17 de fevereiro de 2013

Mateus 13.1 a 23


Preparando o Coração Para
Frutificar
MATEUS 13.1 a 23

O conhecido texto da “Parábola do Semeador” é mais que uma passagem evangelística, que apela para que homens e mulheres estejam atentos ao modo como recebem a Palavra de Deus, este texto força-nos a uma reflexão profunda sobre aquelas coisas que nos impedem viver o Reino de Cristo em sua plenitude máxima.
Nesta meditação, quero lhes propor a leitura deste texto, observando um dos seus propósitos mais importantes, alertar para o fato de que aos Filhos do Reino é dado o privilégio de ouvir a voz de Deus. Partindo deste pressuposto, claro na estrutura do texto, devemos considerar o fato de que, mesmo os Filhos do Reino podem se tornar aqueles solos ruins onde a Palavra parece não frutificar mais.
Portanto, nossa meditação desta feita é uma proposta autorreflexiva. Exige coragem para encontrarmo-nos com o nosso “verdadeiro estado de coração” e penitentemente, segundo a Palavra de Deus, nos conduzirmos de volta à Cruz de Cristo. Muito melhor nos será sentir dores profundas para estar com Cristo, que viver em sossego de alma, caminhando para a margem oposta de onde Cristo está.

Um Coração Preparado Pela Palavra Recebe o Dom de Ouvir a Palavra de Deus e Praticá-la
Quero muito que você perceba que este texto de 23 versos tem uma estrutura relativamente simples. Então, considere o texto em si e note que podemos dividi-lo em três partes.
Do verso 1 a 9 – logo a pós uma pequena introdução, a parábola em si .
Do verso 10 a 17 – uma explicação sobre porque falou em parábolas
Do verso 18 a 23 – a explicação da parábola.
Se notarmos bem, veremos que muito deste belo texto foi dedicado ao ponto da discussão sobre o privilégio de ouvir a Palavra de Deus. Veremos que este propósito parece dominar o interesse de Mateus em vários pontos do seu Evangelho.
Desde o Sermão da Montanha, quando o desfecho era a comparação entre o homem prudente e o insensato, dizendo que a grande distinção estava no ouvir e praticar da Palavra. Até o capítulo 28, quando a Grande Comissão envolve o ato de anunciar e ensinar a Palavra, logo perceberemos que é central no pensamento de Mateus a importância do ouvir a Palavra de Deus e o fruto que ela produz em nós.
Comecemos com o verso que encerra este texto:
Mas o que foi semeado em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende; este frutifica e produz a cem, a sessenta e a trinta por um (Mateus 13.23).
Algo me chamou a atenção neste texto em minha última leitura dele. Temos a tendência de ler o texto bipartidamente, separando a primeira frase da segunda. Então, admitimos uma compreensão completa na primeira parte do versículo e da mesma forma na segunda parte, isto seria o mesmo que dizer que a segunda parte não está intencionalmente unida à primeira.
Quando fazemos uma leitura unindo as duas partes, tornando-as complementares teremos uma compreensão diferente que eu posso o resumir da seguinte maneira: aquele que frutifica a cem, a sessenta e a trinta por um, este é o que ouviu e compreendeu a palavra que foi semeada no seu coração.
Esta perspectiva de leitura poderá causar um grande terror em muitos irmãos e irmãs que até então não tinham se dado conta de que sua vida cristã está morna, como a dos crentes de Laodicéia (Apocalipse 3).
Todo este texto é sobre a capacidade de ouvir e produzir frutos. Ele se refere ao fato de que muitos judeus, chamados para serem o povo da Aliança, tinham recebido os oráculos do Senhor e os guardavam sem absolutamente permitirem com que frutos de justiça brotassem em suas vidas, advindos do poder transformador da Palavra de Deus. Estes tornaram-se burocratas da fé.
Por isso, Jesus indica a profecia de Isaías como se cumprindo neles. O povo da Aliança, que não deu ouvidos à Palavra, tornou-se infrutífero e Deus os impediria de exercerem o seu papel, até que se convertessem de todo o seu coração (leia os versos 12 a 15).
Bem aventurados, porém, os vossos olhos, porque veem; e os vossos ouvidos porque ouvem (verso 16).
Quem tem ouvidos para ouvir, ouça (verso 9).
Estes versos, compõem o pensamento de Mateus que é construído desde o capítulo 12, verso 33, onde faz menção que os frutos qualificam que tipo de árvore somos, ou ainda nos versos 46 a 50, onde afirma que sua família é a que faz a vontade de Deus.
A moldura se fecha com a parábola do trigo e do joio, onde a diferença será discernida no momento da colheita, quando os frutos de cada um forem considerados.
Enfim, é fácil perceber que não podemos nos considerar cristãos completos até que hajamos nos preocupado claramente com os frutos que temos produzidos.
John Piper, em um dos seus sermões sobre os versos 44 a 46 deste capítulo, considera que vivemos em um tempo em que milhares de cristãos vivem enganados quanto à sua fé.
We live in a superficially Christianized society where thousands of lost people think they do believe in Jesus – Nós vivemos em uma supercialmente cristianizada sociedade, onde milhares de pessoas perdidas pensam que creem em Jesus.
Não se engane sobre isto. Um coração preparado pela Palavra é capaz de ouvir e produzir bons frutos. Não refreie a sua alma quando ela pulsa por produzir bons frutos. Não permita com que os pensamentos do seu coração sufoquem a Palavra que está sendo fermentada dentro de você. Não impeça o seu crescimento.

Para Ter Um Coração Que Ouve, Compreende e Frutifica é Preciso Lutar Contra Forças Malignas
Não iremos nos deter em algumas explicações, que a maioria já ouviu e que o texto deixa bem claro, tais como, que a semente é a Palavra do Reino, que o semeador é o próprio Cristo, por meio dos seus instrumentos etc. Focaremos apenas em um detalhe: a força da malignidade como empecilho para levá-lo à frutificação.
Vem o Maligno e arrebata o que lhes foi semeado no coração.
Voltando ao sermão da Montanha, veremos que não podemos servir a dois senhores. Serviremos a Deus ou ao Maligno. Este ponto é central na Escritura: ou ouviremos a voz de Deus ou a do Maligno. Lembre-se da escolha de Eva no Éden e depois leia 2 Coríntios 11.1 a 6, e você verá esta guerra pela audiência do seu coração, que muito mais importante que a dos seus ouvidos.
Devemos notar que a parábola nos apresenta um quadro muito interessante, a semente foi arrebatada do coração, depois de ter sido efetivamente semeada. A falta de compreensão e frutificação não é explicada pela falta da verdadeira semeadura, mas do fato de que o Maligno agiu para arrebatar esta semente, os ensinos da Palavra de Deus.
Como isto pode ocorrer? Penso que podemos trabalhar com algumas hipóteses e deve haver outras. Primeiro, pense em uma pessoa que vive inserida em um sistema de vida pecaminoso. Um suposto cristão que se permite envolver em uma modelo pecaminoso. Talvez, alguém que se acerca de pessoas de hábitos mundanos, materialistas etc.
Há uma tendência grande de que o ambiente em que ele vive exerça grande influência sobre o que ele é e como pensa. O fato de se permitir viver assim, em lugar de fugir de toda a aparência do mal, o levará à estagnação espiritual diante dos ensinos da Palavra.
Talvez este seja um exemplo pequeno, mas ilustra muito bem, como muitas pessoas tornam-se infrutíferas, por menosprezarem a presença do mal e desprezarem os conselhos sábios da Palavra: Vigiai e orai para que não entreis em tentação... o vosso adversário anda em derredor rugindo como um leão... o mundo jaz no Maligno.
Não precisamos do ambiente para que o mal se manifeste na nossa vida. Na verdade, em nosso próprio coração podemos ter ainda muito enraizado modelos pecaminosos de vida, os quais ainda não tratamos, ou com os quais ainda enamoramos. Pense num crente que secretamente namora com a pornografia, com o adultério, com egoísmo etc.
Se queremos ter um coração que ouve, compreende e frutifica é preciso ter disposição de alma para lutar contra o Maligno, quer aquele que se localiza em nós, procurando constantemente a oração, o arrependimento, o quebrantamento, quanto aquele que está ao nosso redor, procurando fugir de toda aparência do mal, procurar mais a companhia dos santos e a santificação pessoal, quem sabe, se necessário, colocando-se em oposição aos que praticam maldades.

Para Ter Um Coração Que Ouve, Compreende e Frutifica é Preciso Lutar Contra a Imaturidade Espiritual
Alguém, creio que J.Parker, já disse que o cristianismo nos dias dos Puritanos  era como um pequeno lago bem profundo. Não era tão extenso, mas tinha grande distancia entre a superfície e o fundo do lago. A mesma pessoa disse que em nossos dias, o cristianismo é como imenso oceano de 10 cm de profundidade.
Você já percebeu como estamos rodeados de crentes imaturos? Pessoas que conhecem o Reino superficialmente e que se distraem facilmente com qualquer outra coisa, como as crianças se distraem? Pessoas que preferem ficar na fantasia da fé, a enfrentar as questões vitais da relação com Deus? Já Percebeu?
 O texto diz que estas pessoas “recebem a palavra logo, com alegria, mas não tem raiz em si mesmo, sendo antes de pouca duração”. Vocês devem conhecer alguém que lhe passou essa impressão! Eu posso dizer com muita certeza, não são poucos que preferem a imaturidade espiritual à tomar a decisão de um mergulhar profundo nas águas do Espírito Santo, isto é, na Palavra de Deus, o manancial de vida.
Volto a dizer o seguinte: o problema da falta de compreensão e frutificação não é por falha na semeadura. A semente foi semeada, a Palavra foi ouvida e foi recebida. Inclusive produziu o fruto inicial da alegria de ouvir a Palavra de Deus. O problema da falta de compreensão e frutificação foi a imaturidade que este coração continuou a sua jornada.
O traço mais característico deste tipo de coração infrutífero é o modo como ele enfrenta dificuldades e a perseguição. O texto diz que “em lhe chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza”. A palavra grega que deu origem ao verbo escandalizar é “eschandalizo” que carrega uma conatação de apostasia, distanciamento.
O Evangelho para essa pessoa não é uma pérola que se guarda com a vida. Tal pessoa imatura terá sempre o ego como o seu deus e servirá a ele antes que a Deus. Como as crianças, mais uma vez digo, que pensam mais em si mesmas que nos outros. É o amadurecimento que nos faz pensar no próximo e amar a Deus mais que nós mesmos.
Se desejamos um coração que ouve, compreende e frutifica precisamos usar todos os recursos disponíveis para o amadurecimento da nossa fé. Precisamos aprender com a vida e suas angústicas e não viver mais fugindo.
Para Ter Um Coração Que Ouve, Compreende e Frutifica é Preciso Lutar Contra a Impulso Natural de Se Viver Para Si Mesmo
Com certeza, mais uma vez, podemos afirmar que o problema não está nem no semeador, nem na semente, nem no processo da semeadura. O texto nos informa que o que foi semeado entre os espinhos, isto é, o homem que recebeu a palavra mas estava cercado destes espinhos, ouviu a palavra. A questão estava na sua relação com a vida material, mais que isso, no seu senso de propósito de todas as coisas.
Uma pessoa que compreende a Palavra de Deus frutificará o primeiro e mais valioso fruto que ela oferecerá a Deus é o morrer para si mesma e o viver para Deus.
Tenho guardado em meu coração um texto, para mim, muito importante. Este texto tem me ajudado a vencer grandes tentações. Também, quando eu caio, este texto me trás de volta a ficar em pé:
Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos e, se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor (Romanos 14.7 e 8).
Não que você deva perder qualquer vontade de ter isto ou aquilo, alcançar isto ou aquilo. O ponto não é este, como se Cristo quisesse que vivêssemos sem nenhuma perspectiva pessoal de progresso.
O ponto que Jesus está questionando sobre os corações que não compreendem a Palavra e, portanto, não frutificam é que eles estão concentrados em si mesmos. Portanto, Deus não é o fim de sua existência, mas um instrumento.
Este é um impulso natural, alguns chamam de senso de autopreservação. É verdade, mas é preciso lembrar aqui que, ainda somos muitíssimo dominados por uma inclinação natural ao pecado.
Na parábola temos as seguintes colocações: “porém os cuidados do mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera”. Minha experiência pastoral nem é tão grande, apenas 13 anos, depois de formado e alguns anos servindo como seminarista. Não obstante, já posso lhes dizer que muitas vezes, chorei, ainda que não externamente, tive o coração cheio de dor, por perceber que neste ponto, Jesus está falando sobre muitos dos crentes que conheci.
Quando compreendermos a Palavra morreremos, de fato, para nossos interesses e veremos que o Reino do Amor de Deus é tudo o que realmente importa. Até lá, ainda veremos tantos se impressionarem com o Evangelho da Prosperidade, com as orações materialistas e com os grandes investimentos nas coisas deste mundo e os parcos investimentos nas coisas eternas.
Se desejas um coração que ouve, compreende e frutifica reveja o seu conceito de significado da sua existência e reprima o impulso na natural de viver para si mesmo.

Conclusão
Você precisa ter coragem, como eu disse no início para fazer essa autorreflexão e encontrar o verdadeiro estado do seu coração. Não minta para si mesmo, não minta para ninguém, isto não lhe ajudará.
Você está satisfeito com os frutos que tem dado? Acha que pode dizer de si mesmo que está de consciência tranquila diante de Deus. Se sim, louvado seja Deus por que sua vida está guardada, bendiga ao Senhor por que lhe deu ouvidos para ouvir.
Mas, se por outro lado, você está incomodado com a sua participação no Reino, você pode falar a verdade com Deus. Diga que você tem recebido a Palavra, mas não tem reagido adequadamente. Fale com o Senhor.
Peça a Ele eu lhe dê ouvidos novos e um coração novo para compreender e praticar a Palavra. Rogue a Ele que a Cruz de Cristo realmente exerça toda  a sua influência sobre você e o sangue derramado ali, tenha um significado existencial novo para a sua vida. Não será vergonha alguma se você se reconhecer longe do ideal e voltar para Deus. A dureza de coração, junto com a idolatria é um dos pecados mais condenados na Escritura e, por incrível que pareça, Deus, muitas vezes, a apontou no contexto do seu próprio povo. Não obstante, Deus, muitas e muitas vezes disse que restauraria o seu povo se ele o buscasse de todo o seu coração.

Aplicação para a Igreja Presbiteriana de Vila Formosa
Que posso dizer a vocês irmãos queridos da IP Vila Formosa. Depois de tantos anos em sua companhia, vocês conhecem muito de perto minha vida e minhas falhas. Primeiro, eu lhes peço que não esmoreçam se eu sou fraco. Segundo, eu lhes peço que, como vocês sabem do meu interesse pelo progresso da sua fé, que vocês se voltem a Deus e persigam o ideal de ser uma Igreja engajada na obra da construção do Reino.
Eu apelo a vocês que não se deixem dominar pelo espírito deste mundo, nem se permitam ser tão imaturos que vivam na superfície da fé. Eu, sou limitado, mas me esforço para apresentar-lhes um Evangelho vivo e com sinceridade, diante de Deus o faço.
Aqueles que têm negligenciado grandemente o crescimento espiritual de suas almas e fugido de momentos como Escola Dominical, reuniões de oração e estudos bíblicos eu conclamo que revejam este grande erro que estão cometendo contra si mesmos.
Àqueles que fogem da comunhão com os irmãos e com frequência se ausentam da adoração, eu rogo que não precipitem suas almas na lama de uma fé nominal apenas. Aproximem-se! Não sejam tão insensatos, esperando uma igreja perfeita para depois servir a Deus, isto não será possível aqui.
Aos líderes, em particular aos pastores e presbíteros, eu peço: Santifiquem-se! Aos pais, que sejam poderosos nas orações! Às mães que conduzam seus filhos aos pés do Senhor. Aos jovens que vivam com Evangelho no seu dia-a-dia! Às crianças, que sejam obedientes a seus pais e amem a Deus.
A Deus eu peço: Aviva a tua obra, ó Senhor!


Em Cristo e no temor do Supremo
Rev. José Mauricio Passos Nepomuceno

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