30 de abril de 2017

Romanos 6.15-23

A Justiça da Sociedade Ressurreta
Romanos 6.15-23
(Sermão – IP Vila Formosa em 30 de abril de 2017 – texto sugerido pelo irmão Diac. Clélio Dal Santo)


Foco da Nossa Condição Decaída
A nova humanidade em Cristo é formada para um modelo de vida baseado na Verdade, resultante da ressurreição libertadora de Cristo e daqueles que com ele morreram. O resultado desta nova condição do ser humano é uma nova ordem social de plena justiça. Essa é a condição e o alvo da vida cristã. Paulo, nos exorta a olhar para tal possibilidade e nos oferecermos a este novo estado e buscarmos como resultado a vida de Cristo em nós, este é o modelo ressurreto.

Introdução
A Carta aos Romanos para mim é um dos textos mais fundamentais da Escritura. Nela, encontramos um resumo de todo o Evangelho da Graça em uma visão altamente propositiva do apóstolo Paulo.
Acredito que o fato do apóstolo buscar dos crentes de Roma o auxílio para chegar à Espanha, somado à questão de não conhece-los pessoalmente, motivou o apóstolo Paulo a escrever uma espécie de resumo de sua teologia e cosmovisão cristã. O resultado disto é uma grandiosa obra que apresenta a visão do mundo caído e do poder transformador da obra da Graça.
Paulo propõe um contraste entre o mundo que vivemos que se corrompe por causa do pecado que degenera o mundo, como se pode ler no capítulo 1.18-32 e em outros pontos, com a nova vida que o Espírito nos dá que faz toda a natureza ansiar pela manifestação dos filhos de Deus no capítulo 8. Isso nos leva a compreender com clareza a parte final da carta em que ele, depois de uma profunda exclamação de louvor em Romanos 11.33-36, afirmar categoricamente a necessidade de que o novo estado dos crentes é de luta contra a conformação com este século e a busca de uma profunda transformação da mente para vivermos de acordo com a vontade de Deus, experimentando o mundo a partir da perspectiva de Deus.
Nosso texto de hoje é parte deste contraste. Se pode notar que as perguntas retóricas que dominam a construção da carta desde o capítulo 3, se tornam ainda mais incisivas no capítulo 6. Aqui, entretanto, elas propõem justamente um contraste entre a sociedade dominada e serva do pecado que produz injustiça, com a aquela pretendida e estabelecida sobre a obra da graça e a justiça decorrente da obediência.
O que vamos ler hoje, nos  versos 15 a 23 é a conclusão de um argumento simples: a graça é mais poderosa que o pecado, portanto não há razão alguma para não crermos e buscarmos um modo de vida baseado na graça, conforme a ressurreição de Jesus. Nos versos 12 a 14 ele diz este novo reino produz um novo tipo de homem, o HOMEM RESSURRETO. ESSE MODELO DE VIDA RESSURRETA NÃO PODE SER SUPERADO PELA VIDA DO ÍMPIO DOMINADO PELO PECADO E QUEM O VIVE DEVE BUSCÁ-LO PORQUE ESTE PODER DA VIDA RESSURRETA É UM RESULTADO DIRETO DA OBRA DA GRAÇA REDENTIVA DE CRISTO E DE SUA PRÓPRIA RESSURREIÇÃO.
Essa NOVA SOCIEDADE RESSURRETA é o padrão que devemos buscar e fazer valer na nossa vida. Ainda que possamos confessar como ele próprio confessa: AI DE MIM QUE SOU PECADOR (CAPÍTULO 7), devemos e precisamos crer e viver sob o poder e influência da obra do Espírito que nos ensina que SOMOS FILHOS DE DEUS (Capítulo 8).
Nosso texto propõe uma pergunta: E daí? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei e sim da graça? Tal pergunta é uma acusação. Na verdade, Paulo está propondo uma questão cuja a resposta só pode ser: De modo nenhum. Mas o que Paulo quer que concluamos desta pergunta? Acredito que ele deseja que encontremos as razões mais profundas para buscar a NOVA VIDA RESSURRETA DE CRISTO. Acredito que Paulo não queira que os crentes pensem que a nova vida é apenas um estado, mas deseja que eles a percebam como uma missão e uma tarefa a ser cumprida. Como se ele dissesse: PORQUE PRECISAMOS BUSCAR VIVER O NOVO PADRÃO DE JUSTIÇA DA VIDA RESSURRETA? Por isso, vamos buscar este tipo de reflexão olhando para o nosso texto desta noite.

PORQUE PRECISAMOS VIVER O NOVO PADRÃO DE JUSTIÇA DA SOCIEDADE RESSURRETA?
PORQUE FOMOS LIBERTOS JUSTAMENTE PARA ISTO

Algumas vezes, percebemos que a vida dos crentes é como uma espécie de gangorra que se equilibra entre altos e baixos de transformação. Há crentes que se permitem louvar a Deus sendo preciosos instrumentos para a obra de Cristo, mas também se oferecem para serem instrumentos da malignidade quando noutros momentos parecem dominados pelo pecado. Então, são capazes de dar do seu tempo para contribuir dando aulas de Bíblia na Igreja, mas vão para suas casas e se tornarem intolerantes e cruéis com sua família. Ou ainda, são capazes de santificar parte de sua renda entregando o dízimo, mas oprimem empregados por causa da ganância em relação ao dinheiro.
O apóstolo Paulo propõe uma reflexão a partir da pergunta que fez: Ne DAÍ, PODEMOS VIVER EM PECADO SÓ PORQUE TEMOS SEGURANÇA NA GRAÇA? A resposta é óbvia: DE MODO NENHUM! Precisamos lembrar que fomos libertos da escravidão do pecado para uma nova vida em Cristo.
Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência, deste mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do pecado para a morte ou da obediência para a justiça?
Consciência de sua servidão – Paulo propõe uma reflexão, irmãos. Ele pede que consideremos que não podemos nos fazer servos do pecado e que se nossa ação é constantemente dominada pelo pecado, então estamos nos oferecendo ao seu senhorio. Ele usa o verdo “paristemi” (oferecer-se ou apresentar-se). Ele é usado para falar sobre o soldado que se apresenta a um superior e se oferece para ficar a seu serviço ou mesmo um escravo que se apresenta ao seu senhor e se põe sob suas ordens.
Paulo está dizendo que se estamos nos propondo a viver sob as ordens do pecado, então estamos contrariando a nossa possibilidade de viver para Deus. Isto significa algo muito sério: SOMOS PECADORES MAIS TERRÍVEIS QUE OUTROS, PORQUE VOLUNTARIAMENTE SERVIMOS A UM JUGO DO QUAL FOMOS LIBERTOS E ELE É MAL E CONTRÁRIO A DEUS.
Então, o ponto de Paulo é que repensemos e vivamos inteiramente para Deus. Afinal, também podemos viver em obediência.
Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues, e uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça (Romanos 6.17-18).
Consciência da própria liberdade – Paulo deseja que tenhamos consciência da própria liberdade que temos recebido. Aqui ele usa outro verbo grego: “paradidomi” (ser entregue, ser levado). Ele agora enfatiza a ideia de que Deus nos tomou para si e nos levou para sermos servos da justiça e não mais do pecado. Ele afirma que é uma obra da graça, porque não fomos nós que nos levamos, antes eramos voluntários no pecado, mas ele nos deu sua graça, por isso é que ele afirma: GRAÇAS A DEUS. Ele nos levou para outro reino.
Essa nova forma de doutrina é uma nova percepção da vida e da realidade. Passamos a viver para Deus e fomos feitos servos da justiça. PRECISAMOS VIVER O PADRÃO DA JUSTIÇA DA SOCIEDADE RESSURRETA PORQUE FOMOS LIBERTOS PARA ISTO.

PORQUE PRECISAMOS VIVER O NOVO PADRÃO DE JUSTIÇA DA SOCIEDADE RESSURRETA?
PORQUE É A ÚNICA FORMA DE VIVERMOS NUM MUNDO ONDE A MORTE NÃO É FINAL
Outro aspecto que Paulo trabalha neste texto é o resultado da vida sob o domínio do pecado. Ele logo diz: O FIM É A MORTE.
Nós não teremos muita dificuldade de entender isto que o apóstolo está dizendo. Basta olhar o mundo ao nosso redor e percebemos que realmente estamos vivendo em um mundo marcado pela presença sombria da morte em todos os sentidos. Basta olharmos para a absurda guerra na Síria. Não sei que é o responsável pelo uso de armas químicas, mas tente você imaginar, seja quem realmente for o responsável por isto, que alguém acredite que matando inocentes, entre eles crianças indefesas, de forma tão covarde, isso lhe fará mais forte ou conquistar domínio sob um território devastado!
Mas você não precisa ir longe para ver a morte trazendo sua sombra sobre a humanidade. É por causa dela em uma cidade como a nossa que você não se arrisca a ir à qualquer lugar à noite. E alguns, infelizmente, não precisam nem sair de casa da para ver a sombra da morte, basta olhar para sua própria experiência pessoal. Saibam irmãos, não se trata só de uma questão de educação ou de pobreza. Pessoas podem ter pouco estudo e serem muito pobres e ainda sim terem uma vida ressurreta. Aliás, a maior parte daqueles que desviaram milhões dos cofres públicos no Brasil, são pessoas que tiveram muitas oportunidades materiais e de estudo.
No capítulo 1, Paulo apresenta uma série de acusações sobre esta sombra e como ela é decorrente da iniquidade do homem. Aqui, entretanto, ele retoma o assunto:
Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa carne. Assim como oferecestes os vossos membros para a escravidão da impureza e da maldade para a maldade, assim oferecei, agora, os vossos membros para servirem à justiça para a santificação (Romanos 6.19).
Falo como homem por causa da fraqueza – Paulo está consciente da nossa condição humana caída e pede aos crentes que compreendam isso também. Ele diz que não podemos nos enganar, se não nos cuidarmos teremos o mesmo fim daqueles que vivem como escravos do pecado e geraremos morte tanto quanto eles. Essa fraqueza humana é advinda de sua natureza e inclinação pecaminosa.
Impureza e maldade para a maldade – ele faz os crentes pensarem que essa rotina de impureza e maldade para a maldade é um caminho natural da sociedade conduzida pelo pecado. Ele quer que os crentes estejam alertas que não podem viver sem uma atenção redobrada porque isto é que farão se não vigiarem e tomarem uma posição clara em favor da VIDA RESSURRETA.
Oferecei agora para servirem à justiça – Ele faz questão de usar um adverbio de tempo (hosper – agora ou imediatamente) para indicar a necessidade e urgência de uma postura de entrega e busca de uma maneira diferente de viver. O conceito que ele usa de justiça tem como ênfase um modo de vida justo, ou seja, ele propõe que a vida cristã ressurreta deve ter uma marca de mudança baseada em uma nova conduta que implica em algo que ele chama no final de santidade.
Pecado e Santificação – quero trabalhar o conceito de santificação e pecado e propor que sejam vistos de uma maneira prática do dia a dia e não somente dentro de uma esfera moral. Não posso gastar muito tempo nisto e quem desejar saber um pouco mais, eu recomendo acompanhar estudos bíblicos de quarta feira. O que é o pecado? Em resumo, é viver no mundo de Deus sem considerar e experimentar a presença de Deus na realidade. Tudo existe para a glória dele e não perceber isto no modo como vivemos e desfrutamos da vida é o cerne do que é pecado. Isso nem sempre é um problema moral. Tomar um cafezinho sem uma percepção da graça e glória de Deus pode ser considerado pecado. Logo, você percebe que temos um problema com isto. Paulo, diria o que disse: miserável homem quem  sou, quem me livrará do corpo desta morte!
Santificação, portanto, é o conceito contrário. Santificação é a abertura dos nossos olhos para vivermos no mundo de Deus para Deus o tempo todo. É uma percepção nova da realidade e da presença de Deus. Com a santificação começaremos a desfrutar de todas as realidades de um modo diferente. E é isso que Paulo quer que vivamos: ...OFERECEI, AGORA, OS VOSSOS MEMBROS PARA SERVIREM À JUSTIÇA PARA A SANTIFICAÇÃO.   
Porque, quando éreis escravos do pecado, estáveis isentos em relação à justiça. Naquele tempo, que resultados colhestes? Somente as coisas de que, agora, vos envergonhais, porque o fim delas é morte (Romanos 6.20-21).
Depois que comecei a preparar este material eu percebi que este texto tem um riqueza grandiosa e eu gostaria de explora-lo mais detidamente, talvez o faça noutras oportunidades, talvez no culto de sexta-feira que tem a dinâmica de exposição verso a verso sem pressa. Entretanto, vamos olhar para este verso e perceber o que Paulo está dizendo.
Aqui ele diz que o resultado da vida de pecado e como escravo do pecado é sempre a morte. Portanto, se não queremos que o resultado da nossa vida seja o mesmos, precisamos buscar o viver ressurreto. PORTANTO, BUSCAR A JUSTIÇA DA SOCIEDADE RESSURRETA É NECESSÁRIO PORQUE É A ÚNICA FORMA DE NÃO VIVERMOS NUM MODELO CUJO RESULTADO É A MORTE. Ou dizendo de uma forma mais direta, como diremos a seguir: é a única forma de vivermos para a vida.

PORQUE PRECISAMOS VIVER O NOVO PADRÃO DE JUSTIÇA DA SOCIEDADE RESSURRETA?
PORQUE VIVENDO ESTE NOVO PADRÃO TRAREMOS A ETERNIDADE PARA A NOSSA VIDA COTIDIANA
No último domingo, tivemos a oportunidade de meditar no texto de 1 Coríntios 15, que é um dos principais textos neotestamentários sobre a ressurreição. Os que puderam acompanhar devem se lembrar que falamos sobre uma teologia da ressurreição conduzindo o pensamento dos apóstolos. Essa teologia implicava em uma mudança de padrão de vida, o que, como já dissemos hoje, Paulo chamou de vida ressurreta.
Uma das coisas que a teologia da ressurreição propõe é uma visão da eternidade. Afinal, ressurretos mesmo, na prática total, só seremos quando a VIDA ETERNA ou A ERA ETERNA INICIAR NO RETORNO DE CRISTO. Mas um dos pontos sérios desta teologia da ressurreição é que PODEMOS TRAZER O PADRÃO DA ETERNIDADE PARA NOSSO DIA A DIA, HOJE.
Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendo o vosso fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna, porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor (Romanos 6.22-23).
Agora porém – O contraste é claro com os versos 20 e 21. Se o resultado da vida no pecado é a morte, mas o resultado do ato de viver de forma ressurreta é a vida.
Libertados do pecado – Eleotheponthetes – Um verbo muito significativo em uma voz passiva: tornado livres. Com certeza, o que está por detrás do uso de um verbo tão significativo é o conceito fundamental que está por detrás do conceito geral de Paulo, isto é, a GRAÇA ABUNDANTE. A graça é mais abundante, não estamos debaixo da lei mas da graça.
Transformados em servos de Deus – ele diz que o fruto desta graça é a transformação da nossa condição. Outrora éramos escravos do pecado, mas fomos tornados escravos, servos de Deus para a vida livre.
Tendo o vosso fruto para a santificação e por fim a vida eterna - Todo este processo produz dois grandes momentos que se unem na nossa experiência. Primeiro, somos conduzidos à uma vida santificada e depois, levados para a vida eterna. No entanto, a ênfase de Paulo não é só de apontar para a vida eterna como algo distante no futuro, mas uma experiência que pode ser antecipada por meio da nossa vida santificada.
A ERA ETERNA será a de um povo santo, sem mácula, nem ruga, santo e sem defeito. Em Romanos 8.18, uma glória que não consegue ser discernida ou alcançada nos dias atuais. Para qual vale a pena viver e sofrer. Este tema do futuro perfeito permeia toda a Escritura e a Carta aos Romanos de forma peculiar:
E aos que predestinou, a esses também chamou, e aos que chamou a estes também justificou e aos que justificou a estes também glorificou (Romanos 8.30).
Contudo, como de alguma forma parece estar implícito nos verbos usados aqui em Romanos 8.30, no tempo aoristo indicativo ativo, como um simples passado, indicando que é uma obra que, embora só será completamente vista no futuro, já está conquistada e totalmente garantida no presente. Como uma semente que já possui tudo o que uma planta precisa ter para ser planta, apenas faltando germinar e aparecer. Assim a vida ressurreta já nos é dada como uma dádiva que pode germinar e apresentar-se no dia a dia.
Já e ainda não – o que Paulo está propondo com estes dois momentos agora fruto para a santificação e por fim a vida eterna, não é uma ruptura ou um distanciamento, mas uma antecipação de algum desfrute deste modo perfeito de vida eterna.
A sociedade ressurreta e a vida ressurreta é a possibilidade de você desfrutar de um tipo de vida que jamais imaginou que pudesse viver neste mundo. Precisamos crer nesta possibilidade e no PODER DA RESSURREIÇÃO.
Famílias podem ser FAMÍLIAS RESSURRETAS porque ONDE ABUNDOU O PECADO SUPERABUNDOU A GRAÇA; JOVENS PODEM SER JOVENS RESSURRETOS porque ONDE ABUNDOU O PECADO SUPERABUNDOU A GRAÇA; GOVERNOS PODEM SER GOVERNOS JUSTOS COMO GOVERNOS RESSURRETOS porque ONDE ABUNDOU O PECADO É POSSÍVEL SUPERABUNDAR A GRAÇA.
O que Paulo nos conclama a buscar é VIDA E ABANDONAR A MORTE. Isto permeia a visão dele desta sociedade de pecado em contraste com a sociedade que filhos de Deus podem construir.
Porque se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se pelo Espírito, mortificardes os efeitos do corpo, certamente vivereis (Romanos 8.13).

CONCLUSÃO
Claro que é por isso que ele conclui o capítulo 6, com o versículo 23, fazendo claramente este contraste, dizendo: o resultado do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna.
Precisamos perceber o nosso chamado para UM VIVER RESSURRETO e a responsabilidade de usarmos toda a nossa vida a SERVIÇO DESTE NOVO PADRÃO RESSURRETO. Transformar-nos pela renovação de nossa mente e buscar uma VIDA REALMENTE SANTA, longe do pecado e da sombra que ele traz.
Precisamos confiar no PODER DA RESSURREIÇÃO e aplicar às nossas realidades, corajosamente e com empenho, este novo padrão. Nossas decisões devem ser DECISÕES PERMEADAS PELA RESSURREIÇÃO; NOSSAS ESCOLHAS DEVEM SER PERMEADAS PELA RESSURREIÇÃO; NOSSOS PENSAMENTOS, AFETOS, NOSSO AMOR... TUDO EM NÓS DEVE SER PERMEADO PELA RESSURREIÇÃO.
Essa nova realidade será vivida entremeada pela morte, talvez por isso é que tenhamos entre o capítulo 6 e 8, o capítulo 7: O BEM QUE EU QUERO NÃO FAÇO. Mas certamente, esse é o nosso chamado e deveríamos aplicá-lo AINDA HOJE, AO CONSIDERARMOS REALMENTE QUEM TEM SIDO SENHOR DE NOSSAS ESCOLHAS, GOSTOS, PALAVRAS, PENSAMENTOS, ATITUDES ETC...


Assim também considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus (Romanos 6.11).

23 de abril de 2017

1 Coríntios 15.12-19

A Ressurreição de Cristo no Centro do Significado da Nossa Vida Cristã
1 Coríntios 15.12-19
(Pregado na IP Vila Formosa em 23 de abril de 2017)

Introdução
Em geral, os crentes não duvidam da ressurreição. Eles afirmam crer que Cristo se levantou da sepultura e ressurgiu com a mesma facilidade que crêem que o homem chegou à lua. A diferença, muitas vezes, é que a chegada do homem à lua parece ter muito mais consequência prática que a própria ressurreição de Jesus Cristo.
Portanto, o problema que a Bíblia trabalha quando apresenta a ressurreição como um tema central da nossa fé, não está exatamente no nosso assentimento intelectual à possibilidade da ressurreição de Cristo, mas à falta de importância prática dos seus efeitos em nossa vida diária.
Em Romanos 6, o apóstolo Paulo indica que a ressurreição de Cristo deve ter uma implicação prática no modo como agimos nas circunstâncias de nossa vida:
Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos, sabedores de que, havendo Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte não tem domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o pecado; mas quanto à viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça. Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei e si da graça (Rm 6.8-14).
Paulo apresenta a ressurreição de Cristo como o fundamento da nossa nova vida. Ele diz que ela é a possibilidade de vitória sobre o pecado que cada um de nós deve ter e que aprender a viver esse novo padrão é a única possibilidade para que realmente crê na ressurreição de Cristo.
Na carta aos Coríntios ele está lidando com alguns problemas dentro da comunidade cristã que o preocupavam fortemente. Os crentes de Corinto não tinham compreendido completamente a fé e estavam vivendo como crianças em Cristo. Eles promoviam divisões e falta de santidade na sua vida, parecia que não tinham realmente percebido as implicações da nova vida que Cristo conquistou na sua morte e ressurreição.
A desistência de muitos deles de uma vida de santidade e a sua conformação à um padrão longe da nova vida em Cristo parece ter ocorrido por que também haviam perdido a real medida do significado e das implicações da ressurreição. Neste capítulo 15, portanto, Paulo busca retomar estas implicações e coloca-los de volta ao padrão de vida abundante que todo crente deve ter, uma vez que Cristo venceu a morte para nos dar vida.
Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão (1Co 15.57-58).
 Portanto, o grande problema da negação da Ressurreição não ocorre apenas quando nos tornamos céticos em relação à possibilidade de Jesus ter voltado à vida, mas quando deixamos de viver a ressurreição no nosso dia a dia e perdemos de vista a busca de uma vida que persevera em ser aquilo que Paulo definiu como “novidade de vida”.
Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida (Rm 6.4).
Portanto, talvez o seu modo de vida seja o de um cético, que não crê que realmente está vivo. Por isso, prefere viver como se isso não tivesse ocorrido e vive muito abaixo do que pode viver para Deus, porque não crê na ressurreição e no que ela te deu.
Esta mensagem é para quem deseja olhar para si mesmo e se perguntar a respeito das implicações da ressurreição na sua própria vida e deseja encontrar um novo SIGNIFICADO PARA A PRÓPRIA EXISTÊNCIA EM CRISTO. ESTA MENSAGEM É PARA QUEM SENTE QUE NÃO SABE MAIS O QUE SIGNIFICA SER RESSURRETO COM CRISTO.

OS QUE BUSCAM SIGNIFICADO DA SUA VIDA CRISTÃ NA RESSURREIÇÃO DE CRISTO REDESCOBREM O VALOR SUPERIOR DO QUE É VIVER POR FÉ.
Um dos problemas de igreja de Corinto é que haviam perdido a visão do que realmente era o Reino de Cristo Jesus e as implicações do que realmente significa viver para Cristo e ter Cristo vivendo no coração do homem. Não vamos nos deter em muitas passagens, mas ao longo da carta é fácil perceber essa distância entre o Reino do Cristo vivo e a prática daquela igreja.
Ou não sabeis que o homem que se une à prostituta forma um só corpo com ela? Porque, como se diz, serão os dois uma só carne. Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele. Fugi da impureza (...). Acaso não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo (1Co 6.16-20).
Para Paulo, o problema da falta de vida santificada e verdadeiramente comprometida com o Reino de Cristo era resultado de uma percepção errada do que era a ressurreição de Cristo e suas implicações.
Ora, se é corrente pregar-se que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição dos mortos? E se não há ressurreição dos mortos, então Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé (1Co 15.12-14).
É vã a nossa pregação - O reino de Cristo foi conquistado quando ressurreto dentre os mortos ele subiu ao céu e assentou-se à direita de Deus o Pai. Ali, ele levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens. Ou seja, ele conquistou o Reino quando da morte nos levou com ele para a glória. O reino de Cristo é anunciado como a vitória de Cristo sobre a morte: ele nos transportou do Império das trevas para o reino do Filho do seu amor. Ele nos deu vida!
A pregação só tem sentido quando a ressurreição tem sentido para nós. A pregação o Reino não existe se não o reino não existe. Então Paulo diz que não tem sentido pregar se a ressurreição não existe.
Alguns dos coríntios queriam uma igreja sem ressurreição. Pensavam na construção e um reino humano, baseado em normas de conduta. O Reino de Cristo é muito mais que isto, irmãos!! O Reino de Cristo é uma conquista da vitória sobre a Morte, aleluia!!! Portanto, não é um reino de mortos, que vivem de qualquer maneira, mas de pessoas que vivem uma nova vida, de compromisso com a vida em Cristo!!
A vã a vossa fé – Paulo usa o termo “Kenon”, isto é: vazio ou vão.  Note como o argumento foi construído: o que acontece normalmente é pregar que Cristo ressuscitou da morte. Aqui ele propõe que a pregação dos apóstolos, que viram o Cristo vivo (versos 1 a 11) era centrada na vitória de Cristo sobre a morte. O que estava mudando no comportamento dos crentes é que havia quem duvidasse deste ponto: como pois, afirmam alguns que não há ressurreição de mortos? O problema é que alguns deturpavam a fé, tentando afirmar que não havia sobrenaturalidade alguma na vida cristã, que ela deveria ser vivida como os outros homens vivem suas “filosofias de vida”. Essa naturalização a vida Cristã era uma mutação da igreja. A Igreja não é uma sociedade humana, mas o CORPO ESPIRITUAL DE CRISTO, nós vivemos pela fé nessa verdade. Se não existe ressurreição, ou se ela não faz diferença alguma, então NÃO VIVEMOS POR FÉ, VIVEMOS POR UMA FÉ VAZIA, SEM SENTIDO, MORTA E INCAPAZ DE VIVER PARA DEUS.
Esse é o problema com muitos crentes: VIVEM COMO SE FOSSEM PESSOAS SEM NADA DIFERENTE. O MÁXIMO QUE POSSUEM É UMA REGRA MORAL MELHOR QUE OUTROS. Por isso, muitos vivem uma vida tão pobre de significado real e não conseguem compreender o que é viver por fé, porque sua fé é uma quimera deste mundo e não uma fé que se torna significativa num novo padrão de vida espiritual em Cristo Jesus.
Precisamos buscar na ressurreição de Cristo o verdadeiro significado elevado de nossa fé e tornar esse viver que vivemos na carne, algo que realmente imprima valor ao nosso dia a dia. Nossas escolhas e preferências mudarão radicalmente.

OS QUE BUSCAM SIGNIFICADO DA SUA VIDA CRISTÃ NA RESSURREIÇÃO DE CRISTO REDESCOBREM O VALOR SUPERIOR DA LIBERDADE QUE TEMOS EM CRISTO.
Os versos 15 a 18 parecem repetir os mesmos conceitos. De fato, o argumento é construído da mesma forma que a porção dos versos 12 a 14. Mas ele inclui alguns elementos que desejo destacar.
Falsas testemunhas de Deus – No verso 15, Paulo está dizendo que se Cristo não ressuscitou, então ele é um mentiroso e está vivendo na  direção contrária de Deus, ou seja, afirmando que Deus fez uma coisa que ele não fez, então, que ele é uma falsa testemunha de Deus.
E somos tidos por falsas testemunhas de Deus, porque temos asseverado contra Deus que ele ressuscitou a Cristo ao que ele não ressuscitou, se é certo que os mortos não ressuscitam (1Co 15.15).
Irmãos, o que Paulo está nos dizendo é que se pregamos uma coisa e vivemos outra, significa que nossa pregação é uma ação contra Deus. Então, a expectativa que muitos têm de estarem agradando a Deus é uma falsa expectativa, porque no final, se estamos falando de uma coisa e vivendo outra estamos testemunhando contra Deus.
Este conceito dentro da construção é novo. Portanto, não se tratava apenas de um lapso, ou uma falha, mas de uma ação contra Deus. Irmãos, notemos a seriedade desta afirmação. A falta de significado da ressurreição na sua vida não é apenas uma omissão contra a doutrina, mas uma verdadeira luta contra Deus.
Ainda permaneceis nos pecados – este também é um novo conceito que não estava presente no bloco anterior. Quando a ressurreição não produz vida em nós, significa então que a morte não foi realmente vencida em nós, então ainda estamos prisioneiros do seu aguilhão.
A ideia de permanecer aqui não é a de “cometer pecado”, mas a de manter-se em uma condição de domínio. Aquilo que em Romanos ele disse que não existe mais sobre nós, o homem que não tem vida prática de ressurreição vive debaixo deste domínio.
Irmãos, viver sobre o domínio do pecado é uma triste condição.  É uma prisão que nos leva a destruir tudo ao nosso redor. Algumas vezes, destruímos o que está ao nosso redor porque o pecado nos impede de viver a liberdade que somente Deus pode nos dar em Cristo Jesus.
Quando um homem crente é capaz de superar todas as dificuldades para perdoar alguém que lhe fez algum mal, ele está vivendo as implicações da ressurreição e superando o modelo e domínio da morte e dando uma resposta de vida. Assim quando um marido ama a esposa, apesar de seus erros e vice-versa, um pai ou uma mãe consegue receber um filho rebelde, na igreja conseguimos nos tornar verdadeiramente irmãos, apesar das diferenças, ou simplesmente, quando um jovem consegue ter um namoro cristão de honra e respeito, quando o mundo inteiro está agindo de forma diferente... esses são penas alguns exemplos e existem muitos outros.
PRECISAMOS REDESCOBRIR A ALEGRIA E O VALOR SUPERIOR DA LIBERDADE QUE TEMOS NA RESSURREIÇÃO DE CRISTO.
Onde está o morte a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu aguilhão? (1Co 15.55).

OS QUE BUSCAM SIGNIFICADO DA SUA VIDA CRISTÃ NA RESSURREIÇÃO DE CRISTO REDESCOBREM O VALOR SUPERIOR DA ALEGRIA NA VIDA ETERNA.
Nos versos 18 e 19, Paulo conduz os crentes a pensarem na vida eterna. Ele começa falando sobre o fato de que a ressurreição dá sentido à vida daqueles que morrem na fé e depois trabalha com a ideia de que a nossa vida passa a ter um sentido de eternidade.
E ainda mais, os que dormiram em Cristo pereceram. Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens (1Co 15.18-19).
Os que dormiram pereceram – Paulo começa dizendo que se Cristo não ressuscitou a vida daqueles que já partiram na fé, perdeu todo o sentido, porque simplesmente sua vida não existiu e eles pereceram. Porque a vida ressurreta é uma forma de vida que permite o homem ter ampliado o seu próprio significado.
Irmãos, tenho trabalhado algumas vezes em estudos, especialmente de quarta feira, com o conceito de que a alma humana precisa de significado que seja expandido. O homem precisa encontrar seu significado em algo maior que ele próprio. Salomão, em Eclesiastes 3.11, diz que esta é uma sede de eternidade que Deus colocou no coração humano. Agostinho de HIpona dizia: Fomos criados para Ti e nossa alma só encontra descanso em Ti.
Esperança em Cristo apenas nesta vida – Paulo está propondo a ressurreição como uma ponte da transcendência ou da eternidade permitindo que essa esperança futura perpasse a nossa vida hoje e promova uma visão mais alargado do significado de nossa própria fé e vida.
Paulo está nos dizendo que pessoas que perdem o significado do valor eterno da ressurreição se tornam limitados ao desfrute de um a padrão de vida natural e, portanto, tudo o que podem fazer são planos terrenos e tudo o que conseguem desfrutar é o que estes planos podem lhe dar. Mas ao final, o que fica: FICA O NADA. Como no verso 18.
Infelizmente, há muitos crentes construindo uma relação com Deus baseada nessa falta de eternidade em seu olhar. A ressurreição não lhes promove à uma esperança elevada sobre a vida, portanto, é fácil encontra-las desiludidas, desesperançosas, tristes, perdidas e cheias de desalento. No final das contas, vivem para nada, sem encontrar valor em nada, senão no que podem, elas próprias fazer.
Quando nos despertamos e recuperamos uma visão do valor eterno da ressurreição, descobrimos que podemos ser entregues à morte todo dia, mas temos a expectativa de que tudo vale a pena, não existe nada que possa nos aprisionar ou nos impedir de receber a eterna glória que está prometida ao que crê.
IRMÃOS A VERDADEIRA ALEGRIA RESPOUSA SOBRE UM FORTE CONFIANÇA DE QUE A RESSURREIÇÃO DE CRISTO, SUA VITÓRIA É TAMBÉM A NOSSA PORTA DE ENTRADA NA ETERNIDADE E PODEMOS DESFRUTAR DA VENTURA QUE NO BELO PAÍS HAVERÁ, ANTES MESMO DE CHEGARMOS LÁ.
Como crianças que passam a noite sorrindo e sonhando com o passeio que lhes foi prometido no dia seguinte, assim são aqueles que como crianças desfrutam do prazer de terem confiança e esperança no que Cristo conquistou para nós na sua ressurreição.

Conclusão
Sempre que nos encontramos reunidos para a mensagem da Palavra eu me pergunto irmãos o quanto vocês estão realmente atentos à Palavra. Desejo que Deus os conduza a um senso perfeito do que significa ouvir a Palavra de Deus a ponto de que possamos juntos, considerar que esta noite DEUS NOS FALOU.
Somente pessoas que realmente consideram as implicações da sua nova vida em Cristo compreendem o que está acontecendo aqui e agora. Somente estes podem perceber que o Cristo vivo está conosco aqui e está falando ao seu coração.
Quando você percebe este movimento de Deus na sua direção nunca pense que é somente algo da sua cabeça, que não pode ser... Ao contrário, pense em que o Deus vivo, lhe deu VIDA PARA QUE VOCÊ O OUÇA.
Esta noite, se você tem deixado de lado a importância de sua nova em Cristo é hora de retomar a sua caminhada de VIDA. Não deixe o pecado te aprisionar, sendo você alguém que já está livre dele. A morte não pode ter mais nenhum domínio sobre suas ações, sobre suas escolhas, preferências. Liberte-se, até de si mesmo!! Liberte-se do pecado e do mal que te assedia!!
Lamento que muitos crentes prefiram viver na sombra da morte, a desfrutar de uma vida ampla em Cristo e cheia de um novo significado. Mas, por outro lado, Louvo a Deus que em Cristo Jesus sempre nos chama de volta!! Como hoje está chamando muitos de nós!!

TORNE A RESSURREIÇÃO DE CRISTO O CENTRO DE SUA NOVA VIDA, FAÇA DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO O PONTO SIGNIFICADOR DO SEU PRÓPRIO EXISTIR DIÁRIO. ASSIM SEU VIVER NUNCA SERÁ VÃO. 

13 de abril de 2017

Lucas 23.46

O Descanso do Rei

Lucas 23.46

(Pregado no Culto das Sete Palavras da Cruz – Presbitério Paulistano – Abril 2017)

FCD

O descanso do nosso Rei acontece logo após a sua grande vitória. Seu descanso é o nosso descanso também. Estas palavras de Jesus devem nos conduzir ao verdadeiro e perfeito descanso, por isso, devemos considerar exatamente como é que somos conduzidos a Deus por meio da vitória de Cristo. 

Introdução

Jesus caminhou na direção da Cruz com a altivez de um Rei. Ele foi vítima de um julgamento injusto, cheio de inveja, ira e omissão humana, também foi humilhado, chicoteado, cuspiram no seu rosto, bateram-lhe, pregaram suas mãos e pés na cruz, recebeu toda a zombaria. Ele tudo sofreu como um Rei.
Na Cruz, ironicamente coroado de espinhos e tendo no alto a insígnia: REI DOS JUDEUS, Jesus proferiu estas palavras, conhecidas como “As Sete Palavras da Cruz”. Todas elas revelam a glória do Salvador:
  1. 1.    Só um rei amoroso pode ser morto e perdoar seus algozes.
  2. 2.    Só um rei misericordioso pode salvar um pecador que merece a pena.
  3. 3.    Só um rei afetuoso pode, em meio ao seu sofrimento, amparar os desamparados.
  4. 4.    Só um rei santo poderia oferecer-se para sofrer o inferno em lugar de pecadores.
  5. 5.    Só um rei verdadeiramente humilde seria capaz de identificar-se com as nossas fraquezas.
  6. 6.    Só um rei decidido a salvar o seu povo seria capaz de nos amar até o fim e completar sua dolorosa jornada.

Eu, agora, irmãos, desejo lhes falar do fato de que SOMENTE UM REI COM TODAS ESTAS QUALIDADES PODERIA NOS CONDUZIR AO VERDADEIRO DESCANSO.

“PAI EM TUAS MÃOS ENTREGO O MEU ESPÍRITO”

O que tenho a dizer sobre esta SÉTIMA PALAVRA DA CRUZ é que ela fala SOBRE O DESCANSO DO REI. Devemos considerar que o Descanso do nosso Rei é também o NOSSO DESCANSO. Em grande parte, a igreja de Cristo precisa aprender muito sobre o que é o verdadeiro descanso que Cristo promete nos dar. Não são poucos os crentes que nada sabem sobre o que é DESCANSAR EM DEUS.
Quero lhes convidar a pensar sobre os caminhos que esta palavra de DESCANSO DO REI podem abrir para nós, se realmente conseguirmos ouvir o seu brado e deixar o nosso coração ser ensinado por Jesus.

O DESCANSO DO REI É O NOSSO DESCANSO QUANDO APRENDERMOS A DESFRUTAR DE UMA VERDADEIRA RELAÇÃO DE FILHOS AMADOS COM DEUS

No pano de fundo mental desta passagem temos o Salmo 31. Ali não temos a história de um homem morimbundo, entregando os pontos finais da sua vida. Ali no Salmo 31 temos o Rei de Israel que estava pressionado por muitos inimigos, mas que suspirava, expirava sua certeza de que Deus era o seu refúgio que nEle estava toda a sua esperança. Por isso, Davi entregava a Deus o seu espírito. Esta não era uma entrega de pontos, mas uma palavra de altaneira confiança em Deus.
PAI - Jesus, da mesma forma, é um rei que está pronto para encerrar sua guerra e chegar em seu Reino, assentar-se no seu trono. Esta frase de Jesus é como um brado de descanso. Ele enfrentou o inferno em nosso lugar quando disse: DEUS MEU, DEUS MEU, PORQUE ME DESAMPARASTE. Naquela palavra, ele mostrava que estava distante do seu Deus, mas agora, ele revela que DESCANSA NUMA CERTEZA, TEM UMA RELAÇÃO DE FILHO AMADO COM DEUS.
O descanso do Rei reside na sua confiança de que seu Pai jamais o deixaria na morte. Ele aguardará o fato de mesmo morrendo, seu Pai estará com ele na sepultura, no vale da sombra da morte. Ele sabe que sua alma não ficará aprisionada, porque o Pai ama o Filho.
Crentes precisam desenvolver este tipo de percepção sobre sua relação com Deus. Crentes precisam amadurecer sua filiação, sua adoção como filhos de Deus. Crentes que não vivem este tipo de relação estão desesperados, inseguros e frequentemente erram o caminho, porque estão esquecidos de quanto o Pai Celestial os ama.


O DESCANSO DO REI É O NOSSO DESCANSO QUANDO APRENDERMOS A PERCEBER OS ATOS PROVIDENCIAIS DE DEUS GUIANDO NOSSA VIDA
O  Rei Davi estava pressionado por todos os lados. Seus inimigos eram cruéis e muitas coisas que lhe aconteciam traziam muita tristeza. Entretanto, Davi confiava que Deus sempre age providencialmente, ele sabia que Deus não o abandonaria nunca. Então ele é capaz de terminar o seu Salmo com um clamor a todos os que creem:
Amai o Senhor, vós todos os seus santos. O Senhor preserva os fiéis, mas retribui com largueza ao soberbo. Sede fortes, e revigore-se o vosso coração vós todos os que esperais no Senhor (Salmo 31.23-24).
Nas tuas mãos - Jesus estava na Cruz e seus inimigos poderiam estar imaginando que seu último brado seria um sinal de que realmente tinham se tornado vitoriosos. Gosto de pensar como Arthur Pink que Jesus saiu das mãos dos homens para as mãos de Deus. Jesus não estava entregando os pontos aos seus inimigos, ao contrário, ele estava entregando sua esperança a Deus. Ele confiava na providência do Pai.
Crentes precisam reconstruir essa relação de humilde de confiança na providência divina. Crentes precisam deixar suas próprias forças e deixar as mãos de Deus guiarem mais suavemente o seu destino. Crentes que não confiam na providência divina se precipitam, estragam suas vidas e fazem coisas que se arrependem depois, sem conseguir mais consertar. Precisamos confiar que as mãos de Deus cuidarão de nós.

O DESCANSO DO REI É O NOSSO DESCANSO QUANDO APRENDERMOS QUE DEUS É O ALVO FINAL DE TODA A NOSSA EXISTÊNCIA
Jesus, nos dias de sua carne, viveu inteiramente para o Pai Celestial. Sua comida e sua bebida era fazer a vontade de seu Pai. Ele é o maior exemplo de alguém que teve Deus como alvo final de toda a sua existência.
O apóstolo Paulo falou algumas vezes sobre aprender a viver somente para Deus e ele nos diz que Jesus morreu para nos ensinar a deixar de viver para nós mesmos.
E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou (2Coríntios 5.15).
Entrego o meu espírito – Quando Jesus disse que entregava o seu espírito ao Pai, devemos pensar claramente que ali na Cruz estava um homem que entregava a sua vida a Deus. Jesus não está somente reconhecendo que sua vida está no fim. Ele está mostrando que compreende que a direção da sua vida tinha como alvo DEUS e um encontro com ele. Ele estaria com o Pai!
Novamente eu digo que crentes precisam aprender com Jesus. Crentes precisam aprender a encontrar um alvo maior para a sua vida. Em geral, nós crentes estamos enfatizando objetivos passageiros para a nossa vida, gastando nossa energia em coisas que nada poderão fazer por nós no dia em que partirmos deste mundo, encerrando nossa caminhada aqui. Crentes precisam aprender a viver para Deus. Crentes precisam aprender a não viverem para si, mas encontrar em Deus um alvo superior e um motivo transcendente para que sua vida se torne ampla. Quando crentes se apegam demais a este mundo e vivem para este mundo, sua vida se estreita e por isso que vivem em tantas angústias e estão tão sem perspectivas. Crentes precisam entregar a sua vida a Deus.

CONCLUSÃO
Apenas três coisas importantes:
a)    Viva uma relação com Deus na perspectiva de quem sabe que o Pai te ama e nisso você pode estar seguro para viver em qualquer vale de morte;
b)    Viva uma relação de confiança no fato de que Deus tudo faz para cuidar de você. Permita-se descansar no fato de que Deus é providente na vida daqueles que são dele.
c)    Viva na direção de se encontrar com Deus no final como alguém que realmente irá encontrar o descanso.

O Rei descansou e o descanso dEle é o nosso descanso. O nosso descanso não acontece apenas no dia em que morremos, mas começa agora, quando redescobrimos e aprendemos a viver nas mãos de Deus.

2 de abril de 2017

Mateus 26.14-16

Lealdade Mutante - A Natureza da Mudança da Nossa Lealdade a Cristo
Mateus 26. 14 a 16

(Por ocasião do 102º aniversária da IP Brás - sermão pregado na IP Brás durante o culto vespertino)

FCD
Neste texto sobre a traição de Judas precisamos considerar o processo que muitas vezes conduz o coração do crente a trocar a sua lealdade a Cristo para outro senhor. A natureza da lealdade mutante de Judas pode ser um espelho para que averiguemos se estamos ou não caminhando na mesma direção. Após esta mensagem, cabe ao crente uma autoanálise a fim de encontrar os elementos em nossa postura cristã de lealdade a Cristo que se assemelhem aos erros de Judas, para que possamos evitar caminhar na mesma estrada.

INTRODUÇÃO
Michael Horton foi o responsável por uma coletânea de artigos que deram corpo a um livro publicado no Brasil: “Religião de Poder”. Nele, o professor do Seminário de Westminster da Califórnia reúne autores para denunciar a falta de fidelidade da igreja cristã em nossos dias.
Lealdade e Fidelidade são palavras opções claras para a tradução da palavra “pistin” de “pistis” (fé). Esse é um tema que dominou a preocupação das primeiras gerações cristãs, em especial após a ascensão de Jesus Cristo, quando muitas igrejas queriam exatamente saber e se localizar e saber o que deveriam ser neste mundo.
O surgimento dos escritos do Novo Testamento foi motivado pela necessidade de explicar à Igreja de Cristo quem ela era e o que Cristo esperava dela neste mundo. Da mesma forma, posso dizer que este foi o papel do pentateuco e toda a literatura dos profetas e da história de Israel, afinal, Deus precisava revelar o seu plano e o que Ele esperava de seu povo.
Irmãos, um dos problemas que acomete a Igreja do Século XXI é a sua incapacidade de ser LEAL a Cristo de forma absoluta. Essa inconsistência da lealdade da Igreja a Cristo ou, ainda pensando na Igreja em sua condição mais particular, do cristão para com Cristo, está centrada em uma total perda de sentido do que é ser um cristão neste mundo.
A perda deste sentido do cristianismo para o dia a dia do crente tem sido o mais danoso resultado do modo como ela está experimentando a sua realidade diária, especialmente por conta de sua adesão natural e pecaminoso a um certo amor ao mundo, o que o coloca em inimizade para com Deus.
A traição de Judas é registrada por Mateus e por todos os outros evangelistas e o objetivo deste registro foi mostrar para a Igreja pós ascensão sobre a importância de se manter leal à Cristo, evitando o erro de Judas Iscariotes.
Nestes versos, desejamos averiguar a natureza da traição de Judas Iscariotes, que ocasionou uma mudança da lealdade do seu coração, fazendo-o deixar a Cristo por uma mísera recompensa de trinta moedas de prata. Essa averiguação da natureza da mudança da lealdade de Judas deve nos conduzir a uma necessária reflexão pessoal sobre como estamos lidando com a nossa lealdade pessoal a Cristo e o quanto realmente dispomos nosso coração a amar a Cristo e a sua vinda mais que todas as coisas.

Nossa Lealdade Mudará Quando Está Estabelecida em Um Mero Compromisso Externo Com Cristo e Não se Desenvolve  em Uma Comunhão Verdadeira Com o Senhor da Vida
Grande parte do ensino do Novo Testamento é visando tratar o potencial apóstata que permeava as igrejas. Muitos crentes estavam deixando o Caminho porque haviam se encantado com falsos ensinos que transformavam o Evangelho da Graça em algo parecido com qualquer coisa, menos com o Evangelho de Cristo.
Para que não mais sejamos como meninos agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia dos que induzem ao erro (Ef 4.14).
Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até o ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição (2Pe 2.1).
Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos, entretanto da fé, para a conservação da alma (Hb 10.39).
Um dos doze – sem dúvida alguma, a expressão “um dos doze” não foi colocado no texto de Mateus sem que se desejasse enfatizar o problema da apostasia de Judas. Era necessário mostrar que mesmo dentro do seleto grupo chamado para andar com Cristo por três anos havia um traidor, alguém que seria instrumento de Satanás.
O filho de Simão Iscariotes foi chamado por Cristo para ser um dos doze. Essa condição aparece em destaque em todas as citações que se faz ao seu nome nos Evangelhos. Outra informação que acompanha o nome de Judas é que ele foi aquele que traiu Jesus.
Neste ponto do Evangelho, Mateus mostrou, como os outros evangelistas, que era necessário considerar que a traição veio da mão de um amigo. Nasceu no coração de um homem que andou com Jesus, tendo ouvido todo o seu ensino e vista a sua vida.
Ele era um dos doze e isto precisamos considerar para fazer uma primeira consideração sobre a nossa lealdade a Cristo. Ele esteve muito próximo de Cristo, era o responsável pelas finanças do grupo que andou com Jesus e esta experiência não lhe impediu de ter uma mudança na matriz da lealdade do seu coração.
Irmãos, precisamos considerar de forma muito séria que não podemos confiar que uma religiosidade externa ou uma mera adesão institucional à igreja é capaz de substituir uma real entrega pessoal a Cristo.
Em geral, crentes mudam sua matriz de lealdade a Cristo quando praticam um tipo de vida com Cristo sem verdadeira aproximação como seu Salvador. Ele vive como filho de Deus, mas não é filho de Deus. Ele vive como se se importasse com Jesus, mas seu interesse na obra é altamente egoísta.
Os versículos anteriores mostram como os discípulos haviam se indignado com a mulher que ungiu os pés de Jesus. Por causa do Evangelho de João, sabemos que quem liderou essa indignação foi Judas, mas ele não fez por um real interesse no Reino de Cristo, mas por mero egoísmo:
Mas Judas Iscariores, um dos seus discípulos, oq eu estava para traí-lo, disse: Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários e não se deu aos pobres? Isto disse ele, não porque tivesse cuidado dos pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, tirava o que nela se lançava (Jo 12.4-6).
Não era com Cristo que Judas se preocupava, embora vivesse ao lado de Jesus e testemunhasse de sua vida perfeita. Caros irmãos, a lealdade de um cristão pode mudar de matriz quando sua vida com Cristo não passa de uma mera busca infrutífera e pouco transformadora motivada e marcada por egoísmos travestidos de aparente piedade, piedade falsa é claro.
Quando nossa fé é superficial e não nos leva a um relacionamento profundo e verdadeiro com Cristo, corremos o risco de viver num modelo de LEALDADE MUTANTE, onde Cristo é vendido e abandonado quando outros interesses egoístas se sobrepõe em nossa experiência diária. Portanto, podemos trocar Cristo por um copo de cerveja com os amigos em um happy-hour só para agradar o chefe e manter o emprego; ou podemos vender Jesus por uma nota melhor numa prova, na qual preferimos a desonestidade da cola; ou usamos as trinta moedas de prata para ter um pouco de prazer sexual ilícito; jogamos a família fora e com ela nossa lealdade a Cristo, apenas porque desejamos viver sem ter que resolver problemas de relacionamento... etc.
A igreja de Cristo precisa aprofundar a sua lealdade a Cristo por meio de uma fé que leva você ir além do simples andar com os discípulos, fazendo de você um discípulo movido por amor a Cristo.
Nossa Lealdade Mudará Quando Tentamos Vivê-la em Paralelo Com Uma Vida de Compromisso Com os Valores Deste Mundo Caído
Jesus deixou muito claro que espera que nosso amor a Ele seja total e não dividido:
Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas (Mt 6.24).
Tiago, seguindo o ensino de Jesus, nos ensinou que o amor ao mundo é uma declarada guerra contra Deus, ou inimizade a Deus.
Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus (Tg 4.4). 
Infelizmente, a realidade do modelo cristão atual, como Michael Horton e outros mestres teólogos vêm denunciando, não é de fidelidade, mas de uma crescente tentativa de diminuição da fronteira moral entre a fé Cristã e o modo de vida do mundo. Facilmente, encontramos famílias cristãs que permitem que seus filhos tenham relacionamentos sexuais antes do casamento.
Outro dia ouvi um comentário negativo que muito me entristeceu. Um crente de uma determinada denominação, começou a congregar em uma determinada outra igreja, porque ouviu falar que a responsabilidade daquela igreja com a Palavra era uma de suas marcas fortes. A tristeza não é por conta disto, mas pelo que a pessoa comentou a seguir. A moça disse que de fato a igreja prega a Palavra de uma maneira impactante, louvado seja Deus por isto, mas o convívio que aquela pessoa passou a ter com os membros da igreja revelou que não havia evangelho prático na vida dos crentes, porque eram promíscuos e irreverentes quanto à fé.
Indo ter com os principais sacerdotes, propôs – Irmãos, este encontro entre Judas e os principais sacerdotes era um ato de aproximação deliberada, não foi algo ocorrido ocasionalmente. Estes falsos sacerdotes tramaram o que fazer contra Cristo, como foi que encontraram Judas? O texto usa um tempo verbal que indica que Judas foi convocado a comparecer diante das autoridades, mas uma vez diante deles, teve liberdade com eles para lhes propor um acordo. O verbo “dizer”, foi traduzido por “propor”, que é uma palavra mais ativa justamente por causa do tempo verbal que indica uma ação determinada, ativa. Judas estava empenhado em se relacionar com aqueles líderes. Judas sabia que se tratava de um plano contra Jesus, mas não pensou duas vezes em flertar com aqueles interesses contra Cristo.
Judas reproduziu um problema que sua natureza pecaminosa já vinha demonstrando, uma vez que, ao que parece sobre as revelações de João, ele já praticava algum tipo de vida dupla, afinal, ele já pratica outros roubos a Cristo e sua lealdade já estava contaminada com outros interesses.
Quem se aproxima do mundo e tenta viver a vida com Cristo de forma dividida está claramente se expondo a possibilidade de vender sua lealdade. Na verdade, acredito que esta proximidade com o mundo pecaminoso já é uma clara demonstração de que não somos leais a Cristo.
Este tipo de vida dupla é comparado por Tiago a um adultério. O que é o adultério é a mudança da matriz da lealdade, para amar algo estranho ao seu casamento. Jesus condena o adultério na sua raíz e diz que o simples olhar para uma mulher com desejo impuro já é um adultério. Ali, no Sermão da Montanha, Jesus já estava nos mostrando que não é possível ser luz do mundo, permitindo que sua luz seja suja de trevas.
Em uma mensagem bíblica em Mateus 5.17, eu disse que há muitos crentes que mantém a sua lâmpada embassada e não era possível discernir se eram luz ou trevas, funcionavam como uma espécie de “luz negra” que na mesma medida em que iluminam, também escodem coisas.
Infelizmente, repito, o que faz muitos crentes hoje terem a sua matriz de lealdade a Cristo mudada é justamente a proximidade que querem manter com o mundo. Ainda alimentam em seu coração muito amor ao mundo. Logo, verão que sua lealdade realmente está mudada. Lembre-se disto quando se permitirem viver de mãos dadas com o mundo.
Não deixem jamais que sua igreja se torne uma amante do mundo. Esse é um dos pontos de partida para que em pouco tempo ela deixe de ser leal a Cristo e perca toda a sua relevância iluminadora neste mundo.

Nossa Lealdade Mudará Quando Nosso Amor a Cristo é Menor Que Nosso Amor a Nossos Interesses Pessoais
Existe um ditado popular que diz: “cada homem tem o seu preço”. Você pode pensar que isto é um jeito de dizer que você pode ser corrompido, mas acho que podemos pensar em algo ainda mais sério: o nosso preço é aquilo que realmente é mais valioso para nós, onde realmente está o nosso coração, o nosso amor último.
Porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração (Mt 6.21).
 A fé em Cristo é um desafio ao nosso coração, na medida em que Jesus propõe uma reordenação da nosso mais profundo afeto. Jesus deseja que lhe entreguemos o nosso amor último, aquele amor que o torne a coisa mais valiosa de nossa vida: este será o nosso preço.
Que me quereis dar – Judas estava pronto para revelar qual realmente era o seu amor último e, com certeza, esta lealdade fundamental, isto é, de fundamento da vida, não era a Jesus. Ele buscava interesses pessoais, ele estava interessado em ganho pessoal.
E eu vo-lo entragarei – Embora as nossas traduções pontuem aqui uma pergunta, sabemos que o texto bíblico não foi pontuado, então, podemos entender este texto não somente como uma pergunta, mas como uma proposta: que quereis me dar para que eu o entregue a vós. Ou ainda mais direto: o que me dareis para que eu traia para vós.
Pesaram Trinta Moedas de Prata – O intuito de Mateus, certamente era mostrar que a troca que Judas havia feito revelava o quão desprezível foi o valor dado em troca de sua lealdade. O preço de um escravo machucado (Ex. 21.32), uma soma que revela um coração que pouco amava o Senhor (Zc 11.12-13).
Nenhum interesse pessoal terá a grandeza de se igualar à sublimidade de Cristo. Paulo, trabalhando com este tema, nos ensinou que tudo deve ser considerado perda para ter a Cristo e ser achado Nele. Judas simplesmente tinha um preço, um amor apegado egoisticamente a si mesmo, e, por isso, Cristo lhe custou tão pouco.
Nossa lealdade é mutante quando não percebemos o real valor de Cristo para nós e nos deixamos guiar, orientar e convencer de que existem coisa mais prioritárias para nós que amar a Cristo.   
Qual é o preço que custa a sua lealdade? Quando você precisa receber para que deixe Cristo de lado e o traia, venda e entregue? Seria uma casa na praia, uma viagem importante, um novo emprego? Será que não vamos crescer e perceber quantas vezes as 30 moedas de prata são lançadas para nós e as pegamos havidos, deixando Cristo de lado?
Caros irmãos, não podemos nos sujeitar a esta troca, ela é a nossa traição e para isto não ocorrer não podemos perder de vista que somos e o quanto precisamos DELE.

Nossa Lealdade é Mutante Quando a Pecado do Nosso Coração Encontra Uma Oportunidade
Jesus ainda estava com seus discípulos no Getsemani quando lhes orientou: Vigiai e orai para que não entreis em tentação. Paulo falou de ocasião para o pecado:
Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor (Gl 5.13).
Dentro de nós temos guardado todo o potencial para trair e abandonar a Cristo, este pecado que está submerso dentro de cada um de nós exige uma constante vigilância.
O circuito do pecado havia se consolidado na vida de Judas e a partir daquele momento ele somente esperava a oportunidade para aflorar e destruir.
E, desse momento em diante, buscava ele uma boa ocasião para o entregar (Mt 26.16).
Mateus usa o verbo “ecxétei” (buscar) no tempo indicativo, no modo ativo. Ele está nos dizendo que Judas procurou com intenção de encontrar o melhor momento de trair Jesus.
Estamos falando de um circuito do mal instalado em nossa alma que nos fazer planejar o momento de revelar que nossa lealdade a Cristo já mudou. Talvez um momento em que outros não vejam, em que não fique tão claro assim. O ponto é que no coração uma força maligna já havia tomado conta de Judas, assim como muitas vezes, caímos nas garras do tentador.
A igreja de Cristo precisa vigiar e orar. Ela precisa vasculhar profundamente as sombras do seu coração para que não haja trevas, nem inclinações pecaminosas que estejam prontas para agir. O crente não pode dar estas oportunidades à carne, nem ocasião ao pecado.

Conclusão
Irmãos queridos da IP Brás, imagino que vocês estejam se perguntando como uma mensagem destas se encaixa no momento em que esta igreja completa seus 102 anos de existência a serviço de Jesus.
Vocês sabem, eu já lhes falei em outra oportunidade, da minha admiração por esta igreja e por sua história. Acredito que a maior parte dos crentes da Zona Leste são fruto diretos ou indiretos do ministério de Deus através desta Igreja. Ela sempre foi uma igreja fiel ao Senhor!
Este é o ponto, meus caros irmãos! Cento e dois anos já se passaram, gerações de crentes humildes e trabalhadores, pastores famosos e ilustres desconhecidos assumiram o púlpito e o trabalho desta igreja. Deus a usou fielmente nestes anos. Turbulências, lutas, momentos tristes se somaram a alegrias, vitórias e histórias de coragem e aqui está essa igreja, fiel.
Tudo isso é um grande privilégio, mas uma enorme responsabilidade. Porque vocês são os herdeiros deste monumento de amor a  Cristo e não podem permitir que sua lealdade a Cristo mude.
Não se permitam, confiar simplesmente no fato de pertencerem à membresia desta importante igreja presbiteriana. Não se permitam, no seu dia a dia, flertar irresponsavelmente com o mundo caído e seus valores, não permitam que a igreja seja a vítima de sua mundanidade. Não promovam como sua causa maior, os interesses pessoais ou substituam o amor a Cristo em seu coração e prioridade. Afinal, uma igreja que não tenha o Reino de Cristo como prioridade, não pode ser verdadeiramente chamada de igreja de Cristo. Por fim, lembrem-se, se não dobrarmos os nossos joelhos para vigiar e orar e buscar a Deus, logo o pecado achará ocasião e o Diabo, que anda em derredor, armando sempre ciladas nos tomará e o Tentador de nossas almas nos levará a cair.

Permitam me dizer algo pesado, mas importante: Todos nós precisamos de uma IGREJA PRESBITERIANA DO BRÁS LEAL AO SEU CHAMADO! HONREM ESTA HISTÓRIA E TODOS GLORIFICARÃO AINDA MAIS A DEUS POR SUA VITÓRIA.