9 de março de 2014

Marcos 8.31-33

“Por que Jesus foi rejeitado?”

 

Foco da Nossa Condição Decaída

Neste texto, precisamos encontrar respostas para essa pergunta inquietante: “por que Jesus foi rejeitado?”. Aqui, perceberemos que ele foi rejeitado por que o coração humano é mal e precisa desesperadamente de que a graça o alcance. Este texto, nos conduzirá a refletir sobre o fato de que a cruz é a mais elevada e necessária obra da graça.

Introdução

Talvez, passe despercebido pelo leitor da Bíblia que Marcos está fazendo uma ligação clara entre estes versos e os anteriores.
Jesus, em sua jornada com os discípulos, faz uma pausa e pergunta aos mesmos sobre quem o povo dizia que ele era. Eles tem variadas respostas, mas por fim, Pedro, traz a profunda afirmação: “Tu és o Cristo”.
Os outros evangelistas sinópticos também registraram esse momento. Ele fora muito importante! Mateus contém a expressão da seguinte forma: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” e Lucas, a seguinte: “Tu és o Cristo de Deus”. Em todos os evangelhos, o texto seguinte é a orientação de Jesus sobre a sua morte.
Temos refletido sobre o fato de Jesus muitas vezes ter pedido segredo de sua messianidade. Entendemos que para Marcos, isto estava ligado à importância da Cruz para o fortalecimento da nossa fé.
O que os evangelistas incluem no seu texto, é tão importante quanto o que não incluem. E, aqui, Marcos não incluiu nenhuma expressão adicional, senão: “Tu és o Cristo”. Ele está enfatizando que esse é o ponto. Pois está advertindo aos seus discípulos a não anunciarem ainda que ele é o Cristo, ele está aos poucos construindo essa convicção, pois o alvo do Cristo é a transformação do mundo e a conquista do Reino na Cruz.
Advertiu-os Jesus de que a ninguém dissessem tal coisa a seu respeito (Marcos 8.30).
Depois, disso, ele explicou o por que de seu segredo messiânico e aqui começamos nosso texto. Ele explicou que era necessário que o Messias fosse rejeitado. E começamos exatamente aqui.

O Messias foi rejeitado, porque era necessário cumprir as profecias
O texto começa justamente com este ponto:

Então, começou ele a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do Homem sofresse muitas coisas, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas (Mc 8.31).

Era necessário - A pergunta mais óbvia a esta afirmação é: mas por que esse sofrimento e rejeição foram necessários? Não haveria outro caminho para a salvação dos homens? Por que Deus, que apresentou o plano de salvação desde Genesis 3.15, propôs a cruz como forma de sua justiça ser satisfeita?
Essas não são perguntas tão simples de responder e acredito que não vou conseguir alcançar todos anseios. Vou apenas peregrinar em alguns aspectos da resposta.

Cumprir as profecias
A primeira resposta que me vem à mente é que o cumprimento das profecias é uma boa resposta. De fato, Isaías 53, deixa claro que era necessária essa rejeição e sofrimento.
Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado e dele não fizemos caso (Isaías 53.3).
Saber que o sofrimento e rejeição de Cristo são cumprimentos proféticos reforça ainda mais a ideia de que Deus realmente está no controle dos acontecimentos da salvação dos homens. Isso me ajuda e muito e, com certeza, ajudou muito a todos os irmãos e irmãs nos dias de Marcos que se viram em grande aflição.
Deus controla todas as coisas e se atem a todos os detalhes do seu plano maravilhoso de salvação. Por isso, compreendo e recebo cada circunstância da minha vida com mais paz. Você consegue entender isso? 
De fato, o cumprimento das profecias estava na mente de Cristo e de Marcos ao pontuar sofre seu sofrimento e rejeição e essa segurança da salvação como um plano perfeito que segue o roteiro sem se desviar dele é preciosa, especialmente para os dias em que nossa fé parece um pouco abalado. Pois podemos voltar o olhar para ele, como Habacuque, exultar no Deus da nossa salvação.

Mas isso ainda não responde o caminho escolhido. Por que tinha de ser assim, com tanto desprezo e sofrimento?


O Messias foi rejeitado, porque era necessário que o poder da graça se manifestasse sobre a morte
De fato, temos de admitir que deve haver motivos ainda maiores para que Deus escolhesse este caminho. Afinal, ele poderia escolher outro caminho e ainda assim nos deixar claro que se tratava de um plano.

Então, começou ele a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do Homem sofresse muitas coisas, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas, fosse morto e que, depois de três dias ressuscitasse (Mc 8.31).

Voltando ao verso 31, o que complementa o verso é a expressão  texto começa justamente com uma afirmação conclusiva de sua morte na cruz.
Que fosse morto e ressuscitasse - De fato, a rejeição e o sofrimento de Jesus tem uma ligação muito clara com a sua própria morte e ressurreição. Jesus pedia para que não contassem a ninguém, porque ainda não estava preparado o caminho para que ele subisse ao Gólgota e lá realizasse a grande obra da Redenção.
A moldura do profeta Isaías parece controlar este ensino de Jesus.
Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos (Isaías 53.10).
A Cruz e o seu acontecimento não tinha apenas o propósito de cumprir profecias, era o caminho para que a graça ficasse ainda mais evidente. A Cruz apontava para um rejeitado que não rejeitou, um sofredor que aliviou sofrimentos, o justo, pelos injustos, o perfeitamente santo, em lugar dos pecadores.
Não existe maior evidencia da graça de Deus que essa, a Cruz de Cristo e o modo como ela se realizou, por meio da rejeição e do sofrimento que lhe foi imposto pelos próprios homens.
A saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões e, nos confiou a palavra da reconciliação. (...) Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus (2 Coríntios 5.19-21).
A Cruz é o escândalo do nosso pecado e do amor incondicional de Deus. Ela é a dramaturgia da realidade do pecado humano e da bondade e santidade de Deus. Ele é rigorosamente a exposição do nosso egocentrismo e do amor altruísta de Deus.
Quando o ensino de sua morte, a explicação da necessidade do seu sofrimento e rejeição são completados com a necessidade da morte e ressurreição, está nos dizendo que Deus, escolheu este caminho para deixar claro para todos nós que não merecíamos, mas ele nos escolheu para salvar. Que nosso crime espiritual era grande, mas que o poder de Deus era ainda maior.
Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa; mas onde abundou o pecado, superabundou a graça (Romanos 5.20).
Em outras palavras, a Lei apontou e ressaltou o tamanho da ofensa, do pecado. Isso não mostra apenas que somos muito pecadores, mas também ressalta que a graça de Deus é maior. Você deveria pensar mais nisto, antes de se deixar dominar e conduzir pelo pecado, pela distância ou pelos processos de rejeição a Deus, que se manifestam tão fortemente, principalmente nas pequenas coisas. Esse é o nosso último ponto neste texto hoje.

O Messias foi rejeitado, para que até mesmo os crentes nunca se esqueçam de que devem lutar contra o domínio do pecado na sua vida
O tema da rejeição é muito importante no Evangelho de Marcos. Ele é repetidamente mencionado. Inclusive, devemos pensar aqui sobre a possibilidade bem real deste Evangelho ter sido escrito a partir dos testemunho de Pedro, como pensavam as primeiras gerações depois dos apóstolos e como nossos estudos hoje parecem indicar.
Falar de rejeição a Cristo a partir de Pedro é de fato uma situação a ser considerada como de um valor emocional intenso. Talvez, nenhum dos discípulos tenha se amargurado tanto com o seu procedimento de rejeição a Cristo do que Pedro. E talvez, nenhum tenha aprendido tanto sobre a graça restauradora que o próprio Pedro.
E logo cantou o galo pela segunda vez. Então, Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe dissera: antes que duas vezes cante o galo, tu me negarás três vezes. E, caindo em si, desatou a chorar (Marcos 14.72).

Enquanto não olhamos com seriedade e descobrimos a gravidade de nossas doenças, mantemos uma relação relapsa com o tratamento. O pecado precisa ficar exposto e demonstrado para que compreendamos o mal que ele acarreta sobre a nossa vida.
No texto, Jesus insiste em explicar e pedir que não divulguem nada a seu respeito. Mas, como vimos outro dia, apesar das suas muitas recomendações, os homens continuavam a seguir as suas rotinas, pouco se importando com Jesus.
Mas lhes ordenou que a ninguém o dissessem; contudo, quanto mais recomendava, tanto mais eles o divulgavam (Marcos 7.36).
A agenda de Cristo deveria controlar a nossa, mas somos sempre muito tentados a observar a agenda de Cristo e continuar seguindo a nossa própria. Como é difícil dizer “não para si mesmo”.
Agora a questão é com o próprio Pedro. Veja como o texto é construído e note como Pedro tem uma agenda diferente da Jesus.
E isto ele expunha claramente. Mas Pedro, chamando-o à parte, começou a reprová-lo. Jesus, porém, voltou-se e, fitando os seus discípulos, repreendeu a Pedro e disse: Arreda Satanás! Porque não cogitais das coisas de Deus, e sim das dos homens (Marcos 8.32-33).
Eu acredito que você não precisa de muita explicação a partir deste texto. Precisamos aprender a dizer não a nós mesmos. Precisamos desesperadamente que a vontade de Deus nos controle e precisamos perceber a força do pecado em nossa vida.
Tudo parecia correto para Pedro. Ele se aproxima de Jesus, está tentando animá-lo e tirar da cabeça dele aquelas coisas tão ruins. Afinal ele é o Messias, todo mundo sabe disto, ele cura as pessoas, multiplica os pães, o melhor é que ele continue fazendo isto e logo, logo estaremos numa boa! Desculpem o jeito jocoso de dizer isto.
Arreda Satanás - Afaste-se, meu adversário. Lembrem-se: “Aquele que não está comigo, é contra mim, e quem comigo não ajunta, espalha” (Mateus 12.30). Sempre que a nossa agenda prevalece à despeito da vontade de Deus isso está sobre nós. E, vocês sabem bem, não é tão raro acontecer. Basta perceber o modo como resolvemos problemas de relacionamento em casa, no serviço... Basta olhar nossos namoros, ou nossa diversão e poderemos pensar um pouco melhor.
Você precisa discernir o poder do pecado que está no seu coração e lutar até o sangue para ter uma vida santificada ao Senhor. A CRUZ É NECESSÁRIA PARA NOS LIBERTAR E NOS DESPERTAR PARA ESSA REALIDADE E NÃO NOS ESQUEÇAMOS DE SOMOS PECADORES E CARENTES DA GRAÇA DE DEUS.
Não cogitas das coisas de Deus, mas dos homens - Volto a dizer que precisamos aprender a dizer não para nós mesmos e sim para Deus. Veja o texto que segue esta porção que estamos meditando e note como estes assuntos se interligam.

Conclusão

O que precisamos é nos voltar para a Cruz e mais uma vez clamarmos pelos seus efeitos restauradores na nossa vida. Como Pedro, precisamos cruzar o olhar com Jesus e chorar os nossos pecados e o modo como, em pequenas coisas, rejeitamos Jesus.
Mas também como Pedro, precisamos olhar para Cruz e redescobrir que ela foi necessária e suficiente para justamente nos libertar de todo este mal que nos persegue. Nossa vida pertence a Ele e dele somos agora, pois fomos comprados na Cruz.

Sede santos, porque eu sou santo. Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um, portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação, sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós que, por meio dele, tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus (1 Pedro 1.16-21).

Este é o mistério da Cruz. Ela era necessária, a rejeição e o sofrimento eram necessários para que Deus nos mostrasse seu precioso amor, que agiu, não importando o tamanho do nosso pecado. Pense mais sobre isso.

Aplicação Para a Igreja Presbiteriana de Vila Formosa
Que tipo de aplicações um texto como este deveria ter para uma comunidade cristã local. Penso que muita coisa pode ser dita, mas hoje eu quero me deter em duas delas.
Primeiro, como pessoas que compreendem que a Cruz fala de um amor que se revela capaz  de perdoar os nossos pecados e que todos nós precisamos lidar com nossas sombras de rejeição a Cristo no coração. Bem, penso que essa consciência deveria nos levar a jamais julgar o nosso próximo, ou o nosso irmão.

Em segundo lugar, eu penso que precisamos demonstrar com mais clareza nossa percepção destas coisas em uma escolha preferencial pelo Reino de Deus. Fazer da agenda de Deus a nossa agenda e não tentar impor a nossa a Deus. A falta de empenho dos crentes e das famílias no crescimento na graça, apresenta para mim um claro quadro de que ainda cogitamos mais as coisas dos homens. Eu e você podemos reverter isso, apenas seguindo o conselho de Pedro: arrependei-vos...
Que um espírito de grande quebrantamento alcance a nossa igreja, a começar em mim.


Oração

Quebranta-nos Senhor e vivifica-nos pelo poder de sua Palavra, a Palavra da Cruz.

Amém.



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