“Lições da Cruz - A Cruz é o Caminho de Deus”
(Marcos 9.30-32)
(Pregado na IP Vila Buenos Aires - por ocasião do seu aniversário em 16 de março de 2014)
Foco da Nossa Condição Decaída
Entre as tantas lições aprendidas no Evangelho de Marcos, podemos destacar a importante lição a respeito da excelência do Caminho de Deus. Todos os crentes que precisam ter a sua fé fortalecida precisam de uma consciência clara de que o caminho de Deus é melhor que o nosso e podemos confiar nele.
Introdução
Agradeço a Deus pelo privilégio de estar com os irmãos de Vila Buenos Aires no seu aniversário. Rogo a bênção do Senhor sobre essa igreja, seus oficiais, pastor e todas famílias. Deixo um abraço fraterno da IP Vila Formosa e espero poder repartir convosco uma porção da Palavra que nos conduza à uma séria reflexão sobre a excelência do Caminho de Deus.
A questão mais vital para um pregador é se ele é fiel à Palavra de Deus. Por isso, peço a vocês que orem por mim, para que o Senhor me conceda um coração quebrantado e fiel. Pois, se eu não sou fiel à Palavra e, consequentemente, a Deus, estou em grande perigo. Basta uma olhadela no que o Senhor diz a respeito dos falsos profetas e dos falsos mestres que não pregam a Palavra, mas os desejos de seu coração.
Outra questão vital para um pregador da Palavra em seu sermão é a disposição dos que estão ouvindo. Você deve também orar por você e por todos os que ouvem a Palavra. Pois, assim como os falsos mestres são alvo da ira de Deus, as Escrituras também falam muito sobre aqueles que são ouvintes negligentes e desprezam a Palavra de Deus.
Estas são duas questões vitais pelo que desejo orar neste instante.
Oração: Senhor, guarda o meu coração para que não busque a glória dos homens mas a tua e nada deseje senão que Cristo apareça mais que qualquer outro nome. Guarda também meus irmãos, para que seus corações se apeguem à palavra ouvida e tenham desejo de viver segundo a mensagem que o Espírito lhes comunicar. Em Jesus, sempre, amém!
Marcos, ao longo do seu evangelho, conectou duas ênfases: o segredo messiânico (aquelas passagens em que Jesus insiste em não buscar a popularidade - Mc 3.12; 5.43; 7.36) e o ensino da Cruz (8.30-31 e 9.30-32).
Em Marcos 8.30-31, Jesus falou sobre a sua morte e disse que ela seria decorrente da rejeição que sofreria da parte dos líderes judaicos. Ele enfatizou naquele momento a “necessidade da Cruz”. Pedro, entretanto, revelando falta de entendimento a respeito dessa necessidade, precisou ser repreendido, por cogitar das coisas dos homens e não das de Deus.
Aqui, em 9.30-32, Jesus volta ao tema e nos mostra novamente a rejeição que sofreria. Mas, agora é da parte dos homens, possivelmente uma referência aos Romanos. E mais uma vez ele pede segredo a respeito destas verdades e de novo, o texto nos mostra a dificuldade dos discípulos com aquele ensino.
Neste momento, a ênfase de Jesus não é mais na necessidade da Cruz, mas na certeza de que ela irá acontecer.
A igreja dos dias de João Marcos, precisava ser exortada a ficar firme na fé e, para o evangelista, era muito importante que sua fé fosse cristocêntrica e que eles realmente entendessem a o valor, importância, necessidade e signicado da Cruz de Cristo.
Nenhum crente terá uma vida cristã plena enquanto não for realmente marcado por uma compreensão mais completa da Cruz de Cristo. Por isso, recomendo que nestes dias que antecedem a Páscoa, vocês leiam os evangelhos com foco na Cruz e, se possível, leiam livros que falem da Cruz.
Voltando a Marcos e considerando os seus ensinos sobre a Cruz, vamos considerar esta noite o seguinte:
OS CRENTES PRECISAVAM DE UMA COMPREENSÃO CLARA DE QUE A CRUZ ERA O CAMINHO DE DEUS E POR ISSO ERA PERFEITO.
Precisamos de fato aprender algumas coisas sobre os caminhos determinados por Deus para que nossa fé se apoie na sabedoria de Deus e não na nossa. Olhando para este texto tomaremos hoje três lições.
“Precisamos aprender Que o Caminho de Deus é a Cruz”
Os discípulos precisavam aprender lições que a Cruz era o Caminho de Deus. Eles tinham muita dificuldade para aceitar a realidade de que Jesus haveria de morrer. Por isso, seus corações resistiam tanto às predições que Jesus fazia de sua morte.
Eles, contudo, não compreendiam isto e temiam interrogá-lo (Marcos 9.32).
Quero que vocês olhem para o texto e percebam o seguinte. O caminho escolhido por Deus para transitar na Galiléia, tinham o interesse de separar tempo para ensinar aos seus discípulos.
E, tendo partido dali, passavam pela Galiléia, e não queria que ninguém o soubesse; porque ensinava os seus discípulos... (Marcos 9.30-31a).
O chamado “segredo messiânico”, tenho insistido em minhas pregações, trata-se fundamentalmente do desejo de Cristo de completar a sua carreira até à Cruz. Por isso, insistia em que os ânimos dos seus discípulos não se exaltassem para que não o levantassem como Rei, de um modo diferente daquele que Deus havia planejado, a Cruz.
Sabendo, pois, Jesus que estavam para vir com o intuito de arrebatá-lo para o proclamarem rei, retirou-se novamente, sozinho para o monte (João 6.15).
Mas, um outro aspecto que devemos considerar a respeito do “segredo messiânico” vem desta passagem: OS DISCÍPULOS PRECISAVAM APRENDER SOBRE A CRUZ.
Esse foi um dos aspectos do ministério de Jesus que os discípulos tiveram mais dificuldade para aprender. Os Evangelhos nos revelam que eles ficaram tristes, desanimados e totalmente confusos com os acontecimentos da Cruz.
Por isso, Jesus queria tempo para prepará-los e instruí-los. E disso eu e você precisamos aprender. Assim como Marcos desejou que a igreja do seu tempo pensasse a respeito.
Boa parte dos problemas que vivemos em nossas igrejas nos dias atuais está diretamente ligado ao fato de que a Cruz não está no centro de nossa percepção a respeito do modo como Deus se relaciona conosco.
Depois da conversão, boa parte dos crentes, põem a Cruz de lado e começam a viver sua vida com Deus a partir de seus próprios méritos.
Paulo, insistia com os crentes de Corinto que eles se tornaram crianças para entender a sua mensagem. Eles tinham o coração tão endurecido, porque não eram espirituais. E a mensagem que Paulo lhes pregava era a mensagem da Cruz.
Porque tanto judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios, mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus (1Coríntios 1.22-24).
Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado (1Coríntios 2.2).
Perdemos o contato com a Cruz e queremos contato com Deus, isso é impossível. Não me admiro que os crentes sequer choram seus pecados, ou tenham tempo de confissões, senão aquelas tão genéricas.
Filhos não choram seus pecados no seu desrespeito para com os seus pais, e pais não choram o fato de que seus filhos não conhecem a Deus, porque eles, pais, são negligentes.
Não é de se admirar que a disciplina na igreja está cada vez mais relativista e mundana. Não é de se admirar que em muito a igreja está se assemelhando ao mundo descrente, tanto no modo como os crentes se divertem, quanto como ganham a vida.
Lembro agora das palavras de Jesus:
Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão! (Mateus 6.23b).
Precisamos de um tempo, como aquele tempo que Jesus deu aos seus discípulos, para aprender a mensagem da Cruz. Precisamos que o Senhor nos faça perceber que a Cruz é o Caminho e que a cruz deve também ser o nosso caminho.
Ninguém se achegará a Deus, se antes não tiver chegado à Cruz. Chegar à Cruz, significa ver a seus pecados e chorá-los amargamente e confiar somente na Cruz.
“Precisamos Aprender Que a Cruz Humilha o Poder e o Caminho dos Homens”
Entre as mais importantes lições que a Cruz nos revela, encontramos essa: Na Cruz, Deus Humilha o Poder e o Caminho dos Homens.
Os líderes judeus intentaram silenciar Jesus através da mão dos romanos. Eles o traíram e ardilosamente o entregaram para a crucificação. Mas, a Cruz não o silenciou, antes tornou-se a sua mensagem e sinal mais significativos.
Para os líderes judeus o seu plano parecia infalível. Eles entendiam que tudo daria certo, pois tinham pensado em tudo. Eles subornaram Judas, que entregaria Jesus e se, por acaso, os discípulos tentassem roubar o corpo, avisaram os Romanos para que pusessem guarda no sepulcro. Tramaram incriminar Jesus e até os argumentos que usaram com Pilatos eram minimamente calculados. Caso o pôncio tentasse libertar Jesus, eles tinham uma última cartada, jogariam o próprio povo contra Jesus. SOLTA BARRABÁS, CRUCIFICA JESUS!
Por outro lado, os Romanos se sentiam poderosos. Os guardas, sem nenhuma misericórdia, cuspiam, zombavam, chicoteavam a Jesus. Repartiram as suas vestes, puseram-lhe coroa de espinhos etc.
Eles pensavam que Cristo estava em suas mãos e que aquilo estavam fazendo era nada mais, nada menos, que tudo o que já estavam acostumados a fazer e faziam muito bem. Até Pilatos disse para Jesus:
Não sabias que tenho autoridade para te soltar e autoridade para te crucificar? (João 19.10).
Jesus ensinou os seus discípulos que todos os acontecimentos que haveriam de acontecer na sua chegada à Jerusalém estavam sobre o total controle de Deus.
Ensinava os seus discípulos e lhes dizia: O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens, e o matarão; mas três dias depois da sua morte ressuscitará (Marcos 9.31b).
A igreja dos dias de Marcos precisava da reflexão profunda sobre o fato de que a Cruz era o Caminho de Deus e não o dos homens. Eles precisavam entender o fato de que Deus, muitas vezes humilha o poder e o caminho dos homens.
Os judeus planejaram matar Jesus e os romanos achavam que poderiam fazer o serviço. Mas, o fato é que Jesus venceu os seus planos e venceu a morte que eles pensavam ter acabado com Jesus Cristo.
Os romanos imaginaram que seu poder decisivo acabaria com toda a história de Jesus. Mas toda a arrogância do poder romano, que pretendia ser reafirmado na crucificação de Jesus, foi esvaziada pela sua ressurreição:
“Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória (...), onde está o teu aguilhão?” (1Co 15.54-55).
A igreja de nossos dias precisa voltar a pensar que a sua vitória passa pela Cruz e não por suas estratégias somente.
Não sou contra a igreja fazer planos, elaborar sistemas e técnicas para melhor fazer o seu trabalho. Mas, ela não pode começar a pensar que é o seu poder e o seu jeito de fazer as coisas que determinam os resultados da obra do Reino.
Qualquer tentativa da Igreja de ser a agência do Reino só será eficaz quando ela, humildemente, se firmar na Cruz e no poder que dela emana. O poder da Igreja vem da Cruz.
Em nossa igreja, lá em Vila Formosa, todos os anos, no período que antecede a Páscoa, eu peço para montar uma estrutura de ferro que figura uma cruz. Nessa estrutura trançamos uma ramagem, imitando uma videira, cheia de cachos. Nossa intenção é que todos reflitam sobre o fato de que a Igreja é a videira, que só frutifica quando se apoia na Cruz.
Os seus caminhos, as suas respostas à vida, o seu modo de ver as coisas, se não passa pela sombra da Cruz, serão humilhados e o seu poder reduzido a nada. Fique com o apóstolo que disse:
Longe esteja de mim gloriar-me a não ser na Cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo (Gálatas 6.14).
“Precisamos Aprender Que a Cruz Revela Nossa Completa Impotência”
Havia entre os discípulos uma certa intranquilidade com aquele ensino sobre a Cruz. Mateus e Lucas também falam deste momento:
Então, os discípulos se entristeceram grandemente (Mateus 17.23b).
Eles, porém, não entendiam isto, e foi-lhes encoberto para que o não compreendessem; e temiam interrogá-lo a esse respeito (Lucas 9.45).
Lucas nos diz que suas mentes estavam encobertas para estas verdades e disto tiramos a lição que muitas vezes, Deus não nos revela exatamente os propósitos de seus planos para que nossa fé esteja apoiada nele e não nas nossas certezas.
A Cruz era um desafio à mente e ao coração dos discípulos. Eles não conseguiam compreender.
Em grego, o texto nos revela que o ensino de Jesus era estranho para eles. Marcos nos diz o seguinte: egnouun to rhema (ignoravam o ensino). Essa expressão aponta para a ideia de uma limitação para alcançar aquele ensino. Caminhando no sentido em que Lucas nos diz, mas como se eles resistissem a crer desta maneira.
A sequência do texto, insere uma discussão muito estranha. Já em Cafarnaum, depois daquele tempo de ensino, eles pareciam nada ter aprendido ou guardado daquelas palavras de Jesus, pois passaram a uma das discussões mais tolas, registradas nos evangelhos.
Tendo eles partido para Cafarnaum, estando ele em casa, interrogou os discípulos: De que é que discorríeis pelo caminho? Mas eles guardaram silêncio; porque pelo caminho, haviam discutido entre si sobre qual era o maior (Marcos 9.33-34).
Aparentemente, os acontecimentos anteriores e a sua experiência no Monte da Transfiguração ou na cura do jovem endemoninhado (9.1-29), estavam dominando a perspectiva deles quanto ao Reino. Eles simplesmente desprezavam o ensino da Cruz e se tornaram tardios para crer no Caminho de Deus.
A discussão que se seguiu só revelava o que o verso 31 já nos contou: eles não compreenderam e isso trazia sobre eles uma distância em relação à Jesus.
Os discípulos não compreendiam porque tinha de ser daquela forma. Eles tinham suas opiniões e, achavam que sabiam o que era melhor. Se dependesse dos discípulos, talvez Jesus nunca tivesse ido à Cruz. Mas, eu e você sabemos que isso sim é que seria uma terrível derrota.
Será que o fato de eu não compreender o caminho de Deus ou de Deus não me revelar realmente toda a sua vontade, isso me autoriza a trilhar o meu caminho sem ele? Será que o que Deus espera não é que, mesmo não sabendo exatamente o que ele fará, ainda assim deseja que confiemos nele?
Você é capaz de pensar na Cruz e descansar a respeito de toda sua vida? Às vezes, pensamos que somos capazes de construir nosso próprio caminho e fazer o que é melhor. Marcos, está nos ensinando a deixar Deus guiar a nossa história, mesmo quando não compreendermos bem aonde ele quer chegar.
Precisamos nos humilhar (1Pe 5.6) e nos inclinar à vontade de Deus.
Sem a Cruz nada nesta vida tem sentido. Se Jesus não morreu e venceu a Cruz, toda a nossa vida é inútil, nada será possível e Deus não nos salvará. Todo o esforço, todas as lutas, todos os nossos cultos, todos os nossos hinos, todas as mensagens, a nossa fé e tudo mais e vão.
E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados (1Coríntios 15.17).
Sem a Cruz não somos nada. Sem a Cruz de Cristo não há poder, não há igreja. Por isso, hoje eu desejo que você pense na Cruz.
Conclusão
Assim como os apóstolos, você e eu, logo após ouvirmos acerca da Cruz podemos andar mais um pouco na nossa vida e nos esquecer e logo nos voltarmos para a busca de glória entre os homens e seguirmos o nosso caminho e não o de Deus.
Eu insisto que você se lembre de algumas coisas sobre este texto. Ele irá fortalecer sua visão da Cruz e o desejo de buscar conhecimento, cada vez maior, da sua necessidade, significado e importância. Que sua vida cristã, não será completa sem um verdadeiro entendimento do significado da Cruz, então busque a Cruz.
Caro irmão, não se esqueça que a Cruz é o caminho excelente de Deus e que sem ela humilha o nosso poder e sem ela não resta nada.
Aplicação Para a Igreja Presbiteriana de Vila Buenos Aires
Sendo este o aniversário desta amada igreja, desejo para todos os irmãos que esta seja uma congregação marcada pela Cruz e que cada família viva à sombra desta mensagem da Cruz.
Desejo que sintam a Cruz sobre seus pecados e recebam o perdão que dela emana. Isto implica em uma igreja humilde, que sabe perdoar, que acolhe os pecadores e prega o arrependimento.
Caros irmãos, que um derramamento do Espírito Santo venho sobre vossa igreja e a preencha com aquele que é o ministério do Espírito, fazer nos olhar para a Cruz e nos convencer do pecado, da justiça e do juízo.
Pecado que foi perdoado na Cruz.
Justiça que foi feita na Cruz, quando ele pagou o preço.
Juízo que foi feito na Cruz, quando o Pai derramou sobre ele a sua ira, que era destinada a nós.
Oração
Cristo, toma esta igreja e mostre-lhe o poder da sua cruz.
Amém.
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