Um Visão Gloriosa do Filho
(Sermão pregado na IP Itaim Paulista - Janeiro 2015)
João 1.32 a 34
Foco da Nossa Condição Decaída
Acredito que boa parte da falta de comprometimento da Igreja Cristã com a nova vida em Cristo, se dá por que um grupo, cada vez maior daqueles que vêm à Cristo, concentra sua fé naquilo que pode receber por conta do seu novo estado.
O Evangelho de João é um chamado a uma visão mais profunda de Cristo, de modo que Ele perpasse nossa própria vida, se tornando em algo muito maior que apenas um motivo para termos uma religião. O que João quer que vejamos é que Ele é o Senhor dos Senhores e o Rei dos Reis. Que tudo que existe só tem sentido, quando visto e compreendido a partir dEle.
Nesta passagem, buscaremos os elementos necessários para ter este tipo de visão transformadora de Cristo.
Introdução
Visão Beatífica é como os teólogos descrevem a impressionante experiência que tem sido declarada por aqueles que dizem ter visto Cristo Jesus em sua glória, como o próprio João quando esteve exilado em Patmos. Eu prefiro incluir e considerar como visão beatífica de Cristo aquela visão produzida pela compreensão profunda de Cristo que transforma a vida dos homens.
O texto que abordamos aqui é a recontada história do batismo de Cristo. Mas o modo como este Evangelho descreve este evento diferencia dos outros autores bíblicos. Ele não está interessado em descrever como aconteceu o evento histórico, nem as suas implicações teológicas e sociais para a comunidade, como fator de convencimento. Antes, João procura usar o impacto daquele momento na vida do próprio João Batista.
Para João, a igreja do seu tempo precisava de maior segurança em Cristo, e essa segurança, nos tempos de crise e perseguição, tinha de ser uma segurança pessoal, focada no fato de que cada crente precisa ter um relacionamento próximo com o Senhor e não apenas uma idéia de quem Ele seja. Acredito que, por isso, João preferiu pontuar o testemunho de João Batista sobre Cristo e seu batismo a simplesmente repetir a história do evento histórico.
Para se conhecer a Cristo de forma pessoal é necessária proximidade do Espírito de Deus
No registro de João, o apóstolo, sobre o testemunho de João Batista acerca de Jesus, dois polos do texto nos chamam a atenção: o primeiro é que João não o conhecia (vs.31 e 33) e o segundo é que ele adquiriu um conhecimento pessoal da sua realeza eterna e não somente uma aproximação superficial do Cristo homem.
Cristo fez sentido para João de uma forma muitíssimo especial: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1.29).
João Batista pregou o arrependimento e o tempo da chegada do juízo. Ele sabia muito bem o que o pecado estava fazendo com a raça humana. Sabia como o pecado degradava o ser humano e afastava o homem de Deus. É por isso que ele batizava com água, o batismo do arrependimento: um batismo provisório, como ele mesmo sugere, pois haveriam de receber um batismo ainda maior e poderoso: o batismo com o Espírito Santo.
Ao deparar-se com Jesus, João Batista muda a sua mensagem e pode falar em “retirar o pecado do mundo”. Jesus Cristo dá sentido à existência e retira de sobre o homem as trevas da incerteza e do desespero, Ele dá esperança aos que estão em trevas.
Como João alcançou essa bem-aventurança de enxergar a existência humana sobre outro prisma? Como alcançou o discernimento de que Deus estava agindo para dissipar as trevas? O registro do início do capítulo, versos 6 a 9, nos mostram como foi forte esse discernimento no ministério de João Batista.
A questão de como ele obteve esse conhecimento de Cristo, esse discernimento de fé é respondida por João quando aponta para o fato de que o Espírito Santo o esclareceu.
Vi o Espírito descer do céu como pomba e pousar sobre ele
João entendeu a linguagem do Espírito Santo e recebeu a sua revelação. Para tal, ele precisou ser um homem cheio do Espírito Santo. O texto bíblico nos diz que João era homem cheio do Espírito desde criança - Lucas 1.15 e 80.
Crentes que não buscam pelo enchimento do Espírito Santo não adquirem o discernimento de Cristo, que lhes dá discernimento maior da existência, por isso servem a Cristo sem compromisso algum, ou ainda servindo a Ele e servindo a outros deuses deste mundo.
Crentes sem o crescimento no relacionamento pessoal com o Espírito Santo não conhecem a Cristo profundamente e, muitas vezes, o abandonam.
João entendeu a linguagem do Espírito Santo, o seu modo de comunicar Cristo foi por meio de uma pomba, que pousou sobre Jesus. Isso impactou João Batista a ponto de ele nos oferecer como testemunho da sua aproximação com Cristo desta forma: Eu vi o Espírito descer do céu como pomba e pousar sobre ele.
Como sabemos que João Batista entendeu a linguagem do Espírito Santo? É que ele não se desviou de Cristo, mas o entendimento que teve o levou diretamente a Cristo, pois esse é sempre o intento do Espírito Santo. Ele trabalha para nos revelar Cristo.
João Batista não criou uma nova Igreja: a Igreja da pomba de Deus - A Igreja do Espírito Pomba. João não deixou sua mente trabalhar com a ideia de exaltação do Espírito, ao contrário, ele teve os seus pensamentos direcionados para Cristo e, com certeza, essa sempre será a linguagem do Espírito Santo.
Para se conhecer a Cristo de forma pessoal é necessário envolvimento pessoal com a Palavra de Deus o Pai
Um segundo aspecto que desejo mostrar sobre o relacionamento pessoal de João Batista com Cristo tem a ver com o relacionamento pessoal de João Batista com o Pai de Jesus Cristo.
Hoje, há muitas pessoas desenvolvendo o seguinte discurso: ainda que não tenha observado muitas coisas ditas na Bíblia, eu não perdi a comunhão com Deus. Existe uma tentativa de estabelecimento de uma fé sem Deus e sem a Palavra de Deus.
Porque a minha mão fez todas estas coisas, e todas vieram a existir, diz o SENHOR, mas o homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra (Isaías 66.2).
Aqueles que desprezam a Palavra do Pai de Jesus não terão jamais um relacionamento redentivo com Cristo e jamais o conhecerão verdadeiramente, pois desprezam a verdade que liberta. Isso tem a ver com algo que dissemos em um estudo de Escola Dominical sobre a “Sabedoria de Deus”, que é Cristo. A Palavra de Deus aponta para Cristo, a Bíblia toda só tem sentido porque Cristo é a sua interpretação.
Pessoas podem decorar todos os versos bíblicos, conhecer todas as histórias, mas se não encontram Cristo nestas coisas, não encontram a vida eterna e sua existência não é diferente daquele que sequer sabe que existe a Bíblia.
A Palavra de Deus não foi dada aos homens no desejo de lhes contar alguns segredinhos celestiais ou satisfazer algumas curiosidades da mente humana, Deus somente falou aos homens como propósito de lhes mostrar o Filho Amado.
Quando João Batista dá o seu testemunho de Cristo, o seu envolvimento pessoal com Cristo dependeu diretamente do seu envolvimento pessoal com a Palavra de Deus:
Eu não o conhecia; aquele, porém que me enviou a batizar com água me disse: Aquele sobre quem vires descer e o pousar o Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo.
Gostaria de chamar a atenção para o modo como JOão Batista se relacionava pessoalmente com Deus. Ele primeiro nos diz que tinha consciência de sua missão dada por Deus: aquele que me enviou a batizar com água. Em segundo lugar, ele mostra que percebe que o plano de Deus é apontar para Jesus Cristo e não para ele, João Batista. Nesse ponto gostaria de me deter um pouco.
Pense comigo sobre a situação de João Batista. Deus, com a manifestação de Jesus Cristo, está pondo um ponto final no próprio ministério de João Batista. Afinal, ele o enviou para batizar com água, mas logo virá alguém que batizará com o Espírito Santo.
João, por sua vez, não relacionou-se com Deus de maneira egocentrada, ao contrário, ele se relacionava com Deus de maneira Téo-centrada, isto é, o interesse de Deus lhe era superior.
Aquele que se relaciona com a Palavra de Deus de maneira ego-centrada buscará apenas aquilo que lhe interessa e tenderá a usar a palavra em seu beneficio. Ao contrário, aquele que se relaciona com a Palavra de maneira Téo-referente estará sempre disposto a saber o que Deus quer, e o que o Pai quer é que CONHEÇAMOS O FILHO.
Para se conhecer a Cristo de forma pessoal é necessário envolvimento particular com Ele
Passaremos agora a um outro aspecto de nosso conhecimento de Cristo. O ponto agora será que devemos ter um envolvimento pessoal com o Filho de Deus e não tão somente com o homem Jesus.
Tenho muito medo desta afirmação que acabo de fazer, porque muitas pessoas, tenderam a desprezar a humanidade de Cristo e isto é errado.
Cristo foi um homem como todos os outros no que diz respeito à sua natureza humana. Sentiu fome, dor, cansaço etc. Teve medo, chorou e se compadeceu das pessoas. Jesus tinha alma humana, que sofreu a dor da morte como todos os outros homens.
Esse ponto é necessário ser reafirmado, pois esquecer-se da humanidade de Jesus é um grande erro, pois nisto está a base da Mediação que ele pode fazer, como nosso legítimo representante diante de Deus.
No entanto, o evangelista João, em seu tempo, ainda que tenha de lidar com o erro de desprezarem a humanidade de Jesus, também teve de lidar com o desprezo à divindade de Jesus, pois muitos começavam a achar que Cristo havia simplesmente morrido e deixado apenas um novo tema para a vida dos homens.
Em nossos dias esse é um erro muito comum, e até mesmo os crentes estão se esquecendo de Jesus Cristo é o Filho de Deus, o Verbo-Deus encarnado.
Gostaria de chamar a atenção para os verbos que são utilizados no texto:
Eu vi - euraka - Já falei sobre o significado deste verbo em outra mensagem. Ele aponta para um conhecimento que vai muito além do conhecimento que temos de uma pessoa com quem nos encontramos, é um conhecimento mental, reflexivo e que nos conduz a pensar sobre o que significa aquilo que conhecemos.
Testifico - memartíreka - verbo martiréu - de onde veio a palavra português: mártir e martírio. Esse é o verbo testemunhar, mas o que chama a atenção é que ele está posto por João no tempo chamado perfeito, por isso os nossos tradutores preferiram a tradução: tenho testificado, indicando uma ação contínua. Porque o tempo perfeito grego indica exatamente isso, que a pessoa que teve aquela experiência testificou e continua testificando até hoje.
João Batista está nos dizendo que o seu conhecimento de Cristo está aprofundando cada vez mais e João o evangelista, preferiu mostrar que o testemunho pessoal de João fez sentido para ele pessoalmente, o que todo crente pode também ter.
Conclusão
Volto àquela palavra inicial: acredito que a falta de comprometimento com Cristo que pode ser vista por parte de muitos daqueles que dizem ter recebido a nova vida pode estar enraizada no fato de que eles não desenvolveram um relacionamento aprofundado com Cristo.
Esse é um comportamento típico do nosso tempo de superficialidades. Pois temos valorizado a extensão do conhecimento e não a profundidade. Somos capazes de nos emocionar com uma música que repita o refrão que queremos que Deus entre na minha casa e na minha vida, mas somos incapazes de buscar consistentemente essa mudança significativa do viver.
Estamos vivendo em um tempo de religiosidade mágica, até mesmo no cristianismo. Para muitos, e até mesmo para muitos líderes, em uma única reunião de poder, é possível dar ao crente uma “unção” que o torne em um super homem ou mulher de Deus. Qual o resultado disto: uma fé em Cristo, vazia de comunhão com Ele.
O que devemos fazer? Como mudar um quadro tão alarmante como este?
No tempo de João o apóstolo, a igreja estava precisando muito de um envolvimento com Cristo, pois aproximavam-se sobre ela dias muitíssimo nebulosos, de grande perseguição e apostasia dentro da própria igreja. Crentes que diziam estar na luz, mas andavam nas trevas era algo que crescia muitíssimo no seio do cristianismo nascente dos dias de João. Ele propõe, então, que eruma visão pessoal e um envolvimento pessoal com Cristo, o Senhor, o Filho de Deus, era a única maneira de nos mantermos fiéis em situações adversas à fé.
Eu não sei como será o dia de amanhã, nós que vivemos no seio da igreja livre. Ainda colhemos os frutos da liberdade de culto que o mundo ocidental recebeu da atuação maravilhosa do Espírito Santo que espalhou o evangelho pelos quatro cantos da terra. Mas, começamos a sentir a pressão das parcelas descrentes das sociedades. Primeiro, pelos costumes que se tornam cada vez mais escancarados de sensualidade, pornografia e lascívia; segundo por leis que forçam os cidadãos a serem constrangidos em sua fé. O consumismo, profeta do materialismo que tenta conquistar a nossa atenção para o mundo das posses, das coisas e desprezar os valores e a espiritualidade centrada nos interesses de Deus.
Nesses dias, acredito que a resposta seja um relacionamento pessoal com Cristo que nos permita ver a Jesus como o maior valor da nossa vida.
Estamos em uma luta espiritual tremenda e precisamos nos munir das verdadeiras ferramentas. Sucumbir às armadilhas do Maligno é um perigo para aqueles que têm um relacionamento superficial com Deus e com seu Filho.
Aplicação
Então, devemos nos munir das armas de Cristo para este combate, precisamos nos preparar para tempos de perseguição e dificuldade em servir a Cristo, precisamos dispor o nosso coração para morrer por Cristo e não negar o seu nome. Isto é, se de fato cremos que existe um Deus e que Ele nos tem dado, em Cristo, a vida eterna.
A nossa geração vive esta transição, mas os nossos filhos estão nascendo no meio deste tipo de pensamento. Eles, mais do que nós, precisarão lutar pela fé cristã. Precisamos prepará-los, e isso não será com televisão, cartões de crédito, tatuagens etc...
Reúna seus filhos e fale a eles sobre o compromisso que precisam ter com Cristo. Ensine-os, com seu exemplo, como por exemplo, sua aplicação no estudo da Palavra, sua disciplina na oração e seu desejo de servir ao Reino, como nos trabalhos da sua Igreja.
Alguns pais tem feio mais mau a seus filhos, por conta da sua fé defeituosa que as próprias armadilhas do mundo. Alguns filhos têm péssimo exemplo dentro de sua própria casa, que sequer precisam ser perseguidos para abandonar a Cristo.
Precisamos entender que o papel da Igreja tem de ser mais expressivo na nossa vida e isso só acontece quando eu estou disposto a colaborar para o crescimento da força da Igreja, que é o Corpo de Cristo. Vimos que João parte do particular para o coletivo, ele mostra o Cristo de João Batista para promover a fé coletiva, então sigamos o mesmo exemplo: SOU EU QUE PRECISO ME COMPROMETER!
Bem, desejo finalizar, conclamando você a não se esquecer de que nesta noite Deus o chamou a este comprometimento pessoal. Quando você se esquecer e andar longe de Deus, desejo que se lembre de que Deus te chamou para voltar e construir um relacionamento com Ele que lhe permita crescer na graça e na fé em Cristo Jesus.
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