“A Purificação do Templo”
(Marcos 11.15-19)
Foco da Nossa Condição Decaída
Enquanto não nos tornarmos verdadeiramente em adoradores do Senhor, não teremos vivenciado a perfeita experiência de uma vida que frutifica. Este texto nos conduz a uma reflexão sobre todos os elementos que nos atrapalham na construção de uma existência doxológica, principio fundamental da felicidade no Reino de Deus, porque o temor do Senhor é o princípio da sabedoria. Consideremos estes elementos e refaçamos nossa adoração, segundo os moldes da Palavra do Senhor.
Introdução
Na última semana, tivemos a oportunidade de meditar no texto anterior, o episódio da figueira sem frutos (Marcos 11.11-14). Na ocasião fizemos afirmações quanto ao fato de que a figueira estava diretamente ligada à figura do templo.
Para corroborar a interligação destas passagens veja que o versículo 10, indica o início de uma grande sessão que irá se fechar no capítulo 13, verso 27.
AS cenas descritas nestes capítulos tem uma conexão profunda com o templo e o questionamento de Jesus quanto ao seu real valor.
Em geral, Jesus condena o fato de que as pessoas se valiam do templo não pelo seu valor em relação a Deus, mas pelo que podiam usufruir pessoalmente dele. Eles se aproximavam de Deus no intuito de buscarem apenas a si mesmos.
Uma frase de todo este contexto que me chama a atenção é que Jesus disse no templo: Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus (Mc 12.17).
Ele, ao sair do Templo, depois de tudo observar ali, disse a seus discípulos: “Não ficará pedra, sobre pedra que não seja derribada” (Mc 13.2b).
Meus irmãos, precisamos pensar mais seriamente na nossa vida como adoradores. Essa é a vida da igreja, a adoração. Isto é que dá sentido a tudo mais que fazemos aqui.
A construção dos relacionamentos cristãos, as aulas de Escola Dominical, a nossa inserção social, nossas organizações, cargos e todos os trabalhos que desenvolvemos e, também todas aquelas bênçãos que nos são dadas todos os dias, como a comida, a roupa, o trabalho etc. Tudo deve servir como ferramenta em prol de uma vida doxológica, uma vida de adoração sincera e devotada a Deus.
Se isso não estiver acontecendo. Se as coisas que você tem e tudo o que te cerca não está seguindo este propósito maior e final da sua existência, acredite: algo está fora do lugar e precisa ser expurgado da sua vida.
Consideremos algumas das coisas que precisavam ser expurgadas do templo e lançadas para longe. Vejamos no texto que temos diante de nós e identifiquemos isto com a nossa vida hoje.
Você precisa expulsar da sua vida como Templo de Deus as motivações egocentradas para a adoração
Não é novidade para ninguém, mas uma triste realidade que todos já sabem, temos uma crescente busca da espiritualidade por motivos completamente interesseiros.
E foram para Jerusalém. Entrando ele no templo, passou a expulsar os que ali vendiam e compravam; derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas (Mc 11.15).
O templo é um dos temas principais das Escrituras. O que deve ser um templo verdadeiro: um lugar de encontro com Deus, um lugar onde ele se situa no centro de todas as atenções e intenções, tudo existe para Ele e para adorá-lo.
O templo começou no Jardim do Éden, onde todas as coisas foram criadas perfeitas e em perfeito funcionamento para que tudo glorificasse a Deus. Não havia paredes, construções, estipulações formais, porque a vida era o templo, onde Deus ocupava o principal lugar.
Com a entrada do pecado, outro Deus assumiu o lugar do interesse humano, o ego. Ele passou a ser o eixo em torno do qual tudo gira. O próprio interesse, o auto interesse é o centro da adoração no mundo após o pecado. O homem foi expulso do jardim e deve agora lutar para manter o seu foco em Deus.
Nos dias de Moisés Deus deu o tabernáculo, um templo provisório e nômade. Ele deveria ser montado no centro do acampamento israelita e ali mostrava o ponto central da vida: Deus. O mesmo aconteceu quando Salomão construiu o primeiro templo no alto do monte Moriá. Ele era o centro do interesse e intenções do povo, o centro da vida de Israel.
Mas, aos poucos, novamente, os homens e mulheres transformaram o templo em um lugar da busca dos seus interesses e Deus não lhes era mais importante. Eles vinham ao templo em busca de si mesmos e não de Deus.
Quero lhes dizer que há muitas queixas bíblicas contra o fato de que os homens, não buscavam a Deus, mas a si mesmos e idolatricamente diziam servir a Deus, mas tinham o coração longe do Senhor.
Era tão distante que, nos dias de Ageu e Zacarias eles se preocuparam em construir as suas casas e deixaram o templo Senhor à míngua e nos dias de Malaquias eles desprezavam a Deus dando-lhe apenas o que lhes era expurgo.
Quando Jesus Cristo entrou no templo e percebeu, já no átrio dos gentios que o interesse humano superava todas as verdadeiras razões de existir do templo ele logo começou a revirar as mesmas e por zelo com a casa de Deus, com o próprio Deus, não se segurou diante de tamanha afronta dos homens.
Não somente os que vendiam, mas também os que compravam. Ninguém criava seus animais e cuidavam de um novilho cevado para oferecer a Deus como resultado de uma vida. Era mais fácil cumprir a obrigação com Deus, comprando num verdadeiro mercado da fé.
Infelizmente continuamos a ter vendilhões e consumidores de uma fé barata, cujo propósito da vida não está concentrado em Deus, mas em si mesmos. Este tipo de atitude precisamos expurgar da nossa vida de adoração.
Eu não posso participar só do que eu gosto, ou fazer só o que me agrada. Eu não preciso fazer tudo e posso escolher qualquer coisa, até mesmo escolher o que me agrada, mas eu devo fazê-lo por causa de Deus e não por minha causa. Você consegue entender isso?
Você precisa expulsar da sua vida como Templo de Deus os atalhos de uma falsa espiritualidade
Meus irmãos, a passagem fica um pouco obscura para nós porque temos pouco conhecimento do templo de Israel. Na verdade, o templo dos dias de Herodes era bem diferente do templo dos dias de Salomão, mas mantinha algumas estruturas fundamentais.
Não permitia que alguém conduzisse qualquer utensílio pelo templo (Mc 11.16).
Os utensílios de que nos fala o texto pode ser uma referência àqueles mais fundamentais como a mar de fundição com a água da purificadora, a mesa da proposição, o candelabro e outros. Não se tratava apenas das coisas que eles traziam, como bandejas próprias de purificação, para adiantar o sistema sacerdotal, mas também as próprias estruturas do templo eram movidas para atender os interesses particulares ou a pressa e praticidade dos homens.
O que eles estavam fazendo no templo não era uma adoração segundo Deus lhes havia prescrito. Eles estavam procurando atalhos para desenvolver uma fé baseada neles mesmos.
Este tipo de espiritualidade é falsa. Pois não existe verdadeira espiritualidade baseada no coração do homem e nos seus sentimentos, pois o coração do homem e seus sentimentos são caídos, pecaminosos e reproduzem somente isto.
A Lei estabelecia o caminho, o modo, os critérios de Deus e todas as vezes que Israel tentou fazer diferente, foi levado a Deus em juízo. Perceba a história do juízo de Deus, ele sempre começou porque desprezaram a adoração verdadeira.
Lembre-se do atalho de Adão e Eva: Deus tem o seu jeito e suas ordens, mas:
Vendo a mulher, que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao seu marido, e ele comeu (Gênesis 3.6).
Não existem atalhos e não existem outros caminhos. Se o nosso coração está construindo estes atalhos precisamos refrear o nosso coração e refazer os nossos passos. Uma verdadeira adoração só pode ser do modo como o Senhor prescreve.
Você precisa expulsar da sua vida como Templo de Deus qualquer elemento que rouba a glória de Deus
Não é incomum nos gloriarmos de nossas conquistas e das coisas que nos pertencem. Assim como não é tão incomum que vangloriemos também das coisas que pertencem à nossa fé. Alguns fazem questão de dizer: sou do ministério tal; da igreja do pastor fulano de tal; congrego na Catedral tal; faço parte da Equipe tal; do coral tal, etc.
Este é o ponto a pensarmos aqui. Marcos nos diz que Jesus passou a ensiná-los e cita o livro de Isaías e Jeremias como explicação do que estava acontecendo no templo:
Também os ensinava e dizia: Não está escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todas as nações? Vós, porém, a tendes transformado em covil de salteadores (Marcos 11.17).
O que eles estavam roubando na casa de Deus e o que realmente ocupava a mente de Jesus? Sim, eles podiam estar roubando nos preços, nas intenções egocentradas. Mas havia algo mais profundo, um tipo de roubo mais mesquinho.
Para compreender volte aos texto do Velho Testamento, em Isaías 56 e Jeremias 7. Neles você perceberá que o templo é construído para ser um lugar de verdadeiro encontro com Deus. O que realmente importa no templo, não era o templo em si, mas a glória de Deus que habitava ali.
Ao usarem o templo como fonte de lucro eles o faziam pelo valor material que o templo possuíam. Ou como disse Jeremias, eles passaram a confiar mais no Templo que no próprio Senhor da glória. Eles roubavam a glória de Deus.
O que realmente torna este lugar de adoração um lugar especial e este tempo um tempo especial não é o pastor, o coral, o conjunto de louvor, a beleza da construção, a organização, a boa música que fazemos, ou qualquer outra coisa. O que deve nos atrair verdadeiramente neste lugar é A PRESENÇA DA GLÓRIA DE DEUS.
Caros irmãos, precisamos cuidar para que não sejamos tão condenados em nossa maneira de entender o que é a igreja e a fé e cairmos no laço de imaginarmos que a grande atração do culto é o que fazemos. O que fazermos é pó e nenhum valor tem se o Senhor não for a fonte e o alvo principal da nossa adoração.
Com a expressão “Casa de Oração”, entendo que a escritura esteja propondo o templo como um lugar de encontro com Deus e não com os homens. Contato com a glória de Deus e não com a glória dos homens. Cuidemos melhor de nosso coração quando adentramos os portais do encontro com Deus.
Você precisa expulsar da sua vida como Templo de Deus a pecaminosidade das ações
Algumas passagens das Escrituras me assuntam muito e me servem de contínuos alertas. Eu as repito muito e vou novamente me reportar ao texto do Sermão da Montanha que me leva sempre ao quebrantamento e à reflexão pessoal.
Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, há de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade (Mateus 7.20-23).
Para começar chamo a sua atenção para a ligação entre o frutificar e o verdadeiramente servir ao Senhor. Em segundo lugar, quero lhe perguntar: este texto não lhe assusta nem um pouco?
O contraste de Jesus é entre dizer Senhor, Senhor e praticar a iniquidade. O que me faz lembrar outra das grandes críticas de Deus quanto ao uso equivocado do templo:
“Não posso suportar iniquidade associada ao ajuntamento solene” (Isaías 1.13).
O que estava acontecendo nos dias de Jesus é que os principais líderes religiosos, que cuidavam e administravam o templo eram conduzidos por um coração iníquo, e não pensavam duas vezes para cometer iniquidade se isso lhes beneficiasse.
E os principais sacerdotes e escribas ouviam estas coisas e procuram um modo de lhe tirar a vida; pois temiam, porque toda a multidão se maravilhava de sua doutrina (Marcos 11.18).
Isso é assustador! Como homens religiosos, mestres da Lei de Deus, considerados piedosos homens de fé, poderiam desenvolver pensamentos assim?
Veja a força do egocentrismo e da cegueira do pecado. Não podemos ser guiados em nossa adoração por um coração que maquina o mal.
Às vezes, a sede de poder, desejo de ser reconhecido, ou até mesmo os ganhos pessoais conduzem nossas escolhas pessoais e somos afetados por essas inclinações a ponto de não percebermos ou não ligarmos para a maldade dos nossos atos, palavras, decisões.
A vingança, o ódio, o desprezo pelo que o outro faz ou quaisquer outras motivações pecaminosas devem ser expulsas da nossa vida de adoração. Precisamos nos lavar, nos purificar, tirar a maldade dos nossos atos e assim nos apresentarmos a Deus.
Conclusão
Caros irmãos, estes são apenas alguns apontamentos das coisas que precisamos expulsar da nossa vida de desejamos ter uma vida de verdadeiros adoradores.
Não basta um vida de verdadeiro adorador momentânea, alguns domingos, alguns momentos. Precisamos nos forçar a seguir sempre o caminho da constante purificação da nossa ligação com Deus.
Como vejo hoje, cresce o desprezo pelas coisas de Deus. Aumenta a ideia de fazer o que nos dá prazer e desprezar tudo o que exige um pouco mais. Está ainda mais forte o personalismo e a ideia de que seguimos o que desejamos.
Devemos hoje nos quebrantar e pedir a Deus tempos de restauração de uma verdadeira adoração. Volto a enumerar: expulse tudo o que é conduzido pelo egocentrismo; tudo o que é uma tentativa de atalho espiritual; tudo o que rouba a glória de Deus e tudo o que é decidido nas sombras de um coração pecaminoso.
Reveja e busque pureza diante de Deus. Pois o templo do Senhor somos nós. Foi a morte de Jesus que nos deu a condição de um livre acesso a Deus. Por isso, eu e você hoje podemos voltar ao trono da graça e ao santo dos santos e, humildemente, pedir que ele nos guarde de pecar.
Para finalizar, deixem-me lembrar da importância do verso 19. Ele aparece meio lançado no fim, quase que apenas um recurso literário de Marcos. Mas, nós sabemos que toda a Palavra é inspirada.
Em vinda a tarde, saíram da cidade (Marcos 11.19).
Bem, o verso é uma informação, a de que Jesus continuou a sua jornada. Ele sairia da cidade e regressaria depois, pois o Senhor tinha um plano de ir à cruz, nos libertar e abrir o vivo e novo caminho a Deus.
Ele estaria destruindo o santuário e o reconstruindo em três dias. Tal como o fez, naqueles dias, o fez na nossa vida. Louvado Seja o Senhor.
Aplicação Para a Igreja Presbiteriana de Vila Formosa
Queridos irmãos, não falo estas coisas pensando em outras igrejas, embora muito do que eu disse possa ser aplicado a muitas igrejas pelo mundo a fora. Falo estas coisas pensando em nós.
Não preciso dizer muito, apenas lhes dizer que precisamos de considerar o que realmente está por detrás das nossas motivações para a adoração a Deus. Considerem em uma revalorização adequada do culto.
Somos uma igreja com trezentos membros e não observamos o interesse de todos nisso. Não pensem em mim, ou na igreja como instituição, pensem na sua própria vida com Deus. Sim eu me interesso é importante que a igrejas esteja presente, mas meu interesse é em ser usado para que você tenha uma vida com Deus que honre a Ele acima de tudo.
Um templo verdadeiro não pode ser movido por interesses que não sejam fazer Deus ser tudo em todos.
Oração
Somos o seu templo Senhor, usa-nos para a tua glória!
Amém.
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