Preparando o Coração Para
Frutificar
Frutificar
MATEUS
13.1 a 23
O conhecido texto da “Parábola
do Semeador” é mais que uma passagem evangelística, que apela para que homens e
mulheres estejam atentos ao modo como recebem a Palavra de Deus, este texto
força-nos a uma reflexão profunda sobre aquelas coisas que nos impedem viver o
Reino de Cristo em sua plenitude máxima.
Nesta meditação, quero lhes
propor a leitura deste texto, observando um dos seus propósitos mais
importantes, alertar para o fato de que aos Filhos do Reino é dado o privilégio
de ouvir a voz de Deus. Partindo deste pressuposto, claro na estrutura do
texto, devemos considerar o fato de que, mesmo os Filhos do Reino podem se
tornar aqueles solos ruins onde a Palavra parece não frutificar mais.
Portanto, nossa meditação
desta feita é uma proposta autorreflexiva. Exige coragem para encontrarmo-nos
com o nosso “verdadeiro estado de coração” e penitentemente, segundo a Palavra
de Deus, nos conduzirmos de volta à Cruz de Cristo. Muito melhor nos será
sentir dores profundas para estar com Cristo, que viver em sossego de alma,
caminhando para a margem oposta de onde Cristo está.
Um Coração Preparado Pela Palavra Recebe o Dom
de Ouvir a Palavra de Deus e Praticá-la
Quero muito que você perceba
que este texto de 23 versos tem uma estrutura relativamente simples. Então,
considere o texto em si e note que podemos dividi-lo em três partes.
Do verso 1 a 9 – logo a pós
uma pequena introdução, a parábola em si .
Do verso 10 a 17 – uma explicação
sobre porque falou em parábolas
Do verso 18 a 23 – a explicação
da parábola.
Se notarmos bem, veremos que
muito deste belo texto foi dedicado ao ponto da discussão sobre o privilégio de
ouvir a Palavra de Deus. Veremos que este propósito parece dominar o interesse
de Mateus em vários pontos do seu Evangelho.
Desde o Sermão da Montanha,
quando o desfecho era a comparação entre o homem prudente e o insensato,
dizendo que a grande distinção estava no ouvir e praticar da Palavra. Até o
capítulo 28, quando a Grande Comissão envolve o ato de anunciar e ensinar a
Palavra, logo perceberemos que é central no pensamento de Mateus a importância
do ouvir a Palavra de Deus e o fruto que ela produz em nós.
Comecemos com o verso que
encerra este texto:
Mas o que foi semeado em boa
terra é o que ouve a palavra e a compreende; este frutifica e produz a cem, a
sessenta e a trinta por um (Mateus 13.23).
Algo me chamou a atenção
neste texto em minha última leitura dele. Temos a tendência de ler o texto
bipartidamente, separando a primeira frase da segunda. Então, admitimos uma
compreensão completa na primeira parte do versículo e da mesma forma na segunda
parte, isto seria o mesmo que dizer que a segunda parte não está
intencionalmente unida à primeira.
Quando fazemos uma leitura
unindo as duas partes, tornando-as complementares teremos uma compreensão diferente
que eu posso o resumir da seguinte maneira: aquele que frutifica a cem, a sessenta e a trinta por um, este é o que
ouviu e compreendeu a palavra que foi semeada no seu coração.
Esta perspectiva de leitura
poderá causar um grande terror em muitos irmãos e irmãs que até então não
tinham se dado conta de que sua vida cristã está morna, como a dos crentes de
Laodicéia (Apocalipse 3).
Todo este texto é sobre a
capacidade de ouvir e produzir frutos. Ele se refere ao fato de que muitos
judeus, chamados para serem o povo da Aliança, tinham recebido os oráculos do
Senhor e os guardavam sem absolutamente permitirem com que frutos de justiça
brotassem em suas vidas, advindos do poder transformador da Palavra de Deus.
Estes tornaram-se burocratas da fé.
Por isso, Jesus indica a
profecia de Isaías como se cumprindo neles. O povo da Aliança, que não deu
ouvidos à Palavra, tornou-se infrutífero e Deus os impediria de exercerem o seu
papel, até que se convertessem de todo o seu coração (leia os versos 12 a 15).
Bem aventurados, porém, os
vossos olhos, porque veem; e os vossos ouvidos porque ouvem (verso 16).
Quem tem ouvidos para ouvir,
ouça (verso 9).
Estes versos, compõem o
pensamento de Mateus que é construído desde o capítulo 12, verso 33, onde faz
menção que os frutos qualificam que tipo de árvore somos, ou ainda nos versos
46 a 50, onde afirma que sua família é a que faz a vontade de Deus.
A moldura se fecha com a
parábola do trigo e do joio, onde a diferença será discernida no momento da
colheita, quando os frutos de cada um forem considerados.
Enfim, é fácil perceber que
não podemos nos considerar cristãos completos até que hajamos nos preocupado
claramente com os frutos que temos produzidos.
John Piper, em um dos seus
sermões sobre os versos 44 a 46 deste capítulo, considera que vivemos em um
tempo em que milhares de cristãos vivem enganados quanto à sua fé.
We live in a superficially Christianized
society where thousands of lost people think they do believe in Jesus –
Nós vivemos em uma supercialmente cristianizada sociedade, onde milhares de
pessoas perdidas pensam que creem em Jesus.
Não se engane sobre isto. Um
coração preparado pela Palavra é capaz de ouvir e produzir bons frutos. Não
refreie a sua alma quando ela pulsa por produzir bons frutos. Não permita com
que os pensamentos do seu coração sufoquem a Palavra que está sendo fermentada
dentro de você. Não impeça o seu crescimento.
Para Ter Um Coração Que Ouve, Compreende e
Frutifica é Preciso Lutar Contra Forças Malignas
Não iremos nos deter em
algumas explicações, que a maioria já ouviu e que o texto deixa bem claro, tais
como, que a semente é a Palavra do Reino, que o semeador é o próprio Cristo,
por meio dos seus instrumentos etc. Focaremos apenas em um detalhe: a força da
malignidade como empecilho para levá-lo à frutificação.
Vem o Maligno e arrebata o
que lhes foi semeado no coração.
Voltando ao sermão da Montanha,
veremos que não podemos servir a dois senhores. Serviremos a Deus ou ao
Maligno. Este ponto é central na Escritura: ou ouviremos a voz de Deus ou a do
Maligno. Lembre-se da escolha de Eva no Éden e depois leia 2 Coríntios 11.1 a
6, e você verá esta guerra pela audiência do seu coração, que muito mais
importante que a dos seus ouvidos.
Devemos notar que a parábola
nos apresenta um quadro muito interessante, a semente foi arrebatada do
coração, depois de ter sido efetivamente semeada. A falta de compreensão e
frutificação não é explicada pela falta da verdadeira semeadura, mas do fato de
que o Maligno agiu para arrebatar esta semente, os ensinos da Palavra de Deus.
Como isto pode ocorrer? Penso
que podemos trabalhar com algumas hipóteses e deve haver outras. Primeiro,
pense em uma pessoa que vive inserida em um sistema de vida pecaminoso. Um
suposto cristão que se permite envolver em uma modelo pecaminoso. Talvez,
alguém que se acerca de pessoas de hábitos mundanos, materialistas etc.
Há uma tendência grande de
que o ambiente em que ele vive exerça grande influência sobre o que ele é e
como pensa. O fato de se permitir viver assim, em lugar de fugir de toda a
aparência do mal, o levará à estagnação espiritual diante dos ensinos da
Palavra.
Talvez este seja um exemplo
pequeno, mas ilustra muito bem, como muitas pessoas tornam-se infrutíferas, por
menosprezarem a presença do mal e desprezarem os conselhos sábios da Palavra: Vigiai e orai para que não entreis em
tentação... o vosso adversário anda em derredor rugindo como um leão... o mundo
jaz no Maligno.
Não precisamos do ambiente
para que o mal se manifeste na nossa vida. Na verdade, em nosso próprio coração
podemos ter ainda muito enraizado modelos pecaminosos de vida, os quais ainda
não tratamos, ou com os quais ainda enamoramos. Pense num crente que
secretamente namora com a pornografia, com o adultério, com egoísmo etc.
Se queremos ter um coração
que ouve, compreende e frutifica é preciso ter disposição de alma para lutar contra
o Maligno, quer aquele que se localiza em nós, procurando constantemente a
oração, o arrependimento, o quebrantamento, quanto aquele que está ao nosso
redor, procurando fugir de toda aparência do mal, procurar mais a companhia dos
santos e a santificação pessoal, quem sabe, se necessário, colocando-se em
oposição aos que praticam maldades.
Para Ter Um Coração Que Ouve, Compreende e
Frutifica é Preciso Lutar Contra a Imaturidade Espiritual
Alguém, creio que J.Parker, já
disse que o cristianismo nos dias dos Puritanos era como um pequeno lago bem profundo. Não era
tão extenso, mas tinha grande distancia entre a superfície e o fundo do lago. A
mesma pessoa disse que em nossos dias, o cristianismo é como imenso oceano de
10 cm de profundidade.
Você já percebeu como estamos
rodeados de crentes imaturos? Pessoas que conhecem o Reino superficialmente e
que se distraem facilmente com qualquer outra coisa, como as crianças se
distraem? Pessoas que preferem ficar na fantasia da fé, a enfrentar as questões
vitais da relação com Deus? Já Percebeu?
O texto diz que estas pessoas “recebem a palavra logo, com alegria, mas
não tem raiz em si mesmo, sendo antes de pouca duração”. Vocês devem
conhecer alguém que lhe passou essa impressão! Eu posso dizer com muita
certeza, não são poucos que preferem a imaturidade espiritual à tomar a decisão
de um mergulhar profundo nas águas do Espírito Santo, isto é, na Palavra de
Deus, o manancial de vida.
Volto a dizer o seguinte: o
problema da falta de compreensão e frutificação não é por falha na semeadura. A
semente foi semeada, a Palavra foi ouvida e foi recebida. Inclusive produziu o
fruto inicial da alegria de ouvir a Palavra de Deus. O problema da falta de
compreensão e frutificação foi a imaturidade que este coração continuou a sua
jornada.
O traço mais característico
deste tipo de coração infrutífero é o modo como ele enfrenta dificuldades e a
perseguição. O texto diz que “em lhe
chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza”.
A palavra grega que deu origem ao verbo escandalizar é “eschandalizo” que
carrega uma conatação de apostasia, distanciamento.
O Evangelho para essa pessoa
não é uma pérola que se guarda com a vida. Tal pessoa imatura terá sempre o ego
como o seu deus e servirá a ele antes que a Deus. Como as crianças, mais uma
vez digo, que pensam mais em si mesmas que nos outros. É o amadurecimento que
nos faz pensar no próximo e amar a Deus mais que nós mesmos.
Se desejamos um coração que
ouve, compreende e frutifica precisamos usar todos os recursos disponíveis para
o amadurecimento da nossa fé. Precisamos aprender com a vida e suas angústicas
e não viver mais fugindo.
Para Ter Um Coração Que Ouve, Compreende e
Frutifica é Preciso Lutar Contra a Impulso Natural de Se Viver Para Si Mesmo
Com certeza, mais uma vez,
podemos afirmar que o problema não está nem no semeador, nem na semente, nem no
processo da semeadura. O texto nos informa que o que foi semeado entre os
espinhos, isto é, o homem que recebeu a palavra mas estava cercado destes espinhos,
ouviu a palavra. A questão estava na sua relação com a vida material, mais que
isso, no seu senso de propósito de todas as coisas.
Uma pessoa que compreende a
Palavra de Deus frutificará o primeiro e mais valioso fruto que ela oferecerá a
Deus é o morrer para si mesma e o viver para Deus.
Tenho guardado em meu coração
um texto, para mim, muito importante. Este texto tem me ajudado a vencer
grandes tentações. Também, quando eu caio, este texto me trás de volta a ficar
em pé:
Porque nenhum de nós vive
para si mesmo, nem morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos e,
se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do
Senhor (Romanos 14.7 e 8).
Não que você deva perder
qualquer vontade de ter isto ou aquilo, alcançar isto ou aquilo. O ponto não é
este, como se Cristo quisesse que vivêssemos sem nenhuma perspectiva pessoal de
progresso.
O ponto que Jesus está
questionando sobre os corações que não compreendem a Palavra e, portanto, não
frutificam é que eles estão concentrados em si mesmos. Portanto, Deus não é o
fim de sua existência, mas um instrumento.
Este é um impulso natural,
alguns chamam de senso de autopreservação. É verdade, mas é preciso lembrar
aqui que, ainda somos muitíssimo dominados por uma inclinação natural ao
pecado.
Na parábola temos as
seguintes colocações: “porém os cuidados
do mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera”. Minha
experiência pastoral nem é tão grande, apenas 13 anos, depois de formado e
alguns anos servindo como seminarista. Não obstante, já posso lhes dizer que
muitas vezes, chorei, ainda que não externamente, tive o coração cheio de dor,
por perceber que neste ponto, Jesus está falando sobre muitos dos crentes que
conheci.
Quando compreendermos a
Palavra morreremos, de fato, para nossos interesses e veremos que o Reino do
Amor de Deus é tudo o que realmente importa. Até lá, ainda veremos tantos se
impressionarem com o Evangelho da Prosperidade, com as orações materialistas e
com os grandes investimentos nas coisas deste mundo e os parcos investimentos
nas coisas eternas.
Se desejas um coração que
ouve, compreende e frutifica reveja o seu conceito de significado da sua
existência e reprima o impulso na natural de viver para si mesmo.
Conclusão
Você precisa ter coragem,
como eu disse no início para fazer essa autorreflexão e encontrar o verdadeiro
estado do seu coração. Não minta para si mesmo, não minta para ninguém, isto
não lhe ajudará.
Você está satisfeito com os
frutos que tem dado? Acha que pode dizer de si mesmo que está de consciência
tranquila diante de Deus. Se sim, louvado seja Deus por que sua vida está
guardada, bendiga ao Senhor por que lhe deu ouvidos para ouvir.
Mas, se por outro lado, você
está incomodado com a sua participação no Reino, você pode falar a verdade com
Deus. Diga que você tem recebido a Palavra, mas não tem reagido adequadamente. Fale
com o Senhor.
Peça a Ele eu lhe dê ouvidos
novos e um coração novo para compreender e praticar a Palavra. Rogue a Ele que
a Cruz de Cristo realmente exerça toda a
sua influência sobre você e o sangue derramado ali, tenha um significado
existencial novo para a sua vida. Não será vergonha alguma se você se
reconhecer longe do ideal e voltar para Deus. A dureza de coração, junto com a
idolatria é um dos pecados mais condenados na Escritura e, por incrível que pareça,
Deus, muitas vezes, a apontou no contexto do seu próprio povo. Não obstante,
Deus, muitas e muitas vezes disse que restauraria o seu povo se ele o buscasse
de todo o seu coração.
Aplicação para a Igreja
Presbiteriana de Vila Formosa
Que posso dizer a vocês
irmãos queridos da IP Vila Formosa. Depois de tantos anos em sua companhia,
vocês conhecem muito de perto minha vida e minhas falhas. Primeiro, eu lhes
peço que não esmoreçam se eu sou fraco. Segundo, eu lhes peço que, como vocês
sabem do meu interesse pelo progresso da sua fé, que vocês se voltem a Deus e
persigam o ideal de ser uma Igreja engajada na obra da construção do Reino.
Eu apelo a vocês que não se
deixem dominar pelo espírito deste mundo, nem se permitam ser tão imaturos que
vivam na superfície da fé. Eu, sou limitado, mas me esforço para
apresentar-lhes um Evangelho vivo e com sinceridade, diante de Deus o faço.
Aqueles que têm negligenciado
grandemente o crescimento espiritual de suas almas e fugido de momentos como
Escola Dominical, reuniões de oração e estudos bíblicos eu conclamo que revejam
este grande erro que estão cometendo contra si mesmos.
Àqueles que fogem da comunhão
com os irmãos e com frequência se ausentam da adoração, eu rogo que não
precipitem suas almas na lama de uma fé nominal apenas. Aproximem-se! Não sejam
tão insensatos, esperando uma igreja perfeita para depois servir a Deus, isto
não será possível aqui.
Aos líderes, em particular
aos pastores e presbíteros, eu peço: Santifiquem-se! Aos pais, que sejam
poderosos nas orações! Às mães que conduzam seus filhos aos pés do Senhor. Aos
jovens que vivam com Evangelho no seu dia-a-dia! Às crianças, que sejam obedientes
a seus pais e amem a Deus.
A Deus eu peço: Aviva a tua
obra, ó Senhor!
Em Cristo e no temor do
Supremo
Rev. José Mauricio Passos
Nepomuceno
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Toda mensagem escrita é apenas um registro. O sermão bíblico de fato é único, como um rio que passa e muda a cada instante. Um sermão só pode ser pregado uma única vez. Caso seja repetido em outro púlpito, ainda que use os mesmos registros, será outro, por várias razões: a) o pregador nunca é o mesmo, pois está sendo transformado a cada mensagem que prega; b) os ouvintes são outros; c) o Espírito é o mesmo, mas é dinâmico e aplica o que quer aos corações.
Obrigado por ler estes pequenos e falhos esboços!