Êxodo 20.17

“Não Cobiçarás”

Êxodo 20.17

Introdução

A relação com Deus e com o próximo é fortemente afetada pela “cobiça”. Esta forma de pensar do coração humano destrói o relacionamento com o próximo e com Deus, pois além de não mostrar nossa voluntária atenção e contentamento com as coisas que Deus nos dá, também nos torna incapazes de aceitar voluntariamente e resignadamente as coisas que o Senhor concede ao nosso próximo.

Em nossa meditação sobre os valores pretendidos no décimo mandamento, buscaremos conhecer melhor a vontade do Senhor quanto à nossa relação com a providência de Deus e o suprimento da vida do nosso próximo. 

Não Cobiçar - Uma Luta Pessoal Contra o Desejo do Coração

A pior luta que travamos em nossa jornada espiritual é contra nós mesmos. O décimo mandamento é uma ordenança para que toda a nossa atenção seja dada a esse combate interno em nossa alma.

O verbo hebraico “Chamad”, traduzido no Decálogo por “cobiçar” carrega a ideia do desejo implícita em sua raiz. Foi este o verbo que definiu o desejo pecaminoso de Acã, em Josué 7.21:

Quando vi entre os despojos uma boa capa babilônica, e duzentos siclos de prata, e uma barra de ouro do peso de cinquenta siclos, cobicei-os e tomei-os; e eis que estão escondidos na terra, no meio da minha renda, e a prata, por baixo (Josué 7.21).

Acã exemplifica a costumeira perspectiva humana de busca pessoal do sucesso. Certamente, ele pensou no futuro de sua família e, entendendo com o coração humano que toda aquela riqueza seria desperdiçada se não fosse aproveitada, resolveu atender ao seu pensamento de autossobrevivência, guardando para si o que Deus havia vetado.

A cobiça é como uma mola que nos impulsiona a viver a despeito da vontade de Deus. Ela nos convence os pensamentos de que devemos nos suprir do que queremos e não apenas do que nos é dado por Deus. A cobiça nos conduz a muitos pecados.

Ninguém, ao ser tentado, diga: sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrário, cada um tentado por sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá a luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte (Tiago 1.13-15).

Quando Deus disse ao povo de Israel que não tomasse para si nada do que fosse despojo da cidade de Jericó, tinha em seu coração uma outra ocasião em que daria ao seu povo tudo o que ele precisasse para viver na nova terra que passavam a possuir. A desobediência de Acã era uma grosseira falta de confiança nesse propósito santo do Senhor e em sua providência, tanto quanto era uma deliberada busca de prover para si mesmo o sustento, a despeito de Deus.

A cobiça é uma força que atua dentro do nosso coração e devemos resistir aos seus impulsos. Talvez o raciocínio de Acã fosse plausível: a prata, a capa, o ouro, serão queimados, que desperdício! Por outro lado, depois de andar tanto tempo no deserto, vivendo sem muita coisa, tenho a oportunidade de começar o meu “pé de meia” e com algo que não pertence a ninguém, com algo que será, certamente, tomado por algum nômade que passar por aqui. Sim, irmãos, podemos pensar em muitas coisas que justifiquem a nossa cobiça, mas precisamos lutar contra esses pensamentos.

O duro da luta contra a cobiça é que devemos claramente lutar contra o nosso próprio coração e descansar na providência de Deus. Devemos inserir um botão em nossa mente: o botão “espere no Senhor”.

Não Cobiçar - Uma Luta Pessoal Contra a Falta de Alegria no Sucesso do Próximo - A questão da Inveja

No décimo mandamento, mais uma vez, Deus nos conduz à questão do relacionamento de amor para com o próximo.

O ser humano é dominado por um espírito competitivo. Constantemente, somos levados a viver debaixo do estigma da comparação com o outro. Então, desde pequenos, queremos que os nossos brinquedos sejam melhores que o do outro e ter conquistas que sejam valorizadas mais que os outros.

Ainda que não pensemos nisso constantemente, ficamos muito incomodados quando alguém do nosso convívio, nos mostra relativo sucesso e o nosso esforço não é recompensado da mesma maneira. Além de mostrarmos nossa contrariedade com a providência divina sobre a nossa vida, parece que não nos alegramos muito com a abundância da providência divina sobre a vida do outro. Vale a pena relembrar o tópico anterior e reafirmar: nessa matéria, estamos lutando contra o nosso coração.

Voltando novamente ao exemplo de Caim e Abel, vemos que Caim não se alegrou na bem aventurança do irmão. Ele não ficou satisfeito com a vitória de Abel. O problema não tinha a ver apenas com o seu erro e a sua insatisfação com o que Deus lhe reservara, ele estava completamente infeliz porque o seu irmão mais novo havia produzido algo melhor que ele e alcançado mais sucesso que ele. Então, por isso, a sua revolta contra Deus era também revolta contra Abel e o matou.

Não vamos e nem queremos admitir que detestamos o fato de que o nosso colega de classe tenha notas melhores que as nossas, ou que tenha um emprego mais rentável que o nosso. Não iremos admitir que ficamos incomodados com isso. Então, não vou perguntar a ninguém o que você sente quando o seu próximo alcança o sucesso que você queria para você.

Mas, o fato é que precisamos lidar claramente com essa cobiça do coração e tratar essa falta de alegria com o sucesso do próximo. Um exemplo de cobiça exasperada vimos em Arão e Miriã. Eles invejaram a relação entre Moisés e Deus e falaram contra o escolhido de Deus.

Porventura, tem falado o Senhor somente a Moisés? Não tem falado também a nós? O Senhor os ouviu. (...) Logo o Senhor disse a Moisés, a Arão e a MIriã: Vós três, saí à tenda da congregação. E saíram os três. Então, o Senhor desceu na coluna de nuvem e se pôs à porta da tenda; depois chamou a Arão e a MIriã, e eles se apresentaram. Então disse: Ouvi, agora, as minhas palavras; se entre vós há profeta, eu, o Senhor, em visão a ele, me faço conhecer ou falo com ele em sonhos. Não é assim com omeu servo Moisés que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a forma do Senhor; como, pois, não temestes falar contra o meu servo, contra Moisés? (Números 12.2-8).

A este sentimento negativo que temos em relação ao progresso do nosso próximo, chamamos normalmente de inveja. Ela é um claro desconforto com o progresso, o sucesso e o crescimento do próximo. Às vezes, até mesmo invejamos os ímpios, como o salmista no Salmo 73.

A cobiça produz guerras e o coração do cobiçoso nunca está satisfeito, porque a sua cobiça nunca é suprida, uma vez que ela sempre está insatisfeita com as coisas que recebe de Deus.

A cobiça leva o homem a desprezar e até mesmo matar o próximo. Ela conduz o homem à prática da injustiça e ao desamor. Ela move o coração do homem pela força do egocentrismo e não pode, portanto, alegrar-se com os que se alegram e nem chorar com os que choram.

Devemos lutar para que o nosso coração aprenda a se alegrar com o sucesso do nosso irmão e sentir a dor de suas perdas. Devemos fazer de tudo para entender e aplicar isso em nossa vida.

Não Cobiçar - Uma Luta Pessoal em Favor do Crescimento do Nosso Próximo em todas as áreas de sua vida

O décimo mandamento faz uma lista de coisas que não devemos cobiçar do nosso próximo. Acredito que não seja uma lista compreensiva de todos os elementos que não devem ser cobiçados, mas tem um conteúdo exemplar de todas as diversas possibilidades de cobiça.

Não cobiçar a casa do próximo - parece ser um resumo de tudo o que não se pode cobiçar, a própria vida do próximo e suas conquistas.

Não cobiçar a mulher do seu próximo - tem a ver com a família do seu próximo. Esse tópico vai além da questão do adultério, é um sentimento de insatisfação com o fato de Deus ter dado ao seu próximo elementos familiares que não deu a você. 

Não cobiçar o seu servo e a sua serva - parece estar ligado à questão do status social. O sistema antigo de produção era baseado na mão de obra da lavoura e, portanto, quanto mais servos a seu serviço possuísse um homem, mais era próspero o seu negócio e maior o seu status social. Deus nos proíbe cobiçar o status social do outro.

Não cobiçar o seu boi, jumento nem coisa alguma que pertença ao seu próximo - tem a ver com toda a vida material e as conquistas que o outro venha a ter. Não somente material, mas também intelectual, emocional etc. 

Todas essas áreas exemplificadas nessas palavras mostram que Deus quer que tenhamos paz em nosso coração com o que temos e não nos comparemos com o nosso próximo para medirmos o grau de nossa própria felicidade.

Mas, por outro lado, devemos pensar no seguinte: Se Deus dá coisas ao nosso próximo que não dá a nós, qual é a expectativa de Deus para com a nossa postura em relação às coisas do próximo?

Deus deseja que nos alegremos com as vitórias do nosso próximo e nós devemos em tudo lutar para que nosso coração aprenda essa virtude. Agora, mais que apenas nos satisfazer com o sucesso do nosso próximo, esse mandamento nos impulsiona a participar do crescimento do nosso próximo.

Se o teu próximo precisa de seu conselho para fazer um negócio que lhe renderá um bom dinheiro e você pode fazê-lo, não lhe negue. Se o seu apoio é imprescindível para que ele se sinta confortável em dar um passo a mais de progresso em alguma área não se afaste disso.

Pense, cada vez mais, em que o seu crescimento pessoal está inteiramente ligado ao crescimento do seu próximo. Por isso, não resista em ajudar alguém na medida em que estiver ao seu alcance fazê-lo. Torça pelo seu próximo, mas também ajude-o em seu progresso.

CONCLUSÃO

Penso que a melhor conclusão dessa mensagem tem a ver com a palavra “luta”. De fato, admitamos que estamos em uma constante e completa luta contra o nosso próprio coração. Mas podemos vencer esse combate.

Dizem que a melhor defesa é o ataque. Acredito, então, que a melhor maneira de não quebrar o décimo mandamento é o desenvolvimento de uma cultura de trabalho em favor do próximo.

Eu chamo você a, sempre que possível, sempre que Deus o requisitar a fazer parte da construção da vida de alguém você trabalhar pelo benefício o doutro, sem pensar em recompensa, sem pesar em seu coração o que você irá ganhar, mas sempre em como o outro pode ganhar com a sua participação.

Nada melhor que um coração disposto a pensar no próximo para desenvolver um verdadeiro cristianismo. Ou seja, Cristo é o melhor exemplo de alguém que pensava no outro e serviu a Deus, servindo a seu próximo. Até mesmo os que lhe maltrataram na cruz receberam a palavra “Perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. 

Aplicação para a Igreja Presbiteriana de Vila Formosa

O elogio e o regozijo com a vitória do próximo deveria ser sempre uma prática em nosso meio. Mas, às vezes, investimos muito naquilo em que somos protagonistas, onde os holofotes recaem sobre nós. Entendo que a cobiça pode estar se escondendo aí.

Um espírito de valorização do próximo poderá romper entre nós um novo modelo de participação, que tem a ver com a valorização do serviço do outro, com aquilo que promove a honra e a reputação do outro. Assim, um dos problemas mais comuns da liderança será desfeito, qual seja, o problema da falta de apoio.

O apoio ao trabalho tem sido a tarefa mais desgastante de toda a liderança. Como fazê-los animarem-se pelas propostas desenvolvidas aqui. Todos sofremos um pouco com isso. Acredito que o investimento na valorização do outro seria a resposta mais bíblica a isso.

Oração

Ajuda-nos a ter um amor sincero uns para com os outros. Amém.