas de convivência das duas nações.
Outro aspecto positivo demonstrado por este grupo de leprosos é que eles tinham apreço por Jesus, pois vieram ao seu encontro e Lucas nos diz que “eles” gritaram: “Jesus, Mestre, compadece-te de nós!”. Esse tipo de atitude sugere que confiavam em Jesus e no poder dele para os curar. O próprio fato de se posicionarem à distância para esse grito de socorro, demonstra que não queriam fazer mal a ninguém e que pensavam nos demais.
Por fim, observando os traços da espiritualidade destes homens, você irá observar que, em sua prática pessoal tinham alguma ligação com a religião formal, dos samaritanos ou judeus, pois, quando Jesus lhes diz para irem ao sacerdote e se mostrarem, eles sabiam aonde deveriam ir.
Enfim, o que desejo observar neste texto é que, aqueles leprosos demonstraram comportamento religioso de fé, segundo padrões razoavelmente aceitáveis. Imagino que tenham sido declarados puros pelo sacerdote (conforme a religião dos judeus e samaritanos dizia que deveria acontecer) e seguiram suas vidas, inclusive com a religião.
Entretanto, a parte final da nossa passagem que, até aqui, falava deles em conjunto, faz uma distinção entre os nove e aquele que voltou para a agradecer. A diferença entre eles foi exatamente a sua atitude de gratidão.
“Não eram dez os que foram curados? Onde estão os nove? Não houve, porventura, quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro?   
Neste ponto, você já percebe que se sua religiosidade não o conduz à gratidão, alguma coisa pode estar errada, mesmo que em muitas coisas você se assemelha a todos os outros.
Ser um homem de fé, ter apreço por Jesus, ter relacionamento com a religião formal, pode não significar que vivemos nos lugares mais próximos de Deus. Por que o homem que vive perto de Deus, não suportaria viver essa proximidade sem agradecer.
Gostaria de explorar este ponto com outras passagens da Escritura, para mostrar a importância da gratidão e a mesma como consequencia de uma consciência e compreensão da obra de Deus. Mas, infelizmente, somente neste texto isso não é possível. Mas, convido a todos a fazerem uma busca neste sentido. 

A Gratidão é a Resposta Religiosa Que Nos Diferencia Daqueles Que Discernem Os Elevados Propósitos da Vida Com Deus 

Um segundo aspecto do texto que desejo observar sobre a atitude diferenciadora da gratidão é que ela é resultado de um discernimento mais completo dos elevados propósitos da vida com Deus.
Tem sido muito comum encontrar, nos meios religiosos cristãos, aquelas pessoas que vêem no relacionamento com Deus apenas um meio de melhorarem a sua própria vida. Aliás, a própria religião tem se valido dessa visão e propõe-se a ser a igreja onde você recebe o que quer mais rápido e melhor.
Certamente, esse jamais foi o propósito de Deus, ou seja, que vivamos e sejamos motivados a nos relacionar com Ele pelas coisas que pode nos conceder. Pelo contrário, Deus quer que a gratidão seja o tema da eternidade para todos nós. A gratidão na Bíblia, pode ser encontrada com muitos outros nomes, tais como: regozijo, alegria, satisfação etc.
Este milagre não aconteceu por meio do toque de Jesus como em outras ocasiões. Não há muitos detalhes do milagre em si, apenas o fato de Jesus lhes ordenar que fossem ao sacerdote e, diz, Lucas que eles, quando se puseram a caminho foram curados:
“Aconteceu que, indo eles, foram purificados” - Compreendemos que não chegaram a andar muito na direção do sacerdote, pois aquele que foi curado, assim que se percebeu curado, voltou a Jesus a ponto de encontrá-lo, ou seja, eles recebem a graça e seguem na direção determinada pelo próprio Jesus, como Jesus lhes ordenara.
SE você voltar no texto um pouco irá se lembrar de que Jesus disse: “Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer”. Aqueles nove, fizeram exatamente o que Jesus lhes dissera e foram ver o sacerdote e retomar a vida normal, inclusive a vida religiosa que era o centro da vida de uma pessoa naquele tempo e região.
O que voltou, fez além daquilo que o Senhor ordenou. Ele ofereceu sua adoração a Jesus e eu estou convencido de que ele foi movido pelo espírito da gratidão. Porque, ele compreendeu que o propósito do milagre que ocorrera na sua vida tinha como propósito torná-lo grato e ligado a Deus, no Seu Filho Jesus.
Veja que interessante o modo como o texto trata a matéria:
“Um dos dez, vendo que fora curado, voltou, dando glória a Deus em alta voz e prostrou-se com o rosto em terra aos pés de Jesus, agradecendo-lhe”
Ele discerniu que sua cura serviria à glória de Deus. Ele sabia que a maneira de oferecer a Deus essa glorificação era demonstrar a sua gratidão a Deus, colocando-se aos pés de Jesus e agradecendo-lhe. Os demais não atinaram para isso, mesmo que tivessem sido instruídos em muitas coisas da sua religião.
Gostaria de estimulá-lo a perceber isto, ou seja, os elevados propósitos de Deus ao agir a seu favor e realizar tudo o que realiza na sua vida, por meio do que Ele deseja que você o reconheça como seu Senhor em tudo. Não há lugar para sentar-se à mesa e desfrutar do alimento, sem antes voltar-se para Deus em gratidão pelo que ele dá, assim como tudo o mais na vida.

A Gratidão é a Resposta Religiosa Que Nos Diferencia Daqueles Que Não Descobriram Cristo Como o Centro de Sua Existência

Uma das coisas que as pessoas podem pensar é que aquele leproso que voltou para agradecer a Jesus, teria sido desobediente, pois a ordem de Jesus era que eles se dirigissem aos sacerdotes, e ele deixou isso em segundo plano e foi na direção de Jesus. Será que ele correu o risco de perder a bênção por causa dessa suposta desobediência?
O primeiro ponto que devemos observar aqui é procurar responder: será que ele de fato desobedeceu? Ele, por acaso não foi ao sacerdote? Gostaria de lhe dizer que você não pode esquecer de que Cristo é o nosso Sacerdote perfeito.
Não sei o quanto aquele homem refletiu sobre isso e chegou a essas conclusões, mas de alguma maneira, o Espírito Santo o conduziu àquele que é o nosso Verdadeiro Sumo Sacerdote. O Escritor aos Hebreus nos ensina que o Sacerdócio Levítico era apenas uma sombra do Verdadeiro Sacerdócio que se completaria em Cristo o nosso Sumo Sacerdote (Hebreus 7).
NO texto, Lucas nos mostra que aquele homem buscava a Deus e se prostrava diante de Jesus, o seu Sumo Sacerdote, aquele que intercede por nós, aquele que media a nossa relação com Deus. Diferentemente, dos demais, o que mais lhe importava era voltar para Cristo, em quem reconhecera a divindade.
O texto trata a questão dessa forma: “Um dos dez, vendo que fora curado, voltou, dando glória a Deus em alta voz e prostrou-se com o rosto em terra aos pés de Jesus, agradecendo-lhe. Então, Jesus lhe perguntou: Não eram dez os que foram curados? Onde estão os nove? Não houve, porventura, quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro?”
Você nota que Jesus declara que a atitude dele de gratidão era um ato de adoração a Deus e não a Jesus apenas. Ele não fora levado, como os demais, às estruturas da religião, mas notara que a verdadeira religião era aquela que nos aproxima de Deus, por meio de Jesus.
Lembramos agora as próprias palavras de Jesus: “Ninguém vem ao Pai senão por mim”.
Faz parte de toda a estrutura da Bíblia que venhamos a Deus por meio de Cristo e que façamos de Jesus o centro de nossa vida e culto. A gratidão a Cristo é uma marca dessa verdadeira religião.
A cruz, como centro máximo do seu ato sacerdotal, no qual o sacerdote, se faz oferta pelos seus, para que os seus se acheguem a Deus é o ponto de partida e o maior motivo da nossa gratidão.  Como diz o cântico:
Pela cruz dou graças
Pelo preço pago ali
Meu pecado suportou
Por seu amor, a graça recebi
Pelo amor dou graças
Pelos pregos em suas mãos
Com seu sangue me lavou
E me mostrou
Seu amor e o seu perdão.


Conclusão
Você pode se preocupar muito seriamente sobre o modo como tem vivido esse relacionamento com Deus. Qual é o lugar da gratidão na sua vida cristã. A gratidão, para você é algo esporádico? A gratidão é uma preocupação na sua vida apenas quando acontece algo que você precisava muito ou esperava muito? 
Veja o que encontramos neste texto e o que Deus espera que seja a nossa vida. Perceba que a gratidão deve ser um modelo de vida, ou seja, ser um cristão verdadeiro é ser alguém agradecido, eternamente agradecido. 
É muito importante que lembremos que Lucas escreve estas coisas para irmãos e irmãs que estavam em condições muito difíceis, ou seja, muitos deles estavam vivenciando situações muitíssimo desfavoráveis, sob pressões, perseguições etc. 
Em nossos dias, também vivemos muitas dificuldades para sermos cristãos. Pense, na realidade do Brasil e da cidade de São Paulo. Nós brasileiros trabalhamos muito, ganhamos pouco, somos um país com uma das maiores taxas de juros de todo o mundo; a violência campeia nossa nação, pela proliferação do crime, da corrupção, das drogas etc. 
TEmos de trabalhar muito e ainda, se queremos servir a Deus, temos de arrumar tempo para evangelizar, participar da obra do Reino etc. 
Mas, ainda que você tenha muita dificuldade para fazer tudo isso acontecer na sua vida, não se esqueça do que disse Jesus: Somos servos inúteis! 

Aplicação
Gostaria de ver a realidade da Igreja Presbiteriana de Vila Formosa sendo transformada! Ainda temos muitos irmãos e irmãs, que não demonstram de forma prática a gratidão que devemos a Deus. Eu os conclamo a pensar sobre as bases de seu relacionamento com Deus e os convido a se engajarem na obra por gratidão a Deus e pala obra que Cristo fez na Cruz. 
Este é o tipo de igreja que desejamos que exista neste lugar, formada por pessoas agradecidas, cujo esforço nunca é utilizado para procurar se colocar acima dos demais ou, cujas dificuldades jamais sirvam como desculpas... esperamos que a vida de Gratidão seja a base por detrás de nosso envolvimento com o Reino. 
Eu desejo que neste lugar, Deus levante irmãos e irmãs dispostos a servir por uma intensa coerência e que se destaquem por sua gratidão a Deus. 
Deus nos abençoe!


28 de março de 2011

Lucas 11. 1 a 13 - Princípios Para Uma Vida Devocional

Foco da Nossa Condição Decaída
Uma das maiores necessidades da alma humana é a do alívio do contato com Deus. Os crentes, em particular, devem sentir no contato com Deus o mesmo que alguém se afogando, sente quando um salva vidas, consegue tirá-lo das profundezas das águas para a superfície. Mas, nem todos sabem como satisfazer esse anseio da alma em Deus e o motivo é porque nem todos conhecem os princípios básicos da vida devocional. Nosso texto, é uma resposta de Jesus a um pedido dos discípulos. Para Lucas, uma continuação natural do episódio ocorrido na casa de Marta e Maria, uma espécie de resposta de Deus ao anseio de seus discípulos sobre o melhor modo de se colocar na presença de Deus. Aprendamos esses princípios e respiremos a atmosfera preciosa da presença de Deus em nós. 

Contextualização
Como já disse, creio que a passagem do capítulo 11. 1 a 13, para Lucas serve como complemento interessante do episódio ocorrido na casa de Marta e Maria. Ali, podemos observar o contraste entre uma pessoa que vive ao lado de Jesus e não desfruta da sua preciosa presença, naquilo em que mais é necessário e aquela pessoa que consegue abstrair-se de tudo ao seu redor para envolver-se mais pessoal e intimamente com o Senhor.
Um princípio maravilhoso se estabelece nos versos 41 e 42:
“Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada” (Lucas 10. 41 e 42).
Nem todos alcançaram esse conhecimento, o de saber dar valor à vida devocional, que é a entrega pessoal e a dedicação da atenção a Deus e ao seu Reino. Infelizmente, as pessoas pensam em vida devocional como apenas uma regra de leitura bíblica, de oração ou jejum. Mas, na verdade, a vida devocional é a capacidade de colocar a vida sob a ótica do Reino de Deus e a disposição de viver esse padrão. Requer amadurecimento e disposição para insistir em uma mudança real na mente, que ainda procura pensar dentro das quatro linhas da existência humana natural, sem discernir a realidade espiritual do Reino de Deus e do relacionamento necessário que temos de ter com Ele.
No nosso texto desta noite, veremos que Jesus propõe aos seus discípulos princípios fundamentais para esse tipo de vida devocional. O princípio da realidade presente e determinante do Reino; O Princípio da Dependência e Abundância Total do Reino; e o Princípio da Bondade e Objetivos de Deus.

O Princípio da Realidade Presente e Determinante do Reino
Na primeira parte do nosso texto, versos 1 a 4, temos a conhecidíssima “Oração do Senhor” (Oração Dominical). Neste ponto, Lucas está que Jesus ensinou os seus discípulos a orar.
A oração ensinada por Jesus é apenas um modelo. Insistimos em dominicalmente orar o “Pai Nosso” por alguns motivos: o primeiro é a fortalecimento da nossa consciência coletiva em relação ao Reino de Deus e nossa ligação com Cristo como Mestre; a segunda é que nossas crianças aprendam a orar, pois infelizmente, muitos lares deixaram de lado o ensino das coisas básicas da fé.
Evitaremos fazer a comparação deste texto com o de Mateus e as suas diferenças. Tristemente, o nosso tempo não permite que abordemos isso aqui. Espero que vocês se disponham a estudar essas diferenças em outras ocasiões.
Neste modelo de oração, quando analisamos o contexto da passagem é importante que a gente se lembre que o Lucas está propondo é uma maneira de ver a própria vida. Quando você vê o princípio estabelecido no texto anterior de Marta e Maria, você irá perceber que Jesus está nos mostrando como nos aproximar de Deus.
A primeira coisa que destacamos nessa aproximação é a consciência da realidade de Deus e do seu Reino. Na passagem, não existe nenhuma busca pelo discernimento do Reino ele simplesmente é apresentado de forma total: “SANTIFICADO SEJA O TEU NOME” e “VENHA O TEU REINO”.
Essas duas expressões falam da realidade do Reino de Deus. A santificação do Nome de Deus é a exaltação de seu nome sobre todos os nomes. Quando a Bíblia fala desta forma, aponta para os poderosos. Esse nome aponta para a excelência do Rei, que trará consigo o seu Reino.
A realidade do Reino de Deus, também determina a minha própria realidade. Por isso, nas petições que se segue, os discípulos são estimulados a pedir para que sua provisão diária e até mesmo os seus relacionamentos com o próximo e o próprio modo de vida na terra, sejam determinados pela presença do Reino.
Como a expressão “O PÃO NOSSO COTIDIANO DÁ-NOS DE DIA EM DIA”, esse é o intuito do evangelista, que o discípulo faça a ligação necessária entre a presença do Reino e a suficiência e abundância do mesmo para cuidar. Ou seja, a minha realidade do dia-a-dia passa a ser controlada pelo Reino de Deus.
Em seguida o evangelista propões que nossos relacionamentos sejam também determinados pelo modo de relacionamento do Reino. Como fraseologia bíblica aparece na seguinte ordem: “PERDOA-NOS OS NOSSOS PECADOS, POIS TAMBÉM NÓS PERDOAMOS A TODO O QUE NOS DEVE”, muitos tendem a pensar que o perdão de Deus é derivado do nosso agir. Certamente você sabe que as coisas não são assim.
O que podemos aprender dessa expressão é a íntima relação que tem o meu relacionamento com Deus e o meu relacionamento como o meu próximo. Para Lucas, os crentes deveriam deixar sua vida de relacionamento com os irmãos, que sempre envolverá a presença do pecado e das feridas causadas por ele, serem determinados pela presença do Reino em nosso viver.
Para mim, a idéia de Lucas é a de dizer assim: QUE O SENHOR VEJA NOSSO ARREPENDIMENTO E NOS PERDOE E SE SINTA BEM CONOSCO, COMO NÓS NOS SENTIMOS BEM EM PERDOAR OS NOSSOS IRMÃOS. Quero deixar bem claro que não estou propondo uma tradução, mas uma maneira de expressar o sentimento do texto.
Por fim, “NÃO NOS DEIXES CAIR EM TENTAÇÃO”. Uma tradução literal é “NÃO NOS INDUZA À TENTAÇÃO”. Lucas admite, como os demais escritores do Novo Testamento, que todas as coisas que acontecem na vida do crente são fruto da ação bondosa e generosa de Deus, até mesmo os momentos difíceis em que somos provados pelas muitas tentações.
Para Lucas, o espírito que Jesus disse que devemos ter é o de nunca nos arriscar a viver sem a mentalidade do Reino, sem a consciência de sua presença. Por isso, é de extrema importância que fujamos de tudo aquilo que nos leve para longe de Deus e que nos faça amar qualquer outra coisa em lugar de Deus e que nos distraia no interesse de viver para o Reino de Deus. Do mesmo modo como Marta estava agindo.

O Princípio da Dependência e Abundância Total do Reino
Neste ponto é importante compreendermos bem a estrutura do texto que se trata da proposição de uma pergunta retórica e uma breve resposta. Note que o verso 5, Jesus propõe uma situação hipotética, mas que poderia ser bastante factível para qualquer um dos seus ouvintes.
Note que a situação é introduzida com uma pergunta, que não tem um fechamento:
“Qual dentro vós, tendo um amigo, e este for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, pois um meu amigo, chegando de viagem, procurou-me, e eu nada tenho que lhe oferecer. E o outro lhe reponde lá de dentro dizendo: Não me importunes; à porta já está fechada, e os meus filhos comigo também já estão deitados. Não posso levantar-me para tos dar (’?’). (Lucas 11.5 a 7).
Você pode perceber que de fato uma pergunta está sendo feita, em uma proposta de situação hipotética. Eles entenderiam que a situação só teria uma resposta, ou seja, bem é possível que um qualquer não desse pão, mas um amigo se levantaria para ajudar o amigo que precisa, isso com certeza.
Então, Jesus tendo em mente sua resposta óbvia faz a aplicação de um princípio importantissimo do relacionamento com Deus. Ele o faz aplicando os dois lados dessa história: a necessidade do pedinte e a abundância do amigo que assiste ao outro.
Quando Jesus utiliza essa situação hipotética e essa pergunta retórica, ele tem em mente um tipo de resposta óbvia, entretanto, antes desta resposta é necessário destacar que o pedinte, não tem aonde ir, ou a quem recorrer, senão na casa de seu amigo. 
O horário é importante para dramatizar essa questão da necessidade e a impossibilidade de outros recursos. Neste momento, sua única saída é essa. O que Jesus destaca, como quando no princípio estabelecido no final do capítulo 10 é que, somente Deus pode me oferecer o que minha alma realmente necessita. Lembro-me da maneira como Agostinho de HIpona exemplificou essa verdade: "Minha alma só encontra descanso em Ti". Da mesma forma o mavioso cantor de Israel entoou no Salmo: "Outro bem não possuo, senão a Ti somente". 
Este é um aspecto extremamente importante: nós precisamos de Deus, e somente ele é capaz de satisfazer o anseio da alma, nada mais. Dinheiro, fama, poder, sucesso, reconhecimento social etc, podem ser coisas boas e agradáveis, mas são incapazes de satisfazer e completar a nossa vida, dando-lhe significado eterno. 
O outro aspecto importante desta parte da parábola é a suficiência e abundância de Deus em nos conceder muito mais do que pensamos ser possível. 
Isso é observado no conteúdo da aplicação que Jesus faz desta pequena história. Ali, diz o texto que o amigo não dará apenas o que ele havia pedido, mas tudo o que ele tiver de necessidade. A idéia é semelhante àquela aplicada na porção posterior, ou seja, Deus é esse amigo, por isso, vale a pena insistir. 
A resposta obvia que Jesus trabalha é que um amigo verdadeiro, não deixará o outro sem assistência. Assim, Deus não se recusará a assistir os seus filhos e nos dará muito mais, na verdade, Ele suprirá toda a nossa necessidade.
Esse princípio da vida devocional é aquele que me faz refletir que Deus é meu único verdadeiro recurso e que em nenhum outro eu encontrarei o descanso que NEle eu desfruto.  



Princípio da Bondade e Objetivos de Deus.
Infelizmente, a oração tem se transformado num problema de relacionamento com Deus. Pois, os crentes têm se disposto a orar apenas por causa de suas necessidades prementes, com os objetivos errados e uma dificuldade muito grande para entender o propósito da oração.
Tiago acabou escrevendo que um dos motivos para não termos respondidas as nossas orações é que elas estavam exageradamente centradas em nós mesmos.
“Nada tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres. Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tiago 4.2 a 4).
Infelizmente essa é a realidade de muitos crentes e até mesmo de muitos bons crentes. Pessoas que levam Deus à sério, não sabem como viver a atmosfera de sua presença e não sabem de que modo devem se relacionar com Ele de um modo que lhes traga crescimento em graça. Mais ou menos como Marta, vocês podem notar que o princípio é o mesmo.
Quando estamos por demais inquietos com as coisas deste mundo, perdemos de vista o valor de eternidade presente em cada uma das coisas que fazemos. Nossos planos, nossas opiniões, nossas ações, sentimentos, palavras, tudo em nós passa a ser determinado pelo crivo da nossa mente carnal e da nossa expectativa carnal da vida.
Não estou falando de coisas ruins em si, mas de uma limitada forma de enxergar a vida e os seus propósitos. Por isso, quando as coisas não acontecem exatamente como esperamos, há uma reação tão dolorida em nossa alma e uma penumbra toma conta dos nossos olhos e não andamos por fé, mas por vista.
Essa é uma lição significativa para todos os crentes que conviveram com Lucas, pois todos eles, no tempo da Escrita deste Evangelho, conheciam alguém, ou estavam eles próprios passando ou à ponto de passar por momentos de muitas lutas materiais. Era importante para eles que a fé em Cristo os guardasse de tropeçar e sua decisão de viver para Deus continuasse firme.
A oração se constituiria num dos mais importantes instrumentos para a alimentação da fé. Lucas, então, lhes propõe a pensar no que Jesus propõe: Uma visão da bondade de Deus e dos objetivos da sua obra:
Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á. Qual dentre vós é o pai que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir um peixe, lhe dará em lugar de peixe uma cobra? Ou, se lhe pedir um ovo lhe dará um escorpião? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai Celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem? (Lucas 11.9 a 13).
É muito infeliz a teologia que ensina que este texto é uma garantia do poder do crente para pedir qualquer coisa e viver com Deus agarrado a este mundo e às coisas que pode obter aqui. O texto deixa claro que o propósito da oração é o Espírito Santo em nós. Esse é o objetivo central da obra de Deus, isso é viver no e para o Reino de Deus, ou seja, viver a mais completa comunhão e ligação com o Eterno, por meio da Comunhão que podemos desfrutar com Ele no Espírito Santo.
Você deve lembrar que no tempo de Lucas, a idéia da habitação do Espírito Santo era algo de grande importância. Infelizmente não temos tempo para discorrer sobre isso, também, em outros sermões, já tivemos a oportunidade de avaliar bem essa questão.
Não existe cristão verdadeiramente e amadurecido sem que o Espírito Santo esteja abundantemente dominando a sua vida e isto é o que o Senhor deseja para nós. Isso é o Reino dentro de nós.
O outro aspecto dessa resposta é a bondade de Deus. Podemos notar na comparação que Jesus faz entre os Pais maus e o Pai Celestial. Na oração do Senhor, o modelo de oração para todos nós, o foco é o relacionamento paterno de Deus, e o nosso desejo de ver o Reino presente em nós e o Reino permeando a nossa vida e determinando até mesmo o modo como serão satisfeitas as nossas necessidades.
Agora o foco é demonstrar que o mesmo Pai que nós desejamos buscar é tão amoroso que podemos confiar e esperar nEle. Ele satisfará os desejos do nosso coração.

Conclusão
Meus irmãos, não tenho dúvidas de que precisamos rever muitas coisas do nosso relacionamento com Deus. Vida devocional não pode ser compreendida como uma mera rotina de levantar cedo, ou de madrugada, ler a Bíblia e orar. Vida devocional é algo muito maior, é uma mentalidade renovada, uma conscientização de que o Reino de Deus é uma Realidade da qual não podemos e não devemos fugir.
A melhor definição de vida devocional que posso lhe oferecer e, com certeza há outras bem melhores, é: “UMA CONSCIÊNCIA PROFUNDA DA REALIDADE DE DEUS E O SEUS DEVERES E DEPENDÊNCIA PARA COM ELE”. Uma pessoa que se acredita inscrito nesse modo de vida, não abandonará a oração, não deixará de ler a Escritura e terá hábitos de busca do Altíssimo de profunda intensidade, porque, uma pessoa assim transformada, precisa de Deus para sentir alívio em sua alma, alívio que dinheiro nenhum, ou amizade, realização ou poder humano lhe pode dar, somente a presença de Deus lhe satisfaz.

Aplicação
Reveja o modo como você está enxergando a realidade de Deus em sua vida e como você a está vivenciando. Arrependimento é uma mudança de mente na direção de Deus, por isso, se você percebe que sua vida com Deus não está baseada nesses princípios que destacamos ou em outros que a Escritura apresenta, hoje é o tempo de você fazer exatamente aquilo que o texto diz:
PEDI E DAR-SE-VOS-Á, BUSCAI E ACHAREIS,
BATEI E ABRIR-SE-LHE-Á
Porque Deus dará o seu Espírito aos que lhe pedirem. Ele se levantará à noite e da abundância dos seus celeiros celestiais nos dará grandes bênçãos de comunhão com Ele. Isso é mais importante que qualquer coisa!


6 de fevereiro de 2011

Lucas 5. 27 a 32 - Chamado Para o Arrependimento

Chamado Para o Arrependimento


Os objetivos do Pai ao enviar o seu Filho para realizar a obra da redenção tem como alvo especial aqueles homens e mulheres que seriam para sempre transformados de sua condição caída e perdida para a vida abençoada do Reino de Cristo.
Mateus ou Levi era um destes homens. Ele foi alcançado pela maravilhosa graça de Jesus no dia em que, trabalhando na coletoria, ouviu o chamado de Jesus e, seguindo-o, teve a sua vida transformada definitivamente. 
A história da conversão de Mateus serviu para Lucas mostrar a Teófilo algo sobre a verdadeira fé e a disposição de viver para Deus, estas são as lições que também nós devemos buscar aplicar na nossa vida, ao ler e reler este texto.


Foco da Nossa Condição Decaída
Há pessoas que pensam que a salvação é alcançada por uma capacidade humana de fazer coisas para agradar a Deus. Há também aqueles que até compreendem as dinâmicas da graça de Deus, mas, com o tempo se esquecem de sua condição de pecadores redimidos e passam a agir como se Deus tivesse alguma dívida de gratidão com eles, como se Ele precisasse agradá-los para mantê-los firmes em não abandoná-lo. O texto nos conclama a nunca esquecer  o fato de que nossa redenção aconteceu quando a nossa condição era de completa miséria espiritual e nossa comunhão com Deus continua sendo obra da graça maravilhosa do Senhor.


Quando nos Chama, Deus Sabe Muito Bem Quem Somos


Viu Um Publicano, chamado Levi assentado na coletoria, e disse-lhe: Segue-me!


Lucas, diferentemente dos outros evangelistas que registram essa ocasião, põe em destaque o fato de que Levi era um "publicano". Isto é significativo, pois a função de publicano era considerada uma traição à nação judaica e, religiosamente falando, os publicanos eram considerados na mesma escala das  prostitutas e ladrões.
Aquele homem que estava para encontrar a vida eterna, isto é, Cristo, não estava fazendo qualquer busca espiritual, ou se condenando por sua condição espiritual, ele simplesmente estava na coletoria, ou seja, ele estava fazendo o seu trabalho. Muitos dos seus familiares, amigos, líderes religiosos etc, o consideravam a escória da nação, mas ele, estava ali simplesmente fazendo o seu "trabalho sujo". 
Levi não estava preocupado com o que as pessoas diziam, escolhera essa profissão ou por deter uma mentalidade de menosprezo à religião do seu povo ou por mera ganância. De qualquer forma, temos diante de nós um homem sem problemas de consciência, que encontrará a vida em Cristo Jesus. 



Quando nos Chama, Deus Deseja Envolver-se em Nossa Vida

Então, lhe ofereceu Levi um grande banquete em sua casa; e numerosos publicanos e outros estavam com ele à mesa

Essa não foi a única vez que Jesus foi à casa de um publicano. No capítulo 19, quando ele tem um encontro com Zaqueu, declarou: Zaqueu, desce depressa, porque me convém ficar hoje em tua casa (Lucas 19.5).  
A reprimenda dos fariseus e de todas as pessoas que viam essa atitude de Jesus era de crítica, pois todos sabiam a vida e as disposições gananciosas e desprezíveis dos publicanos. 
Não se importando com isso, Jesus deseja enveredar-se pela vida de Levi. Jesus vai à casa de Levi e convive com seus amigos publicanos. Essa atitude de Jesus revela a necessidade de envolver-se e aproximasse das chagas do pecador. 
O médico, para tratar o paciente, aproxima-se dos ferimentos e das chagas dos doentes. A melhor coisa, logo após de revelar o conhecimento de nossa condição espiritual, Deus revela o seu amor ao entrar na nossa vida e envolver-se conosco.

Quando nos Chama, Deus Tem o Objetivo de Mudar Nossa Mente

os são não precisam de médico, e sim os doentes. Não vim chamar justos, e sim pecadores ao arrependimento

Em resposta aos questionamentos dos fariseus, Jesus faz essa declaração fundamental para compreendermos o movimento de Deus na direção de Levi. 
Enquanto o modelo de trabalho dos fariseus era o de ficar acusando os homens de seus pecados, o de Deus é o de tratar as suas feridas. 
Em parte, Jesus nos conclama a manter viva a nossa real condição de miséria diante de Deus. As pessoas que se acham sadias ou assim se presumem, não buscam o médico e, portanto, a atuação do médico de nada lhe serve. Da mesma forma o ponto focal da vida: a mente do homem.