As Escrituras Como Chave do Entendimento
(Lucas 24. 44 e 45)
Foco da Nossa Condição Decaída
Precisamos de uma igreja neste mundo que considere a realidade e concretude do Reino Milenar de Cristo como centro definidor de toda a realidade. Neste texto, veremos que Jesus antes de enviar seus apóstolos ao mundo para espalhar sua mensagem precisava inseri-los nesta visão de realidade e concretude. Os elementos fundamentais desta mudança de pensamento veremos que tudo ocorre como uma obra espiritual, como resultado da nossa proximidade das Escrituras e como fruto de nossa ligação pessoal com Cristo.
Introdução
O contexto imediato desta passagem é a incredulidade dos discípulos. Essa incredulidade era marcada, principalmente, pelo entendimento equivocado deles com a realidade do Cristo Ressurreto.
Por isso, durante quarenta dias, antes de lhes confiar o Evangelho do Reino, Jesus, por meio de aparições e gestos como mostrar as mãos e os pés marcados, comer com os apóstolos e falar-lhes de coisas pessoais, trabalhou para que os apóstolos tivessem uma visão realista do Cristo Vivo.
Não é possível viver o cristianismo de forma integral enquanto mantemos uma relação apenas sentimental com a fé em Jesus. Precisamos galgar o degrau que nos leva a uma fé que considera Cristo em toda a sua realidade para todos os dias.
Confesso que nem sempre consigo expressar o que penso sobre a realidade de Deus. Posso apenas lhes dizer que viver esta vida com entendimento da realidade de Cristo é a única forma de cumprir o nosso papel como embaixadores do Reino.
Imagine um médico que receita um remédio, mas não acredita que sua fórmula possa seja mesmo eficaz para o tratamento de uma doença. Assim, somos como igreja, quando apontamos o Reino de Deus como uma resposta às pessoas, se não temos uma firme confiança que se trata de algo real, concreto e que está acontecendo entre nós.
Naqueles dias, os discípulos, tanto quanto nós hoje, precisaram que Jesus vencesse sua incredulidade e, antes de ir aos céus, lhes mostrou toda a realidade de sua realeza e concretude do seu reino. Ele os chamou para viver com um entendimento diferenciado desta realidade, para conseguirem conviver com este mundo em uma medida realista. Hoje, ainda Jesus nos chama a esta mesma vida com entendimento. Nos versículos que vamos abordar esta noite, gostaria de considerar, três importantes elementos que Jesus apontou como fundamentais para que sua morte e ressurreição fosse uma realidade e concretude fundamentais para a obra de evangelização do mundo.
O Verdadeiro Entendimento da Vida é Resultado de Uma Profunda Mudança Produzida em Nossa Mente
A Bíblia não é somente um livro de cabeceira, para quem deseja de algum dispositivo emocional para manter-se mentalmente saudável. A Bíblia não é somente um livro para quem deseja um modelo ético de vida. A Bíblia não é somente um livro texto para a criação de uma religião cristã.
Por mais que a Bíblia possa funcionar bem como um apoio emocional, afinal possui textos tão repletos de demonstrações de fé e palavras que nos seduzem quando estamos desanimados, ou ainda que a Bíblia realmente funcione como um livro de ética, ou mesmo como um excelente fundamento para a construção de uma religiosidade cristã. Ela tem como alvo nos oferecer um verdadeiro entendimento da realidade sob a qual todos nós vivemos e nos movemos: a realidade de Deus, o Senhor de todas as coisas.
A Bíblia é a ferramenta da revelação deste mistério: que Deus fez convergir em Cristo todas as coisas, tanto as do céu, quanto as da terra (Efésios 1.9). Em outras palavras, meus irmãos, toda a realidade ao redor e a nossa própria vida, nos revelam as Escrituras, devem ter o seu sentido real quando são considerados na sua relação com Cristo.
Nosso culto desta noite, os cânticos deste conjunto, assim como todas as tarefas do dia de amanhã e, da mesma forma, os diplomas que vocês ganharam nos cursos que concluíram. só encontram seu sentido real em Cristo. Para alcançar este nível de entendimento precisamos de uma compreensão profunda das Escrituras.
Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras (Lucas 24.45).
Caros irmãos, considero que Lucas construiu este versículo de uma forma a nos mostrar a intensidade do que realmente aconteceu com os discípulos.
“Dienoisen auton noun sienai grafa”
“então, por meio de uma intencional ação ocorrida na mente, eles passaram a pensar de forma diferente para terem um novo entendimento das Escrituras”.
No uso do verbo siniemi na voz passiva, mostra Lucas que houve uma ação externa que levou os discípulos a terem a sua mente aberta para este novo entendimento das Escrituras. Irmãos, eles passaram a ver tudo o que foi escrito com uma mentalidade diferente.
Nós precisamos desta mente transformada para poder entender qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Precisamos que Deus aja em nossa vida para que isso aconteça e precisamos pedir que Deus nos dê essa nova mente. Mas para que esta ação acontecesse, houve alguns elementos muito importantes que a antecederam.
Para Que Vivamos Com Entendimento Precisamos de Uma Profunda Relação Com a Palavra de Deus
Voltando um pouco, antes de Lucas construir esse belo versículo sobre a mudança da mente dos discípulos, podemos notar que ele mostrou que Jesus insistiu com os discípulos que as Escrituras eram a “Chave” para que esse novo entendimento viesse à tona.
A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas enos Salmos (Lucas 24.44).
Embora saibamos que uma obra do Espírito é o que realmente opera a mudança em nossa mente, devemos buscar esta mudança e a única forma de fazermos isto é um aprofundamento do nosso relacionamento com a Palavra Viva de Deus.
Algumas vezes, Jesus insistiu com seus discípulos que voltassem às Escrituras para compreender o que ela falava a seu respeito. A nova vida, a nova realidade do Reino viria do túmulo com Ele na sua ressurreição, já estava apontada nas Escrituras. Elas já testificavam de Jesus e de sua obra.
Às vezes não percebemos que as Escrituras são a voz de Deus, a revelação especial do grande mistério da existência, que é Cristo o Senhor de todas as coisas. Elas falam disto e devemos buscar este entendimento nelas para que a realidade do reino se torne mais clara para nós.
A Palavra é a espada do Espírito é a sua ferramenta de trabalho para a nossa transformação. Quando mais próximos da Palavra, mais próximos da nova mentalidade e de um verdadeiro entendimento da vida. Mais perto, portanto, do real significado de todas as coisas.
Calvino insistia em dizer que as Escrituras são a Escola do Espírito e que devemos usar as Escrituras como óculos para enxergar a realidade. Este é justamente o grande valor das Escrituras.
É muito comum que busquemos certos versículos para algumas ocasiões. Por exemplo, aqueles folhetos que sugerem: quando estiver triste, leia o texto tal... Não sou contra essas coisas, acredito que muitas vezes podemos ser socorridos desta forma. Contudo, as Escrituras são muito mais que isso. Elas nos falam da nossa vida e nos dão entendimento do que somos em Cristo e o para que estamos aqui para Cristo.
Para Que Vivamos Com Entendimento Precisamos de Uma Profunda Relação Com Jesus
Um outro elemento que antecede a obra do Espírito é um relacionamento vivo e profundo com o próprio Jesus.
A seguir, Jesus llhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco (Lucas 24.45a).
No texto, está em realce a intencionalidade de Jesus em fazer– conhecido dos seus discípulos o valor das Escrituras como chave para a vida de entendimento.
Destaco nessa intencionalidade o fato de que Jesus afirma contundentemente que esteve com os seus discípulos com esta intenção, ao fazer essa afirmação:
Eu disse e continuo dizendo para vocês convosco as palavras dizendo para vocês.
Sei que essa frase, em português parece muito estranha, repetitiva, o que em português é muito feito. Mas, no texto grego essa é uma forma de enfatizar algo e o Lucas está nos mostrando era a ligação profunda que Jesus manteve intencionalmente com os seus discípulos e como sua ênfase era fazer as Escrituras ocuparem lugar central no modo como os seus discípulos deveriam ver a realidade que estava ao seu redor, inclusive, a realidade sobre Ele próprio.
Quando as Escrituras são lidas por causa da nossa proximidade com Cristo, deste amor que precisamos devotar ao nosso Senhor e este desejo que Ele nos fale pela Palavra. Precisamos nos aproximar dela como se Cristo estivesse pessoalmente falando ao nosso coração, mudando a nossa mente por ela.
Jesus citou o Moisés, os Salmos e os Profetas, esse era o modo como comumente os judeus dividiam as Escrituras, era como se Jesus estivesse dizendo para eles: eu falei e continuou falando para vocês convosco, as palavras a vocês, como toda a Escritura está direcionada a lhes revelar a verdade.
Os apóstolos, depois que saíram pregando o Evangelho compreenderam ainda mais, que os ensinos de Jesus, assim como todo o conteúdo entregue pelos próprios apóstolos haviam se tornado na ferramenta do Espírito Santo para mudar nosso modo de entender a vida.
Conclusão
Precisamos olhar com muita atenção para o que pensamos sobre a vida. Você talvez não parou para perceber, mas talvez esteja desenvolvendo sua vida neste mundo de uma maneira equivocada e distante de uma realidade que você não deveria negar: Cristo está vivo! Cristo Reina! Minha vida tem tudo a ver com ele! Ele voltará!
Tudo o que a Bíblia fala sobre Jesus é importante! Nada pode ser pequeno ou esquecido. Que ele é o Salvador, nosso refúgio, nosso resgatador, nosso Rei... Tudo conta, tudo deve mudar o nosso modo de viver. Isso é romper a incredulidade. Essa é a nova mentalidade esse é o ENTENDIMENTO QUE DEVEMOS BUSCAR PARA VIVER.
Meus irmãos, formandos desta noite, cada uma das nossas conquistas só têm sentido em Cristo, só são valiosas quando estão submetidas as Cristo. Afinal, os ímpios também tem suas conquistas, mas todas, absolutamente todas as conquistas que nada tem a ver com Cristo, são como tudo o mais sem Cristo... Obras mortas, que perecem quando morremos, obras de valor meramente transitório.
Todos nós precisamos usar as Escrituras como CHAVE deste novo entendimento real e concreto de todas as coisas. Precisamos lê-la com os ouvidos elevados de quem está a ouvir a voz de Cristo, quem nos fala dos céus, onde está assentado em trono. De qualquer maneira, esta palavra só será aprofundada em nosso coração, quando Deus, por misericórdia nos conceder olhos para ver, por isso, humildemente precisamos clamar que ele realmente nos faça ver.
Aplicações
Quero apenas lembrar para todos os que buscam progresso pessoal por meio do trabalho: não se esqueçam de que o trabalho e o sustento devem ser vistos como ferramentas do nosso relacionamento com o Deus de toda a providência e bondade.
Aos que buscam seu progresso pessoal nos estudos: lembrem-se que nada do que fizerem tem valor em si mesmo se Cristo não for o centro e a figura central de seu interesse.
Para aqueles que, por alguma razão perderam razões para pensar em progresso, quer pela tristeza ou mesmo pelo simples comodismo: Quem tem Cristo como o centro de sua vida não deve jamais pensar que já não há esperança para nada. Ao contrário, quem tem Cristo como Senhor e centro de sua vida, sempre pode acreditar em que algo melhor está para acontecer.
Como o cego de Jericó, digamos ao Senhor: que eu possa ver. Que possamos ver tudo o que a Escritura fala sobre Jesus. Você pode começar agora mesmo a pensar assim. Por exemplo, podemos começar a pensar em Jesus como o BOM PASTOR.
Que ele seja tudo para nós - NADA NOS FALTARÁ.
Que ele nos conduza nesta vida - PASTOS VERDEJANTES, ÁGUAS TRANQUILAS.
Que ele nos faça vencer os horrores da morte - VALE DA SOMBRA DA MORTE SEM TEMOR.
Que ele seja nossa esperança do futuro - NA CASA DO SENHOR ETERNAMENTE.
Você consegue ouvir que essa é a palavra do próprio BOM PASTOR para você. Creia na realidade e na concretude de que neste momento, por meio desta Palavra, ele está olhando para você, pessoalmente, sondando a sua mente e produzindo algo novo em você: EU SOU O BOM PASTOR.
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Toda mensagem escrita é apenas um registro. O sermão bíblico de fato é único, como um rio que passa e muda a cada instante. Um sermão só pode ser pregado uma única vez. Caso seja repetido em outro púlpito, ainda que use os mesmos registros, será outro, por várias razões: a) o pregador nunca é o mesmo, pois está sendo transformado a cada mensagem que prega; b) os ouvintes são outros; c) o Espírito é o mesmo, mas é dinâmico e aplica o que quer aos corações.
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