31 de dezembro de 2014

Lucas 1.46-56

Os Segredos de Uma Vida Consagrada
Lucas 1.46 a 56
(Sermão pregado no dia 31 de dezembro de 2014, a propósito do culto de encerramento do ano e início de 2015)

Foco da Nossa Condição Decaída
O “Cântico de Maria” (Magnificat) é uma bela poesia declarada por um dos corações mais abençoados que já viveu na terra. Ele possui elementos de grande devoção e nos ensina alguns valores que podem ser aplicados todos os dias da nossa vida, especialmente em datas como a virada do ano, quando estamos prontos para fazer reflexões sobre o que se passou e plano para seguir em frente. Este cântico, sobretudo, nos ensina que a dependência de Deus deve ser uma constante na vida daqueles que resolvem que irão entregar a própria vida para ser usada por Deus. 

Introdução
Irmãos amados, estamos diante de uma das mais belas poesias da Escritura. Este cântico é o resultado de um forte impacto que o chamado de Deus produziu no coração de Maria. Ela toma uma decisão absoluta: “Aqui está a serva do Senhor, que se cumpra em mim conforte a tua palavra” (Lc 1.38).
Maria passou a ver o futuro com os olhos da fé e enxergava a sua vida como parte de um grande plano divino, que não se resumia à sua própria vida.
Este cântico pode nos conduzir a começar este novo ano com propósitos diferentes, a partir de uma mudança sobre a realidade do nosso papel neste mundo.
Quando você aprender a viver por fé, descobrirá mais beleza e mais sentido em cada uma das coisas que faz. Nenhum ano será perdido e nenhum momento será pequeno. Tudo se revestirá de verdadeiro sentido, porque Deus conduz a sua vida e o faz sempre inserindo você em uma grande obra de redenção.
Esta noite, desejo convidá-lo a aprender com Maria e começar este ano com uma profunda revisão sobre o que realmente é viver pela fé.

Um dos Segredos da Vida Consagrada é Viver em Aliança Com Deus

O “Magnificat”, como é conhecido este trecho da Escritura é o resultado direto do entendimento que Maria teve da importância do momento que estava vivendo.
A jovem judia, desposada por José, recebera a mensagem do anjo. No início, suas dúvidas traziam-lhe temor, mas logo o seu entendimento foi tomado por uma atitude de fé. Ela, então, se entrega ao seu Senhor totalmente e se dispõe a ser o instrumento da graça do Senhor.
Um Cântico Aliancista
O cântico de Maria é um cântico de conteúdo aliancista. Ela faz menção ao segundo e terceiro mandamento, quando faz uma importante ligação entre a misericórdia de Deus, que perpassa as gerações, e o Santo Nome do Senhor.
Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada, porque o Poderoso me fez grandes coisas. Santo é o seu nome. A sua misericórdia vai de geração em  geração sobre os que o temem (Lucas 1.48b-50).
Esta citação do Terceiro Mandamento revela que Maria compreendeu que os acontecimentos que estavam se realizando na sua vida era o cumprimento das promessas da aliança do Senhor. No final do enunciado do Segundo Mandamento temos a seguinte expressão:
“e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos” (Êxodo 20.6).
O Santo Nome de Deus, tema do Terceiro Mandamento da Lei, segue em imediato à expressão anterior. Como se estivesse construindo um grande castelo, em que cada parte serve à outra como base.
Talvez, trazendo à luz o conteúdo do salmo 33, Maria diz que a santidade do nome de Deus é a responsável por sua alegria e por ter Ele trazido o Salvador ao mundo.
Nossa alma espera no Senhor, nosso auxílio e escudo. Nele, o nosso coração se alegra, pois confiamos no seu santo nome. Seja sobre nós, Senhor, a tua misericórdia, como de ti esperamos (Salmo 33.20-22).
Um cântico que une Cristo a Abraão
Todo o conteúdo do cântico aponta para uma clara noção do valor da relação pactual de Deus com o seu povo. Mas, nos versos 54, ela cita o pacto com Jacó e caminha até Abraão e cita as palavras da aliança abraâmica.
Amparou a Israel, seu servo, a fim de lembrar-se da sua misericórdia a favor de Abraão e de sua descendência, para sempre, como prometera aos nossos pais (Lucas 1.54-55).
Cristo é o resultado das promessas da aliança desde Gênesis 3.15. Mas é em Abraão que ela toma um contorno ainda mais completo, quando Deus promete a ele uma grande e abençoada descendência.
É importante notar, portanto, que Maria podia realmente consagrar a sua vida a Deus e se dispor a ser instrumento de sua graça. Sua mente compreendia que Deus é fiel à aliança que faz ao seu povo.
De fato, muitos e muitos anos se passaram até que enfim o Messias chegou. O que é importante destacar aqui é que todos nós podemos confiar na Palavra de Deus e em suas promessas pactuais.
Consagrar a vida não é um ato de coragem insana, baseada em uma esperança insegura e irresponsável. Consagrar a vida é um ato de fé, depositada na promessa infalível de Deus. O segredo desta fé é a consciência pactual entre Deus e o seu povo.
Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no  decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu Deus e da tua descendência (Gênesis 17.7).
Talvez você precise desta consciência e, possivelmente, sua falta de entrega, confiança, consagração tenha nascido de sua pouca visão do valor do pacto de Deus com aqueles que estão em Cristo.





Outro Segredo da Vida Consagrada é Ter Consciência do Privilégio de Ser Usado Como Instrumento nas Mãos de Deus

Os primeiros versos do “Magnificat” tem como tema principal a ação de Deus na vida de Maria. Ela louva a Deus, justamente porque ele realizou grandes coisas na sua vida, motivo porque ela se sente bem-aventurada.
A minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, porque contemplou  na humildade da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada, porque o Poderoso me fez grandes coisas (Lucas 1.46-49a).
A serva humilde e o Poderoso
Talvez este seja o mais importante contraste destes versos, a grandeza de Deus versus a pequenez humana. A possibilidade de Deus versus as limitações humanas. O texto grego pontua a visão de Maria sobre a grandeza e o poder de Deus usando algumas palavras muitos significativas.
Onde Maria diz: “engrandece”; a palavra grega utilizada é “megalussei” que é literalmente “falar da grandeza”, ou “maximizar o valor”, ou “seperlativizar algo”.
Em outro momento, Maria diz “o Poderoso” e neste ponto a palavra grega é “dinaton”, da mesma raiz de “dinamis” (poder).
Contudo, essa visão do contraste entre a grandeza de Deus e sua pequenez, não impediu Maria de compreender que ele a escolhera e que isso era algo muito bom e digno de ser considerado uma “grande bem-aventurança”.
Maria compreendeu que o seu papel no plano redentivo era fruto da compaixão, misericórdia de Deus por ela. Ela compreende que não havia nenhuma graça que lhe fosse particular, mas ele manifestou-se a seu favor, por isso, ela disse:
Meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, porque contemplou na humildade a sua serva (Lucas 1.47-48a).
A palavra que Lucas usou para “humildade” é “tapeinosin” e indica um estado “estado de humilhação”. Era como se Maria estivesse mostrando que a graça de Deus se manifestou sobre sua vida salvadoramente, resgatando-a, apesar do estado em que se encontrava. Lucas usou esta palavra em Atos 8.33 e Tiago, irmão do Senhor, usou-a em Tiago 1.10.
O importante é que mesmo o fato de saber que Deus foi o agente de sua salvação e sua misericórdia a responsável por escolhê-la dentre todas as mulheres de todas épocas para este tão importante papel, ela não se esconde, ela reconhece que seu papel é importante e se diz “bem-aventurada”.
Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada. Porque o Senhor me fez grandes coisas (Lucas 1.48).
Ela completa o seu pensamento de auto-valor, dizendo que o “dinaton” (poderoso) fez grandes coisas (epoiesen moi megaleia), literalmente: fez em mim grande coisa. Possivelmente Maria fazia aqui uma referência à gravidez maravilhosa, fruto do poder do Altíssimo, que a cobriu com sua sombra.
Maria tinha alegria em sua entrega de consagração ao Senhor, porque compreendia que podia ser usada como um instrumento nas mãos de Deus.
A maior parte das pessoas não possui este tipo de consciência. Na verdade, quase sempre as pessoas estão prontas para ver o que outros podem fazer e esperam que, por meio de alguém, Deus faça algo na sua vida. Este tipo de comportamento nada tem a ver com consagração.
Uma vida consagrada se alegra em servir e ser útil. Aliás, uma vida consagrada, compreende que a maior entrega, o maior serviço, a vida mais consagrada é fruto da obra graciosa e poderosa de Deus, mas ainda assim, sente prazer em ser usado nas mãos de Deus.
Você sente esta alegria. Quando sentir alegria em tocar um instrumento, ou em fazer uma visita para servir a Deus, ou trabalhar para prover recursos para a obra do Senhor, enfim, qualquer coisa pode produzir esta alegria da consagração.
Sentir alegria em servir de instrumento de Deus é um dos segredos da vida consagrada.
Outro Segredo da Vida Consagrada é Perceber-se Como Uma Bênção Para Outras Pessoas
A partir do verso 50, Maria deixa a referência ao que Deus lhe fez, para olhar de forma mais ampla para as ações de Deus de forma macro abrangente.
A sua misericórdia vai de geração em geração sobre os que o temem. Agiu com o seu braço valorosamente, dispersou os que, no coração, alimentavam pensamentos soberbos. Derribou do seu trono os poderosos e exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos (Lucas 1.50-53).
Maria compreendeu que o contexto que vivia tinha um valor redencional muito maior. Não se tratava apenas dela, de José, sua tia Isabel, Zacarias e João. Maria compreendeu que Deus a escolheu para ser abençoada, mas principalmente para que essa bênção que começava ali, pequena e humildade teria um significado muito maior.
Maria fala baseada em todas as promessas que lia nos textos do Velho Testamento. Sua fé começava a leva-la a pensar que todas aquelas promessas começariam a se cumprir na vida do filho que estava no seu ventre, o Filho do Altíssimo, como disse o anjo Gabriel.
Maria estava alegre pelos resultados da obra redencional que começava a se operar naqueles dias, através de sua vida. E por isso, tomar a decisão de se consagrar não se tratava, para Maria de uma loucura, mas de uma ação legítima de servir a Deus em favor de todas as famílias da terra.
Ela própria cita que as promessas feitas a Abraão seriam cumpridas e foi ao patriarca que Deus disse:
Em ti serão benditas todas as famílias da terra (Gênesis 12.3).
A correção das estruturas do coração dos homens
Não vamos nos deter muito em  falar dos aspectos que Maria vislumbra pela fé como resultado da sua consagração. Na verdade, ela compreende que é Deus quem fará, mas também compreende que sua vida foi instrumento para abençoar tantos outros.
Ela entende que Deus usaria a sua vida para trazer ao mundo uma mudança na estrutura da forma de pensar do coração humano.
dispersou os que, no coração, alimentavam pensamentos soberbos (Lucas 1.51).
A correção das estruturas do poder
Ela também considera que o Filho do seu ventre, como diziam as Escrituras, dispersaria os poderosos e soberbos, reis deste mundo e estabeleceria um governo justo.
Derribou do seu trono os poderosos e exaltou os humildes (Lucas 1.52)
A correção das estruturas sociais
Por fim, Maria ainda vê as transformações que se operariam nas estruturas sociais. Ela vislumbrou o quanto aquele momento poderia mudar o quadro, que certamente vivenciava em sua terra, a fome e a injustiça social.
Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos (Lucas 1.53).
Maria estava feliz e se sentindo bem-aventurada não apenas por que Deus agiria em sua vida, mas porque aquele era um pequeno passo para abençoar todas as famílias da terra.
Irmãos, podemos ser decisivos para o futuro de uma nação, de uma igreja ou família. Não importa a quem ou a quantos nossa vida poderá abençoar. Maria foi usada para abençoar toda a humanidade. Mas você pode ser usado para abençoar muitas vidas.
Certa vez, Jesus estava diante de uma grande multidão, mais de cinco mil pessoas e todas estavam cansadas e com fome. Jesus pergunta aos discípulos se eles tinham algo para dar àquelas pessoas, um deles diz que um rapaz tinha ali cinco pães de cevada e dois peixinhos (João 6.9). Jesus tomou aquilo que aquele rapaz oferecera a Jesus e com os seus cinco pães e dois peixes, ele alimentou uma grande multidão.
Outra vez, uma mulher se apresenta, durante uma refeição oferecida a Jesus e unge seus pés com um bálsamo puro. Todos criticaram a atitude, os discípulos, o anfitrião, mas Jesus disse: Em verdade vos digo: Onde for pregado em todo o mundo este evangelho, será também contado o que ela fez para memória sua (Mateus 26.13).
O que há em comum nestas duas histórias? Em ambas, os nomes daqueles que foram usados como instrumentos para abençoar vidas sequer foi mencionado. Mas, há uma coisa importante: Deus sabe quem são e escolheu usá-los para abençoar a muitos.

Conclusão
Na verdade não existem segredos para uma vida consagrada, mas ferramentas que podem mudar sua maneira de ver o propósito de sua própria existência.
Quando você entender sua relação pactual com Deus, poderá  compreender que não estamos aqui para nós mesmos, mas para aquele que nos deu a vida.
Você poderá se alegrar em um novo modelo de vida, em que percebe o real valor e significado de estar aqui. Perceberá a alegria de ser um escolhido de Deus para fazer parte do seu plano e ser um instrumento de Deus, principalmente porque você poderá ser usado para abençoar pessoas.
Este novo ano poderá ser uma grande oportunidade para você fazer a diferença. Eu quero chamar você a consagrar a sua vida antes de qualquer outro projeto de valor apenas pessoal.
Pense em ser uma bênção aonde quer que for e ser usado por Deus. Pense em viver realmente o grande propósito da morte de nosso Senhor Jesus Cristo, chamar homens para dar glória a Deus e desfrutar da alegria de viver para ele.

Oração
Eis aqui o teu servo (a tua serva), que se cumpra em minha vida conforme a tua palavra.
Amém!



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