23 de março de 2014

Marcos 10.32-34

“Jerusalém, a Cidade da Morte de Jesus”

 

(Marcos 10.32-34)

(Pregado na IP Primeira de Diadema em 23 de março de 2014)

Foco da Nossa Condição Decaída

Este texto serve para nossa reflexão sobre o amor que devemos devotar a Jesus e à sua mais preciosa joia neste mundo: a igreja. Antes de nos tornarmos críticos ou inimigos da Igreja, precisamos de uma visão clara sobre o que o seu pecado significa e o quanto a graça é maior que tudo.

Introdução

O texto que estamos abrindo esta noite para nossa edificação é o terceiro registro de Marcos sobre os ensinos particulares de Jesus a seus discípulos a respeito de sua necessária e morte na cruz.
Os dois primeiros registros estão no capítulo 8.30-31 e 9.30-32. Neles, uma lição ficou muito clara. NO primeiro, Pedro assume o papel de não compreender o significado e importância da morte de Jesus. No segundo, todos os discípulos mostram sua incompreensão e descaso com a morte de Jesus. Em ambos, o egocentrismo é o ponto central discutido por Jesus.
Neste terceiro episódio, quero chamar a sua atenção para o fato de que o texto que segue é novamente um texto em que o egocentrismo é apresentado como o grande inimigo do entendimento da Cruz. Trata-se da conversa de Jesus com Tiago e João os filhos de Zebedeu.
Marcos, diferentemente dos outros evangelhos, não inclui a mãe de Tiago e João como sendo a portadora do pedido, mas destaca que os próprios Tiago e João o fizeram. Ele está disposto a nos mostrar que de fato os próprios discípulos não somente não entenderam a Cruz de Jesus e suas mentes estavam tomadas por um sentimento egocentrado.
Neste texto, diferentemente, dos outros dois registros a ênfase do ensino da Cruz recai sobre a Cidade de JERUSALÉM. A cidade santa, a cidade escolhida, a cidade de Davi seria o cenário onde a morte de Jesus iria ocorrer.

As lições da Cruz
Os discípulos precisam aprender a respeito da importância de Jerusalém como o local onde Cristo foi morto.

Da mesma forma que no capítulo 9.30-31, Jesus está voltado à tarefa de instruir pessoalmente os doze. Eles estavam agora a caminho de Jerusalém e estes discípulos precisavam aprender a respeito dos acontecimentos que se dariam ali.
Estavam a caminho, subindo para Jerusalém, e Jesus ia adiante de seus discípulos. Estes se admiravam e o seguiam tomado de apreensões. E Jesus, tornando a levar à parte os doze, passou a revelar-lhes as coisas que lhe deviam sobrevir (Marcos 10.32).
Jerusalém tem um significado todo especial nas Escrituras Sagradas. Pois fora escolhida para ser o lugar do repouso da Arca da Aliança (1Rs 8.1), capital do povo de Deus,  lugar do Templo de Jehovah e do trono do Grande Rei. 
Esta cidade, fortificada pelo poder de Deus (Sl 125.2), tornou-se o símbolo da obra de cuidado e amor de Deus para com o seu povo, pois nela, o Senhor se encontrava com os seus filhos (Sl 122.1-9).
A grande cidade de Deus, Jerusalém, é um tipo vétero testamentário da Igreja de Cristo, à qual o Novo Testamento chama de a “Nova Jerusalém” ou ainda a Jerusalém Celestial do escritor da Carta aos Hebreus
Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais sairá; gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo nome (Ap 3.12).
Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo (Ap 21.2).
Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembleia (Hb 12.22).
Assim, a Cidade de Jerusalém, como figura da Igreja, seria, nos dias de Jesus em suas caminhadas com os seus discípulos, mais que o local onde todo judeu deveria comer a Páscoa e oferecer sacrifícios no Templo. Jerusalém seria o palco da maior obra de ódio que os homens seriam capazes de realizar, assim como da maior obra do amor de Deus por estes homens.
Os discípulos não conseguiram compreender exatamente o que Jesus estava lhes ensinando, senão depois que todas as coisas aconteceram. Inicialmente, eles estiveram atônitos com tudo aquilo e não conseguiram discernir tudo do que se tratava, até que foram guiados pelo Espírito Santo a um entendimento mais profundo sobre a importância de Jerusalém.
O texto nos diz que eles estavam apreensivos. Possivelmente, Marcos estivesse se referindo ao fato de que Jesus expunha na face a sua decisão firme de subir à Jerusalém.
E aconteceu que, ao se completarem os dias em que devia ele ser assunto ao céu, manifestou, no semblante, a intrépida resolução de ir para Jerusalém (Lucas 9.51).
Acredito que eles percebiam esta resolução de ir à Jerusalém e não compreendiam os verdadeiros sentimentos que dominavam a alma de Jesus nesta hora. Por isso, era muito importante que Jesus lhes ensinasse sobre a natureza da Cidade Escolhida.
Tornando a levar a parte os doze, passou a revelar-lhes as coisas que lhe deviam sobrevir, dizendo: Eis que subimos para Jerusalém... (Mc 10.32-33a).
Meus irmãos, precisamos compreender aquilo que inicialmente os discípulos não entenderam. Eles vieram a aprender depois e nos deram então uma ferramenta muito importnte para entendermos corretamente a Escritura a respeito da cidade escolhida. Eles nos aprenderam depois e nos ensinaram: JERUSALÉM É A IGREJA DE CRISTO.
Se desejamos entender a Cruz de Cristo precisamos entender a natureza da maldade de Jerusalém e precisamos entender a natureza da maldade da Igreja.
A Cruz apresenta dois lados de uma única verdade. Pois a Cruz é o resultado da maldade dos homens, da nossa maldade. Da maldade dos líderes da religião judaica e de todos nós. Mas, por outro lado, a Cruz é o resultado do amor invencível e contínuo do Filho de Deus.
Às vezes, nos decepcionamos com a Igreja. Somos levados a isto porque, em geral, usamos um raciocínio simples: pessoas que falam tanto do amor e da santidade, devem ser o primeiro exemplo destas virtudes.
Entendemos que assim seja comum pensar. Afinal é siso mesmmo, somos a luz deste mundo e o que se esperar de quem assim se vê deve ser um exemplo positivo. Mas, é preciso que reconheçamos que somos pecadores. A Cruz para ser compreendida precisa ser vista sob a ótica de que ela é produto do nosso pecado.

As lições da Cruz
Os discípulos precisam aprender a respeito da importância de Jerusalém Como o Local Onde Cristo Foi Rejeitado e Escarnecido

Qual seria a rejeição mais dolorosa: a daqueles que nada tem a ver conosco ou daqueles aos quais chamamos de filhos? Evidentemente, parece-nos mais tranquilo admitirmos que Jesus foi rejeitado pelo egocentrismo dos líderes judaicos. Entretanto, a ênfase deste texto recai sobre a figura da Cidade de Jerusalém, isto é, por nós, a Igreja de Cristo.
O profeta Isaías acusa o povo de Deus de rejeitar a Deus, comparando-os com animais irracionais.
O boi conhece o seu possuidor, e o jumento, o dono da sua manjedoura; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende (Isaías 1.3).
Palavra ainda mais pesada contra o povo de Deus encontramos no profeta Zacarias:
Se alguém lhe disser: Que feridas são essas nas tuas mãos? Responderá ele: São as feridas com que fui ferido na casa dos meus amigos (Zacarias 13.6).
Precisamos refletir sobre isso. A maior traição sofrida por Cristo não veio dos seus inimigos, ou do seu “amigo” Judas que com um beijo o traíra. A maior traição, rejeição e escárnio vem daqueles por quem ele morreu.
O termo usado no verso 34 é “hão de escarnecê-lo” - empaizo (no grego). Esta palavra aponta para a insubmissão, irreverência e desprezo por seu senhorio. A mesma palavra é usada por Marcos em 15.20, quando os soldados colocaram um manto púrpura sobre ele, colocaram-lhe uma coroa de espinhos e o saudavam-lhe com ironia: Salve, rei dos judeus!. Eles batiam em sua cabeça, cuspiam nele e com desprezo e ironia ainda maior, o adoravam.
Isso aconteceu em Jerusalém e ainda acontece. Quando tomamos nossos próprios caminhos a despeito de seu governo sobre nós. Quando escolhemos nossas preferências a despeito das dele. Quando nos tornamos vacilantes em nosso serviço e valorizamos mais a nossa vontade que a sua como nosso Rei.
Os discípulos precisavam ser desafiados a um tipo de fé que se transforma pelo auto conhecimento de quem verdadeiramente somos e do que, na prática somos como sua igreja.

As lições da Cruz
Os discípulos precisam aprender a respeito da importância de Jerusalém como o local da Salvação

Embora, nos dias de Marcos, fosse muito importante que a igreja tivesse uma visão realista de sua maldade e rejeição, pois precisavam entender o que estava acontecendo em seus dias no seio da Igreja. Eles também precisavam entender que o amor de Deus por sua Cidade Escolhida o levou a prover grande salvação para ela. O verso 34 se encerra, depois de uma descrição tão terrível dos males sofridos em Jerusalém que tudo aquilo fora superado pela salvação que veio na Cruz e ressurreição de Jesus.

...mas, depois de três dias, ressuscitará (Marcos 10.34).
É importante aprender que Jesus venceu toda a maldade de Jerusalém trazendo-lhe salvação. Isso é ponto central de nossa fé: o SENHOR NOS AMOU QUANDO AINDA ÉRAMOS PECADORES E SEUS INIMIGOS.
Dificilmente, alguém morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer. Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores (Romanos 5.7-8). 
Eu e você conhecemos nossa maldade, nossa inconstância, nossa fé fraca e nossa condição espiritual tão inconstante. Mas, eu você conhecemos o amor de Deus que se revelou na Cruz e o poder que ele tem de, apesar de nossos pecados, providenciar para nós tão grande salvação.
A Cruz é sim o resultado da nossa maldade, mas sobretudo e principalmente, ela é o resultado do amor de Deus. Ali, todo o nosso pecado foi perdoado e Jerusalém se tornou a verdadeira cidade da Paz.
Muitos podem se decepcionar com a Igreja e pode ter muitos bons motivos para tal. Afinal, ela abriga pecadores e pessoas que deveriam ser perfeitas, mas ainda não são. Contudo, estes mesmos deveriam pensar que Deus tem um olhar muito positivo sobre Jerusalém, pois é a sua cidade escolhida. A Igreja, a nova Jerusalém é a noiva que está sendo preparada para o noivo.
Ela ainda será santa, sem mácula e perfeita. Mas, ainda o mais importante é que sobre ela está o amor e a glória do Senhor. Ela é a manifestação mais clara do poder restaurador e do amor invencível de um Deus vivo e verdadeiro e de um Rei, o Senhor Jesus, que deu a vida por ela.

Conclusão

Caros irmãos, temos sim muitos motivos para aprender que a Cruz é o ponto onde podemos ver o nosso pecado e os resultados desastrosos de nosso coração inconstante. Mas, a Cruz também é a visão mais perfeita do amor restaurador de Deus.
Nestes dias que antecedem a Páscoa, devemos nos dedicar ao trabalho de pensar na purificação da Igreja. A consciência de serviço apesar da Igreja é a resposta mais coerente de quem de fato compreende a obra de Cristo. Pois, se Cristo, apesar de tudo, se deu pela igreja, somos nós que iremos fazer o contrário?
Os filhos da Igreja são também filhos de Deus. A Igreja, ou Jerusalém celestial é a obra mais perfeita do amor de Deus. Por isso, um bom espírito para com a Igreja poderá ser a maneira mais coerente de vivermos para o Senhor.

Oração

Senhor, ajuda-me a amar sua Igreja como Cristo a amou e por ela se deu na Cruz.

Amém.



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