O Batismo Com o Espírito Santo
Foco da Nossa Condição Decaída
Devemos desejar seguir Jesus e o faremos com base em um poder do Alto, o Espírito Santo. O texto nos mostra que o Espírito Santo é a ferramenta celestial para nos consagrar a Jesus, pois, por nós mesmos somos incapazes de assumir qualquer posição no Reino dos Céus.
Nossa condição pecaminosa precisa ser revestida de Cristo, por meio do Espírito Santo. O que Marcos deseja indicar é que andar com Jesus implica em uma entrega total de confiança naquele que é o Filho de Deus e não um resultado da força ou do poder do homem.
Introdução
Falando um pouco mais sobre este Evangelho. Destacamos o fato de que a maior parte dos estudiosos entendem que Marcos teria sido o primeiro dos quatro evangelhos a ser escrito.
Já mencionamos a possibilidade de ter sido João Marcos, o sobrinho de Barnabé o seu autor e teria feito sob a orientação de Pedro. É claro que estas afirmações não podem ser totalmente comprovadas, mas inferidas por algumas evidências. Outra afirmação a ser pensada é o público inicial. Pensamos em um público romano. Isso decorre do uso dos nomes dados às moedas como “denário” ou “quadrante”, especialmente o “quadrante” que só se acha registrado em Marcos na oferta da viúva pobre.
Sabemos, entretanto, que o público não era judaico. Uma vez que uma característica deste evangelho é descrever alguns ritos judaicos, explicando-os. Obviamente, os leitores do Evangelho não conheciam muito bem a tradição destes ritos. Um bom exemplo disto é Marcos 7.1-3.
Ora, reuniram-e a Jesus os fariseus e alguns escribas, vindos de Jerusalém. E, vendo que alguns dos discípulos dele comiam pão com as mãos impuras, isto é, por lavar (pois os fariseus e todos os judeus, observando a tradição dos anciãos, não comem sem lavar cuidadosamente as mãos) (Marcos 7.1-3).
Uma das perguntas mais importantes para fazermos a essa passagem é: o que Marcos queria que seus leitores entendessem a respeito de Jesus e porque era importante que eles refletissem sobre isso?
Evidentemente, o fato de os leitores iniciais não serem de descendência judaica ou não conhecerem bem essas tradições sugere muito sobre o que seria muito importante que aprendessem e que Marcos desejasse que refletissem.
Um dos aspectos que nos chama a atenção nesse Evangelho é que ele se concentra em dois títulos de Jesus: Messias, o Cristo e Filho de Deus. Ambos com uma conexão profunda ao Velho Testamento.
Outro aspecto que enfatiza isso é que as passagens do Velho Testamento, são a moldura para a fala de Marcos nestes primeiros versículos.
Marcos vai direto ao ponto e está claro que está disposto a descrever o ministério de Jesus Cristo o Filho de Deus e como este ministério é a Boa Nova (Evangelho) de salvação para o que crê.
No trecho que estamos lendo esta noite, o que temos em destaque é a superioridade de Jesus Cristo em relação à João. Essa superioridade é demonstrada principalmente no fato de que Cristo batiza com o Espírito Santo.
João propunha aos seus ouvintes uma mudança no deserto de sua relação com Deus. Uma mudança como os próprios textos proféticos já indicavam.
Os leitores de Marcos não são as pessoas que foram ao deserto para serem batizadas por João, mas esses leitores deveriam entender que a mesma graça que era oferecida no deserto, na pessoa de João, era oferecida a todos eles, só que em grau superior, na pessoa e obra de Jesus Cristo, o Filho de Deus.
Essa era a intenção de Marcos com os seus leitores que eles entendessem e desejassem o batismo com o Espírito Santo como a verdadeira experiência de vida com Deus, o verdadeiro pasto verdejante substituto do deserto árido e desolado.
Eu penso que esse entendimento sobre a pessoa de Jesus Cristo é uma das faltas que temos em nosso atual modo de vida cristã. Muitos sequer compreendem que Cristo Jesus veio ao mundo para nos dar vida em abundância, porque sequer se compreendem em vidas ressequidas e distantes do Senhor.
O batismo com o Espírito Santo é a única maneira de verdadeiramente vivenciarmos essa nova vida. O batismo com o Espírito Santo, em Marcos é a marca da nova vida em Cristo Jesus.
Não estamos interessados nas discussões teológicas que separam Pentecostais e Reformados. Estou interessado em explorar o Batismo com o Espírito Santo como a verdadeira obra de introdução no caminho novo de vida, que contrasta com a vida árida e desolada de uma fé distante de Deus.
O Batismo Com o Espírito Santo
é
Uma Obra da Graça
Pois Deus Vai ao Nosso Encontro
no Deserto
Seguindo a rotina proposta no sermão pregado nos primeiros versos. O que vemos é que os versos 7 e 8 são introduzidos pela descrição da figura de João Batista.
As vestes de João eram feitas de pelos de camelo; ele trazia um cito de couro e se alimentava de gafanhotos e mel silvestre (Marcos 1.6).
É evidente a ligação entre João Batista e os profetas do Velho Testamento. É importante notar que Marcos deseja que essa ligação fique bem clara e especialmente a ligação entre João Batista e o ministério do profeta Elias (2 Reis 1.8 Marcos 9.13).
Contudo, nossa observação deste verso caminha noutro detalhe. O início do Evangelho é uma descrição clara do lugar onde Deus chama o seu povo ao arrependimento e esse lugar é o deserto.
João Batista se vestia com pelos de camelos porque esse tipo de vestimenta apontava para o lugar onde vivia e o enfatizava. As vestes de pelos era o modo como os peregrinos do deserto andavam porque era a mais adequada àquela aridez e calor intensos. Elas protegiam à noite também do frio e, por causa do peso, não eram perdidas durante os intensos ventos do deserto. Por isso, eram amarradas também com um cito de couro, que não se rompia facilmente como os de linho.
Sua dieta, de gafanhotos e mel silvestre era uma dieta compatível com tudo o que se podia encontrar em mais abundância no deserto. Ela indicava que um homem do deserto se alimentava do deserto e vivia nas condições impostas pelo deserto.
Marcos está criando uma imagem sobre as condições de total incapacidade humana para a busca de Deus. Deus veio ao deserto pregar o arrependimento e, nestas condições foi que anunciou uma relação nova entre Deus e seu povo, baseada no poder de Cristo e no batismo, isto é, o recomeço que ele propunha.
Esse versículo introdutório deve ser visto como uma espécie de preparação da mente para a concepção de salvação exclusivamente pela graça. E isto poderá ser observado em todo o Evangelho, pois ele enfatiza o poder de Cristo Jesus, o Filho de Deus e a necessidade e impossibilidades dos que são por ele alcançados.
Destaco neste sentido uma passagem do capítulo 7, a cura da filha de uma mulher síro-fenícia:
Levantando-se, partiu dali para as terras de Tido (de Sidon). Tendo entrado numa casa, queria que ninguém o soubesse; no entanto, não pôde ocultar-se, porque uma mulher, cuja filhinha estava possessa de espírito imundo, tendo ouvido a respeito dele, veio e prostrou-se-lhe aos pés. Esta mulher era grega, de origem siro-fenícia, e rogava-lhe que expelisse de sua filha o demônio. Mas Jesus lhe disse: Deixa primeiro que se fartem os filhos, porque não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-los aos cachorrinhos. Ela, porém, lhe respondeu: Sim, Senhor; mas os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem das migalhas das crianças. Então lhe disse: Por causa dessa palavra, podes ir: o demônio já saiu de tua filha (Marcos 7.24-29).
O Batismo com o Espírito Santo não é uma experiência dado à pessoas especiais que se destacam dos demais. Ele é oferecido aos pecadores quando ainda estão andando no deserto. Trata-se de Deus, com sua graça e misericórdia, alcançando-nos e clamando a nós que endireitemos as veredas, enquanto nossos caminhos ainda são pelo meio do deserto.
O Evangelho de Marcos é um clamor a pessoas que precisam de Cristo e precisam reconhecer isso. Para muitas pessoas, o privilégio de servir a Deus só poderia ser dado a pessoas dignas e cheias de fé. O que é importante que destaquemos aqui é que Deus o faz por meio de sua poderosa graça, sem a qual nada poderemos fazer.
O verso 7, dará sequencia a esse pensamento, mostrando o modo como João se compreendia indigno de ser servo de Jesus Cristo.
O Batismo Com o Espírito Santo
é
Uma Obra do Poder de Deus e Não do Poder do Homem
Os leitores de Marcos talvez tivessem uma consciência muito clara da importância da figura de João Batista. Aliás ele é uma das personagens bíblicas do Novo Testamento que tem comprovações históricas fortes fora do contexto da religiosidade cristã.
Flávio Josefo, o conhecido historiador judeu, fala de João Batista e o coloca no deserto ligando-o a uma comunidade judaica retirada, conhecida como “essênios”.
João era de fato uma personagem conhecida e que chamava muito a atenção de todos que conheciam a sua história. Marcos, entretanto, faz questão de deixar clara a posição do próprio JOão a respeito de como se enxergava na sua relação com o Cristo.
E pregava, dizendo: após mim vem aquele que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de, curvando-me, desatar-lhe as correias das sandálias (Marcos 1.7).
No verso 4, Marcos enfatiza o conteúdo da pregação e o seu objetivo: o arrependimento, o recomeço. Aqui, ele mostra a consciência de JOão Batista na sua relação como Messias.
Essa clara noção de diferenciação era importante ser destacada, devida a grande repercussão do ministério de João Batista.
O Evangelho de João, na sua parte inicial faz questão de apresentar essa diferenciação, dizendo que João testemunhava da luz, mas ele não era a luz:
Houve um homem, enviado por Deus cujo nome era João. Este veio como testemunha para que testificasse a respeito da luz, a fim de todos virem a crer por intermédio dele. Ele não era a luz, mas para veio para que testificasse da luz (João 1.6-8).
O povo até confundia Jesus Cristo com João Batista:
Quem dizem os homens que sou eu? E responderam: João Batista; outros Elias, mas outros: algum dos profetas (Marcos 8.27-28).
Após mim vem aquele que é mais poderoso do que eu - hisquiróteros - é a palavra usada por Marcos para descrever o sentimento de João ao se referir a Jesus. Ele estava exaltando a posição de Cristo como alguém em uma escala tão elevada de poder que não seria possível sequer comparar. O poderoso descrito por João era como se fosse o filho do Rei que viria a um vilarejo substituir um dos seus servos responsáveis locais.
Do qual eu não sou digno de desatar as sandálias - No oriente antigo, era costume que um senhor chegasse à sua casa, vindo de suas viagens pelos caminhos empoeirados e seus servos lhe oferecessem uma bacia de água para lavar os pés.
Eles deveriam descalçar-lhe as sandálias e depois deitar os seus pés em água para lavá-los. Este privilégio era dado somente a servos de grande confiança e com grande aceitação por parte do seu senhor, os servos mais chegados.
João Batista se apossa dessa figura e enfatiza que sua condição diante do poder que virá após ele é descrito pela sua total incapacidade e indignidade.
O poder que opera a transformação da nossa vida de deserto em manancial não é vinda de homens. Não pode ser manipulada pelos homens, não pode ser controlada por eles, não pode sequer ser recebida por eles, como já dissemos, se não for a graça.
A condição mais evidente de nossa ligação com Cristo é a nossa total percepção de seu poder e glória. O batismo com o Espírito Santo não é ministrado por homens. Não pode ser considerado um poder da Igreja ou de qualquer um dos seus ministros.
É um erro buscar uma experiência viva com Deus sem se render a Cristo somente. Os romanos e os gregos também confiavam no seu poder e na sua sabedoria, mas logo percebemos que este evangelho vem nos mostrar que a boa nova é que Deus veio salvar os humildes.
O Batismo Com o Espírito Santo
é
Uma Obra de Mudança Interior
Já nos referimos ao fato de que a moldura das profecias do Velho Testamento estão presentes nesse Evangelho. Uma das profecias mais importantes para o contexto da Igreja neo-testamentária é a de Joel, capítulo 2, verso 28.
E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda carne [...] (Joel 2.28).
Essa profecia foi tomada por Pedro no seu grande sermão no Pentecostes e sobre ela ele afirmou que se cumpria no dia em que o Espírito Santo desceu sobre a igreja e os discípulos falaram as grandezas de Deus em outras línguas.
Mas o que ocorre hoje é o que foi dito por intermédio do profeta Joel (Atos 2.16).
Marcos usa a ideia de batismo o libação, derramar um líquido sobre as pessoas ou fazê-las entrar nele para comparar com o que Cristo fará com o seu Espírito. No caso, derramando o Espírito sobre as pessoas. Como de fato aconteceu no Pentecostes.
Meus irmãos, o ponto central a ser destacado na figura que João usa é que o seu batismo tinha um poder limitado de simbolizar externamente uma mudança, mas o batismo que Jesus operaria ocorreria no âmbito da obra sobrenatural da mudança feita pelo Espírito Santo.
O profeta Ezequiel, também falando sobre essa mudança e esse recomeço pelo batismo com o Espírito Santo diz assim:
Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis (Ezequiel 36.26-27)
Duas coisas devemos destacar sobre o modo como Marcos deseja que os seus leitores entendam. Primeiro destacamos a voz ativa da expressão “ele vos batizará”. O que implica em dizer que ele o fará e agirá segundo o seu querer.
O segundo aspecto é que esse batismo interior, operado por Cristo é o alvo da nova vida que todos os leitores devem almejar.
Da mesma forma, podemos entender hoje que esse é o ponto central da nossa nova vida com Deus. Não se trata em uma vida baseada em rituais exteriores somente: ir a igreja, cantar hinos, fazer orações. Trata-se muito mais de uma decisão de mudança interior que provoque realmente algo novo em nosso viver.
Um texto que me chama muito a atenção em Marcos é aquele que retrata o dia em que Maria e os outros irmãos de Jesus foram chamá-lo em um certo lugar onde ele ministrava o seu ensino. Eles chegam ao lugar e mandam chamá-lo, mas ele olha para todos os que o ouvem e pergunta: quem é minha mãe e meus irmãos? Ele mesmo responde:
E, correndo o olhar pelos que estavam assentados ao redor, disse: Eis minha mãe e meus irmãos. Portanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe (Marcos 3.34-35).
Junte isso ao que nos disse o profeta Ezequiel e veremos o que realmente significa “batismo com o Espírito”. Evidentemente, trata-se de um divisor de águas, que separa realmente os que entregaram a Jesus a sua vida e nele confiaram como sendo o seu único e suficiente salvador.
Conclusão
O Evangelho de Marcos é uma grande exaltação da pessoa e obra de Jesus Cristo do começo ao fim. Ele faz isso mostrando a nossa necessidade. Precisamos reconhecer isso e precisamos de Jesus desesperadamente.
O enchimento do Espírito Santo é a única possibilidade real de uma vida de relacionamento com Deus de um modo que o agrade.
Eu o convido a uma reflexão completa sobre sua relação com Deus. Também o convido a buscar esse enchimento do Espírito Santo e esse preencher da vida com os valores que devem nortear um novo caminhar com Cristo Jesus.
Não seja enganado, a verdadeira experiência de vida com Deus não acontecerá porque somos capazes de forjá-la. Não se trata de uma obra baseada no poder do homem. Antes precisamos saber que acontecerá no meio dos nossos desertos. Quando nos alimentamos do deserto e percebemos que há algo melhor a ser buscado. Também devemos vivencia-la de forma interior e buscá-la com avidez que ultrapasse a ideia de uma reputação cristã, mas uma vida plena diante de Deus.
Aplicação Para a Igreja Presbiteriana de Vila Formosa
Meus amados irmãos. Esse é o tipo de igreja que esperamos viver aqui. Ela é baseada em compromissos com Deus que ultrapassem os valores exteriores da nossa fé.
O que realmente esperamos e buscamos para cada membro da igreja é uma vida real diante de Deus, ou como diziam os antigos “Coram Deo”.
Esse tipo de vida começa em um verdadeiro quebrantamento e reconhecimento do deserto. Ela passa por uma busca que não é norteada pela capacidade pessoal ou a capacidade humana de produzir ambientes religiosos.
Devemos esperar que algo realmente vindo dos céus nos transforme e molde o nosso coração. Não podemos viver sem que do Alto sejamos revestidos e, cada vez mais, fortalecidos. Então, a Igreja Presbiteriana de Vila Formosa deve se sentir convocada a buscar a viver com avidez a busca do Enchimento do Espírito Santo e de uma relação com Deus digna.
Oração
Enche-nos Espírito, mais que cheio queremos estar.
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Toda mensagem escrita é apenas um registro. O sermão bíblico de fato é único, como um rio que passa e muda a cada instante. Um sermão só pode ser pregado uma única vez. Caso seja repetido em outro púlpito, ainda que use os mesmos registros, será outro, por várias razões: a) o pregador nunca é o mesmo, pois está sendo transformado a cada mensagem que prega; b) os ouvintes são outros; c) o Espírito é o mesmo, mas é dinâmico e aplica o que quer aos corações.
Obrigado por ler estes pequenos e falhos esboços!