6 de janeiro de 2013

Mateus 3.1 a 12

Produzindo Bons Frutos
 Movidos pelo amor para
uma vida frutífera



Considero no mínimo curioso que muitos fariseus e saduceus procurassem João Batista para serem por ele batizados. Parece-me curioso que pessoas tão apegadas aos seus princípios e valores religiosos tivessem algum tipo de angústia de alma que os levasse a “garantir” que aquele homem espantosamente comprometido com Deus os aliviasse.
Não os culpo por procurarem João Batista, aliás, eu admiro que tivessem a honestidade de fazê-lo. Sentiam-se oprimidos e talvez nem soubessem exatamente o por quê. Por isso, estavam expressando sua angústia naquela busca inusitada.
Não obstante eu admire a coragem deles para admitir sua necessidade espiritual, tenho de perceber neste texto que isso não era tudo. Estes pequenos frutos de aparente fé não eram os frutos que o Senhor Deus queria receber. Aliás, pareciam muito mais preocupados em afugentar suas angústias, que realmente em emendar os seus caminhos diante de Deus.
Assim como aqueles muitos fariseus e saduceus, também em nossos dias temos “muitas” pessoas em transito religioso, na intenção de afugentarem suas angústias, contudo sem querer curar os seus corações idólatras de si mesmos.
João Batista os advertiu seriamente: Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento (verso 8). E assim, ele os conclamou a uma busca ainda maior, a da cura de seu coração, sua alma para Deus.
O que realmente importa é o que nos move até Deus. O que, no fundo está na base de nosso anseio de encontrar a Deus?
Neste texto de Mateus, veremos a abertura do Reino para qualquer um que queira entrar tem uma porta estreita que, por ela, só podem passar pessoas que tomaram uma profunda decisão de mudança baseada no princípio: “Amar a Deus Sobre Todas as Coisas”.
Desejo levá-los a este texto com estas questões em mente, para que o Senhor nos conduza verdadeiramente aos mananciais de seu Espírito, que flui de sua Santa Palavra.

Na Base da Produção de Frutos Dignos de Arrependimento Está Um Autoamor Equilibrado Por uma Visão Verdadeira de Nossa Própria Miséria
Existe sempre uma inclinação em nossa natureza humana a da “auto-valorização” e da “auto-glorificação”. Evidentemente, a Palavra de Deus não nos recomenda o ódio por nós mesmos, isso não é uma virtude. Mas, também não podemos cair no extremo de viver de forma narcisista, nunca admitindo os efeitos que a queda, o pecado, produziu em nossa natureza.
Na base da miséria do homem está a sua sede por ser glorificado sem Deus. Quando voltamos nossos olhos para o primeiro pecado de nossos pais, lá no Jardim do Eden, facilmente observamos como esta sede de poder e autoglorificação invadiu cada recanto da alma humana.
O texto nos apresenta João Batista e a sua pregação. Na raiz de sua pregação, não está a apresentação de promessas de adulação do homem, uma mensagem ufanista das glórias do homem: vocês são filhos do Rei; suas palavras têm poder...
Na pregação de João Batista não há a bajulação da natureza humana, nem dos sonhos humanos, nem das possibilidades dos homens... Na base da pregação de João Batista está uma mensagem que conclamava ao arrependimento.
Naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judéia e dizia: arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus (versos 1 e 2)
Para João Batista, assim como para todos os profetas do Velho Testamento, não havia possibilidade de um relacionamento verdadeiro com Deus, sem um coração quebrantado e arrependido. Para ele, viver no Reino implicava em um reconhecimento de seus próprios pecados. Por isso, ele os batizava e os conduzia à confissão de pecados.
E eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados (verso 6).
O problema que João levanta com relação aos Fariseus e Saduceus é que eles buscavam algo, mas não buscavam a cura de suas próprias mentes e almas idólatras. Desejavam uma ligação com o Senhor, mas sem que o seu coração fosse dominado por ele. Desejavam continuar no erro denunciado pelo profeta: com seus lábios me honram, mas o seu coração está longe de mim (Isaías 29.13).
Eles agiam assim porque tinham de si mesmo uma opinião elevada. Neste Evangelho veremos Jesus recriminar esta postura destes homens, quando os cita orando nas praças, cantando vitórias acusando o pecados dos outros homens etc. Eles se sentiam homens melhores que os demais, pois tinham a linhagem de Abraão como uma marca de sua estirpe.
Não comeceis a dizer entre vós mesmos: temos por pai Abraão (verso 9).
Facilmente podemos perceber que se deixamos nossa inclinação para autoglorificação nos dominar, não teremos um relacionamento verdadeiro com Deus e, não teremos uma vida verdadeiramente frutífera, que glorifique a Deus.
Precisamos reconhecer nossas limitações, abandonar nossas falsas convicções de autoperfeição. Precisamos nos arrepender, ter o coração curado desta chaga. Precisamos equilibrar o nosso autoamor.
Amar a si mesmo é bom, mas nunca de forma que isso se torne em uma medida que nos sintamos melhores que os outros ou até mesmo mais sábios que Deus e sua Palavra.

Na Base da Produção de Frutos Dignos de Arrependimento Está O Reconhecimento da Necessidade de Amarmos a Deus
Ao lado de nossa inclinação para o autoamor desmedido e idolátrico, temos em nosso coração uma necessidade que, por mais que lutemos por fugir dela, não conseguimos nos ver livres. Estou falando da necessidade de nossa alma de um amor verdadeiro, por algo que realmente seja digno do nosso amor.
Conhecidamente o filósofo alemão, filho de um pastor luterano, Friederich Nietzche, foi um dos homens que mais influenciou o moderno pensamento ateísta. Leonardo Boff registrou em seu blog uma tradução de um poema do Alemão, a qual passo a ler para todos vocês:

Oração ao Deus Desconhecido de Friederich Nietzche
Antes de prosseguir no meu caminho
E lançar o meu olhar para frente
Uma vez mais elevo, só, minhas mãos a Ti,
Na direção de quem eu fujo.
A Ti, das profundezas do meu coração,
Tenho dedicado altares festivos,
Para que em cada momento
Tua voz me possa chamar.

Sobre esses altares está gravada em fogo

Esta palavra: “ao Deus desconhecido”
Eu sou Teu, embora até o presente
Me tenha associado aos sacrílegos.
Eu sou Teu, não obstante os laços
Me puxarem para o abismo.
Mesmo querendo fugir
Sinto-me forçado a servi-Te.

Eu quero Te conhecer, ó Desconhecido!

Tu que me penetras a alma
E qual turbilhão invades minha vida.
Tu, o Incompreensível, meu Semelhante.
Quero Te conhecer e a Ti servir.

Nietzche foi um propagador do ideal do homem invencível e grandioso, contudo, mesmo a sua alma, ainda enferma pela ferida mortal da autoglorificação, clamava a necessidade de amar a Deus.
Quando voltamos ao texto, uma pergunta de João Batista fica sem resposta. Ela não é dada no texto ou nos outros evangelhos, a resposta só pode ser inferida por nós. Espero que você não sinta esta propositura demais para nossa meditação. Mas eu concluo que havia naquela atitude uma manifestação da necessidade de um amor maior a Deus, que os inquietava, com a qual lutavam, por não desejarem abrir mão do amor próprio idolátrico.
Vendo ele, porém, que muitos fariseus e saduceus vinham ao batismo, disse-lhes: raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura? (verso 7).
Admito que o texto não afirma que eles sentiam alguma necessidade de Deus, mas não consigo me assegurar de nenhuma outra coisa que não a manifestação desta necessidade, impregnada na alma humana, a necessidade que temos de amar a Deus. O que Calvino chamaria de “sensus divinitatis e sêmen religiones”, um senso da divindade e uma semente da busca por Deus. A mesma motivação que declarou Agostinho como estando na base de sua ansiosa busca por Deus: “Tu mesmo que incitas ao deleite no teu louvor, porque nos fizeste para ti, e nosso coração está inquieto enquanto não encontrar em ti descanso” (Confissões Capítulo 1). 
O problema com aqueles Fariseus e Saduceus é que não reconheceram este clamor de sua própria alma, este clamor do seu coração e o sufocavam com suas estatuetas da egocentria. Pensavam nos seus luxos, nas suas reputações, posições etc.
Reconhecer e submeter-se à necessidade que temos de amar a Deus acima de todas as coisas formará uma base de frutificação na nossa vida. Será um passo precioso na direção de produzir frutos dignos de arrependimento, que apontem para um coração curado, quebrantado para amar ao Senhor.
iste sempre uma inclinação em nossa natureza humana a da “auto-

Na Base da Produção de Frutos Dignos de Arrependimento Está O Temor a Deus e o Senso de Urgência Que Este Temor Provoca
João Batista era um homem que se destacava como profeta do Senhor, era a voz do Senhor que clamava no deserto. Até o próprio Jesus reconheceu a grandeza deste profeta. Herodes vivia aterrorizado por João Batista e o povo via nele a coragem própria de um homem que segue a Deus e confia no Deus a quem segue.
Como já disse, a mensagem de João Batista não era bajuladora, mas apontava para a ira de Deus. Ele mesmo diz que os fariseus e saduceus estavam fugindo da ira vindoura. João Batista não usava isto como um recurso metodológico ou de oratória, ele sabia da urgência do arrependimento e do perigo que era viver sob a ira do Fogo Consumidor.
Algumas vezes, parecemos querer domesticar Deus. Outras vezes, parecemos considerar Deus como um animal de estimação, ao qual damos atenção para nosso próprio divertimento e quando nos sobre algum tempo. Pode parecer duro, mas é verossímel a comparação.
João não está brincando com Deus e a chegada do seu Reino. Ele primeiro adverte aqueles Fariseus e Saduceus a não brincarem com Deus e não procurarem fazer barganha com o Altíssimo. Eles não podiam manipula-lo, afinal o fato de serem filhos de Abraão não domesticava Deus na relação com eles.
E não comeceis a dizer entre vós mesmos: temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão (verso 9).   
As pedras do deserto da Judéia eram as coisas mais comuns e desprezadas. Estavam jogadas em todo o canto e, muitos nem se davam conta de que elas estavam lá. Pois bem, João Batista tem a intenção de lhes mostrar que Deus não precisa de gente de fina extirpe humana, ele não está preocupado se irá ou não irá faltar gente para compor o seu reino, afinal Deus era poderoso o suficiente para daquelas pedras desprezíveis suscitar seus filhos e súditos do seu reino.
Tentar domesticar Deus é um ato de loucura que revela a falta de temor ao Senhor. O temor ao Senhor é essencial para a frutificação, pois por temor ao Senhor seremos movidos na direção certa, sabendo que Ele quer ser adorado e servido segundo o seu conselho. Uma boa maneira de aprender sobre este assunto é estudar o livro de Eclesiastes à luz dos versos 13 e 14 do capítulo 12.
De tudo o que se tem ouvido, a suma é: teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem, porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más (Eclesiastes 12.13 e 14).
A ilustração de João para reforçar o senso de temor e de urgência que se requer para frutificar é a do machado ao pé da raiz. Isto aponta para o juízo de Deus sobre os homens que o negam e desprezam.
Já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto, é cortada e lançada fora (verso 10).
Quero destacar a força do argumento de João. Primeiro o machado já está à raiz das árvores. O reino e o juízo que dele procede já está em vigor em nossa geração. Ele se estende a todas as árvores que não produz bom fruto. E o resultado anunciado é simbolizado pelo lançamento para fora da plantação.
Estas palavras não podem ser consideradas sem o devido temor no coração. Nenhum de nós deveria passar por estes versos sem uma reflexão verdadeira sobre o seu significado para nós pessoalmente.
Caros irmãos, frutificar é um dever e uma prova de nossa verdadeira ligação com o Senhor. Temer a Deus e amá-lo são coisas muito próximas. Há uma falácia dizendo que se o amamos por que tememos não é amor verdadeiro.
Eu entendo o que as pessoas querem dizer. Contudo, não podemos descartar o fato de que ele nos conclama a amá-lo também com temor e tremor. Este amor não é fruto de uma coerção, mas de um verdadeiro conhecimento de sua natureza.
Na base de uma frutificação verdadeira está este conhecimento da gravidade do que significa uma vida sem Deus e do perigo que representa brincar com o tempo de frutificar. Certa feita, Jesus aproximou-se de uma figueira. Ela deveria dar frutos, pois estava cheia de folhas, mas não os tinha, então ela secou-se. Não é necessário dizer muito mais para que você entenda a importância de frutificar.

Conclusão
Temos de saber realmente o que está na base da nossa aproximação com Deus, porque estamos fugindo da ira vindoura. Muitos estão buscando a Deus apenas porque Ele pode ser uma boa escolha para o seu futuro, pelo que podem ganhar com isto. Já os que o fazem sem entusiasmo nenhum podem estar apenas procurando se justificar socialmente, ou para a família etc...
A falta de frutos na vida cristã aponta para uma doença que compromete a direção do nosso amor - não podemos simplesmente achar um culpado para nossa pouca vitalidade espiritual, isso não irá resolver e também não resolverá deixar para pensar neste assunto em outro momento. Precisamos entender a urgência que representa viver para Deus e frutificar. Precisamos também realinhar o amor do nosso coração.
Pense bem... Se você tem encontrado um “senhor” que está substituindo Deus e a sua vontade na sua vida? Pense que sua alma não está sossegada com isto e é talvez por isto que tantas angústias te consomem e nada te completa.
Quero lhe convidar a realinhar o seu coração com o Senhor. A buscar uma vida cristã frutífera. Alguns deverão reviver o primeiro amor, outros deverão aprender a amar a Deus acima de tudo.
Passos para isto foi o que vimos em nossa mensagem esta noite: reconhecer nossa miséria e equilibrar o nosso autoamor; reconhecer que nossa alma precisa do amor maior a Deus para encontrar descanso e, por fim, reconhecer que amar a Deus em temor é urgente.
Que Deus nos abençoe!



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